terça-feira, 2 de junho de 2015

Ele é um bom companheiro



É Alberto Gonçalves que o dá a entender ao analisar os princípios do candidato Sampaio da Nóvoa para Presidente da República segundo o ponto de vista de muitos seus (de S. N.) proponentes, tais como Ramalho Eanes, que o define como “espírito superior”, como já se definia no tempo do Eça da Queirós da nossa memória, embora “talento” fosse a moda na época dele, até mesmo na opinião do banqueiro Cohen - já nessa altura um caso de sucesso na questão bancária - o qual achava - contra a opinião exagerada de Ega, no Jantar do Hotel Central,  tratando “de grotescos, de bestas, os homens de ordem que fazem prosperar os Bancos” - que havia neles talento e saber : -«Há talento, há saber, dizia ele com um tom de experiência. Você deve reconhecê-lo, Ega... Você é muito exagerado! Não senhor, há talento, há saber.»
No encalço, pois, dessa opinião tão positiva de Ramalho Eanes - Alberto Gonçalves, por carência de comprovativos académicos, foi procurar dados ao discurso de Nóvoa às massas, e contámos nove os verbos da sua actuação futura (de Sampaio da Nóvoa) que o ajudaram (a Alberto Gonçalves) nessa tarefa, tarefa que concluiu (A. G.) “fascinado”.
Assim: o professor Nóvoa promete, exigirá, não aceitará, deseja, prestará, propõe, defende, assume, admite. Estes os verbos.
Seguem-se os complementos directos (alguns indirectos ou puramente oblíquos, seguidos de uns modificadorzitos verbais esclarecedores), dos grupos verbais respectivos: “abraçar o legado dos predecessores”, “à Europa, o fim da austeridade”, “da Europa, falta de respeito pela soberania portuguesa”, “amplo debate sobre a Europa”, “atenção especial à corrupção e à promiscuidade”, “um compromisso contra pobreza e desigualdades”, “caminhar ao lado das pessoas”, “ser poeta e não comerciante”, “impedir a emigração da juventude bem formada”, “incomodar, enfim, muita gente”, tal como o elefante em progressão de cadeia.
Eis, pois, os motivos do fascínio de Alberto Gonçalves – e do nosso, por acréscimo - captados nas provas discursivas do professor Nóvoa, por falta dos comprovativos académicos que levaram à definição do general Eanes e o obrigaram - (A. G.) - a tirar as respectivas ilações, que fazemos igualmente nossas, em analogia de parecer:

O homem que caminha ao lado das pessoas
por ALBERTO GONÇALVES, DN, 31 maio 2015

Ramalho Eanes apurou que Sampaio da Nóvoa é uma "inteligência superior". Sem acesso aos estudos científicos que decerto fundamentaram a opinião do general, analisei com cuidado os princípios da candidatura presidencial do citado génio, apresentados há dias no Porto. Terminei fascinado.
O prof. da Nóvoa promete abraçar o "legado" dos ex-presidentes que o apoiam, na medida em que um chefe de Estado "não deve agir nem contra nem a favor dos governos ou oposições". É bem visto: Jorge Sampaio usou Santana para sossegar o PS e patrocinar a ascensão do lendário Sócrates. Soares passou o segundo mandato em campanha contra Cavaco. Eanes cozinhou um partido privativo.
O prof. da Nóvoa exigirá que a Europa abandone as "políticas de austeridade". Embora pareça impossível, há mesmo indivíduos convencidos de que a abundância se estabelece por decreto.
O prof. da Nóvoa não aceitará sem referendo "mais medidas que retirem soberania a Portugal". A ideia subjacente é a de que temos escolha, ou uma escolha que não conduz à bancarrota num ápice.
O prof. da Nóvoa deseja que os portugueses travem "um amplo debate" sobre a Europa. É igual a discutir a FIFA na assembleia geral do Olhanense: não se espera que a Europa trema.
O prof. da Nóvoa prestará "atenção especial ao combate à corrupção e à promiscuidade entre a política e os negócios". Presumivelmente, ainda não acredita que será o candidato do PS.
O prof. da Nóvoa propõe um "compromisso claro na luta contra a pobreza e contra o aumento das desigualdades". É o modelo grego ou, na versão tropical, "bolivariano", que em geral acaba com a classe média de rastos e a igualdade obtida na partilha da miséria.
O prof. da Nóvoa defende que "um presidente pode ser muito mais do que tem sido, (...) pode ser alguém que junta, que une, que abre o futuro quando caminha ao lado das pessoas". Curioso: se alinharmos umas palavras a seguir às outras forma-se qualquer coisa semelhante a uma frase.
O prof. da Nóvoa assume que "ser poeta também é essa inabilidade para o mundo do lucro". Tradução: de lirismo em lirismo até ao prejuízo final.
O prof. da Nóvoa acha que "não podemos continuar a forçar a emigração dos nossos jovens mais qualificados". Evidentemente, muitos dos idosos sem qualificação perceptível ficaram por cá.
O prof. da Nóvoa admite ser um candidato que "incomoda muita gente". O termo adequado é embaraça. Embaraça.
A conclusão a que cheguei é que o prof. da Nóvoa é de facto uma inteligência superior. A quem? No mínimo, aos espécimes que o levam a sério -os que fingem levá-lo a sério por estratégia ou gozo não contam.

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