quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Sic transit




 “Fogo fora do controlo no Funchal”, é o título que estou a ler numa reportagem  televisiva de horror, de casas a arder, cenários devastadores, gente suplicante, estradas encerradas, doentes precários a serem retirados de um hospital, pessoas desalojadas, o primeiro ministro a informar sobre o auxílio que enviou para o Funchal, o jornalista a prometer a exposição dos outros fogos no país, logo após o longo intervalo, com anúncios sedutores pré-fabricados, e por isso indecorosos no meio das desgraças apocalípticas. E a leitura do artigo de António Barreto – Elegia para a Europa – tornando mais pesada de infortúnio a vivência actual, derrotista e amarga, onde os jovens, filhos dos nossos filhos, não encontrarão talvez o espaço de realização que dá significado à vida, sem o apoio de um Estado garante de estabilidade que nós tivemos e ainda vamos tendo.  António Barreto centra-se na Europa do seu passado de esperança num mundo melhor -  mau grado as monstruosidades que se viveram a nível mundial, com duas guerras geradas por ambições de domínio – do lado da Rússia, do lado da frente ocidental, com a guerra fria pelo meio e milhões de mortos de uma matança generalizada. Mas a Europa era – e é – o sítio bom para se estar, de gente jovem, que defendeu a fraternidade e a igualdade e a liberdade, coisas bonitas de se dizer, sobretudo quando se é jovem e unilateralmente idealista. E foi assim que surgiram as descolonizações, a pretexto dos direitos dos povos aos seus territórios, coisa ilógica não só se se atender à vasta ocupação feita pela URSS de outros povos, e,  mais efémera, a das ambições alemãs, mas ainda de outros povos que foram colonizadores lá pelas Américas e pelo Pacífico, povo europeu que soube descartar-se a tempo do labéu de colonizadores, tornando-se donos e senhores dessas possessões, enquanto os do labéu, anjinhos que foram, por se não terem descartado antes, da metrópole amada, tiveram que largar essas terras, que tanto ajudaram a desenvolver, como era normal nas colónias, já desde a Cartago da desamada rainha Dido. Mas o racismo foi pecha atribuída aos colonos, exactamente pelos sonhadores europeus, que liam muito e estudavam os autores das bondades necessárias, da justiça honrada.  E a formação dos novos povos independentes lá pelas Áfricas originou, nesses países, não a igualdade e o bem-estar, mas, por um lado, a multiplicação das misérias, violências e destruições, por outro, a acumulação das riquezas em regime de oligarquias ditatoriais, coisa de que os samaritanos de agora, continuadores dos ideólogos europeus de outrora, nem querem ouvir falar, só abertos aos chavões igualitários, em que a má criação também funciona como direito. Conclui-se, pois, que a Europa estudiosa e fraterna é a grande responsável pelo derramamento generalizado do mal no mundo, a democracia trazendo a penetração  de terrorismos de vária ordem, entre os quais esses em nome de Alá, por obra e graça do alargamento dos direitos, que faz que se diluam os respeitos, com o alastrar dos sonhos de igualdade e sobranceria a todo o bicho homem, coisa de falsidade, o mundo cada vez mais vilmente desigual, o trabalhador cada vez mais espezinhado nos seus direitos, a juventude cada vez mais insegura, a mendigar o emprego, o sacrossanto poder pecuniário, avassalador das consciências, imperando no mundo da realização e da fraude.
Por isso, se concordo com o que diz António Barreto no seu tom elegíaco, sobre a velha Europa dos prazeres culturais e de todos os outros por arrastamento, também penso que a Europa é o berço de tanta danação, responsável pelo alastrar da infelicidade no mundo, cada vez mais descontroladamente poderosa e injusta.
Mas hoje festejo um horror de anos de uma vida vária, trabalhosa sempre, com alegrias e tristezas, como a de toda a gente normal. Sem incêndios, ainda, Deus nos proteja e faça os juízes castigar seriamente os promotores deles, se justiça existe.
O Ricardo mandou-me anedotas, como festejo antecipado, com as velhinhas da sua irreverência, esquecida esta da voracidade universal de Saturno, que a ninguém poupa. Mas vou-me rindo, enquanto faço o bolo de laranja coberto de ovos moles e de claras batidas com açúcar, uma delícia, com os tais hidratos fornecedores de energia com doçura. O Pedrinho, meu bisneto, participa pela primeira vez, embora se espere o seu choro de comilão, em vez dos parabéns a você.

Elegia para a Europa
António Barreto
DN, 7/8/16 – Sem emenda
Sabíamos há muito que ia ser assim. Com as Torres Gémeas, ficou evidente. Sabíamos, mas não acreditávamos. A confirmação veio depois. Em Madrid. Em Londres. Voltámos a saber, mas ainda pensávamos que talvez não fosse bem assim. Agora, já não é necessário comprovar. Em Bruxelas. Em Paris. Em Berlim. Em Munique. Não se pode ignorar. Em Nice. Em Montpellier. Em Rouen. Por quase todo o continente. O estado de emergência vigora em França. A Europa já não é o que era, nem será, dentro de poucos anos, o que é hoje. Acaba uma era na sua e na nossa história. A Europa da paz e do acolhimento de estrangeiros. A Europa de braços abertos a todos os refugiados do mundo, de direita ou de esquerda, religiosos ou pagãos, homens ou mulheres. A Europa que se queria distinguir pela generosidade, pela cultura e pela diversidade. A Europa onde era possível a uma mulher sair sozinha à noite ou um bando de jovens passear sem ser incomodado. A Europa onde se procuravam museus em sossego, concertos em alegria, festivais em despreocupação e peregrinações em paz. Uma Europa que deixava as suas filhas percorrer os caminhos-de-ferro em tranquilidade. Uma Europa onde um casal de idosos podia sair à rua sem cuidados especiais. Uma Europa onde quem queria se deslocava, viajava e passeava sem ser revistado, vigiado, registado, filmado, escutado e seguido.
Uma Europa que, apesar de duas guerras e mal-grado o Holocausto e o Gulag, sonhava com liberdade e cultura para todos. Uma Europa que, décadas atrás de décadas, não desistia de procurar a liberdade e construir a democracia. Uma Europa em que o Estado de direito, não obstante erros e desastres, se afirmava. Uma Europa onde cada vez mais as leis eram ditadas pela razão e pelo povo soberano e cada vez menos pela fortuna, pela força ou por deus. Uma Europa onde finalmente se respeitavam todas as religiões e nenhuma exercia o império da intolerância.
Esta Europa, sonho, projecto, história ou esperança, desaparece. Financiado por poderosos, protegido por Estados maléficos e apoiado por organizações legais, o terrorismo islâmico está a destruir a Europa que conhecemos. Pior do que a destruição, está a fomentar o medo como modo de vida. Está a estimular todos os reflexos de defesa, de segurança, de abuso da lei e de reacção agressiva que desfiguram a Europa. O fanatismo islamita está a ressuscitar deliberadamente o racismo e a xenofobia que os europeus se esforçam há tantos anos por liquidar.
Os Estados europeus, alguns Estados, começam a reagir com leis, processos e sistemas de defesa colectiva, de preservação do espaço público, de combate ao terrorismo e de vigilância dos estrangeiros que já não se limitam a simples segurança, mas são cada vez mais de prevenção truculenta. As medidas anunciadas pelo governo francês, sobre a nacionalidade de muitos imigrantes islâmicos e seus descendentes e sobre o financiamento das mesquitas, constituem exemplos do que é indispensável fazer, mas que, ao mesmo tempo, nos confrange. Ainda por cima, são medidas insuficientes. Depois de um período longo em que a democracia europeia não soube ou não quis defender-se, nem prevenir com energia e sem contemplação, a Europa prepara-se para uma inevitável campanha punitiva em larga escala, com a qual o espírito europeu se perderá. As autoridades democráticas europeias tiveram até agora receio da sua própria força e da sua razão. Deixaram-se aprisionar pelas esquerdas covardes que não se importaram de alimentar as direitas xenófobas. Esta Europa está hoje quase incapaz de reagir ou conter o terrorismo. Se a Europa reage em força, como deveria ser, muda a sua história e o seu destino e nós perdemos. Se a Europa não reage, acaba com a sua história, muda de destino e nós perdemos.
Estamos condenados a um estranho futuro: uma Europa onde, para evitar o inferno, vamos ter de viver com o diabo!

Julgamentos

Enviado por Ricardo Lacerda, via Internet
1º-  - O crime de bigamia de que vem acusado é um dos piores delitos que um homem pode cometer. Como tal, deve ser exemplarmente castigado.
Diz o réu:
- E, então, senhor doutor Juiz, com duas sogras já não fui?!

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2º- Num tribunal de uma pequena cidade, o advogado do lesado chamou a sua primeira testemunha, uma avó de idade avançada.Aproximou-se da testemunha e perguntou:
- D. Joaquina, a senhora conhece-me?
Responde a velha:
- Claro. Conheço-te desde pequenino e francamente, desiludiste-me. Mentes descaradamente a todo o mundo, enganas a tua mulher com a secretária, ainda fizeste um filho na tua cunhada, e deste-lhe dinheiro para se livrar da barriga, manipulas as pessoas e falas mal delas pelas costas. Julgas que és uma grande personalidade quando não tens sequer inteligência suficiente para ser varredor. É claro que te conheço. Se conheço…
O advogado ficou branco, sem saber que fazer. Depois de pensar um pouco, apontou para o outro extremo da sala e perguntou:
- D. Joaquina, conhece o defensor oficioso?
Responde a velha:
- Claro que sim. Também o conheço desde a infância. É frouxo, não tem tomates para manter a mulher na linha, ela anda a fornicar com os empregados da casa: o motorista, o jardineiro e até o carteiro dorme com ela, todo o mundo sabe, tem problemas com a bebida, não consegue ter uma relação normal com ninguém e na qualidade de advogado, bem… é um dos piores profissionais que conheço. Não me esqueço também de referir que engana a mulher com três mulheres diferentes, uma das quais, curiosamente, é a tua própria mulher. Sim, também o conheço. E muito bem.!
O defensor, ficou em estado de choque. Então, o Juiz pediu a ambos os advogados que se aproximassem do estrado e com uma voz muito baixa, diz-lhes:
- Se algum dos dois perguntar à vaca velha se me conhece, juro-vos que vão todos presos!

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3º- Um homem está a ser julgado por violência doméstica. Pergunta o juiz à mulher que era loira:
- Diga-me francamente, quando é que o seu marido se tornou um déspota?
Responde a loira:
- O meu marido, senhor doutor juiz, sempre foi carpinteiro…

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