Também conheço vários casos de familiares e amigos e simplesmente
conhecidos, que experimentaram os efeitos das medicinas alternativas, gastando “rios”
de dinheiro e se tramaram. A doença foi avançando e não perdoou, ou
interromperam a tempo regressando à medicina científica e assim melhorando.
Mas a maior parte dos comentaristas é a favor das “medicinas” asiáticas
e vem à liça acusar e defender a medicina oriental.
EDITORIAL
O elogio da ignorância
Há certamente terapias que nasceram no oriente que são aplicadas pela
medicina, e estamos todos muito agradecidos por isso – mas a subtileza das
palavras não nos pode distrair do essencial.
DIOGO QUEIROZ DE ANDRADE
PÚBLICO, 28 de Fevereiro de 2018
O governo decidiu viabilizar a criação de uma licenciatura em medicina
tradicional chinesa, abrindo caminho ao reconhecimento de praticantes de uma “medicina”
que dispensa o conhecimento científico e se baseia em crenças em vez de factos.
A linguagem é essencial, como bem sabe o legislador. E por isso vale a pena
citar a portaria que autoriza a aprendizagem das “terapêuticas não
convencionais” para um “exercício de profissão”. Lá convidam-se, na
prática, equiparados a médicos a promover teorias aleatórias graças a uma
aprendizagem em que se discutem teorias como “Os seis níveis, as quatro
camadas, os três aquecedores”. E é isto que vai concorrer com a prática
médica do Sistema Nacional de Saúde.
Há certamente terapias que nasceram no oriente que são aplicadas pela
medicina, e estamos todos muito agradecidos por isso – mas a subtileza das
palavras não nos pode distrair do essencial. A saúde é e tem de continuar a ser
feita por médicos devidamente credenciados, não por charlatães com boa (ou má)
vontade que ganham a vida à conta da ignorância alheia. Nada contra o acumulado de sabedoria
oriental que deriva para a verdadeira medicina e para a melhoria do bem estar
individual, que deve até ser promovida junto dos actuais corpos clínicos para
que chegue a mais cidadãos. Mas é importante estar contra todo o somatório de
ignorantes e charlatães que promovem vigarices à conta dos incautos. Já agora,
porque não uma licenciatura em astrologia? Certamente que a taróloga Maya e o
professor Karamba teriam prazer em participar na definição do corpus científico
destas matérias.
A sociedade é democrática e cada um é livre de acreditar no que quiser:
nos anjos da guarda, nas terapias homeopáticas, nas cartomantes, na herança
nigeriana que chega por email, nos extraterrestres que vivem debaixo da terra,
nas regressões a vidas passadas, nos duendes, no chá de beterraba ou nos
lobisomens. Cada um dos crentes nestas e noutras coisas do género tem todo o
direito de gastar o seu dinheiro a consumir e promover estas ideias, desde que
elas não contenham ilegalidades. Ou seja, numa sociedade livre cada um tem direito a fazer valer a
sua própria irracionalidade, desde que não afecte os outros. O que não
se pode esperar é que sejam as entidades oficiais a validar estas formas de
exploração privada, porque isso põe em causa a superioridade do sistema
científico no qual está construída a nossa civilização. E é tão grave ter
Donald Trump a admitir que as vacinas provocam autismo como é ter o governo
português a promover oficialmente a ciência as formas de medicina
tradicional chinesa.
O maior inimigo de uma sociedade aberta é o
legislador ignorante.
Esta deriva anti-científica que se tem vindo a intensificar nos últimos
anos não prenuncia nada de bom para o futuro. E continua a avolumar-se o
paradoxo de vivermos numa sociedade do conhecimento, mas de forma
voluntariamente ignorante.
Alguns comentários
Lydia
Gouveia A acupunctura é uma
das técnicas/valências da MTC, existem outras: a Moxibustão,a massagem Tuina, a
dietética, a Fitoterapia. A acupunctura certamente pelo seu impacto visual
acaba por ser a técnica mais conhecida logo mais abordada. Mas todas elas são
importantes e usadas consoante a necessidade do caso clinico apresentado. é uma
área demasiado vasta para ser resumida à acupunctura e se resumir a uma técnica
terapêutica a anexar a uma área da saúde já existente. Dai a importância de uma
licenciatura sólida que possa garantir aos utentes um serviço de saúde fiável. E
se quer minha opinião (e por ter estudado ambas as medicinas convencional e
chinesa) 4 anos é bom mas não é o suficiente e então uma pós-graduação de 2
semestres em acupunctura é claramente insuficiente até mesmo para médicos!!
Minhoto Minho/Galiza
Minhoto
Minho/Galiza Caro: os médicos têm é medo que os congressos da classe
se passem a realizar em Vilar de Perdizes, com o alto patrocínio do Padre
Fontes.
Lydia
Gouveia 28.02.2018 Que titulo soberbamente escolhido! Este artigo
é de facto um elogio de ignorância extrema, é triste que um sub-director de um
jornal tão emblemático como o Público se permite escrever um artigo no qual não
se verifica qualquer analise imparcial, qualquer investigação do objecto
abordado... Gostaria de informar o Sr .Andrade do seguinte: - Desde 1997 que a
OMS reconhece e recomenda a Acupunctura (exercício da MTC) para o tratamento de
184 patologias. - Existem milhares de estudos RCTs que comprovam a sua eficácia.
- Diversas faculdades de medicina em Portugal e no estrangeiro ministram Pós
graduações em Acupunctura (estarão os nossos médicos a enveredar para um lado
oculto?!!) - Vários hospitais propõem consultas de Acupunctura para a dor.
Estará a Ordem dos Médicos a permitir exercício infundado?!
Zut
Mut 28.02.2018 Também a
medicina convencional, Margarida, baseada em testes estatísticos de hipóteses e
de independência de factores. Como suposta cientista social devia conhecer
sobejamente essas ferramentas, mas infelizmente, como já mostrou muitas vezes,
em vez de ciência apenas aproveita o seu lugar para fazer guerrilha política.
Ilda
Martins 28.02.2018 Comparar Homeopatia
ou Medicina tradicional chinesa com cartomantes ou duendes é deveras sem
sentido e demonstra total desinformação ou conhecimento de causa. E usar isso
como argumento para refletir a sua opinião parece-me sinceramente cru.
Charlatães ou ignorantes existem em qualquer parte, até mesmo na medicina
convencional, porque diz respeito ao foro individual. Não sendo da área, sempre
tentei e tento informar-me sobre este tema. A verdade é que, a minha
experiência de contacto com um médico pediatra (sim graduado), com mais de 30
anos de prática em homeopatia, tem-me demonstrado factos, um elevado
conhecimento por parte do profissional e não apenas crenças deste tipo de
terapêuticas. Isto não significa ser radical quanto à medicina dita
convencional. A união mais eficaz. Informe-se!
JP Lisboa "Comparar
Homeopatia ou Medicina tradicional chinesa com cartomantes ou duendes é deveras
sem sentido e demonstra total desinformação ou conhecimento de causa" -
com duendes até concordo. Mas a cartomancia é uma "arte" com mais de
seis séculos e há gente que jura que a coisa funciona. Nesse sentido, qual é o
problema de compará-la à homeopatia, que foi inventada há pouco mais de
duzentos anos? Também podemos ir buscar a bem mais velhinha astrologia, com
raízes tão antigas como as da medicina tradicional chinesa. Porque havemos de
distinguir duas "artes" igualmente ancestrais e baseadas em conceitos
com idêntica validade científica?
Zut
Mut 28.02.2018 Para além de enxaquecas e
talvez uma ou outra situação clínica, não se mostrou haver vantagem em usar a
acupunctura em relação ao efeito placebo, consulte por exemplo o site da
Cochrane, onde são apresentados os resultados de testes independentes de diferentes
terapias. Claro que os adeptos das "medicinas" tradicionais podem
publicar as os artigos duvidosos que quiserem em revistas publicadas e revistas
pelos próprios, mas tipicamente os métodos são muito questionáveis e os
resultados não são replicáveis independentemente.
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