domingo, 19 de abril de 2015

Descoberta



Foi o caso de, em conversa com a minha colega Alice, termos falado do jeito de alguém com manifesta tendência para o exagero, talvez do queixume, talvez do trabalho, talvez da resistência ao bom senso. E para concluir, usei uma expressão que a minha mãe muito utilizava, quando queria evitar que se fizesse uma coisa de que ela discordava. Eu, por exemplo, fui bastante vítima dessa expressão, já desde a infância: “É a tua desseina!”, mas fartei-me de a ouvir em vários contextos, aplicada a muitas outras pessoas. Nunca tinha posto em causa a existência do termo, quando o escutava, e que hoje me saiu espontaneamente, de cambulhada, ao falarmos desse alguém exagerado, talvez no queixume, talvez na resistência ao bom senso:
- Se fosse a minha mãe logo diria: “É a sua desseina”. Olha! Donde virá esta palavra? É capaz de vir de “odisseia”!
E a Alice, na sua voz ponderada, depois de estranhar o termo, concordou risonhamente que talvez viesse, sim, de odisseia, caso de etimologia popular.
Fiquei contente com a descoberta, e intimamente enviei o meu beijo de carinho à minha mãe, a quem nunca mais ouvirei, na referência, por exemplo, ao tempo perdido a escrevinhar inutilmente – por ser uma escrita não lucrativa, como ela sabia muito bem que outras havia que o eram – a palavra que espontaneamente usei, talvez pela primeira vez, na conversa com a minha sabedora colega Alice: “É a sua desseina!” cujo étimo me acudiu no mesmo momento. 

Agora, que escrevo e vou reflectindo, penso também em “desígnio” (em francês “dessein”, que poderia ser deturpado em “desseina”, se não fosse masculino.

Decididamente, escolho a “odisseia” para étimo do termo usado nesse Carregal do concelho de Oliveira de Frades, onde provavelmente estiveram Fenícios, Gregos e mais tarde os Cartagineses, antes de os Romanos se fixarem, fazendo pontes e contando histórias que eles próprios imitaram dos Gregos que os precederam…
Um étimo que me chegou, num pensamento de ternura. Como se viesse do Além.

 

Nenhum comentário: