domingo, 12 de março de 2017

Avezinhas pipilantes, peixezinhos iludidos



Cunhal não a impôs - a “democracia” - porque houve, tempos depois, um Eanes e ainda uns restos de tropas obedientes, com uma maioria silenciosa a rosnar, em surdina assustada. Mas a maioria silenciosa deixou de existir, embalada pelo doce marulhar das vozes que aparentemente lhe defendem a côdea, atacando todos os que hipoteticamente lhes retiram ou sacaram a mesma côdea e que convém eliminar, segundo um ideário que duzentos anos antes os filósofos do iluminismo haviam ditado e que os do socialismo e do marxismo convulsivamente esclareceram, para terem também entrada no bodo, carregados com o conveniente ódio benfazejo, impeditivo de progresso, ou sequer de bem-estar, mas não de conforto e bênção de mascarada. O peixe morre pela boca, diz-se, assim seremos nós, bocas abertas ao cibo, sem repararmos que este está impregnado de veneno ou vacuidade, com que nos despenharemos todos. Imparavelmente, pois que o próprio Eanes se lhes juntou, aos do cibo da mascarada, esquecido do respeito que jurara outrora pela sua pátria.

Diário de Vasco Pulido Valente
Uma democracia “diferente”?
… hopes expire of a low dishonest decade… (W. H. Auden)
Uma parte da opinião ficou esta semana escandalizada e até assustada com o ataque da Esquerda ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e à Presidente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso, com as proezas de um bando de idiotas numa universidade qualquer, que impediram Jaime Nogueira Pinto de fazer uma conferência para que aliás fora convidado, e, finalmente, com o veto do primeiro-ministro a Teresa Ter-Minassian, proposta por Carlos Costa e pelo Tribunal de Contas para o Conselho de Finanças Públicas.
Não há razão para surpresas. Esta aliança de “frente popular” não se interessa por salvar ninguém da miséria ou por uma economia paralisada e pobre. Logo do princípio o seu grande objectivo foi ocupar e dominar o Estado, de maneira a nunca ser removida do poder. Uma política que Marcelo, na sua natural ligeireza e esquecido como sempre de que é Presidente, aprecia e jura que está de “pedra e cal” ou mesmo de “cimento armado” para eterna felicidade dos portugueses.
Desde que emergiu das combinações torpes de 2015 o governo só pensa, de facto, em alargar o Estado, revertendo as privatizações de Passos (a TAP e os transportes urbanos, por exemplo), aumentando o funcionalismo público e, agora, restaurando a sua progressão nas carreiras (na prática sempre corporativa, paroquial e automática).
Claro que qualquer instituição independente é para este benemérito regime uma provocação, seja o Conselho de Finanças ou a rede ferroviária. Segundo Jorge Coelho, “quem se mete com o PS leva”. Carlos Costa, Teodora Cardoso e outros réus de autonomia e liberdade própria vão agora levar com um “organismo de cúpula” que os meta na ordem e force a não destoar da mascarada estabelecida. Se a Geringonça durar acabaremos na “democracia diferente”, em que um cidadão ande bem vigiado e em que o governo controle a economia, como a que o dr. Cunhal nos preparava e, no “11 de Março”, esteve quase a impor.

Nenhum comentário: