Nem vale a pena insistir, é bater no ceguinho,
parece mesmo que a tautologia contida na sentença “quanto mais me bates mais
gosto de ti” se aplica a este caso. Eu não acredito que o nosso PR não
conheça Alberto Gonçalves ou Vasco Pulido Valente
que são os mais arrojados a desmascarar as nossas patetices - o que por vezes
lhes causa sensaborias, mas igualmente prestígio acrescido, embora mais a nível
da Internet, onde funciona a liberdade dos desabafos. Várias vezes ambos lhe apontaram
o excesso de exibicionismo nos afectos ou nos gestos, a provocar as
manifestações populares de aparente empatia, as mais das vezes salientando deselegância
ou atrevimento de povo incontinente mais inspirado nas arremetidas da sua subjectividade
indecorosa do que no rigor de uma análise racional. Por isso, não há nada a
fazer, sozinhos na nossa casa, abjectamente sui generis e não refazível.
Não, o PR continuará pela via apalhaçada e impante do seu procedimento
vistosamente conciliatório, que “os pasmados” apreciam, apesar do
atestado de “menoridade mental” da designação séria de A. Gonçalves.
O prof. Marcelo no
jardim-de-infância
OBSERVADOR, 22/4/2017
Os pasmados são livres de elogiar fervorosamente a
zelosa actuação do prof. Marcelo. Mas convinha notar que cada elogio é um
atestado de menoridade a Portugal.
Uma
avioneta caiu em Cascais e o lugar do acidente foi invadido pelas entidades
necessárias: ambulâncias, mirones, estagiários televisivos e o prof. Marcelo.
Num instante, a chegada do prof. Marcelo tornou-se o centro da notícia, e o
rosto dele omnipresente nas intermináveis reportagens que encheram o dia e
animaram a melancolia das redacções. De cada vez que alguém falava para uma
câmara, o prof. Marcelo plantava-se atrás, a abençoar o que era dito. Ao que
tudo indica, o prof. Marcelo não coordenou a logística, não prestou
primeiros-socorros aos feridos, não ressuscitou os mortos e, ao contrário do
que se esperaria, nem sequer emitiu qualquer palpite.
Então,
o que fez ali? Na TVI, salvo o erro, um sujeito tentou uma explicação: o prof.
Marcelo evitou o pânico. Sem ele, a acreditar nesta apologia,
multidões teriam corrido pela A5 afora, numa debandada em que valeria tudo
incluindo arrancar olhos. Com ele, imperou a calma. Para os que
acham que “calma” está longe de ser a palavra mais adequada a um desastre
aéreo, não achem. No dia seguinte, e só no dia seguinte, o prof. Marcelo
apresentou a própria versão dos acontecimentos: “Estava próximo e as
notícias que tinha eram, felizmente, porque depois não se confirmou, muito
piores”.
Apetrechado
do extravagante optimismo com que troca os sintomas de ruína económica por boas
novas, o prof. Marcelo limitou-se a acomodar às circunstâncias a sua visão
alternativa (digamos) da realidade. De facto, a avioneta podia ser um 747,
o parque de estacionamento do Lidl podia ser a audiência do Rock in Rio e – se
por redobrado azar o prof. Marcelo não estivesse próximo – Portugal podia agora
chorar milhares de vítimas fatais. Assim, chora apenas cinco, o que, de
acordo com o prof. Marcelo, é quase motivo de festança.
Enquanto
o champanhe não refresca, vale a pena uma perguntinha: o que é isto? Ao
que consta, é um Presidente da República. Os cépticos, aliás uma minoria
desprezível, dividem-se em inúmeras teorias para decifrar o comportamento do
prof. Marcelo desde que entrou em Belém, no caso da avioneta e no resto. O que
é que, afinal, fundamenta o alegre frenesim do homem?
Uns
defendem que o prof. Marcelo se encontra francamente ao serviço dos poderes
vigentes. Outros julgam que o prof. Marcelo procura armazenar legitimidade e
“peso” para o dia em que o arranjinho governamental nos devolver à bancarrota.
Outros ainda juram que o prof. Marcelo possui um medo fóbico da impopularidade.
Outros, por fim, garantem que a euforia inconsequente é o estado natural do
prof. Marcelo. Todos terão um pedacinho de razão.
A
mim interessa menos a psicologia do prof. Marcelo do que a essência dos
respectivos súbditos. É inegável que, voluntariamente ou não, o prof. Marcelo
recuperou a tradicional figura do pai colectivo e, ao invés de Soares ou
Cavaco, adaptou-a à sensibilidade da época. Os portugueses de sempre precisam
de quem pareça protegê-los. Os delicados portugueses de hoje precisam de quem o
faça com meiguice ou, para usar o ridículo termo em voga, “afectos”. A
mistura de ambos os atributos descreve o sucesso imediato do prof. Marcelo, e
descreve-nos melhor a nós, o “povo menino” a que se referia um falecido
poeta – um poeta que acrescentava: o que não dá é para ser país.
No
fundo, não é ao prof. Marcelo que compete poupar nas fantasias e esclarecer os
cidadãos acerca da fraude em que os afundam. São os cidadãos que, se querem
merecer o nome, a deviam identificar. Os pasmados são livres de elogiar
fervorosamente a zelosa actuação do prof. Marcelo. Mas convinha notar que cada
elogio é um atestado de menoridade a Portugal.
Nota de rodapé
Soube-se
recentemente que os representantes de alguns clubes da bola recebem um
relatório semanal com as opiniões que, a bem da isenção de cada um, devem
reproduzir nos programas televisivos em que participam. No fundo, isto não é
mais do que a imitação do que acontece no mundo partidário, onde os
comentadores do ramo – invariavelmente independentes – se limitam a debitar o
evangelho aprendido na respectiva sede. Umas vezes, é o futebol que segue a
política. Outras, como quando governantes contemplam jogos ao lado de
dirigentes desportivos ou se atropelam para tirar uma “selfie” com Cristiano
Ronaldo, é a política que anda a reboque do futebol. O importante é que
a velha e saudável promiscuidade não se perca.
Por
sorte, nem todos se contentam em manter viva a tradição: há aqueles que
procuram renová-la. O PSD, por exemplo, arriscou um passinho em frente e, na
sensata convicção de que duas desgraças juntas produzem uma benesse colectiva,
propôs à câmara de Loures um senhor que se notabilizou a falar de penáltis na
CMTV. Além de constituir um gesto de simpatia para com os autarcas que passaram
a analistas de arbitragem, a coisa promete. E já começou a cumprir.
Para
início de conversa, o sujeito em causa, um tal André Ventura, acusou o FC Porto
de “ingerência eleitoral”. Certas almas ofenderam-se sem razão. É natural
que o sr. Ventura leve para a disputa as únicas referências que compreende,
mesmo que absurdas. Se o escolhido fosse um cozinheiro, toda a gente esperaria
que a campanha se centrasse no plágio de ementas. E, a julgar pelas amostras,
aposto que o PSD candidatou um cozinheiro algures. Falta de respeito pelo
poder local? Talvez, e o engraçado é que o poder local merecia ainda pior.
Um comentário arguto:
De Mauro Pires
O Marcelo é e sempre foi, um grande Pirómano chico-esperto.
Ele de facto quer e abusa da popularidade para reforçar a "mão invisível"
do seu poder Presidencial, Marcelo e Costa foram Professor e Aluno, mas nada
impede de Marcelo ser o que foi sempre, um maquiavélico político, que pensa só
em si. No momento em que isto correr mal, será o primeiro a dizer que fez tudo
para apoiar o governo e foram eles que estragaram tudo. Marcelo tem um ódio de
estimação a Passos pois este não é de Cascais, foi um Primeiro-Ministro em
situação complicadíssima e mesmo assim ganhou as eleições, e não é maçon.
Simples e limpinho.
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