sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Um tempo sem modos




A forma como o Governo vai apresentando as suas contas para o próximo ano é, naturalmente, sempre posta em causa, quer elas sejam feitas numa tentativa de melhoria (ainda que demorada), no que ninguém crê, quer sejam decisivas para piorar, o que toda a gente logo enfarda, para poder vomitar os impropérios do costume, indiferentes às condicionantes do status que as ditaram.
Vasco Pulido Valente, faz, como sempre, uma análise lúcida, mas tão frígida e distante como é a indiferença que ele atribui ao Governo a construir o seu Orçamento do Estado para o próximo ano. Porque só repara nos efeitos do modo sobre o tempo, não nos efeitos do tempo sobre o modo. Tempo de dívida, de crise, tempo de penúria, e os seus efeitos sobre uma sociedade sem expectativas, sem esperança. Compara com a “grande depressão” em que a penúria se traduziu em consciência de um tempo irrecuperável – o de anos de felicidade perdida. Para Vasco Pulido Valente, as palavras do Governo sobre a crise – de desemprego, despedimentos, corte nos salários, penhora, trapalhada na colocação de professores, fome pura e simples – não descrevem a realidade, na sua frieza abstracta e ausência de calor humano.
É certo. Esses termos reais não traduzem o horror e a humilhação que provocaram em tantos casos – de casais com filhos, ambos, de repente, desempregados e a ter que recorrer a sopas alheias, de crianças com fome, de velhos desamparados, de jovens sem futuro… Serão também anos de tempos de vida irremediavelmente perdidos no cômputo das vidas de cada um.
Tudo isso é certo. Os tempos da 2ª Guerra, de seres encurralados e mortos em câmaras de gás, não contam no paralelo, porque esses morreram, sem mais perspectivas de vida. Ou os crimes repugnantes perpetrados pelos monstros que o mundo aceitou e vai aceitando, em tentativas de retaliação, é certo, mas quantas vezes impregnadas de cinismo, ao esconder na manga interesses económicos que fazem vender a arma a esses que depois combatem.
São imediatas e esfuziantes, como bichas de rabiar em faúlhas pelo chão, todas estas críticas a um Governo frígido a impor um Orçamento feito na sombra dos gabinetes, o qual logo é posto em causa, como responsável pela continuação da crise, por muito que os responsáveis por esse Governo apontem os dados positivos da sua actuação  de três anos. Ninguém os crê, como ninguém crê em ninguém. Também porque sabem que o que se fez tem que ser feito, embora muitos achem que não, que quem nos emprestou dinheiro não precisa de ser indemnizado da dívida monstruosa em que nos afundámos descontroladamente, habituados que estamos a um parasitismo antigo, de dispor de serviços de outros, sem esforço de angariação pessoal.
Um homem tomou a peito o salvar o seu país e exigiu sacrifícios. E logo é atacado, sabendo todos que sem isso, menos hipóteses teremos de sobrevivência. E Vasco Pulido Valente que sabe disso mais do que ninguém, prefere a sua retórica destrutiva, na linha de uma bondade que não se afasta muito, afinal, do discurso monocórdico de uma esquerda a gotejar para a mesma banda, indefinidamente, monocordicamente, sem mudar uma vírgula, desde que a conheço.
«O tempo e o modo»
«Se este Orçamento foi pensado como um exercício de reabilitação e propaganda, falhou. Há um erro de princípio que este Governo faz, e persiste em fazer, quando se trata de política económica. As palavras que usa para descrever a miséria portuguesa – desemprego, despedimentos, corte nos salários, penhora, falta e colocação de professores, fome pura e simples – não descrevem a realidade. Primeiro, são termos técnicos. Segundo, não contam com o tempo. Dantes, as biografias de autores que tinham vivido a “grande depressão” diziam sempre o que lhes sucedera nessa época de angústia e de catástrofe. As pessoas percebiam ainda que, para lá do sofrimento pessoal, a “depressão” lhes roubava o que nunca lhes poderia voltar a dar: o tempo perdido. Cinco, seis, sete anos da vida que tinham imaginado para si.
A crise que nos sufoca desde 2011 também interrompeu, ou suspendeu, a vida de milhões de portugueses: velhos, novos, na idade da força e na idade da fraqueza. Os mais novos perderam o entusiasmo e a curiosidade por um futuro independente e adulto. Os mais velhos perderam a tranquilidade de uma existência relativamente segura e, às vezes, confortável, tremendo, à espera do próximo desastre. O grosso do país, mesmo a parte que não sofreu directamente estados de irremediável carência (e essa é pequena), ficou mutilado; por outras palavras, permanentemente diminuído. O que talvez tivesse sido sem a crise será a medida de tudo o que vier – e é uma medida implacável para os sábios que nos trouxeram aqui, em nome de uma lógica que ninguém percebe e por que ninguém se interessa.
O ressentimento, o rancor, o puro ódio que se acumularam – e que as cenas dos políticos dia a dia acirram – não desaparecem com o falso alívio que o Orçamento pretende trazer. A cena, de resto, conduzida e representada por indivíduos que não se distinguem pela inteligência, incluiu números de pura pornografia: a diatribe do primeiro-ministro contra o “fanatismo orçamental”; a “fiscalidade verde” para seduzir uma população sem trabalho e uma juventude sem carreira; e a junção a essa sopa turva de uma súbita preocupação com a natalidade para sublinhar os pequenos descontos no IRS, que supostamente exprimem o amor do Governo pela Pátria e pela família. O Orçamento não chegou a tempo, nem veio num modo susceptível de amansar o putativo eleitorado de 2015. A julgar por ele já não está em causa a sobrevivência da maioria, está em causa a sobrevivência do PSD e do CDS.»

Páginas de Guerra
Por Paula Almeida, Técnica Superior
Num 30 de outubro:
1939 – A União Soviética anexa formalmente os territórios polacos ocupados.
- Em Berlim é assinado um acordo germano-letão para a evacuação de alemães das regiões do Báltico. -Na Grã-Bretanha, estreou o primeiro filme de guerra sobre o conflito, O leão tem asas, um noticiário sobre um ataque aéreo britânico a uma frota alemã. -Em Londres, um documento branco governamental expõe a brutalidade nazi sobre os judeus, incluindo o sistema de campos de concentração.
- 1941 – Franklin Delano Roosevelt aprova o empréstimo de Um bilhão de dólares para ajuda às nações aliadas.- Mil e quinhentos judeus da Pidhaytsi (no oeste da Ucrânia) são enviados pelos nazis para o campo de extermínio de Belzec.
-  Na frente oriental, a operação Tufão é interrompida até que o inverno chegue. A lama profunda provocada pelas chuvas de outono imobilizou os veículos alemães.
1942 – Os Tenentes Tony Fasson, Able Seaman Colin Grazier e o assistente de cantina Tommy Brown do HMS Petard board U-559, recuperaram material que conduzirá à decifração do código alemão Enigma.
1943 - Na Itália, Quinto Exército dos EUA captura Mondragone, na costa oeste, depois de penetrar as linhas de defesa alemãs Barbara. Outros elementos do exército, mais para o interior, continuam o seu avanço.
 1944 – Anne Frank e sua irmã Margot são deportadas do campo de concentração de Auschwitz para o de Bergen-Belsen - As câmaras de gás em Auschwitz são utilizadas pela última vez. - Em Leyte, nas Filipinas as tropas da Sétima Divisão de Infantaria do exército americano tomam Dagami. -  Na Frente Ocidental, elementos de Primeira Divisão do Exército canadiano lutam em Beveland do sul, na Holanda, e alcançam o Canal de Walcheren. -Em Caserta, na Itália libertada, o governo grego no exílio proíbe a Milícia Nacional ELAS, um movimento de resistência comunista.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Leituras febris



Os artigos de Alberto Gonçalves sobre os temas das suas iras, neste domingo, 25 de Outubro, naturalmente não diferem do tom habitual, de frontalidade crítica, de  indignação ou de uma ironia sagaz.
“Portugal e o Futuro” glosa o título do livro de Spínola, com a ferocidade de quem, não crendo em nenhum dos comparsas, quer da governação quer da oposição, põe em destaque o que é e o que foi o assalto rotativo à governação, quer da banda da ala liberal, quer da banda da área que se diz virtuosamente defensora dos direitos do povo e que toda a gente acusa de desígnios mais pessoais, em que o compadrio contou como panorâmica apoiante, constante e esbanjadora. 
Apesar de tudo, eu creio nas intenções de recuperação deste actual Governo, e espero sempre em inversão destes factos negativos do nosso descontentamento
. Quanto ao caso animalesco das vaias dos sindicalistas aquando dos discurso de homenagem aos mortos da 1ª Guerra, entendo o desprezo de Alberto Gonçalves, tal como as chufas a Sócrates e aos seus apoiantes. Leiamos, sem mais comentários:

Portugal e o futuro
por ALBERTO GONÇALVES25 outubro 2014
Um destes dias, ao pequeno-almoço, uma diplomata estrangeira pediu-me a opinião sobre o futuro de Portugal. Até tive vergonha, por um lado porque sou modesto, por outro porque a situação assim o exige.
Excluindo os próprios envolvidos, os compadres, os amigos de ocasião e os fanáticos, ninguém confia no governo. De trapalhada em trapalhada, a pedir desculpas ou paciência, o bando liderado pelo Dr. Passos Coelho arrasta-se como o Benfica na "Europa", rumo ao desastre final. Dizer que em três anos o bando refreou o défice à custa da receita é a única coisa parecida com um elogio que estes senhores suscitam. O resto, a austeridade sem retorno ou uma desmesurada carga fiscal acompanhada por zero reformas dignas do nome, provou que nem o machado da troika corta a raiz do pensamento pátrio.
Excluindo os próprios envolvidos, os compadres, os amigos de ocasião e os fanáticos, ninguém confia na oposição. Especialista em intercalar o silêncio com as mais descaradas asneiras produzidas para cá de Caracas, o Dr. Costa, rodeado por puros malucos e oportunistas de carreira, já fareja o poder e ameaça usá-lo com a voracidade dos famintos. Em 2014, continua a haver malária, esclavagismo e, no que nos toca de perto, quem defenda o "investimento" público e o crescimento por decreto sem corar de embaraço.
Mesmo estafados, certos clichés do Parque Mayer, incluindo o do "tacho", merecem recuperação: partidos à parte, toda esta gente luta por um objectivo comum, o de alimentar o Estado de modo a dispor dele. A novela da PT em curso é exemplar, principalmente se atendermos à procissão de vultos que agora reclama a respectiva nacionalização e à procissão de familiares dos vultos que antes conseguiu lá emprego.
Existem diferenças? Algumas, que só importarão aos picuinhas: o PSD disfarça, o PS assume. O PSD explora a absurda aura "liberal" que lhe colaram, o PS jura-se de esquerda. O PSD nega o evidente assalto ao contribuinte, o PS promete-o com orgulho. O PSD mata com álibi, o PS esfola por missão. O PSD finge salvar o país da ruína, o PS não distingue a ruína da salvação. E o povo, pá?, perguntava uma cantilena. O povo, quando não conta os cêntimos, saltita entre a crendice e o desnorte, a resignação e o berreiro, a esperança e a realidade. Mas, quando conta os cêntimos, o povo pressente que o pior ainda não chegou
Domingo, 19 de Outubro


A péssima educação
O primeiro-ministro foi a Coimbra homenagear os soldados mortos na I Guerra. O apreço que o governante inspira é discutível, mas nenhum homem decente discute a consideração devida aos desgraçados que, enviados por tiranetes para defender valores que lhes eram obscuros em lugares que ignoravam, aí terminaram os seus dias. Claro que o conceito de decência não inclui as "dezenas de professores e encarregados de educação" (cito as notícias) que aproveitaram a oportunidade para vaiar o Dr. Passos Coelho.
O tema não favorece ironias: os manifestantes, que provavelmente não representam nada além da boçalidade terminal, também não suscitam outra coisa que não o nojo. Dado que terão abundante tempo livre, são igualmente livres de insultar os senhores no poder quando e onde lhes apetecer - excepto em momentos assim. As suas causas, importantíssimas ou ridículas, não valem um fio de cabelo de cada militar caído na Flandres. E nem sequer tem graça constatar a grotesca contradição dos slogans que empunhavam: "Não há progresso sem conhecimento", ou "respeitar os portugueses exige outra política". Conhecimento é justamente o que essa repugnante gente não possui, e respeito é o que não merece.

Segunda-feira, 20 de Outubro
Os ingratos
Numa nação habituada a desprezar os seus melhores em vida para consagrá-los na morte, consola assistir ao exemplo dado pela Câmara Municipal da Covilhã, responsável por atribuir ao Eng. Sócrates a chave da cidade e uma medalha.
Aos distraídos ou incrédulos, convém informar que, ao contrário do que poderia parecer, o Eng. Sócrates está vivo, tão vivo que aproveitou a deixa para brindar a humanidade em geral e os covilhanenses em particular com diversas pérolas de sabedoria: "O interesse individual existe, é certo, mas existe também o interesse colectivo."
É triste que semelhante portento intelectual receba apenas uma chave e uma medalha municipais, em vez de ter as serralharias e os gravadores de Portugal inteiro a fabricar-lhe resmas de penduricalhos. Se pensarmos bem, o que é que o Eng. Sócrates legou à Covilhã? Que eu saiba, nada, além da honra para a autarquia em contar com ele como técnico enquanto assinava projectos belíssimos na vizinha Guarda. Em troca, a Guarda ofertou-lhe o quê?
O mesmo desprezo que o país, que nem faz o favor de seguir a eucaristia dominical do homem na RTP (aliás abaixo das audiências da própria Eucaristia Dominical, na TVI). E a injustiça dói mais se recordarmos que o homem fez à arquitectura da Guarda o mesmo que fez à economia do país. Desgraçadamente, muitos portugueses teimam em colocar o seu interesse individual à frente do interesse colectivo do Eng. Sócrates: a presidência de todos nós. Ou isso ou uma estátua.»

E para finalizar, lembremos:
Notícias da 2ª Guerra, por Paula Almeida:
Hoje, 29 de outubro/ 1941 No Gueto de Caunas (Lituânia) mais de 10.000 judeus são mortos pelos ocupantes alemães, um massacre conhecido como a "Grande Ação"/ 1942 No Reino Unido, membros importantes do clero e da política realizam uma reunião pública para manifestar a sua indignação face à perseguição dos judeus da Alemanha nazista/ 1944 A cidade holandesa de Breda é libertada pela 1ª Divisão Blindada do exército polaco. O Exército Vermelho entra na Hungria/
Paula Almeida Técnica Superior

Os vira-casacas



Nunca  mais os ouvi, farta que estou de espectáculos de riso sem compostura pela TV, que de vez quando vira botequim ruidoso, de vozes explodindo, frases que se entrecruzam com mais ou menos graça. No caso do Eixo do Mal preferencialmente largando sentenças, por vezes pedantes, na convicção arrogante da sua verdade – embora a cultura da Clara me encantasse, e também o discurso trapalhão do Luís Pedro fosse o que, por vezes, mais me agradasse pela sensatez, por muito boba que se revelasse, no seu cozinhado expositivo.
Mas procurando os artigos de Alberto Gonçalves, deparou-se-me a magnífica caricatura de Durão Barroso, no DN de 26/10/14, por André Carrilho, uma mão na bandeira europeia apontando a saída àquele, todo fora dela e das suas doze estrelas, como pássaro de gordo bico e de olho meio fechado no esconderijo arguto da sua interiorização, mas vivo em saberes, a preparar novos voos vivenciais. E a caricatura levou-me ao artigo de Pedro Marques Lopes sobre o ex-presidente da Comissão Europeia.
Um artigo humilhante sobre DB, humilhante para nós também que produzimos destes seres sem iniciativa própria, robôs telecomandados, de que P.M.L. explica as origens da manipulação, provocando a indiferença ou o desprezo dos comparsas europeus, pelo untuoso e a opacidade das suas actuações apagadas.
Não sei se foi assim tão grave. Eu não gostava sobretudo dos seus discursos em inglês, muito mastigados, como se tivesse papas na língua. Ouvi-o defender a necessidade do euro para nós, apoiando Passos Coelho, sempre o ouvi apoiar Passos Coelho e fiquei-lhe grata por isso. Nem todos o fizeram nem fazem, Marques Lopes sendo um deles, atraiçoando-o com a sua crítica destrutiva, o que não abona sobre a sua própria idoneidade moral, seguindo ele o mesmo partido, trazendo-me à memória imagens passadas da multidão que virou comunista e outros istas aquando do reviralho. PML, pontapeando o Governo com tanta garra, prepara-se para assumir futuramente um posto de amizade no próximo reviralho.
Se as políticas da Sr.ª Merkel arrasaram a economia europeia, como se grita e PML mais alto ainda, penso que os que nos governaram deram origem há muito a este descalabro. Talvez a Sr.ª Merkel e o FMI não pudessem seguir outras metas. Que sabe o arrogante PML disso? Se não fossem eles onde estaríamos? Onde estaria a arrogância de PML? Ou doutros como ele, de barriga cheia a explanar teorias de solidariedade social…
E Durão Barroso fez o que pôde, como faria PML no lugar dele. Talvez pior ainda.
Artigo de Pedro Marques Lopes:
Tainha por cherne
1. O discurso com que os chefes de Estado e de governo da União Europeia se despediram de Durão Barroso foi feito por Angela Merkel. Não admira. O, até o dia 1 de novembro, presidente da Comissão Europeia, foi um venerador e diligente executor de todas as convicções, de todas as políticas, de toda a visão alemã para a Europa. O seguidismo foi tal que Durão Barroso deixou de contar. A partir de certa altura quem queria saber qual a posição da União Europeia perguntava primeiro aos representantes do eixo franco-alemão e depois simplesmente à chanceler alemã. As pessoas fazem, muitas vezes, os cargos, e Durão Barroso conseguiu transformar o seu numa espécie de sucursal dos interesses alemães.
Barroso seguiu o cherne da necessidade da expiação da culpa dos povos das economias periféricas. Esses malandros que viviam de bar em bar e gastavam à tripa-forra. Atacou com denodo o Tribunal Constitucional do seu próprio país e conseguiu fazer do FMI uma instituição equilibrada face ao fanatismo da Comissão que liderava. Colaborou activamente nas criminosas políticas que ajudaram a destruir ainda mais as economias periféricas e mais débeis e tornou-se uma espécie de campeão dos tremendos erros das troikas . No fim dos vários programas, as várias nações europeias não resolveram os seus problemas estruturais, pelo contrário, as suas economias ficaram mais frágeis, os Estados mais fracos, as comunidades mais desiguais.
Barroso deixa a União Europeia à beira da deflação, com um desemprego nunca visto (sobretudo jovem) e com as populações descrentes no projeto europeu. Nunca os partidos eurocépticos foram tão fortes e nunca houve tantas dúvidas sobre a convicção de que uma Europa unida seria boa ideia. Temos um conjunto de nações para quem a Europa deixou de ser uma prioridade e assistimos à renacionalização da política feita às claras.
Há quem diga que uma das vitórias de Durão Barroso teria sido a não morte da moeda única. Diria que o euro sobreviveu apesar do ex-primeiro-ministro português. Foram, em grande parte, as soluções que Durão Barroso apoiou que puseram em risco o euro e se há alguém a quem devemos a ainda existência da moeda única, muitas vezes contra corrente, é a Mario Draghi. Também podia referir-se em seu abono as vezes em que falou das eurobonds ou das necessárias alterações aos tratados europeus. O problema é que rapidamente esquecia as propostas ou mesmo se desdizia mal a Sra. Merkel ou o Sr. Schäuble contestassem as suas propostas.
Dizia Bernardo Pires de Lima, neste jornal, que Durão Barroso não tinha sido presidente da Comissão em tempos fáceis, mas que é nestas alturas que os políticos acima da média sobressaem. Não consigo sequer pensar, pelos resultados obtidos, em Durão Barroso como um político mediano. Provou ser simplesmente medíocre. Não admira que as instituições europeias e a própria União tenham chegado ao estado a que chegaram, tendo durante este período um político deste calibre, sequer formalmente, à frente dos seus destinos. O pior é que, às tantas, foi mesmo essa a intenção - mas isso é outra conversa.

Mais uma EFEMÉRIDE, chegada por email, que transcrevo, agradecida,  de outros tempos, sobre outros comparsas:  Por Paula Almeida:

Hoje, (aliás, ontem) 28 de outubro1938
 Os nazis prendem 17 mil judeus de nacionalidade polaca a viver na Alemanha, expulsando-os de seguida para a Polónia, que lhes recusou  a entrada, deixando-os na "Terra de Ninguém", perto da fronteira com a Polónia, durante vários meses. 1939 - Em Berlim, Himmler emite decreto sobre o Lebensborn, exortando as mulheres solteiras da Alemanha a dispensar o "costume burguês" do casamento para ter filhos racialmente puros. 1940 -  A Itália invade a Grécia. Hitler e Mussolini encontram-se em Florença. Hitler esconde a sua raiva por não ter sido informado dos planos dos italianos e diz que tropas alemãs estão disponíveis se for necessário para manter os britânicos fora da Grécia e longe do petróleo romeno. 1941- O primeiro  transporte  vindo de Terezin chega a Auschwitz. 1944  O último transporte vindo de Terezin, com 2.000 judeus para serem gaseados, chega a Auschwitz. O armistício URSS-Bulgária é assinado em Moscovo. Existem orientações para a integração das tropas búlgaras no sistema de comando soviético, o que na prática já acontecia.