terça-feira, 8 de novembro de 2016

Estamos fritos



Uma estrutura compassada, num ritmo de asserções e demonstrações encaminhando-se gradualmente para o pensamento negativo final, embora o seu autor, António Barreto,  pareça admirar a forma como o PS, no início aparentemente manipulado pelos parceiros esmoleres da sua coligação, consegue, em ginástica contorcida de gato melífluo, deslizando, cedendo aqui e além aos parceiros irrequietos e contentes com as suas breves vitórias. Estas não impedem, todavia, o prosseguimento das manobras principais, de ligação à Europa, e, afinal, o protelamento do desastre, a cada passo desmascarada a sua profecia, de aparente irrelevância. Mas andamos com o coração nas mãos, como parece que anda António Barreto, frisando bem a necessidade do desenvolvimento económico como ponto central para o avanço da nação.
António Barreto põe o acento nesse desenvolvimento económico que não se faz, renitentes os investidores a investir numa nação manobrada por gente desordeira, que a cada passo a desorganiza e empobrece com as suas paragens ao trabalho, num reclamar manipulado. António Costa, dividido entre os dinheiros da nossa necessidade e os votos da sua própria, lá vai à bolina, aparentemente seguro e dando esperança. Merece, talvez, não a equiparação, mas apenas o desaguar na leitura do poema S. Leonardo da Galafura, que a nós levanta o moral, pela beleza do quadro que Miguel Torga sublinha em toda a sua espiritualidade e dimensão telúrica:

São Leonardo da Galafura
Miguel Torga (Diário IX)

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Douros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Os votos e os euros
António Barreto
DN, 6/11/16, “Sem Emenda”

Os governos "ganham" sempre os debates orçamentais. Assim fez o PS. Revelou compaixão e vontade de distribuição de rendimentos. Não soube mostrar investimento ou crescimento, mas não era esse o objectivo. O governo conseguiu disfarçar a sua excessiva dependência do Bloco e do PCP. Saiu airosamente do debate. O PCP e o Bloco exibiram a sua enorme influência sobre o governo. O PSD e o CDS não acertaram no modo, nem no estilo. Não argumentaram e não conseguiram mostrar o que querem.
Era tema adequado para uma discussão séria. Havia diferenças bastantes para que os afrontamentos, sem deixar de ser enérgicos, fossem civilizados e intelectualmente estimulantes. Mas foi como se não houvesse matéria. Os protagonistas entregaram-se voluptuosamente ao berreiro habitual, com a nova agressividade que passa por pensamento político elevado. Inventaram, mentiram, acusaram, denunciaram e prometeram com igual exuberância e sem hesitação! Falaram para os crentes e os crentes aplaudiram. Acreditam em António Costa os que acreditam em António Costa. Acreditam em Passos Coelho os que acreditam em Passos Coelho.
Houve meios e alguma habilidade para fazer um Orçamento que aguente a aliança e dê um pouco de conforto a quem mais precisa: pensionistas, doentes, idosos, crianças e desempregados. Mas toda a gente sabe que esta ginástica não pode ser repetida muitas vezes. Vai ser preciso mais dinheiro. Vai ser necessário investimento. É indispensável o crescimento.
É o problema do presente. Quem quer governar tem de arranjar prosperidade, o que quer dizer rendimento, o que significa emprego, o que implica investimento. Para haver investimento, tem de se procurar quem tem capital. Os privados ou o Estado. Dentro do país ou no estrangeiro. Com meios próprios ou fiado.
Ora, por cá, as coisas estão mal. Falido, o Estado vive do crédito, paga milhares de milhões de juros, aumenta os impostos a pagar por uma população fiscalmente exaurida. Crédito há cada vez menos, cá dentro nenhum, lá fora ainda algum cada vez mais caro. Dinheiro português quase não há, acabaram-se praticamente os capitalistas portugueses, a poupança segue o mesmo caminho. Mais impostos parecem impossíveis. Dinheiros públicos, só os da União Europeia, apesar de tudo insuficientes, mas que se destinam a infra-estruturas, pouco à economia produtiva e muito pouco à competitividade. A conclusão é simples: ou dinheiro privado internacional ou nada!
O problema é que o dinheiro privado internacional põe condições, incluindo políticas. Exige vantagens e benefícios. E requer condições gerais favoráveis à actividade económica privada.

Apesar de acreditar mais no investimento público, o PS gosta tradicionalmente de investidores privados. A maior parte das vezes para poder criar emprego, desenvolver a economia e manter-se no poder. Os seus aliados, PCP e Bloco, detestam o investimento privado, a não ser que seja pequeno e obediente. Abominam o investimento externo, qualquer que seja.
O problema é que o dinheiro privado internacional põe condições, incluindo políticas. O governo sabe que, se conseguir euros, acabará por ter votos. Mas também sabe que se conseguir muitos euros os seus aliados tiram-lhe os votos. Os euros podem produzir votos, mas os votos não produzem euros.
As fantasias das nomeações para a CGD deixam qualquer pessoa perplexa. Uma trapalhada que só governos inexperientes eram capazes de organizar. Mas conseguiram. Ao mesmo tempo, por acaso ou por deliberação, aprende-se mais uma vez que a CGD fez favores e se entregou a negócios ruinosos de licitude duvidosa. Mais casos para ilustrar a promiscuidade entre público e privado. Mas ficámos a saber que aqui não há inocentes: público e privado; capitalistas e políticos. Se, ao menos, houvesse Justiça!
Pior é que, sem banca à altura, pública e privada, a economia não vai conseguir. O país também não.

E já agora, caso não nos sirva o poema de pacificação de Torga, aceitemos humildemente a receita para as escaldadelas com água a ferver, que acabo de receber por email e não quero deixar de difundir. Creio que não serve para o caso dos fritos, nas queimaduras com azeite ou óleo. Mas talvez António Costa conheça alguma panaceia milagrosa, ainda que contorcida, para os fritos da sua caçoila enviesada:

Farinha de trigo
Leiam com atenção - Não deixem de ler,  poderá ajudar alguém!

Uma vez eu estava a cozinhar milho verde e quando coloquei o garfo na água a ferver para ver se o milho estava pronto, sem querer, acabei queimando a mão toda com água fervente...
Um amigo meu, que era veterano de guerra no Vietname, estava lá em casa e perguntou-me se eu tinha e onde estava a farinha de trigo...
Eu indiquei-lhe e ele, tirou o pacote e enfiou a minha mão toda dentro da embalagem e disse para eu conservar a mão na farinha por 10 minutos, o que eu fiz.
Disse-me ele que, no Vietname, um soldado estava todo a arder e, em pânico, os camaradas jogaram um saco inteiro de farinha por cima dele todo, o que apagou o fogo.
Isso não só apagou o fogo, mas, depois, reparámos que ele não ficara sequer com uma simples bolha!!!!
Encurtando a história, eu pus a minha mão no saco de farinha por dez minutos, e quando a retirei não tinha nem uma mancha vermelha, nem bolha e NEM DOR ALGUMA!!!
Agora, eu mantenho um pacote de farinha de trigo no frigorífico e, sempre que me queimo, uso a farinha de trigo e NUNCA tive uma bolha, nem cicatriz, nem nada.

A farinha gelada é melhor ainda do que a que está à temperatura ambiente.
Mantenha um saco de farinha de trigo no seu frigorífico, como precaução.
Experimente e verá que é verdade.
Lembre-se de pôr a parte queimada diretamente na farinha, não enxague em água fria primeiro.
 DIRETO NA FARINHA POR DEZ MINUTOS E VOCÊ EXPERIMENTARÁ ESTE MILAGRE.

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