segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Liceu? Qu’est-ce que c’est?


A minha irmã não costuma trazer-me o Correio da Manhã do domingo, que entrega a outra pessoa, que o aprecia, mas este foi especial:
- Vais gostar do artigo sobre Passos Coelho. 
E gostei, mais do que todos os que tenho transcrito sobre o ex-presidente do PSD. Consola sempre ler de alguém aquilo que outrem pensa sobre esse alguém, quando a afinidade de pensamento com o nosso é total, não só sobre a pessoa em si - «Sem dúvida que tudo isto tem a ver com carácter, com personalidade, até com educação - e isso, ou se tem ou não se tem» - como sobre a repercussão que gostaríamos que o seu exemplo provocasse - seria bom que, ao nível dos valores, dos princípios e da postura, o exemplo de Pedro Passos Coelho lhe sobrevivesse. São palavras escritas pelo deputado Luís Campos Ferreira, na última página do CM de quinta feira, 5/10.
Ainda hoje, domingo, ouvi a Ana Gomes e Morais Sarmento, este com conceitos de apreço e respeito pelo trabalho e postura de Passos Coelho, aquela com o seu tom estridentemente agressivo e facundo em lugares comuns, de um desprezível propósito de rebaixar com um exibicionismo de virtude democrática, indiferente às contingências em que governou Passos Coelho, ou apenas com a malquerença de quem dista bastante do aprumo moral daquele.
E é este o panorama de um país que não soube aproveitar as qualidades de quem poderia oferecer uma orientação de seriedade, que deixou de existir no nosso país, o qual prefere dar a vitória a quem se vai distendendo risonhamente na sua pose de chefia, com os seus acólitos que fingem impor-se-lhe e a quem António Costa finge apoiar com as suas côdeas da atracção popular que por esse motivo o elegeu.
Os americanos podem dar-se ao luxo de escolher para seu chefe alguém com o perfil tosco de um Donald Trump a quem parece faltar equilíbrio e classe, embora lhe sobre a superioridade da riqueza que deslumbrou o povo. Mas a nós, faltando essa superioridade produtiva, para mais condenada por uma esquerda desde sempre ameaçadora de desordem, em ficção de caridadezinha, preferimos a caridadezinha, à falta da produtividade proveniente do trabalho. Por isso escolhemos Costa, por conta da caridadezinha. Como ainda esta manhã dissemos, na nossa esplanadazinha domingueira, somos um país que baniu a palavra “liceu” do seu vocabulário, coisa de elite, que outros povos ainda se podem dar ao luxo de ter, mas nós já não, por ser coisa de elites, imprópria do nosso consumo de parolice.
Exemplo
Luís Campos Ferreira
Correio da Manhã, 5.10.17

A esquerda deve estar satisfeita agora que Pedro Passos Coelho decidiu não se recandidatar à liderança social-democrata. Finalmente conseguiu o que andava a pedir há pelo menos seis anos. Percebe-se, sobretudo pelo contraste, por que um político como Passos incomoda tanta gente - não apenas fora mas também dentro do seu partido. Numa altura em que a seriedade política, a coerência e o sentido de Estado parecem não ter um particular "sex appeal", a postura do líder do PSD sempre teve o condão de irritar aqueles que se orientam por outro tipo de guiões. E nestes últimos tempos, no meio da inebriante euforia de resultados positivos, Passos Coelho era mais do que nunca uma "avaria cantante/na maquineta dos felizes", como diria Natália Correia. Pois aqui está algo que o PSD não deveria perder. Independentemente do futuro caminho político e programático que venha a ser percorrido pela nova liderança social-democrata, seria bom que, ao nível dos valores, dos princípios e da postura, o exemplo de Pedro Passos Coelho lhe sobrevivesse. Sem dúvida que tudo isto tem a ver com carácter, com personalidade, até com educação - e isso, ou se tem ou não se tem. Mas tem muito mais a ver com uma profunda e maturada compreensão do que é desempenhar um papel preponderante na vida política de um país e do que é servir a causa pública. Passos recuperou, para o espaço público e político, essa seriedade (alguns chamar-lhe-ão gravidade), que se tinha completamente eclipsado no anterior consulado de Sócrates e que se voltou a esfumar com a posterior chegada de Costa. Alguns dirão: as pessoas não querem saber disso, querem é coisas concretas e palpáveis. Mas haverá algo com consequências mais concretas para a vida das pessoas do que levar o país a sério? Foi isso o que Passos fez, com os resultados que hoje a realidade se encarrega de mostrar.

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