domingo, 9 de abril de 2017

«Vanessa vai à luta», por Luísa Costa Gomes



1 - Classificação e estrutura externa:
Peça dramática infantil dividida em 12 cenas.
2- Localização
    2.1 - No tempo:
     Actualidade. (Sem unidade de tempo):
                11 cenas de tempo cronológico em torno dos sete anos de Vanessa. Tempo físico: Nocturno (Cenas III, IV, VI). Diurno: as restantes.
                 1 cena (cena final), seis meses depois.  

                     2.2. - No espaço:
                             - exterior:  loja de brinquedos (II cena).
     - interior: Alternância entre os compartimentos da casa: sala de estar (Cenas I, V, VII, VIII , IX, X, XII), quarto dos pais (III), quarto de Vanessa e Rodrigo (IV, VI, XI).
3- Personagens:
                - Personagem principal : Vanessa, quase sete anos.
            - Personagens secundárias: Rodrigo (irmão de Vanessa, oito anos); a Mãe; o Pai; a Fada Marina.
4- Caracterização das personagens:
            Vanessa: criança irrequieta, arrapazada, usando os seus brinquedos de menina para os destruir em lutas imaginárias, que ela acompanha, com um discurso dinâmico de termos obscenos dificilmente concebíveis no discurso infantil, mesmo que em combates imaginários entre os bonecos de rapaz (Ken, Action Man, etc.) e de rapariga (Barbie), em que a Barbie sairá vencedora, (forma de inserir a temática da emancipação feminina). Em família, trata-se duma criança sensível, pouco obediente, todavia, retrato da infância actual, demasiado mimada e explosiva, de resposta pronta, aprendida nos filmes infantis que a televisão difunde ou no excesso de mimo e permissividade da educação actual. O seu sonho de presente de anos: uma metralhadora que a mãe recusa e o pai acabará por lhe comprar. Uma criança que começa a despertar para a problemática da vida em torno dos “comos” e dos “porquês” e dos “quem” referentes ao nascimento. Descobre, afinal, que a sua metralhadora servirá para defender a irmãzita que nasceu, contra as oposições convencionais do mundo adulto que não deixam as crianças crescer em liberdade e autonomia (forma de criar uma mensagem “educativa” para as mentalidades rígidas do mundo adulto, demasiado impositivas dos seus próprios estereotipos).

Rodrigo: um garoto mais pacífico e obediente do que a irmã, tão inocente como ela na questão dos nascimentos, um pouco queixinhas, mas amigo e brincalhão, colaborando por vezes nas brincadeiras da irmã, trocando a sua metralhadora pelo bebé chorão (objectivo: demonstrar (à maneira da Simone de Beauvoir - “Le deuxième Sexe”) que não há tanta diferença assim entre os sexos e que a sociedade convencional é que cria as diferenças).

A Mãe: carinhosa, preocupada com a sua elegância, comprando aparelhos de ginástica para emagrecer, ou objectos desnecessários para o filho que vai nascer, como o excesso de roupinhas ou o intercomunicador, inútil na casa pequena. Convencional, relativamente à distribuição de tarefas, roupas e brinquedos pelos dois filhos, incutindo na filha a ideia de um seu passado de penúria - em roupas e brinquedos - mas considerando, com o marido, o excesso de brinquedos nas crianças de hoje, como responsável pela desarrumação, dispersão, indiferença, insatisfação, ambição dos últimos modelos, o que as não faz mais felizes.

O Pai: Homem tranquilo, compreensivo, mas cauteloso nos gastos, criticando a dissipação da mulher, mas ele próprio perdulário relativamente aos seus gostos de coleccionador de aparelhos de telefonia antigos. Ao contrário da mulher, preocupada com os gastos que mais um filho poderá causar, aceita com prazer a ideia. Explica à filha com uma terminologia realista (referente a cromossomas) o mistério da concepção, o que a deixa baralhada, a Mãe tendo-lhe incutido a ideia de que era Deus quem destinava o sexo dos bebés. Será o Pai que oferecerá a metralhadora à filha na festa dos seus sete anos.

Fada Marina: pretende imitar a fada da Gata Borralheira que da abóbora fez a carruagem para a Gata Borralheira ir ao baile do Príncipe. Na realidade, revela-se uma rapariga caprichosa semelhante à rebelde Mafalda - (Modo de troçar das histórias infantis de Grimm, Perrault, Condessa de Ségur… em que o maravilhoso ou os bons exemplos dominam, os bons compensados, os maus castigados ou modificados, segundo a boa doutrina.

Estilo: Próprio da oralidade, simples, a linguagem de Mafalda por vezes obscena, o que parece antipedagógico, como leitura para crianças. Uma intenção didáctica está subjacente à acumulação de nomes ou histórias em torno da banda desenhada dos filmes para crianças.

Temática: A já citada da educação actual contraposta à educação antiga, na qual se enquadram as cenas em que Mafalda parece ditar uma carta ao futuro irmão ou irmã, que servem de apoio ao tema sobre os convencionalismos educacionais: - Na Cena VI (1ª Carta fictícia), Mafalda deseja que seja rapaz o seu futuro irmão, porque o mundo das raparigas é menos livre do que a dos rapazes. Na Cena VIII (2ª Carta fictícia, deseja ter uma irmã, com a pele macia e rosada e lindos vestidos - prova de que Vanessa evoluiu no pensamento, mais acomodado aos costumes convencionais. Na última Cena (XII), o monólogo de Vanessa, já dirigida à irmã no berço, seis meses depois de ter recebido a sua metralhadora, cuja utilidade descobriu: servirá para defender a irmã contra quem a não deixe ser livre para escolher os seus próprios caminhos - tema da educação respeitando a autonomia da criança nas suas opções.

Um comentário:

Anônimo disse...

Kkkkkkk