Julgo que tem razão, Vasco Pulido Valente, e
tanta razão tem, que não há muito para dizer, tão decantados são os argumentos
já. Por isso ele escreve pouco. O papel dele é o de escrever, não o de apoiar,
de se aproximar das pessoas. Sabe que Pedro Passos Coelho, tirado que lhe foi o
tapete de debaixo dos pés, pouco mais pode fazer do que aquilo que faz, que é o
de mandar as suas bocas, já que lhe falta um batalhão para atacar o adversário,
pese embora a ineficácia actual dos batalhões, que nem para limpar as matas
servem, como treino físico, para prevenir o alastrar dos fogos ateados pelos
fantasmas da nossa ópera quotidiana. Pulido Valente, podia estender-lhe, não o
tapete, é claro, mas a mão ou o capote, como fez o S. Martinho ao mendigo. Mas
nem VPV é santo nem PPC é nenhum mendigo. Os votos, tê-los-á este quando lhe
chegar a vez, embora poucos, talvez, porque António Costa consegue ir
atamancando o problema e adiando a solução nesta nossa ópera de muitos trinados,
a que assistimos pipilando e estendendo os biquinhos para a minhoca da nossa
fome. Há sempre gente leal capaz de reconhecer e apoiar o discurso honrado de Passos. Não é esse o papel do
historiador, apoiar, reconhecendo as contingências, e é pena. E no entanto,
julgo que Jaime Nogueira Pinto o apoiaria, sendo igualmente historiador. Uma
questão de valores. Ou de consciência. Paulo Portas esgueirou-se pela porta dos
fundos, deixou Passos sozinho em palco. A sua sucessora, aos comandos, luta pela sua vidinha, desligada da noção de
pátria, como fez o antecessor, talvez
ressabiado com as prepotências do primeiro ministro de então. Eu julgo que P.
Coelho em novo governo, tentaria erguer o país, manobrando com menos dureza que
anteriormente, e com crescente eficácia. Mas os seus críticos - e os sindicatos
- estes os grandes tresponsáveis da desordem, manipulados pelas mesmas esquerdas,
agora mansos por conveniência própria, não do país, mau grado o carpir do muito
treino - dificilmente o deixarão
erguer-se ou impor qualquer projecto credível. Resvalemos, pois, fantasmas que
somos todos, no nosso deslizar embrutecido e interesseiro, pipilando, de
biquinho bem aberto ao cibo.
Direita
OBSERVADOR, 4/2/2017
"… hopes expire of a low dishonest decade…" (W. H. Auden)
Em
2015, quando António Costa fabricou o seu extraordinário governo, Paulo
Portas percebeu perfeitamente o que esperava a Direita: a Direita só
voltaria ao poder unida e com a maioria absoluta que tinha perdido. Seria
razoável que o CDS e o PSD dali em diante fizessem todo o esforço para
encontrar uma doutrina comum (mesmo se temporária), um programa comum e uma
estratégia comum.
Fizeram
precisamente o contrário. Hoje não há Direita. Assunção Cristas
de quando em quando lá se vai aliviando de umas sentenças, que não valem nada
por si ou em conjunto. Fora algumas piedades sem sentido, ninguém sabe o que
ela quer, excepto que gostava de ser presidente da Câmara para seu gozo e
humilhação de Passos.
Em
pouco mais de um ano também essa veneranda figura não abriu a boca que não
fosse para lamentar a existência de Costa, um sentimento compreensível mas
pouco útil. Deixado a boiar entre viagens pela província e pequenas querelas
de economistas, por que raros militantes se interessam e nenhum percebe, o PSD
recaiu na desordem que lhe é habitual na oposição. Recomeçaram as guerras
de pessoas, principalmente nas Câmaras, e as guerras de princípio (como a
desaustinada guerra da TSU). De política não se fala, para não perturbar
o sossego dos caciques.
Passos
Coelho passeia por aí com o ar de fantasma de uma ópera que já acabou. E a
generalidade dos portugueses, se não gosta do PC, do BE ou de Costa, está
perdida e desanimada, sem saber que contas deitar à vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário