Era Belmiro de Azevedo um
desses capitalistas que se fartou de ganhar dinheiro e foi empregador de
milhares de pessoas, que, ouvimo-lo às vezes, não podiam ganhar muito, porque
se ganhassem muito, ele não poderia empregar tantas, pois empobreceria. Era,
pois, um explorador, um sanguessuga dos homens, por isso Jerónimo de Sousa não aderiu
ao voto de pesar pela sua morte e o Bloco e os Verdes abstiveram-se, não sei se
por julgarem que ele devia ser mais justo na repartição dos seus lucros, como
fazia, por exemplo, o Ford com os seus empregados, pagando-lhes bem para eles
poderem comprar os carros da sua marca, e serem todos igualmente felizes,
noutros tempos, lá nos States. O que é certo, é que Belmiro fundou um império à
sua maneira e foi um homem muito rico que geriu o seu império com a consciência
de que não somos como os outros países, que trabalham bem e evoluem, e por isso
os seus trabalhadores são mais bem pagos, nas suas economias mais bem
repartidas do que cá, até porque seguem regras que lhes são impostas, ao contrário
daqui, onde se falta muito ao trabalho, graças aos atestados médicos que ajudam
os médicos a recolher umas côdeas também, tudo muito bem combinado, pois o
trabalho é sempre uma seca, e o Estado é flexível nessa coisa das competências,
que não servem assim tanto para fazer evoluir, pelo menos no caso dos profes. Belmiro de Azevedo tinha a pecha muito à
portuguesa de, primeiro eu, segundo eu e afinal, eu sempre, naquele espírito estreitinho
como é o nosso, excepto o do Jerónimo de Sousa, que ama os desprotegidos, e
também o do papá das manas Mortágua, mas este não fundou impérios, para
enriquecer, preferiu assaltar bancos, segundo consta na Internet. Bancos e
navios, mas era por uma causa boa, que a ditadura de Salazar já ultrapassava as
marcas, a mandar em todos, com mão mesquinha, ainda por cima, embora fornecesse
emprego para todos, como eu tive o meu, mal pago na altura, mas com dinheiro
nosso, mais bem pago agora, mas com dinheiro alheio. Quanto ao nosso grande
Belmiro, o espírito é o mesmo que o que reinava entre nós na altura de Salazar,
os bons empregadores – mais justos – eram sempre estrangeiros.
Por mim, não se me dava que
houvesse muitos Belmiros de Azevedo por cá, sinal de que havia emprego para
todos, embora os salários fossem mesquinhos, mas sempre eram trabalho, ou seja,
emprego, mas as esquerdas acham que antes de produzir é preciso distribuir,
ainda mais o dinheiro que não ganhámos, porque foi de empréstimo, como explica “Parece que acabou a festa do dinheiro”,
onde a sorte que nos espera está toda contida não só no título, como em todo o seu
artigo do OBSERVADOR. Basta lê-lo, mas antes, transcrevo da Internet um artigo
sobre os Mandamentos de Belmiro de Azevedo, sobre o seu Homem Sonae, cheios de regras, como as que
Jeová traçou na pedra para o seu seguidor Moisés fazer aplicar e que não admitiam
atestado médico:
O Homem Sonae”: os dez mandamentos de Belmiro de Azevedo
O chairman da Sonae, Belmiro de Azevedo. Em 1985, o empresário
teve a ideia de propagar uma cartilha em que definiu o que devia ser o chamado "Homem
Sonae". O colaborador ideal, no fundo. A primeira reunião de
altos quadros do grupo Sonae acontece a 28 de maio de 1985. O encontro
fica marcado pela apresentação dos dez mandamentos do grupo, a famosa
cartilha do “Homem Sonae”, que no fundo são as leis a seguir para se ser o
empregado exemplar, o colaborador ideal, supostamente feito à imagem do
presidente, Belmiro de Azevedo. Apesar de ser um rol de mandamentos a
pensar na empresa e na sua gestão, o texto assume contornos quase religiosos. “Devoção
às tarefas”, “ser justo”, “aceitar perder sem ressentimento”, “aceitar
críticas”, “ser conhecido pela verticalidade do seu caráter”, “ter
disponibilidade temporal e resistência física”, “ser rigoroso em termos de
valores”. Segundo o livro do jornalista Filipe S. Fernandes, intitulado
precisamente “O Homem Sonae” (publicado originalmente em 2008), Belmiro
terá sido o primeiro empresário português a apresentar tal lista com regras de
ouro para o trabalho e os negócios. Dez ditames para quem quisesse
pertencer de corpo e alma ao grupo, ser respeitado e conduzir a Sonae ao
sucesso. A monografia, feita a partir de “textos escritos e entrevistas
concedidas por Belmiro de Azevedo ao longo dos anos”, começa com o próprio
Azevedo a falar: “Assumi como estilo de vida pessoal e atitude empresarial
do grupo que dirijo: be prepared, ou seja, prepare-se para decidir com pouca
informação, com pouco tempo. Por mera coincidência, o acrónimo Sonae tem, em
japonês, exatamente tal significado”, contou o engenheiro. Em baixo, os
dez mandamentos do “Homem Sonae” que o histórico empresário levou à primeira
reunião com sete dezenas de altos quadros, em 1985. Mandamentos para serem
cultivados no seio do grupo. “O Homem Sonae” “1. O Homem Sonae ou é líder ou
candidato a líder; 2. O Homem Sonae é culto,
evoluindo do seu estágio de competência técnica para o estágio de Homem culto
em geral; 3. O Homem Sonae deve ter
disponibilidade temporal e resistência física para vencer períodos mais
intensos de carga de responsabilidades; 4. O Homem Sonae deve ter
disponibilidade mental para aceitar críticas vindas de superiores ou
subordinados, deve reagir ou replicar, mas deve evitar a retaliação
sistemática; 5. O Homem Sonae deve ter apreço
pelo trabalho dos seus subordinados,
cuidando permanentemente para que as condições de trabalho e o grau de
conhecimento de todos os trabalhadores sejam continuamente melhorados; 6. O Homem Sonae deve ser
reconhecido interna e externamente pela verticalidade do seu caráter; 7. O Homem Sonae deve ter
elevados critérios de exigência pessoal, com forte devoção às suas tarefas,
embora procurando sempre um justo equilíbrio com outras atividades; 8. O Homem Sonae deve ter um
código ético e deontológico rigoroso em termos de valores; 9. O Homem Sonae tem de aceitar
o desafio da concorrência interna e externa; 10. O Homem Sonae procura a
excelência e fá-lo pelo somatório das boas decisões que vai tomando e excluindo
liminarmente os erros parciais.”
Eu, todavia, ainda acrescentaria os dois mandamentos-síntese:
Amar Belmiro de Azevedo sobre todas as coisas, e o próximo como a nós mesmos,
anulando-nos. É o espírito que reina também na Coreia do Norte, protegida,
essa, pelo alimento chinês.
Parece que acabou a festa do dinheiro
21/11/2017
O orçamento para 2018
acabou por se transformar num regabofe demagógico de promessas impossíveis de
cumprir. As reformas que o país necessitava ter feito ou foram desfeitas
ou ficaram pelo caminho.
Conforme citei na semana
passada, o jornal «El país» da vizinha Espanha explicou claramente por que
razões “a festa do dinheiro acabou”. A isso acresce que
as economias periféricas da União Europeia são as mais mal preparadas para o fim próximo do chamado
“Quantitative Easing” (QE), ou seja, a compra gigantesca de dívida soberana que
prossegue ainda na UE mas já terminou há dois anos nos Estados Unidos, onde a
taxa de juro subiu entretanto para 1,25% enquanto na UE se manterá por algum
tempo em zero por cento.
A razão por que os países
periféricos, entre os quais Portugal, estarão entre os mais mal preparados para
a mudança da política monetária mundial é que não fizeram as reformas que o
“QE” era suposto facilitar, mas que a coxa coligação que hoje nos governa
não só não fez como reverteu o pouco que o anterior governo ainda teve tempo de
fazer durante a intervenção financeira dos nossos credores. Não fez e não fará
reformas urgentes, de certeza até às eleições previstas para 2019, a fim de
permitir à “geringonça” manter-se no poleiro.
Com efeito, o orçamento
para 2018 acabou por se transformar num regabofe demagógico de promessas
impossíveis de cumprir. Embora recomende que os partidos o “viabilizem”, é a
antiga ministra Ferreira Leite quem garante, ao mesmo tempo, que “o orçamento é
inviável”. São contradições que mostram o estado em que está o nosso sistema
partidário!
O certo é que as reformas
estruturais que o país necessitava ter feito ou foram desfeitas ou ficaram pelo
caminho. Voltámos, pois, à estaca zero, isto é, à situação estrutural que
acabou por levar ao resgate financeiro de 2011.
O crescimento iniciado
em 2015 ainda se devia em parte às mudanças realizadas durante a intervenção da
“troika” e indicava uma perda de 5 pontos percentuais do PIB per capita em relação à média europeia, ou seja,
menos do que vários outros países. Hoje, o crescimento económico não só parece
estar a fraquejar, perdendo Portugal produtividade e, portanto, competitividade
externa, como fica abaixo da média da UE. Manifestamente, a economia portuguesa
é hoje meramente puxada pelo ciclo mundial favorável. Tudo porque Portugal
voltou ao início do século XXI e à estatização da sociedade através do emprego
público e não só. O turismo e a especulação imobiliária são falsas alavancas
que apenas fazem cair a produtividade média.
Neste contexto, perguntavam
alguns leitores do
meu anterior artigo quais as reformas estruturais de que o país
carecia para não andar de novo para trás e, se possível, desestatizar a
sociedade e deixar a economia desenvolver-se sem a intervenção
proteccionista constante do modus vivendi dominante.
O leitor Pedro Simões foi o primeiro a responder a outros intervenientes no
debate com o seguinte comentário: “Reformar a economia, administração
pública, segurança social, mercado de trabalho, mercado da energia, educação,
ensino superior, justiça, administração interna, sistema eleitoral,
regionalização”.
As reformas são essas e
outras, dependendo de como fossem concebidas. O problema é que não serão postas
em prática enquanto o actual governo durar. “Reformar a economia” seria em
princípio algo que decorreria segundo os condicionamentos positivos e negativos
do mercado, a começar pelo mercado do emprego e dos capitais. Dada a dimensão e
exposição da economia portuguesa, isso significa que tais mercados são
internacionais, europeus para começar, mas os parceiros do PS não lhe permitem
reconhecer isso.
Segundo os especialistas
ouvidos pelo El País, a crise financeira levou o sector privado, sobretudo o
exportador, a fazer “importantes ganhos de eficiência graças à melhoria da
produtividade devida à redução do custo do trabalho”. Ora, não é disso
nem do previsível aumento gradual do custo do dinheiro que se ouve o PS falar
e, consequentemente, do que acontecerá ao investimento privado e estatal, mas
sim de reversões atrás de reversões, até que nada fique das lições que o
país tinha aprendido!
A tudo isso acresce o
fenómeno de envelhecimento sócio-demográfico crescente que Portugal vem
conhecendo desde os anos 80 do século passado, causado não só pela emigração e
pelo aumento da longevidade, mas sobretudo pela queda cada vez mais acentuada
da fertilidade, fazendo
de Portugal um dos países do mundo com a taxa mais baixa (1.23
por mulher em 2015)!
Ora, um grau de
envelhecimento destes obriga a reconsiderar todo o sistema de reformas e
pensões, conforme vários especialistas têm vindo a defender, assim como o
financiamento e o funcionamento do sistema de saúde, o qual se verá cada vez
mais pressionado pelas pessoas idosas se nada for feito. Ora, estamos a falar
de perto de 50% do orçamento de Estado e mais de 2 milhões de pessoas com mais
de 65 anos, mas nada de novo se vê neste campo, pois os governos estão presos
pelos seus mecanismos clientelares. Imaginemos o que não será se e quando o
ciclo económico se inverter.