domingo, 23 de abril de 2017

Enfim! Sós!



Nem vale a pena insistir, é bater no ceguinho, parece mesmo que a tautologia contida na sentença “quanto mais me bates mais gosto de ti” se aplica a este caso. Eu não acredito que o nosso PR não conheça Alberto Gonçalves ou Vasco Pulido Valente que são os mais arrojados a desmascarar as nossas patetices - o que por vezes lhes causa sensaborias, mas igualmente prestígio acrescido, embora mais a nível da Internet, onde funciona a liberdade dos desabafos. Várias vezes ambos lhe apontaram o excesso de exibicionismo nos afectos ou nos gestos, a provocar as manifestações populares de aparente empatia, as mais das vezes salientando deselegância ou atrevimento de povo incontinente mais inspirado nas arremetidas da sua subjectividade indecorosa do que no rigor de uma análise racional. Por isso, não há nada a fazer, sozinhos na nossa casa, abjectamente sui generis e não refazível. Não, o PR continuará pela via apalhaçada e impante do seu procedimento vistosamente conciliatório, que “os pasmados” apreciam, apesar do atestado de “menoridade mental” da designação séria de A. Gonçalves.

O prof. Marcelo no jardim-de-infância
OBSERVADOR, 22/4/2017
Os pasmados são livres de elogiar fervorosamente a zelosa actuação do prof. Marcelo. Mas convinha notar que cada elogio é um atestado de menoridade a Portugal.
Uma avioneta caiu em Cascais e o lugar do acidente foi invadido pelas entidades necessárias: ambulâncias, mirones, estagiários televisivos e o prof. Marcelo. Num instante, a chegada do prof. Marcelo tornou-se o centro da notícia, e o rosto dele omnipresente nas intermináveis reportagens que encheram o dia e animaram a melancolia das redacções. De cada vez que alguém falava para uma câmara, o prof. Marcelo plantava-se atrás, a abençoar o que era dito. Ao que tudo indica, o prof. Marcelo não coordenou a logística, não prestou primeiros-socorros aos feridos, não ressuscitou os mortos e, ao contrário do que se esperaria, nem sequer emitiu qualquer palpite.
Então, o que fez ali? Na TVI, salvo o erro, um sujeito tentou uma explicação: o prof. Marcelo evitou o pânico. Sem ele, a acreditar nesta apologia, multidões teriam corrido pela A5 afora, numa debandada em que valeria tudo incluindo arrancar olhos. Com ele, imperou a calma. Para os que acham que “calma” está longe de ser a palavra mais adequada a um desastre aéreo, não achem. No dia seguinte, e só no dia seguinte, o prof. Marcelo apresentou a própria versão dos acontecimentos: “Estava próximo e as notícias que tinha eram, felizmente, porque depois não se confirmou, muito piores”.
Apetrechado do extravagante optimismo com que troca os sintomas de ruína económica por boas novas, o prof. Marcelo limitou-se a acomodar às circunstâncias a sua visão alternativa (digamos) da realidade. De facto, a avioneta podia ser um 747, o parque de estacionamento do Lidl podia ser a audiência do Rock in Rio e – se por redobrado azar o prof. Marcelo não estivesse próximo – Portugal podia agora chorar milhares de vítimas fatais. Assim, chora apenas cinco, o que, de acordo com o prof. Marcelo, é quase motivo de festança.
Enquanto o champanhe não refresca, vale a pena uma perguntinha: o que é isto? Ao que consta, é um Presidente da República. Os cépticos, aliás uma minoria desprezível, dividem-se em inúmeras teorias para decifrar o comportamento do prof. Marcelo desde que entrou em Belém, no caso da avioneta e no resto. O que é que, afinal, fundamenta o alegre frenesim do homem?
Uns defendem que o prof. Marcelo se encontra francamente ao serviço dos poderes vigentes. Outros julgam que o prof. Marcelo procura armazenar legitimidade e “peso” para o dia em que o arranjinho governamental nos devolver à bancarrota. Outros ainda juram que o prof. Marcelo possui um medo fóbico da impopularidade. Outros, por fim, garantem que a euforia inconsequente é o estado natural do prof. Marcelo. Todos terão um pedacinho de razão.
A mim interessa menos a psicologia do prof. Marcelo do que a essência dos respectivos súbditos. É inegável que, voluntariamente ou não, o prof. Marcelo recuperou a tradicional figura do pai colectivo e, ao invés de Soares ou Cavaco, adaptou-a à sensibilidade da época. Os portugueses de sempre precisam de quem pareça protegê-los. Os delicados portugueses de hoje precisam de quem o faça com meiguice ou, para usar o ridículo termo em voga, “afectos”. A mistura de ambos os atributos descreve o sucesso imediato do prof. Marcelo, e descreve-nos melhor a nós, o “povo menino” a que se referia um falecido poeta – um poeta que acrescentava: o que não dá é para ser país.
No fundo, não é ao prof. Marcelo que compete poupar nas fantasias e esclarecer os cidadãos acerca da fraude em que os afundam. São os cidadãos que, se querem merecer o nome, a deviam identificar. Os pasmados são livres de elogiar fervorosamente a zelosa actuação do prof. Marcelo. Mas convinha notar que cada elogio é um atestado de menoridade a Portugal.
Nota de rodapé
Soube-se recentemente que os representantes de alguns clubes da bola recebem um relatório semanal com as opiniões que, a bem da isenção de cada um, devem reproduzir nos programas televisivos em que participam. No fundo, isto não é mais do que a imitação do que acontece no mundo partidário, onde os comentadores do ramo – invariavelmente independentes – se limitam a debitar o evangelho aprendido na respectiva sede. Umas vezes, é o futebol que segue a política. Outras, como quando governantes contemplam jogos ao lado de dirigentes desportivos ou se atropelam para tirar uma “selfie” com Cristiano Ronaldo, é a política que anda a reboque do futebol. O importante é que a velha e saudável promiscuidade não se perca.
Por sorte, nem todos se contentam em manter viva a tradição: há aqueles que procuram renová-la. O PSD, por exemplo, arriscou um passinho em frente e, na sensata convicção de que duas desgraças juntas produzem uma benesse colectiva, propôs à câmara de Loures um senhor que se notabilizou a falar de penáltis na CMTV. Além de constituir um gesto de simpatia para com os autarcas que passaram a analistas de arbitragem, a coisa promete. E já começou a cumprir.
Para início de conversa, o sujeito em causa, um tal André Ventura, acusou o FC Porto de “ingerência eleitoral”. Certas almas ofenderam-se sem razão. É natural que o sr. Ventura leve para a disputa as únicas referências que compreende, mesmo que absurdas. Se o escolhido fosse um cozinheiro, toda a gente esperaria que a campanha se centrasse no plágio de ementas. E, a julgar pelas amostras, aposto que o PSD candidatou um cozinheiro algures. Falta de respeito pelo poder local? Talvez, e o engraçado é que o poder local merecia ainda pior.

Um comentário arguto:
De Mauro Pires
O Marcelo é e sempre foi, um grande Pirómano chico-esperto. Ele de facto quer e abusa da popularidade para reforçar a "mão invisível" do seu poder Presidencial, Marcelo e Costa foram Professor e Aluno, mas nada impede de Marcelo ser o que foi sempre, um maquiavélico político, que pensa só em si. No momento em que isto correr mal, será o primeiro a dizer que fez tudo para apoiar o governo e foram eles que estragaram tudo. Marcelo tem um ódio de estimação a Passos pois este não é de Cascais, foi um Primeiro-Ministro em situação complicadíssima e mesmo assim ganhou as eleições, e não é maçon. Simples e limpinho.

Nenhum comentário: