sábado, 25 de abril de 2015

Um texto para guardar, mesmo sem o enfeite da rosa murcha



É de Salles da Fonseca, do seu blog “A Bem da Nação”:

«O 25»
«Foi já depois de 25 de Novembro de 1975 que o Dr. Álvaro Cunhal foi condecorado como Herói Soviético com isso significando Moscovo que o «trabalho» estava feito e que havia que agradecer a «obra».
Como assim, se nesse 25 de Novembro os comunistas tinham sido apeados do poder que haviam usurpado em Portugal?
A resposta só pode ser uma: a URSS interessava-se mais pelo ex-Império Português do que por este pequeno canto europeu. E, de facto, todas as nossas antigas colónias africanas estavam então na mão dos soviéticos.
E tudo começara uns anos antes quando Moscovo constatou que não conseguia vencer os conflitos militares que durante tantos anos instigara. Então, se não conseguia vencer no terreno das guerras, havia que ir à retaguarda derrubando o regime político vigente em Portugal. E, de facto, foi no Largo do Carmo que em 25 de Abril de 1974 Portugal perdeu o Império.
Quando assentei praça em Mafra para o Curso de Oficiais Milicianos de Abril de 1970, uma parte significativa do meu pelotão era composta por homens que regressavam a Portugal depois de terem estado algures na Europa mas deixando uma nebulosa quanto aos locais exactos de que provinham. Seria do lado de cá ou do lado de lá? Nunca, aos inocentes, nos passou pela cabeça fazer a pergunta. Mas lembro-me de que cantarolavam amiúde melodias e letras do Zeca Afonso e de que, por vezes, se «esqueciam» aqui e ali de um ou outro livro que nós, os outros, não conhecíamos. Não eram graficamente apelativos e nunca lhes peguei e é por isso que continuo hoje, passados mais de 40 anos, sem saber se se tratava de literatura revolucionária ou se eram contos de fadas para amenizar as insónias. Mas como soldado recruta só pensa em dormir, não dou grande cabimento à hipótese do soporífero literário.
Vendo o filme ao contrário, não me restam hoje dúvidas de que o Partido Comunista Português deve ter então dado ordem aos seus militantes na diáspora com a idade apropriada para regressarem a Portugal, ingressarem no Serviço Militar Obrigatório e de seguida destabilizarem por dentro o nosso Exército.
E nós, os não politizados, sem percebermos nada do que se passava à nossa volta.
Foi então que comecei a ouvir falar de uma certa contestação à ideia de quererem que nós, os milicianos licenciados, fizéssemos o Curso de Comandantes de Companhia para de seguida nos mandarem desempenhar as funções de Capitães de Infantaria. Que isso era um absurdo, que para isso estavam lá os subalternos do Quadro que deveriam ser promovidos em vez de serem ultrapassados por milicianos mal amanhados, etc.
Nós, os economistas, safámo-nos dessa pois foi-nos dado escolher se queríamos ser Alferes de Administração Militar ou Capitães de Infantaria. E todos optámos pela caneta em vez da G3.
Já estava em Moçambique quando ouvi pela primeira vez falar do Movimento dos Capitães mas não liguei muita importância pois me parecia que se tratava de problema corporativo com solução administrativa. Já estava na disponibilidade – e novamente em Moçambique como civil – quando ouvi falar do Movimento das Forças Armadas e conclui que, afinal, a solução administrativa para o problema corporativo não tinha resultado (ou talvez nem sequer tivesse sido aplicada) e que a «bola de neve» estava a crescer.
Sempre me pareceu que o «problema» do Império tinha que ter uma solução política e que o empenhamento militar era uma forma de «aguentar» a situação enquanto a solução política era discutida, aprovada e implementada. Mas o radicalismo ultra do Estado Novo em nada ajudou Marcello Caetano e tudo deu para o torto. E teria que dar para o torto porque uma solução politicamente negociada não interessava a Moscovo. Havia que precipitar os acontecimentos e isso só se conseguiria a partir de dentro das Forças Armadas Portuguesas. Aí estava o MFA.
Muitos militares que alinharam nesse movimento foram inconscientemente manipulados e outros, admito que poucos, agiram conscientemente em consonância com as determinações do inimigo. Isto significou uma maioria de inconscientes e uma minoria de traidores.
Então, hoje comemoramos o quê? Eu espero por Novembro.»
Lisboa, 25 de Abril de 2015

Comentário:
Como um Sherlock Holmes descobrindo num humor de boas células cinzentas o fautor do crime, o Dr. Salles assim nos leva na sua tese bem urdida e corajosa pelos caminhos ínvios e obscuros desse passado, que apanhou desprevenidos os que continuavam na marcha antiga, sem cuidar numa semente sub-reptícia de uma mudança, para todos os efeitos irreversível, segundo as conveniências generalizadas e indiferentes aos males que  geraram.

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