Um, de Maria João Avillez,
que nos seus escritos nos dá sempre lições de beleza, de amor, de sensatez, de
opções de vida como gostaríamos que fossem as da maioria de nós. Desta vez, foi
sobre “Monumentos Nacionais”, quer referentes a Homens de Ciência Médica
apreciados por outros Homens de Ciência - que a maioria das vezes nos passam à
margem, preteridos a favor de outros festivais de maior êxito emocional, próprios
de um povo ruidosamente emotivo - quer de um Convento de grande dimensão e
beleza, mandado construir por um rei Magnânimo, que o dotou de seis órgãos de
superior qualidade, proporcionando frequentes audições por um organista – João Vaz
- de grande virtuosismo.
Talvez não devesse associar-lhe
o texto seguinte, optimista com reticências a respeito da Água, que, afinal,
temos que chegue até às chuvas que o inverno deverá trazer, livrando-nos destes
histerismos de terror pelo fim. É de um Professor Catedrático -
NOVA SBE – NOVA School of Business and Economics, crespo.carvalho@novasbe.pt – e faz-nos igualmente felizes. Daí o tê-los
associado, pelo bom momento que me fizeram viver. E a minha gratidão por tal.
1º Texto: Monumentos
nacionais
Foi o reencontrar da
simplicidade que costuma definir quem convive naturalmente com o seu próprio
saber e faz dele um serviço. Sessão memorável, um Portugal digno de registo.
1. Era um dia banal,
uma sessão comum, nada me faria antecipar a sorte de estar ali nem adivinhar a
surpresa: que Portugal era aquele de que temos tão pouca notícia?
Habituada como estou ao
país ficcional e dependente que nos “servem”, espantei-me. Não devia. Há
mais Portugal por detrás de écrans e manchetes e mais oxigénio fora da espuma
dos dias e dos seus geralmente desqualificantes episódios. Sentada porém na
meia luz silenciosa de uma plateia lisboeta, o olhar e o ouvido fixados no
friso de oradores sobre o palco, foi-me porventura mais impressiva aquela
descoincidência entre o país “publicado” e a excelência – humana,
cientifica,intelectual — que transpirava da sala.
2. Tratava-se de um
livro. Aberto e lido, “Médicos
e Sociedade” – Para uma história da Medicina em Portugal no Século XX”
(By the Book) é, página a página, uma obra substancial e inovadora. Interessará
a leigos como eu, será matéria de estudo e consulta, guia de aprendizagem,
registo de sabedorias passadas, constará como referência. O tema nada ou quase
nada me dizia, a sessão ter-me ia provavelmente passado despercebida não fora o
terem tocado audivelmente os “tan-tans” da selva na família: um dos
capítulos é exclusivamente dedicado ao meu bisavô Thomaz Mello Breyner, grande
estudioso, clínico inovador no tratamento da Sífilis, professor, médico da
corte, cidadão de estirpe moral e cultural que nos deixou muito interessantes
“Memórias” (e não menos aliciantes “Diários”). Em boa hora fui ao encontro
daqueles sábios – os “contados” no livro e os seus “contadores” — agradecendo
intimamente ao bisavô que, estou certa, seguiu de algum canto do céu e com
deleite igual ao meu esta tarde singular.
3. Tratava-se de um
livro mas não foi só isso. Foi o brilho das apresentações escutadas, a
qualidade cientifica e cultural dos oradores — António Barros Veloso,
Henrique Leitão, Luís Damas Mora, António Rendas (e Salvador de Mello, que
tornou possível a obra mercê do patrocínio da José de Mello Saúde); foi o
reencontrar essa espantosa simplicidade que costuma definir quem convive
naturalmente com o seu próprio saber e faz dele um serviço. Foi enfim o
silêncio da plateia perante a palavra do palco. Sessão memorável, um Portugal
digno de registo.
4. Um livro é sempre um
bom princípio, mas este trazia atrelado uma longa e boa história. Praticante
do “a César o que é de César”, vamos ao nosso César. Chama-se António
José de Barros Veloso e é um monumento nacional. Pelo que sabe, pelo que fez
pela sua vocação clínica, pelo modo como a exerceu, pelo seu entendimento do
que é e para que serve a cultura. Pelo que fez com a vida. (Substituiria com
vantagem – uma vez que fosse… — qualquer um dos 22 jogadores que todos os dias,
vezes demais, vemos nas televisões a correr atrás da bola, e sabe Deus como
gosto de futebol).
Barros Veloso,
especialista de medicina interna já reformado, exerceu o seu oficio no Hospital
dos Capuchos, onde foi director de serviço. Foi sempre um servidor público,
assumiu mil responsabilidades, teve carreira exemplar. Tem o olhar atento, o
gesto vivo, o diálogo sedutor e, hoje, os mais enérgicos e viçosos 87 anos de
que me lembro. Nas suas outras encarnações — a sua vital curiosidade impedir-lhe-ia
apenas uma — escreveu um belíssimo livro sobre o Sanatório do Caramulo, é
exímio no piano a tocar jazz, dedicou-se, a meias com a mulher, médica também,
ao estudo do azulejo de fachada do século XIX, fez e faz incontáveis
conferências, possui obra publicada, prémios, reconhecimento.
Ciente e consciente de
que era preciso que se conhecesse melhor a nossa (formidável) história médica e
das etapas que foram contributo para a medicina universal, Barros Veloso meteu
incansáveis mãos à obra. Uma empreitada. Quase novecentas páginas coordenadas
por ele, dezenas de autores (médicos, historiadores, sociólogos, biólogos),
cinquenta capítulos quase jubilosos na quantidade de história e informação que
nos oferecem.
“Fiz um guião mais ou menos
cronológico, escrevi os primeiros capítulos…”
Entre a surpresa e
alguma dúvida, desagua-se num orgulho pasmado: como foi possível, Portugal tão
pequeno, modesto, longe de quase tudo?
Surpreendem-nos os feitos
clínicos, as inovações, investigações, estudos, descobertas, mas também as
marcas culturais e civilizacionais deixados quando se constata como este largo
friso de portugueses esteve em relevo na sociedade do seu tempo: exercendo,
inovando, intervindo, discordando, agindo. Perceberam e usaram o poder que
tinham, influenciando e transformando: Ricardo Jorge, Egas Moniz, Pulido
Valente, o açoriano Azevedo Neves, Reynaldo dos Santos, Lopo de Carvalho,
Bissaya Barreto, Abel Salazar, Miguel Bombarda, Corino de Andrade, Jaime
Salazar de Sousa, Thomaz de Mello Breyner e… a Rainha D. Amélia foram, entre
outros de igual mérito, parte integrante da própria história do país.
5. António José
Barros Veloso lembrou-se do historiador Henrique Leitão:
conhecia-o, apreciava-o, “elegeu-o” para esta aventura. Pouco depois
juntou-se-lhes Luís Damas Mora.
Não seria, decidiram eles,
“uma história da medicina do século XX em Portugal”, mas um contributo
“para” ela, “tentando perceber o que se passou”. Era preciso contar, “indo
buscar o que eles não escreveram”. Sabiam que a tarefa era ciclópica e o
resultado incompleto, mas também sabiam que um dia se contará o resto.
“Este livro é sobretudo
uma primeira tentativa de abordar a medicina portuguesa do século XX, num
registo que não interesse apenas a clínicos ou historiadores”, explica Henrique
Leitão. “Aliás, quando se pensa na importância que os médicos e a medicina
sempre tiveram na definição de noções tão importantes como vida, morte,
normalidade, saúde, corpo, é surpreendente a pouca atenção que esta história
tem merecido nas descrições da vida cultural do nosso país.”
Houve a escolha dos
autores, a época da escrita, o tempo das revisões (“cyn foi épico ter de cortar
alguns textos e uma ousadia tocar naqueles pergaminhos…”), houve o “notável
trabalho gráfico da By the Book”. Foram três anos de sobressalto que o livro
venceu.
Como se, contra morosidades
e peripécias, se fosse escrevendo a si próprio. Lendo-o uma coisa porém é
certa: como ponto de partida deve ser impossível fazer melhor.
6. Pedi para conhecer a
alma deste livro, ficara muito curiosa. José António Barros Veloso foi amável,
conversámos uma manhã. Tinha vindo a pé, pull-over e camisa sem gravata, estava
bem disposto. Falou-me da vida, dos filhos (“foi um deles, o Francisco, quem
fez o som da “Peregrinação”, o filme do Botelho, trabalha em cinema), de
arte, dos seus outros interesses:
“O piano é uma paixão,
fiz muita música, tudo de ouvido. Cresci a ouvir a minha mãe tocar Beethoven e
Mozart. Este verão toquei no Hot Club com os melhores músicos de jazz da
Península Ibérica…Os azulejos? Foi um interesse que nasceu nos anos oitenta.
Fotografámos, estudámos, a nossa obra é considerada pioneira…”
Com uma convicção
emocionada, recordou João Lobo Antunes: “Ainda fez dois capítulos para
este livro . (Pausa triste) Era talvez o único senador português…”
Era, sim.
7. Mafra também é Monumento Nacional.
Voltei uma noite destas
para um extraordinário concerto com seis órgãos e três coros que celebravam uma
missa de autor anónimo do século XVIII.
Vejo por lá cachos de
turistas, tenho pena de não ver mais portugueses nos concertos da Basílica, nos
claustros onde cheira a buxo, na monumentalidade daquela pedra de onde se
soltam episódios de boa e má fortuna da nossa História.
A travessia do Palácio é
uma experiência invulgaríssima, a sua Biblioteca um dos nossos melhores
ex-libris. Aprendi recentemente que a Enfermaria – pela forma inovadora como a
sua “funcionalidade” foi idealizada e concretizada — continua hoje a ser
objecto de alta apreciação, cá dentro e lá fora. Os dois carrilhões e a sua
“maquinaria” têm devotos, estudiosos e visitantes vindos de todas as partes,
num espanto que desde que a ousadia visionária do Magnânimo D. João V os fez
encomendar nunca esmoreceu. Órgãos e carrilhões são citados mundo fora. (E o
inexcedível zelo e a sabedoria com que o organeiro Dinarte Machado
permanentemente cuida deles é outro caso de reconhecimento internacional).
Mafra não se esquece.
8. Num
louvável entendimento de serviço público — a que não pode ser alheia a
capacidade de iniciativa de Mário Pereira, director deste Palácio Nacional e a
sua “fibra” de zelador pelas jóias do Estado –, os primeiros domingos de cada
mês trazem-nos o som dos seis órgãos em concertos organizados por João Vaz. O
organista-estrela costuma explicar às plateias da Basílica que a excepcionalidade
daqueles momentos musicais não reside apenas no talento dos organistas ou no
número dos órgãos, mas sim no facto “único no mundo” (Vaz dixit) de terem sido
construídos “para tocar como se fora um só”. João Vaz tem-se aliás “ocupado”,
ele próprio, da (inspirada) transcrição para seis órgãos de diversas peças,
alargando o leque das escolhas destes (e doutros) concertos, enriquecendo assim
o reportório musical à disposição de organistas e músicos. Um quase milagre a
preservação de tudo isto. Mas tal como quase sempre acontece com os grandes
feitos e ocorreu na história do livro que acima referi, também este milagre tem
o nome — e a vontade — de duas, três pessoas, quatro pessoas.
À sua maneira são também
elas monumentos nacionais. O que não pode deixar de nos conferir uma espécie de
responsabilidade. Imaterial ou humano aquele património é nosso. Aquilo é
connosco.
2º TEXTO: Há água em Portugal
Se consumíssemos menos
água seria bom? Sim, seria. Mas se fossemos mais visionários já teríamos feito
a ligação de algumas redes a outras no sentido de permitir uma melhor gestão
dos recursos hídricos
A barragem do Alqueva, o
maior lago artificial da Europa e contra a qual muitos se enfureceram e na
altura se manifestaram contra, foi e é uma das mais importantes obras
hídricas de sempre, senão a mais importante, em Portugal.
Esta barragem, se bem
que com o objetivo primeiro (ou inicial) de permitir regadio no baixo Alentejo,
desde sempre fortemente depauperado pela seca, é também um reservatório de água
gigantesco a céu aberto. É, claramente, a maior reserva de água do país. São só
1.100 Km de margens e 250 Km2 de albufeira.
Esta mesma albufeira
comporta, em termos globais, cerca de 4,15 mil milhões de metros cúbicos de
água. Na prática estes valores serão os máximos e não os médios. O nível
observado (no Alqueva) em Novembro de 2017 era de 2,9 mil milhões de metros
cúbicos (cerca de 70% da sua possibilidade máxima que são os tais 4,15 mil
milhões de metros cúbicos de água).
A par com este colosso de
água temos ainda, em termos de bacias hidrográficas e sem falar em
águas subterrâneas, outras menos expressivas mas, em todo o caso, importantes:
bacias do Arade, do Ave, do Cávado e costeiras, do Douro, do Lima, do Mira, do
Mondego, das ribeiras do Algarve, das ribeiras do Oeste, do Sado e do Tejo.
Todas as águas superficiais
destas bacias somam a bonita quantia de cerca de 11 mil milhões de metros
cúbicos comportados (possíveis). Em Novembro de 2017 a quantidade, por
baixo, nestas bacias era de cerca de 7 mil milhões de metros cúbicos
armazenados. Ou melhor, grosso modo, de cerca de 60% dos recursos
possíveis superficiais totais.
Seria um erro considerar
que toda esta água seria apenas para consumo humano. Demasiado óbvio. A
atividade económica, em particular a agrícola, precisa de boa parte desta água.
A geração de energia, embora muita água possa ser recuperada, idem. As
indústrias precisam igualmente de muitos dos metros cúbicos de entre estes 7
mil milhões de metros cúbicos atuais.
Ainda assim, façamos umas
contas por alto. O consumo humano é de cerca de 220 a 250 litros de água por
dia. Em metros cúbicos, e pelo máximo, daria qualquer coisa como 912,5 milhões
de metros cúbicos por ano para 10 milhões de habitantes. Ora estes 912,5
são bem inferiores aos atuais 2900 milhões que estão disponíveis no Alqueva e
bastante inferiores aos 7000 milhões disponíveis em Novembro em todas as bacias
acima contabilizadas. Representam nada mais nada menos que, números redondos,
31% do Alqueva de hoje e 13% dos recursos hídricos totais em Novembro (Portugal
Continental).
Em todo o caso e para
além destes recursos superficiais ainda existem os recursos hídricos
subterrâneos. Uma parte da água de consumo (cerca de 30%) vem de fontes
subterrâneas.
Todas estas fontes,
repita-se, não serão apenas para consumo humano, bem vistas as coisas. Nem
serão os consumos mais importantes pois a economia, do primário ao terciário,
consome a maioria da água. Em todo o caso, é bom saber que ainda temos água.
Contas feitas por alto e ainda temos…alguma água.
Portanto, ainda que o
clima (ou a mudança dele) contribua para nos depauperar, ainda que jogue contra
nós, talvez possamos aguentar, sem grandes histerismos desnecessários e
campanhas radicalizadas, mais algum tempo até que o inverno possa contribuir
para a reposição hídrica necessária: restabelecer níveis de albufeiras,
realimentar aquíferos e níveis freáticos nos solos, aumentar humidades e
regular ciclos de origens e consumos de água. E começar desde já a trabalhar
nas soluções estruturais, evitando pensamento com base nas dores do momento.
Podemos, de facto, estar
a mudar de clima e de paradigma quanto à quantidade do recurso água de que
dispomos. Se chove cada vez menos e se o clima está alterado ou a alterar-se
pode ser que não seja apenas nos cenários macro-económicos que possamos ser
considerados África+1 (África mais um). Para trazermos algum realismo a esta
frase basta olharmos para o nível da dívida e para mais dois ou três
indicadores para percebermos que estamos mais próximos de África (Norte de
África) do que do centro da Europa.
Tudo isto e aqui chegados
apenas para dizer que o mais incompreensível na história das roturas de águas
em certos pontos do país, assistindo-se a operações espetaculares de camiões
cisterna e composições de água que rumam a repor os níveis em certas áreas mais
depauperadas, nomeadamente através da captação noutros locais, seguida de
transporte rodoviário e posterior lançamento superficial (com perdas enormes,
diga-se), é um cenário pouco edificante. Talvez necessário face às
circunstâncias mas pouco edificante. E muito mais próximo de África do que da
Europa a que pertencemos.
E qual é a causa para
este sintoma? Tal como no combate aos fogos florestais falta (e faltou) uma
cadeia de comando única entre todas as forças e recursos mobilizados (isto sem
falar em prevenção), o que implica centralização, na água falta colocar os
sistemas e múltiplos sistemas regionais e municipais a comunicar entre si.
Descentralizados pecam por apenas abastecer as suas regiões mas não podem, se
em presença de água, abastecer regiões próximas ou até mais longínquas
depauperadas.
Um especialista no assunto
dizia-me que, no caso do Algarve havia 2 sistemas distintos, Barlavento e
Sotavento. De um lado origens, do outro maior consumo. A resolução do
problema passou por se fundirem os sistemas tendo-se construído uma primeira
estação elevatória reversível que permitiu e permite transferir água tratada de
um lado para o outro, de acordo com as necessidades. E que mais tarde viria a
construir-se uma segunda. Se isto acontece agora “no mesmo sistema” também é
possível acontecer entre sistemas isolados que passem a comunicantes. E também
é possível que haja puro transporte por pipeline. Dir-se-á que terá que haver
investimento. Verdade. Mas o investimento faz parte da equação perante
problemas destes. Porque não se fez este investimento no passado? Por exemplo
quando, ao fim de 50 anos com um projeto nas mãos, se resolveu finalmente
avançar com a barragem do Alqueva?
O que temos, no final do
dia, é menos água. Mas água na mesma. Muito embora não distribuída.
Assim, o que nos falta está
muito mais do lado da interconexão entre pontos sendo ou devendo ser este um
dos caminhos, senão o principal, que deve presidir à gestão dos recursos
hídricos. A interconexão dos sistemas o homem pode dominar. A chuva,
admitamos que é complexo. O stock de água rompe, então, não por falta de água
no sistema total continental mas porque há vários subsistemas descentralizados
e o stock descentralizado sofre as penalizações da não comunicação com um
“centro” que, neste caso, será uma outra rede com excedentes ou com stock não
depauperado. Não rompe só por falta de chuva ou por falta de água. Como se viu,
existe água.
Ver as imagens
televisivas de camiões cisterna a abastecer zonas de recolha de água
superficial é um espetáculo, de facto, pouco dignificante. A pergunta
principal, e que ninguém faz não se percebe bem porquê, é porque é que os
sistemas, não todos mas alguns, não comunicam?
Porque é que as
albufeiras (o Alqueva é apenas um exemplo), que são armazéns de águas superficiais,
não comunicam com outros sistemas de águas? Se a gestão das origens é
fundamental é não menos importante a gestão das interconexões e dos destinos.
Podemos ter armazéns descentralizados mas com isto não resolvemos a falta de
água, de stock, em alguns pontos do país.
Não se pede que isto seja
feito de modo a criar depósitos centrais e centralização absoluta das redes de
água. Mas pede-se que haja backups e comunicação entre as redes que apresentam
excedentes e aquelas que usualmente enfrentam roturas mais cedo. É também esta
a forma de pensar recursos e sobretudo de racionalizar a água que temos.
Se consumíssemos menos água
seria bom? Sim, seria.
Se fôssemos mais
racionais na utilização dos recursos seria bom? Sim, seria.
Mas se fôssemos mais
visionários já teríamos feito, tal como já fizemos o Alqueva, a ligação de
algumas redes a outras no sentido de providenciar backups interessantes a
pontos onde haja menos recursos hídricos.
Tudo junto e há em Portugal
um problema grave. Primeiro confunde-se a centralização dos sistemas
(empresariais, leia-se) com uma espécie de economia centralizada que falhou.
Nada tem uma coisa a ver com outra, enfim. Depois, não se percebem as
principais oportunidades trazidas pela centralização em algumas áreas da
economia e da gestão dos recursos. E isto é uma pena. Estamos a falar de uma
matéria da área das operações. A que Peter Drucker apelidou de “The Economy’s
Dark Continent”. Simplesmente, para Drucker esta era já uma matéria pungente em
1962. Para Portugal, digo eu, é uma matéria pungente há muitos anos mas
apenas se está a ter consciência vagarosa dela (oxalá se tenha!), em termos de
águas e de fogos, em 2017, 55 anos depois. Com uma diferença colossal. 55 anos
depois e ainda não sabemos o seu significado apesar da dor que lhe está
associada.
Portanto, melhor
esquecer a ideia de que Portugal não tem água. Melhor começar a pensar que sim,
tem alguma água, está é mal distribuída. Existindo pontos que, de facto, não
têm água suficiente. Mas que existem soluções para isso. Claro que implicam
investimento mas, não menos, visão.
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