segunda-feira, 28 de abril de 2014

Os barões assinalados da continuidade



Conclusão da longa análise do país insolúvel, porque sem solução à vista, segundo a pena de António da Cunha Duarte Justo, e daí que a preceda com o artigo de Vasco Pulido Valente, servindo-lhe de corolário, na graça feroz de um saber e uma inteligência sem tréguas – “O Manicómio”, saído no Público de 25 de Abril – um e outro autor mostrando-nos que, apesar do derrotismo do segundo e da imparcialidade crítica do primeiro, publicado no “A Bem da Nação”, ambos não pretendem mais do que gritar o seu alerta de responsabilização e apelo a uma consciência nacional que recomponha do desconchavo.

A felicidade que em mim subjaz, no reconhecimento dos valores pátrios a garantir-nos que os haverá sempre, como obstáculo a uma irracionalidade de exaltação pueril, me faz dar-lhes lugar extenso no meu blog, onde cabe igualmente o pesar pela morte de mais um grande valor pátrio, que lutou elegantemente e arduamente pela sobrevivência da sua língua, numa nação em extravio – Vasco da Graça Moura, que a morte levou em 27 deste mesmo Abril, substituídos os cravos pelas flores da tristeza.

 

O texto de Vasco Pulido Valente:

«O manicómio»

«Não há limites. Como Soares provou, quando disse numa conferência qualquer que o dr. Salazar tinha o mérito de não ter “mexido nos dinheiros públicos”. Não se percebe onde Soares queria chegar com esta frase absurda. É ela um elogio à tão proclamada pobreza e honestidade do ditador, que pagou até ao fim um galinheiro em S. Bento e criava coelhos? Ou um ataque implícito ao regime vigente, e aos partidos que nos governaram, e que andam hoje a arrastar as suas misérias pelos tribunais? Não parece. A ideia foi com certeza a de comparar a política financeira de Salazar com a política financeira da democracia e as contas certas de Salazar com a dívida e o défice de agora, que arrastaram o país para a miséria e nos trouxeram uma intervenção estrangeira, ainda longe de acabar.
Mas, se assim for, Soares reconhece que a crise é o resultado de políticas do Estado de que o PS e o PSD tomaram a responsabilidade. Para não falar dele próprio. O serviço de saúde, o sistema de ensino, a Segurança Social, o exército de funcionários públicos com que os partidos sustentaram as suas clientelas, os milhares de milhões que se gastaram em betão inútil, o suborno sistemático com que durante 40 anos se pretenderam ganhar votos não entram na categoria das coisas que “nos caíram em cima”, ou naquela outra mais subtil dos efeitos perversos do “neoliberalismo” e da progressiva ruína da “Europa”. São todas a consequência previsível de decisões deliberadas de governos legitimamente eleitos. De que Soares fez parte ou, de Belém, abençoou.
O elogio a Salazar, de que a audiência gostou, não reflecte espécie de racionalidade. Não passa de saudades de um tempo em que não havia sarilhos com o défice e a dívida, porque a PIDE, a censura e a GNR impunham a miséria em que Salazar achava que o país devia viver. O problema, em 2014, é que a democracia não educou os portugueses para a submissão: e os políticos correm por aí, estonteados, como aves sem cabeça. O dr. Soares propõe a violência e apreciaria ver a GNR invadir (tumultuosamente) a Assembleia da República (uma “bela ideia”, explicou ele). Um grupo de “notabilidades” (os 74) resolveu sugerir uma bancarrota a prestações, contando provavelmente com a estupidez do próximo. Meia dúzia de loucos prefere a revolução (mas que revolução?). E anteontem Soares ressuscitou Salazar. Portugal é um manicómio.»

Conclusão do texto de António da Cunha Duarte Justo:

«A REVOLUÇÃO COMUNISTA EM PORTUGAL E A CONTRA-REVOLUÇÃO PARTIDÁRIA – 3»
«25 de Abril – O Despertar de uma Ilusão»

«O 25 de Abril foi um acenar de revolução que deixou no ar um aroma de cravos e liberdade. Seguiu depois a política dos embuçados que ocuparam a República sob a mão duma máfia de luvas brancas e invisível que contamina a vida do Estado e da Nação. Dá-se a repetição do que tinha acontecido na primeira república com a sua maneira de estar e fazer jacobina maçónica e ideológica aliada a um conservadorismo pedante de atitude medieval.
“Quem se deita com crianças acorda molhado!” O que se deu em Portugal ocorre também noutros países atendendo ao facto da política ser uma questão da “res pública” e 90% do povo não estar preparado para ser verdadeiramente “ser político” mais predisposto para a alienação do que para a realidade e a utopia.
O Golpe de Estado deu oportunidade à revolução cultural (movimento 68) em via nos USA, Alemanha, França, etc. O 25 de Abril vulgarizou-a então por todas as camadas sociais do povo português. O 25 de Abril torna-se socialmente também no veículo político e social do Movimento 68. Despertou-nos da Bela Adormecida para um mundo fandango.
Passou-se de uma matriz de pensamento paternalista de direita para uma matriz de pensamento paternalista de esquerda. Um rigorismo paternalista deu lugar a um conformismo rígido de opinião de esquerda. Passou-se da proibição de opinião individual para a liberdade de pensar em bloco. O pensamento individual e verdadeiramente aberto continua a ser uma pedra de tropeço neste sistema democrático.
O golpe de Estado deu-se quando me encontrava a estudar teologia e pedagogia social na Alemanha. Tive então um sentimento de libertação, esperançado em novos tempos e numa nova humanidade.
Com o tempo notei que a liberdade, igualdade e fraternidade que os revolucionários apregoavam eram as liberdades dos seus grupos de interesses não a de todo o povo nem para todo o povo. Tratava-se de uma liberdade querida por certas ideologias de panorama limitado à própria mundivisão e justiça sem ter em conta a situação de cada pessoa. Vivia de encenações e proclamações duma liberdade sem corpo nem alma, duma liberdade internacional abstracta, visível em festas e comícios mas não na realidade. O atributo “facho” era na altura distribuído com proficuidade e até com carinho porque a palavra fascista além de agressiva era injusta. Em comícios, chegava-se a aguentar a liberdade de opinião reservando-se a decisão para horas tardias onde então se protocolavam opiniões dos restantes mais iguais. Quem não pensasse igual era julgado como “facho” e como tal de opinião manipulada pelo antigo regime. A nova  “censura”  (pensar politicamente correcto) marcava os seus pontos na sociedade. À conformidade dum sistema segue-se a conformidade com o outro. Da conformidade com o novo pensar surgia a oportunidade profissional.

Pensar politicamente correcto
 O tempo de Salazar incorpora uma era da ordem rígida e de regras sociais intransigentes adversas à mudança. Antes havia o paternalismo da censura depois passou-se ao paternalismo das ideologias e do oportuno. Aos cães de guarda de regras do decoro e da moral perante o povo e a juventude sucedem-se os novos cães de guarda de ideologias. Os saneamentos efectuados nas instituições e a penteação mental operada nas escolas e universidades deram pouca margem ao surgimento de despenteados do pensamento: aqueles que promovem a mudança sem lhe determinarem a orientação para a esquerda ou para a direita! Dos acomodados tradicionalistas passou-se aos acomodados progressistas. Mudou-se o folclore, a atitude permanece a mesma. Antes seguíamos a ordem do orgulhosamente sós para depois seguirmos a ordem do valha tudo menos nós.
O discurso político faz mais parte do passatempo. Assim como só discutimos superficialmente os tempos da primeira república e de Salazar assim se branqueia o 25 de Abril. Cada época branqueia, irreflectidamente a sua, na procura de culpas passadas que distraiam das suas.

Vive-se de uma história do passado e do futuro sem olhar crítico para o presente. Os fracos e a demonização de um sistema chegaram para justificar medidas irreflectidas e a lavagem de cérebro aos portugueses.
Havia um congestionamento de reformas, é verdade. O espírito da geração 68 do ocidente empacotado no 25 de Abril a pretexto de saneamentos dos ” fachos” e como estratégia de infiltração partidária iniciou a sua marcha através das instituições. Este processo também se deu nas instituições europeias pelos arautos da geração 68. A revolução ocidental dos jovens de 68 conseguiu chegar à ribalta da história portuguesa e questionar hábitos e valores já com musgo. Uma época da História com um ambiente a solicitar o florir de pessoas e instituições continuava ainda manietada por regras e ordens desconformes ao espírito que flui do mundo ocidental.

Neste contexto, tornamo-nos todos abrilistas, consciente ou inconscientemente. Ao golpe de Estado de Abril junta-se uma revolução cultural. O projecto de mudança social desencadeou um processo de esperanças e ideais. À leviandade com que se operou o processo das independências junta-se o erro de mera aplicação de ideologias internacionais já em processo decadente da rebeldia e do preconceito vigente contra as instituições: contra Deus, pátria e família. Também isto levou a nova classe política a desobrigar-se também porque deixou de entender a diferença entre pecados sociais/culturais mortais e pecados socias/culturais veniais!

O sentido da liberdade esgotou-se no questionar a ordem antiga. A razão familiar, democrática e de opinião é despenteada a favor do liberalismo histérico da economia e do mercado. A revolução apodera-se da liberdade e do sexo que oferece a belo prazer sem apelar para a responsabilidade nem para as consequências dos próprios actos. Liberta-se o instinto do animal e reduz-se a pessoa ao indivíduo inocente sem roupa, nem cabeça na esperança de uma vida natural de necessidades realizadas numa sexualidade que restabelece a vida inocente de Adão e Eva antes da mordedura da maçã. Agora tudo corre à procura de auto-realização num novo Homem sem consciência nem moral. Depois das aldeias esvaziadas de sentido até à última aldeia das Cabras, passamos a sofrer de liberdade abstracta. De recordar que na altura em que a revolução andava à solta, a “juventude” da cidade, nas suas campanhas de esclarecimento popular se deslocava às aldeias para politizar o povo (facto este que se não tivesse sido ao serviço da ideologia seria uma boa iniciativa). (Neste contexto conheci um episódio em que se organizou a desfloração de virgens em grupo, sendo para o efeito escolhido democraticamente um jovem delicado para executar tão delicado trabalho Conheci, na altura, um jovem que o fez, era ligada aos grupos de Otelo e chegou a ter várias metralhadoras em casa). Tropeçamos na própria liberdade: Uma falsa compreensão de emancipação espera agora por vingança. Alimentada de valores e da fé numa democracia e numa liberdade elástica. A dança da liberdade leve ameaça tornar-se numa dança de mortos na preparação de um apocalipse que acontece ciclicamente no desenvolvimento da História. O caldeirão do consumo torna-se num buraco negro que engole tudo, engole a razão, a liberdade e equaciona a ética em termos de mercado e consumo, num mundo que se quer caótico sem sujeitos individuais, sem políticos responsáveis nem estado. Um niilismo nostálgico quer de sujeitos funcionários, só tipos numa realidade factual meramente económica. Agora é o tempo dos nostálgicos na procura da inocência perdida.
Uns e outros com falta de realismo.

A REVOLUÇÃO COMUNISTA EM PORTUGAL E A CONTRA-REVOLUÇÃO PARTIDÁRIA – 4
Socialismo espalhado com o aroma dos Cravos

A revolução tinha outras intenções com o seu golpe de estado. Os seus realizadores queriam, como se pode verificar nos governos provisórios, a mudança do regime autoritário para outro regime ainda mais autoritário mas de caracter popular. Encenavam-se como heróis tornando-se autoridades morais em nome duma consciência socialista internacional pronta a sacrificar a própria nação.

Dos livros de ensino começam a substituir-se textos de portugueses consagrados por textos da internacionalidade. A própria constituição deve ser a mais progressiva e mais internacional possível. Celebravam por toda a parte a salvação dum estado de sonho, dum povo liberto das heranças do passado. Um povo que esperava liberdade foi amarrado à manjedoura da ideologia por dançarinos do poder que de pacientes passaram a salvadores. Organizam-se programas de reeducação popular no sentido de ideários socialistas que queriam resgatar Portugal, expurgá-lo da pátria para o tornar internacional e popular. Apresentam-se como vítimas legitimadoras duma nova identidade a criar. Não chega lamentar e remediar o autoritarismo da ditadura anterior; precisa-se de um fascista grande para argumentar e para isso comparámos Salazar com Hitler. Com um Salazar monstro não precisamos de mudar a nossa conduta; apenas a ideologia. Por mais que os erros da nova classe se levantem, nunca chegarão àquela gravidade! E o povo acreditou nas promessas seguindo a voz do novo canto. Um povo de abelhas vai seguindo o cantar da cigarra. Queria em nome do marxismo criar uma nova sociedade com novas amarras. Os espíritos do velho regime instalam-se com mais convicção no novo. A vergonha dum antigo regime apressa a identificação com o socialismo internacional. Chega a cor para nos dar o sentimento de pertença.
O impasse em que vivemos hoje deve-se a uma liberdade gratuita, prometida e que se quer atingida sem o suor do próprio rosto. Uma libertação de tudo mas sem saber para quê. Um mundo de abrilistas torna-se pioneiro da liberdade prometendo felicidade. Em nome da liberdade dá-se oportunidade ao novo oportuno: novos senhores exploradores ocupam agora o lugar dos antigos. Dá-se também uma democratização da exploração, sendo agora possível um número maior de exploradores do que antes. O Golpe de Estado efectuado não se orientava pela realidade das pessoas e da nação mas seguia apenas ideologias mais ou menos internacionais de fardas engomadas.
Portugal passou a albergar, especialmente no Alentejo, muitos peregrinos e “refugiados” da civilização ocidental.
A revolução ao ser feita em nome da esquerda tornou-se sua propriedade; este foi o seu busílis ao esquecer que o Homem consta de uma parte esquerda e outra direita, uma parte inferior e outra superior. A revolução tinha boas intenções mas ao polarizar-se desrespeita a pessoa e a nação, tal como fez o regime anterior. Este foi um grande erro na estratégia de educação popular. Por isso hoje já não é o povo quem festeja, quem festeja é o partido ou os funcionários do Estado. A vivência da nova era sente-se no acto da compra no supermercado e no sexo. Cai-se no vício de uma liberdade sem vontade.
O "movimento 68" resume a sua doutrina na frase “depois de Auschwitz não se pode acreditar mais num Deus bom e amoroso” quando a conclusão lógica a tirar seria: depois de Auschwitz não se pode acreditar mais na bondade natural do Homem. A primeira frase leva à desculpa e à ideologia, a segunda compromete e responsabiliza cada pessoa.
Tal como uma árvore precisa de estrume no seu solo assim uma cultura precisa do húmus da tradição para poder desenvolver-se e do sol da esperança que constrói o presente com uma panorâmica gratificante. A liberdade precisa de um horizonte e o húmus de que ele se alimenta é o cristianismo e o idealismo (idealismo pensado na alternativa de pensamento alemão ao iluminismo francês). Para o cristianismo cada pessoa é um ser singular único com uma consciência pessoal com uma dignidade humana que o torna responsável e transcendente.» (Continua)

«A REVOLUÇÃO COMUNISTA EM PORTUGAL E A CONTRA-REVOLUÇÃO PARTIDÁRIA – 5»
«Desencantar e dessacralizar o mito de Abril»

«Cada nação precisa dos seus ideais e dos seus mitos; de facto precisamos de utopia mas não da alienação. Em nome de uma superioridade moral vendemos o mito da revolução. Portugal perde a guerra do ultramar e vende-a como libertação de Portugal. A derrota de um ultramar entregado ao bloco soviético é empacotada na cor dos cravos de Abril. Uma descolonização que já há muito deveria ter sido feita, deu-se na confusão e na traição em nome da auto-estima. Todos nós sofremos do mito de Abril que nos levou para onde nos encontramos. Portugal ajoelhado não aos pés duma civilização, mas ajoelhado aos pés da troika que apesar de tudo, com o seu ditado, ajudou Portugal a sair da bancarrota (de que nos libertamos, esta semana, ao voltar aos mercado financeiros internacionais).
Agora seria óbvia a era da recuperação da dignidade individual assumindo responsabilidade pessoal. Primeiramente seria necessário desencantar os feitores da revolução. Antes deixávamos o negócio do Vinho do Porto nas mãos dos feitores portugueses a serviço das quintas inglesas. Com o 25 de Abril entregamos o negócio da nação, primeiramente, a feitores da ideologia, aos representantes soviéticos e à fé no movimento 68 para depois colocarmos o nosso destino na UE. Abandonamos a consciência lusófona e de portugueses para seguirmos a anónima internacional. Em nome da moral e contra a razão endinheiraram-se os novos-ricos produzidos pelo Abril à custa do esvaziamento cultural e da auto-estima da nação.
Para começarmos de novo teremos de deixar nas ruínas do “império” os seus “heróis”, aqueles que lhe fizeram o enterro. Temos que da ruína da nação enferma, agora ajoelhada erguer-nos de novo como noutros tempos contra os interesses daqueles portugueses traidores que arquitectavam o seu futuro na entrega de Portugal a Castela. 1640 é um dia do povo, agora que a liberdade individual e do povo se encontra mais que nunca ameaçada, há que o restaurar. Mandemos para o ferro-velho da história muitas das aquisições de Abril para readquirirmos Portugal readquirindo-nos a nós. Não queremos já ideais floridos nem a libertinagem enganadora; não precisamos da roupa velha mas duma vontade firme para cada um se erguer. Também o entusiasmo e valores do 25 de Abril nos poderão ajudar. Um estado que domina e mantém o povo à trela da ideologia e das dívidas perde a confiança.

Talvez fosse melhor dizer adeus a alguns direitos para recuperarmos a nossa dignidade ultrajada numa massa de ovelhas em que a perspectiva prometida era a erva e o traseiro da “ovelha” vizinha. Para nos tornarmos cidadãos adultos teremos de deixar de ser massa partidária, confessional ou nacional. Ter-se-á de sair de novo para a rua para aí se construir o nosso Abril, um Abril de liberdade para cada um. Uma rua trabalhada e enfeitada por todos mas sem ladrões das flores e dos frutos e sem os protagonistas da nação apresentados na imprensa e na televisão. Somos um povo a caminho à semelhança do de Israel a realizar-se em comunidade.

RUMINAR A REVOLUÇÃO
A revolução não pode ser analisada apenas sob o aspecto moral; precisa também de uma abordagem histórica séria que ainda não chegou à consciência pública. Na análise da ditadura e da revolução exigimos dos protagonistas que sejam heróis ou pelo menos pessoas admiráveis. Os que fizeram a revolução revelaram-se muito normais (excepto Ramalho Eanes) e a nível de liderança será difícil encontrar uma personalidade da craveira de Salazar. Seria hipocrisia continuar-se a apostar numa “vítima de lavradores” como dizem os Alemães para ilibarem os restantes, quando todos faziam parte do sistema. Karl Marx dizia “As pessoas fazem a própria história, mas, sob circunstâncias auto-selecionadas, não o fazem livremente”. Trata-se de viver uma cultura da memória com capacidade para se rever no positivo e no negativo sem passar tudo a ferro nem com heroizações.

É melhor uma controvérsia honesta que contribua para a construção de uma sociedade civil crítica na continuidade da paz civil. Entretanto o 25 de Abril tem-se tornado numa carga que transforma a mudança do nome da ponte Salazar para ponte 25 de Abril numa usurpação. O armazém da memória da comunidade democrática aguenta e deve ser resistente, na certeza de que não foi o 25 de Abril que inventou a liberdade, a igualdade e a fraternidade e na consciência que cada época tem os seus padrões e normas. Liberdade só o é se for ao mesmo tempo uma conquista individual e social.

O sociólogo Laurene Peter fala de um princípio que pode explicar parte da situação portuguesa. Fala de uma “sublimação sem barulho” e de um “cair pela escada acima” uma pseudo-promoção. Segundo o Princípio de Peter, cada funcionário tende a subir na carreira até atingir o seu grau de incompetência. Enquanto não se atinge o grau da incompetência ganha-se aplauso, reconhecimento e influência. Depois, uma vez atingido o último degrau, fica-se lá, em vez de se ter ficado no grau anterior onde se era criativo e competente.

As novas gerações (pós 25 de Abril) receberam, gratuitamente, uma herança que agora desemboca na crise e que é preciso ruminar. Acordamos num jardim zoológico muralhado quando sonhávamos a liberdade de passarinhos sem gaiola nem fronteiras. Julgávamos que o sonho era realidade e que a realidade era sonho. Julgávamos que era possível uma sociedade só de académicos e por isso acabamos coma as boas escolas comerciais e industriais de então. A revolução nascida mais da ideologia do que da realidade desprezava o trabalho manual. A discriminação do trabalho manual em relação ao intelectual levou-nos a onde nos encontramos.

O 25 de Abril envelheceu deixando os mais velhos desiludidos dos marxistas, maoistas, comunistas, anarquistas que queriam uma mudança radical. Constatou-se que o sonho era só para eles, como podemos verificar nas suas posições, remunerações e pensões. Tudo corria para o partido que dava mais.

Somos todos corresponsáveis. Quando um dedo da nossa mão aponta para a responsabilidade dos outros pelo menos outros três apontam também para nós. Sou crítico porque amo o meu país, procurando ver o porquê das coisas irem mal. (continua)


A REVOLUÇÃO COMUNISTA EM PORTUGAL E A CONTRA-REVOLUÇÃO PARTIDÁRIA – 6

UM ESTADO ONTEM REFÉM DA NOBREZA E HOJE REFÉM DOS PARTIDOS

Portugal a partir do séc. XVII nunca foi reajustado encontrando-se ciclicamente em derrocada como constatavam já Alexandre de Gusmão, Antero de Quental: “a nutrir pançudos”. Faliu em 1892, e depois sob penhora durante a I República tendo como consequência o golpe de Estado de 1926, altura em que Portugal se encontrava de novo na falência.

A primeira república desqualificou os ideais liberais e democráticos a ponto de chegar a produzir o provérbio “isto é uma república” com o significado de desordem e actualmente a "Isto é uma república das bananas." O regime de Salazar criou uma ditadura do “orgulhosamente sós”.

No tempo do “António Salazar” o pensamento era censurado, no regime do 25 de Abril é penteado pelo pensar politicamente correcto, propagado pelo espírito do tempo e laqueado pelos mass media.

O que se dá com as revoluções portuguesas é o mesmo que se tem dado com os governos: é uma alternância dos senhorios do Estado português; antes nas mãos da nobreza e depois nas mãos dos burgueses e novos-ricos. Transmitem-se os mesmos vícios num conluio de conservadores e progressistas. A Ditadura Nacional (1926-1933) termina em 1933 com a Constituição de 1933 e início da II República (Estado Novo) até ao golpe de estado do 25 de Abril de 1974. A Constituição de 1976 estabelece a democracia partidária. Nesta III República repetem-se os erros tradicionais e estende os seus tentáculos de polvo partidário e ideológico governa o país com leis e decretos ao sabor do tempo e das influências.

Antes para servir nobrezas e burgueses insaciáveis, depois para servir as bocas partidárias e de irmãos maçónicos boçais.

Um povo que não cresce organicamente vive dos golpes de Estado (revoluções) que além de ajustes de contas se revelam num acerto ao tempo. Vivem de uma lei fora de lei. Velhacos metem a mão à bolsa dos velhos e aos novos pede-se-lhes para emigrar.

À beira da falência em 83 salvou-o a EU mas a megalomania esbanjadora de querer viver à grande europeia mas com uma economia de terceiro mundo – uma economia de grandes para grandes – só que depois o desflorou com a Troika em 2011. Amoral encontra-se também ela em processo de emancipação, a consciência passa a ser opinião destilada nos alambiques dos interesses grupais.

O povo e a massa cinzenta ocupam-se, à maneira tradicional, da comparação e do maldizer dos novos velhos usurpadores, esquecendo que a situação é de tal desespero que conduziria, a ser tomada a sério às conclusões e trágico fim de um Antero de Quental. Do seu Olimpo sob o sol do desespero a opinião elucidada (tuba canora) julga da justiça social. No Olimpo tudo é grande, nele a grandeza supera a corrupção, tudo passa a ser normal. Onde não há moral não há direito. Por vezes, parecemos povo, filho de pai incógnito continuamente a olhar para o governo, esperando reconhecer nele o pai. Diz-se o que não se pensa, pensa-se o que não se diz!»

FIM




domingo, 27 de abril de 2014

Memoriais sem convento




Belas páginas de uma história que por nós passou, para lembrar um 25 de Abril de 74, nos seus objectivos e nas suas transfigurações. Pertencem a António da Cunha Duarte Justo e retiro-as do blog “A Bem da Nação”.
Os seus objectivos eram os dos capitães ledores de uma certa cartilha – os da descolonização imediata e da imediata deposição do regime vigente na altura. Todos – capitães, fugitivos do exército, militares escrevedores de livros sobre o futuro de Portugal e antigos prisioneiros de Caxias ou mesmo de Peniche (onde nascem os amigos) - se alambazaram nesses pratos fortes do “cozido” à portuguesa, mas, face ao atropelamento dos ideais de propriedade, incompatíveis com a nossa economia de courelas próprias, os dentre esses que discordavam dos defensores de reformas agrárias e de ocupações perversas, passaram a combatê-los depois, a partir dos idos de Novembro, em função de um retorno a uma ordem mais comedida e de defesa própria. Mário Soares bem se pode gabar de ter estado nas duas facções - a dos objectivos destruidores e a das transfigurações em proveito próprio e dos acompanhantes amigos – e bem se pode afirmar que agora sobrejaz nele a do retorno à delinquência contida nos ideais abrilinos radicais, para efeitos de novo apeamento governativo. E não é o único. Pegou moda o 25 de Abril na nossa mesa diária, mais do que nunca são evocadas as memórias da gloriosa data pelos nobres sucessores e herdeiros do programa quarentão. O último programa “O Eixo do Mal” foi um desfilar de evocações, pelos da casa, acrescidos de convidados especiais – Helena Roseta, Isabel do Carmo, Ana Gomes, Padre Vaz Pinto entre outros, incluindo um gracioso cantor, Manuel João Vieira, que, em meio das críticas ao Estado Novo e, para não destoar, ao Estado novíssimo, desfibraram as suas memórias desse dia, de jovens ainda vibrando segundo as vibrações familiares, ou, como no caso de Vaz Pinto, apenas segundo as suas de despaisado, outros já com cadastro na Pide e na prisão, como a valente Isabel do Carmo, já mãe de família na altura dos seus combates pela justiça. Mas também os jornais continuam a produzir memórias desse dia, caso do Público deste 25 de Abril, com inúmeros relatos de importância a somar às memórias dos 15 anos de Paula Torres de Carvalho da pág. 72, que tinha “a ideia de que tudo era para sempre”, o que compromete a imagem do rio que flui, segundo a opinião abalizada de Heraclito.
Um chorrilho, que promete não acabar, pois ainda hoje acordei com cantares do Zeca Afonso na rádio, entre os quais “Os Vampiros”, que regressam em força, donde se deduz que o 25 de Abril é para lavar e durar, tal a resistência do pano do seu fabrico.
E é por isso que eu volto também - (que se me desculpe a redundância) - a referir as minhas memórias desse dia memorável, que acho que já relatei, mas que nunca é demais relembrar, como andam todos a fazer, pois se nos colaram à alma como pegajoso grude: a minha amiga Flávia telefonou-me às sete da manhã a contar dum golpe nesse dia, aqui em Lisboa, que apeara Marcelo Caetano do sítio donde governava o país. Mas nem liguei, fui dar as minhas aulas, depois de despachar as crianças segundo as competências de cada uma, os mais velhos nas escolas, os mais novos entregues à Marta e ao Salvador. Mas a partir daí, já ciente dos factos, foi um ver se te avias de escritos breves tendentes a servir de obstáculo ao desabar babélico de espaços e fés, de que saíram “Pedras de Sal”. Em Julho desse ano, o sr. Folques da Livraria com esse nome, embora a medo, não resistiu à minha ânsia de publicar o livro na sua tipografia, cada dia acrescido de sucessivos textos que oneravam o custo inicial, embora o não tenha exigido, ciente da sua e minha loucura que nos livrava da definição de Pessoa, para D. Sebastião, de “besta sadia, etc”. Mas em 8 de Setembro, meu único dia de glória reconhecida, descia eu com a família para o Rádio Clube de Lourenço Marques - que as tropas portuguesas afectas ao regime tinham tomado de assalto e o povo moçambicano apoiava aos milhares, com comida e presença – quando uma colega, de pé com a sua família, num descapotável, me gritou, inflamadamente: “Berta, também lhe devemos isto a si!”. No dia seguinte, 9 de Setembro, foi o desmoronar definitivo da utopia. Um telefonema falou em retaliação e ordens de Lisboa, dando por findo o regabofe da utopia, e início à invasão descolonizadora da Frelimo. Tratei das papeladas para fixação cá, fomos retornados, o marido permanecendo ainda uns  meses lá, a trabalhar e a embalar os trastes dos sonhos desfeitos, para aqui serem reiniciados numa falsa aparência de continuidade, na derrota e  na readaptação.
E o 25 de Abril retorna em força, nos cantos e nas memórias, nas vozes desafiantes que desejam depor o Governo, na puerilidade maquiavélica de alguns, que um povo pueril volta a apoiar, indiferente às contradições desses tais.
Sic transit gloria mundi. Aos solavancos. Excepto a minha, que se apagou no mesmo momento, de conforto unicamente pessoal. Inútil.


«A REVOLUÇÃO COMUNISTA EM PORTUGAL E A CONTRA-REVOLUÇÃO PARTIDÁRIA – 1

«O 25 de Abril é um Marco histórico que introduz uma Matriz de Pensamento de Esquerda
O 25 de Abril é passível de muitas interpretações. Tal como afirma Josep Sánchez Cervelló, o objectivo do 25 de Abril (FMA) era a descolonização e a instauração de um regime socialista em Portugal.
Na madrugada do 25 de Abril de 74, Portugal sonhou e a 25 de Novembro de 75 acordou para uma discussão entre forças radicais e moderadas que impediu uma futura guerra civil entre as forças armadas divididas.
Fernando Rosas diz que a revolução portuguesa «foi a última revolução de esquerda da Europa do século XX». O mesmo povo que possibilitou o início da revolução impediu-a depois.
Do que observei, nos primeiros tempos da revolução poderia afirmar, que o que se passava nas ruas era a expressão de um povo dominado que saia à rua para cantar a liberdade.
Liberdade e libertinagem eram atitudes não claras tanto nos revolucionários como no povo que os aclamava. A festa foi mesmo boa e à maneira portuguesa; mas a liberdade e a desordem eram tão grandes que já assustavam os países vizinhos, numa época de caos e de inovação onde imperava a esquerda e a extrema-esquerda (Fase dos governos provisórios até ao fim do quinto governo de Vasco Gonçalves, 19 de Setembro de 1975). Entretanto Mário Soares servindo-se também do cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros para os contactos com o estrangeiro, conseguiu, com o Grupo dos Nove, dar força à contra revolução que incluía também os interesses da burguesia. Durante o VI Governo provisório do 1° ministro Pinheiro de Azevedo e do Presidente Costa Gomes dá-se o golpe militar do 25 de Novembro de 1975 propriamente manejado pelas forças inerentes ao "Grupo dos Nove", as forças moderadas da esquerda e da direita; aqui dá-se o fim dos sonhos da esquerda radical (prisões de militares e desautorização do gonçalvismo e do otelismo). O PCP, Vasco Gonçalves e as forças revolucionárias da esquerda, opta pela luta ideológica do domínio político. Têm uma função de catarse no discurso político. O maquiavelista Mário Soares “ambicioso sem princípios nem convicções” como desabafa Vasco Gonçalves, pôde fortalecer os interesses dos parceiros europeus. Com o apoio dos socialistas franceses, austríacos, do SPD alemão e da CIA americana, conseguiu endireitar a revolução da esquerda radical. A Constituição institucionaliza depois uma democracia partidária. Acaba-se a era dos líderes militares para se iniciar a dos líderes políticos.
Com o começo do 1° Governo Constitucional (sob a chefia de Mário Soares a 23 de Setembro de 1976) inicia-se uma política no sentido da integração europeia, começando por devolver as terras e as casas ocupadas e as empresas nacionalizadas aos seus proprietários. A Europa respira fundo porque vê afastado o perigo de Portugal se tornar numa segunda Cuba.
Ainda me lembra de, na altura, haver expressões públicas contra a Europa, mas a autoridade indiscutível dos partidos conseguiu manter o povo nas suas fileiras, sem referendo tal como se fez com a integração de Portugal na zona euro (Na altura mais que discurso político reinava o discurso ideológico e a generalidade do povo não tinha ideia do que se estava verdadeiramente a passar). O povo teve, porém, papel muito importante, logo no início do 25 de Abril, porque com o seu acorrer às ruas impediu que os militares entrassem em conflito imediato entre eles. A força partidária esteve extremamente presente conseguindo domar à sua maneira, o caos “democrático” de um povo que então se sentia à solta, de ocupação em ocupação. Nesta altura ainda não havia verdadeiramente líderes onde o povo se pudesse alinhar, isso só veio a acontecer com a organização partidária que conseguiu alinhar e chamar a si um povo já de si desalinhado. Cantava-se, então, que o povo é quem mais ordena, o que em parte acontecia até ao 25 de Novembro; este mesmo povo que repetia a cantiga dos revolucionários cantava depois a cantiga dos Partidos organizados.
Aqueles que queriam uma revolução à maneira russa, de Mao Tsé-Tung ou cubana perderam logo nas Eleições para a Constituinte, obtendo a maioria o PS com 37,8% e o PPD com26,3%). O povo optou pela democracia representativa. Depois manteve-se uma discussão extremista e muitas das palavras que se hoje ouvem contra o fascismo são saudades frustradas de um tempo em que a revolução de carácter totalitário foi de facto impedida por Mário Soares e pelas forças inerentes ao grupo dos nove.
Foi um golpe de estado feito pelos capitães e não pela hierarquia militar superior. Decisivo no sentido de impedir a divisão da instituição militar foi a acção dos intermediários António de Spínola e Francisco Costa Gomes, tornados chefes de estado até às eleições presidenciais de 1976. O que temos é fruto da democracia de manifestações de interesses muito embora numa democracia formal.
Muitos, que antes atribuíam todo o bem adquirido ao 25 de Abril, responsabilizam-no agora, fazendo dele um bode expiatório de todo o mal, tal como foi feito outrora com o regime de Salazar. Também houve uma hiperbolização do 25 de Abril como se tudo se devesse a ele e não fosse possível desenvolvimento histórico sem ele e como se não houvesse outros Estados na altura em condições semelhantes às nossas e, apesar de não terem tido revolução, conseguiram acompanhar o desenvolvimento dos tempos.
Os que fizeram a revolução aproveitaram-se dela (vejam-se os partidos e seus membros relevantes que reservaram o amanhecer de Abril para eles e o anoitecer para a maioria); a falta de formação política e cívica que não se pode adquirir só na rua acentuou a dicotomia entre a História e o mito!

«A REVOLUÇÃO COMUNISTA EM PORTUGAL E A CONTRA-REVOLUÇÃO PARTIDÁRIA – 2

«Instalou-se uma Partidocracia

«A política, como “actividade nobre de servir os outros e governar o que é de todos”, tem um senão: é obra de pessoas habituais e votada e criticada por 90% de quem não entende de política nem de governação. Assim, em vez de uma democracia orientada para o povo, como é o caso da Suíça, instalou-se uma partidocracia todo-poderosa e incontrolável.
Torna-se cínica a forma como os nossos democratas falam dos privilégios do clero e da nobreza na Idade Média e se reservam para si privilégios que a plebe democrática não tem. Seria lógico que ganhassem mais mas que estivessem sujeitos aos mesmos direitos e deveres que o normal do cidadão e de instituições sociais. Marinho Pinto, bastonário dos advogados, relata, entre muitos privilégios dos partidos, os seguintes: os partidos políticos estão isentos de IRC, IVA, IMI, imposto de selo, imposto de doações e sucessões, isentos de imposto sob património, de imposto de automóvel, de imposto municipal de transmissão de imóveis, de taxas de justiça e de custas judiciais. “Tudo privilégios adquiridos às escondidas”. Cada voto rende para os partidos 3,1 Euros por ano. O MRPP, devido aos votos recebe mais de 15 mil euros por mês; o PSD vencedor das eleições irá receber entre as últimas eleições e as próximas 38 milhões de euros; o PS vai receber mais de 28 milhões; O CDS/PP 13 milhões; PCP e o VERDE mais de 10 milhões; Bloco de Esquerda mais de 6 milhões; e não parlamentares como PCTP/MRPP mais de 777 mil euros e o Partido dos Animais e da Natureza recebe mais de 730 mil euros.
Além disso os partidos parlamentares receberam mais de 8,3 milhões de euros para as despesas da última campanha eleitoral a dividir entre os partidos segundo os resultados obtidos. Cada grupo parlamentar também terá direito a uma subvenção anual para encargos de assessoria aos deputados no correspondente a cerca de 2.000 euros por cada deputado; a Assembleia da República paga as remunerações dos funcionários dos grupos parlamentares 2 milhões e 550 mil euros por ano; o PS recebe 2milhoes 104mil euros o CDS 1 milhão e 200 mil e o PCP 865 mil euros o bloco de esquerda 631 mil; e os Verde 244 mil euros.
Além dos 24 milhões de Euros ainda há verbas de 18 milhões e 500 mil euros para apoiar as campanhas para a assembleia da república, assembleias legislativas dos Açores e da Madeira parlamento europeu e depois ainda há outra verba para as autárquicas.
Mudança de padrões de pensamento: da matriz de pensamento de direita passou-se para a matriz de pensamento de esquerda
Passaram-se já 40 anos depois do canto de Grândola Vila Morena na Rádio Renascença a 25 de Abril de 1974. Numa altura de crise e em que as conquistas de Abril e os valores da civilização cristã são sistematicamente destruídos por forças da esquerda e da direita, a comemoração da “revolução dos cravos „ pode tornar-se cínica. Canta-se hoje o 25 de Abril como outrora se cantavam as proezas da Constituição de Salazar em 1933. O processo revolucionário caótico interrompido por Mário Soares e pelas forças em torno do “Grupo dos nove” deu origem a outro processo que embora avançado, é escuro e muito mais corrupto que o anterior.
O 25 de Abril deu-se na confusão de forças militares e partidárias continuando ambíguo.
O 25 trouxe-nos a paz e a democracia e direitos sociais e sindicais e criou a plataforma para o progresso em diversos campos contribuindo para o melhor bem-estar das pessoas, especialmente nos sectores da saúde, educação e comunicação mas não conseguiu a suficiente inclusão que entusiasticamente se propunha; pelo contrário fomentou a diferença dos mais ricos e dos mais pobres. Quanto aos pobres manteve-os no assistencialismo, que os mantem a pouco mais que a pão e água.
O alarido em torno da música de Abril conseguiu a grande adesão popular mas não envolveu depois o povo no processo cívico. Há deficiências que se devem à falta de formação política do povo mais configurado para a “res privada” do que para a “res publica”; isto explica-se pela falta de responsabilidade da classe política também ela demasiadamente condicionada por influências de grupos alérgicos à gerência do seu comportamento na praça pública.
A situação em que nos encontramos e o estado de corrupção estatal/partidária é tão grave que não seria responsável um discurso que pretende ajustar contas com a direita ou com a esquerda. Neste sentido, já há muito deveria haver coligações de maiorias governamentais de salvação nacional formadas pelos partidos mais fortes. A palavra de ordem só pode ser de reconciliação, responsabilização e metanoia.
A situação portuguesa não pode ser desintegrada da matriz económica da UE a que nos unimos e que vincula esquerda e direita, como a economia dos USA e da China que não nos deixa produzir artigos concorrentes em termos de preço. A globalização capitalista liberal com a falência dos bancos… e a má administração dos governos levaram Portugal à bancarrota, pondo-o nas mãos dos credores. A riqueza desenfreada de alguns provoca a dessolidarização social do Estado. A nível de infra-estruturas, apesar da crise económica, Portugal é um dos países mais avançados.» (Continua)