quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Canais… em final de ano



Falámos dos canais. A minha amiga tem preferência pelos que ensinam medicina, e é por isso que me atazana com perguntas que envolvem o cérebro, sobretudo das crianças que tomam comprimidos para forçar a atenção na escola, o que ambas condenamos, ou dos adultos com problemas depressivos, o que também já me sucedeu, mas de cuja medicação me desfiz voluntariamente, atribuindo o problema diagnosticado a  uma crise passageira de baixa auto-estima, diagnóstico que se aponta hoje muito para as depressões, embora eu não ache que a tenha, reservando para a minha bolsa o problema da baixa. Mas não me seduzem os programas sobre doenças que põem a minha amiga a falar com tanta autoridade e insistência nessas questões mórbidas. Prefiro programas de disputas políticas, embora os problemas sociais do país me ponham, por vezes, à cata do canal Memória, que nos transmite realizações do passado bem concebidas, não esquecendo José Hermano Saraiva, para enterrar a cabeça na areia, como o avestruz. A minha irmã fala no segundo canal, e concordamos que tem programas magníficos. Falámos no Don Giovanni que ambas tínhamos visto na véspera, com Carlos Guilherme e outros cantores e cantoras de ópera, espectáculo realizado em Faro, e nesse mesmo dia – domingo - pude ver, com admiração, encanto e gratidão, o Bailado Pedro e Inês, da Companhia Nacional de Bailados, criação de Olga Roriz, de 2004, que achei o máximo, tanto na concepção, como na coreografia, como no desempenho, provando que sabemos e podemos  criar tantas coisas belas e modernas no universo artístico, que a televisão deveria divulgar mais. Um segundo Canal que eu própria me arrependo de não ver mais vezes, incitada por outros interesses  como os de cinema ou os shows de maravilha da TV5, entre os quais o de Culinária antes do “Questions…” do Julien Lepers, seguindo uma linha de orientação sóbria, didáctica e educada, que me leva a comparar com o nosso espécime de “Bonjour Chef” do 1º Canal, em tudo seu avesso – profuso, impertinente, exibicionista e sem nível didáctico, a  relembrar  as botas de biqueira exagerada que Carlos da Maia encontra na sua passagem final por Lisboa, e que tanto definem o nosso catitismo provinciano. A par de espectáculos bem concebidos de canto ou bailados, permite-se, na TVI, contudo, um programa da Teresa Guilherme, com absoluta falta de nível, ao que me pareceu e que mais carrega de cores sombrias o problema educativo da nossa sociedade.

«E o dono da Tabacaria sorriu»



Uma explicação de grande clareza, que um professor universitário – Paulo Morais – não se permitiria expor se não fosse verdadeira, embora, pelo que se tem visto no nosso país de sol, que nos aquece que nem a lagartos “a quem cortam o rabo E que é rabo para aquém do lagarto, remexidamente”,  como informa um angustiado niilista, Álvaro de Campos - nele – no nosso país – muitos sejam os que condenam, em irrisórias afirmações de hombridade pessoal, os que a não têm. O que é facto é que cada texto de condenação de uns é pretexto para  trazer à liça outros mais, de quem já se falara em tempos, remexidamente em vão. Oxalá tenha razão Paulo Morais, ao afirmar que uma nova Justiça parece estar a chegar. O A Bem da Nação não se permitiria transcrevê-lo se não confiasse no seu autor:

Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014
BEIJA-MÃO ÀS GRADES
 O ex-primeiro-ministro José Sócrates, preso em Évora, inaugurou uma nova prática: a de conceder audiências na cadeia.
José Sócrates, preso em Évora, inaugurou uma nova prática: a de conceder audiências na cadeia. As peregrinações de inúmeras figuras públicas à penitenciária de Évora, sob a capa aparente de visitas de apoio e solidariedade, mais não parecem do que exercícios de vassalagem.
Ao longo de anos e enquanto governante Sócrates garantiu ganhos milionários a alguns dos maiores grupos económicos, em particular na Finança e nas Obras Públicas. Todos aqueles que Sócrates beneficiou estarão agora a ir à cadeia beijar-lhe a mão. Será uma questão de gratidão. Por lá passaram e continuarão a passar os concessionários das parcerias público-privadas (PPP), a quem Sócrates garantiu rendas obscenas em negócios sem risco. Assim, não será de estranhar que o todo-poderoso Jorge Coelho, presidente durante anos do maior concessionário de PPP rodoviárias, o grupo Mota-Engil – tenha rumado a Évora. Também lá esteve em romagem José Lello, administrador, durante os governos socialistas, da construtora DST, que muito ganhou também com PPP.
Não deixa de ser curioso que cheguem apoiantes de todos os sectores que Sócrates tutelou. O líder do futebol português, Pinto da Costa, foi mais um dos que manifestou o seu apoio público. Afinal, Sócrates foi o ministro do desporto que trouxe o Euro 2004 para Portugal. Um Euro que valeu muitos milhões de euros aos clubes de futebol e seus dirigentes. Mais um gesto de vassalagem.
Para ser visitado e apoiado, a Sócrates bastará enviar a convocatória. Todos aqueles cujos podres Sócrates conhece, os que usufruíram de benefícios ilegítimos pelas suas decisões – todos aparecem ao primeiro estalar de dedos. Todos temem Sócrates, pois sabem que se ele resolver falar, desmorona o seu mundo de promiscuidades entre política e negócios.
Com estas convocatórias e manifestações de apoio, o ex-primeiro-ministro pretende manipular a opinião pública, vitimizando-se; bem como condicionar a Justiça, através da sua manifestação de força e influência.
Mas o que não faz e deveria fazer é aproveitar o acesso directo aos media para explicar quais os bens de fortuna que lhe permitiram, sem rendimentos compatíveis, manter, durante anos e depois de sair do poder, uma vida de ostentação.
27 de Dezembro de 2014

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Qual cereja em cima do bolo...




… Também defendeu a família, com ar muito nobre, Quixote arrostando contra os seus moinhos para salvar a donzela… É certo que se estatelou. Mas isso era em Espanha, que tem uma argumentação mais incisiva e lógica. A nossa lógica é outra. Quem se estatela são os “anjinhos” do logro, de sempre…

Eis o texto de Luís Soares de Oliveira, publicado no “A Bem da Nação”:

O JULGAMENTO POLÍTICO EM CURSO DA CLASSE DOS BANQUEIROS
09.12.14
Durante horas - uma autêntica maratona -, dois membros da família mostraram ao Parlamento que tudo o que cada um deles fez cabe dentro dos limites da mais estrita legalidade: nenhuma transgressão; nenhuma pisadela do risco. Trata-se pois de "empobrecimento lícito"; empobrecimento deles e dos que neles acreditaram.
10.12.14
Dos dois Espírito Santo sob escrutínio parlamentar, o segundo - José Maria - revelou-se tosco, um derrotado óbvio e desde escola primária. Nem sequer a gramática elementar conseguiu aprender. Em contrapartida, o primeiro – Ricardo – revelou-se mestre consumado. Que artista e que espectáculo! O Parlamento nunca tinha visto nada parecido e provavelmente não voltará a ver. De porte impávido e sereno, hábil na arte da empatia: "Estou aqui para prestar contas ao povo de que V. Vexas são os eleitos ". Perante o público em geral, a inversão de posições - "não estou aqui para me defender; estou aqui para atribuir culpas a quem as tem". Aos deputados, desarmava-os mediante avaliação da qualidade das perguntas. Foi visível o embaraço paralisante causado pelo oportuno elogio da inteligência e saber revelados na pergunta. (Mas não a todas, claro. O manipulador sabe que o valor está na raridade). Ao familiar contraditor, reduziu-o a zero com uma simples e certeira pedrada. "Se ele disse isso é porque recebeu alguma contrapartida". Só o alvejado reagiu: fê-lo com emoção mas sem argumentos. Desempenho comparável, no cinema, só possivelmente Anthony Hopkins; equivalentes na história, só me ocorrem as figuras de Talleyrand ou Disrael. Perante o show, pode-se identificar a natureza do imbróglio em que se viu envolvido. Eu diria que isto aconteceu porque RS tem muito mais de político do que de financeiro.
Luís Soares de Oliveira

domingo, 28 de dezembro de 2014

Nunca apanharemos a carruagem



Um extenso artigo de António da Cunha Duarte Justo, publicado no A Bem da Nação - Do caso insólito de uma Nação inteira em orgasmo fora do lugar - que, da terra onde vive e ensina, na Alemanha,  põe o dedo uma vez mais nas muitas feridas que tanto excitam o nosso pequeno país, mas o não convencem a colaborar com uma Justiça que procura estabelecer hábitos mais sólidos de higiene moral, mas o não consegue. Porque o povo, sem ginástica mental e deixando-se envolver apenas emocionalmente nos acontecimentos de escândalo, segue os guardadores de rebanhos da sua afeição, que todos visam deitar abaixo o Governo da Nação, sem reparar nos esforços que foram necessários para se atingir alguma credibilidade. O que o povo vê é apenas o seu próprio sacrifício de agora, não os aumentos consideráveis que os sucessivos governos lhe foram dando aos vencimentos com dinheiro alheio,  para lhe tapar os olhos e os deixar seguir, a esses, no seu próprio viaduto, bem montado de esquemas e contrapartidas, em distensão corruptiva de extraordinário efeito. E Duarte Justo cita-lhes os nomes, desses casos escondidos que remontam de longe. Por isso, quando um deles é acusado e feito prisioneiro, alguns desses amigalhaços protegem-no, visitam-no, defendem-no com emoção e cólera, ou apenas no silêncio cuidadoso da sua preocupação por si próprios. E ninguém grita “Mea culpa também”!

Do caso insólito de uma Nação inteira em orgasmo fora do lugar

José Sócrates – o Berlusconi português – parece um figo maduro a gingar na figueira 25 de Abril. Esta tem muitos outros figos prontos a cair e outros ainda a amadurecer, neste jardim outonal de brandos costumes “à beira mar plantado”. Será que Portugal se quer restabelecer? Por enquanto, ainda se encontram muitos outros figos melados bem agarrados à figueira já murcha por tanto chupar e pela já sumida terra do jardim. Mas Portugal se se quer salvar, por algum lado há-de começar. Do húmus dos figos caídos talvez a terra se torne fértil.
O Ministério Público na sequência de investigação de casos de crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais mandou deter José Sócrates (ex-primeiro ministro) para interrogatório judicial e também um sujeito ligado ao grupo Lena, outro à empresa de Carlos Santos Silva e um outro representante da empresa multinacional farmacêutica Octapharma, de que José Sócrates é empregado desde 2013, segundo informou o jornal Sol.
Muitos “inocentes”, ficaram escandalizados pelo facto de Sócrates ter sido preso no aeroporto de Lisboa às 22H, à chegada de Paris e lá já se encontrarem as câmaras de TV, caso que os leva a especular sobre “fugas de informações”.
Fuga de informações?! Quando é que as não houve em Portugal? Isto parece conversa encomendada para desviar do assunto principal (a corrupção institucionalizada) para coisas marginais. A opinião pública portuguesa é geralmente encharcada com coisas que falam ao coração para desviar da mente e assim desobrigarem a atenção duma corrupção tanto da esquerda como da direita mas que se quer manter anónima nas caves da nação. Também a Justiça e os órgãos do Estado precisam do folclore das detenções para se irem safando; a corrupção também banha as suas praias; não vivêssemos nós num Portugal tão pequenino de amigos e vizinhos.
Também se fala de “Justiça versus Política”! Isso também não, nunca houve; o que sempre houve foi uma política telenovela para o povo português e muitíssimos mações e amigos bem posicionados também na Justiça que bem sabem contribuir para a desinformação. Justiça atenta à política seria completamente impossível no nosso Portugal moderno atendendo à actividade da maçonaria (de timbre inglês e francês) e outras forças fomentadoras da promiscuidade política, financeira, dos Media e da Justiça, que manobram a partir de um Portugal subterrâneo, onde se encontram em erupção, desde as Invasões Francesas.
O problema da interferência e conivência entre os poderes é já antigo, é um legado republicano que vem não só da politização da Justiça mas da “judicialização” da política que se deve a um Estado minado por organizações fortes, num país pequeno onde todos os grandes se conhecem e se julgam ser a casa do povo de um país ordinariamente partidarizado porque despolitizado. Defender uns para atacar outros implicaria reduzir a questão à alternativa: Lúcifer ou Belzebu; o que significaria continuar a fomentar um pensar bipolar que leva a pactuar com a corrupção!
A Democracia portuguesa está já saturada de corrupção; é de recordar, entre outros, os casos dos diamantes em torno de Soares, dos projectos para um novo aeroporto, das parcerias público-privadas (PPP), da Casa Pia, dos Submarinos, dos vistos gold, de José Sócrates, etc.; tudo deu em águas de bacalhau; tudo isto revela apenas a ponta do icebergue, num Portugal de esquerdas que se tornaram milionárias quando queriam acabar com as direitas milionárias.
Chegou a hora em que seria óbvio salvar a honra da República e devolver a dignidade ao povo, deixando de continuar a pensar apenas no tradicional sistema bipolar. Seria chegada a hora de saudar e apoiar as forças do Ministério Público e de Juízes que mostrem carácter e boa intenção, para que se comece a arrumar com o suborno e a corrupção encostada ao Estado Português; em vez disso enxovalha-se o juiz que precisaria da força de uma opinião pública renovada, para se atreverem a iniciar outros processos. Muitos acólitos dos diferentes senhorios ficam medrosos e logo se apressam a desculpar a corrupção vigente, com o argumento que personalidades do outro partido também são corruptas, segundo a máxima: os meus são ladrõezitos e os dos outros são ladrões. Nesta lógica, do salve-se a ladroeira, legitima-se toda a corrupção e o país em vez de se regenerar continua a masturbar-se, como sempre.
A coragem do juiz poderia ser um sinal de que a honradez e a justiça de muita gente desorganizada mas honrada querem ter palavra em Portugal. Naturalmente, também a Justiça deveria, para se tornar credível, proferir um mea culpa e deixar de se servir de direitos reservados para Deputados, Secretários de Estado e Ministros; não o faz porque acima da Justiça imperam certamente outros interesses e outras ordens.
Se o povo não está atento – e não pode está-lo – esta será a hora dos operadores subterrâneos do Estado que desconversarão sobre esta “tragédia pessoal” de grande quilate, de modo a ficar tudo na mesma, com tudo a favor da contínua tragédia de um povo indefeso. Partidarizar o discurso é justificar a corrupção que em Portugal é institucional, como já foi constatado publicamente.
Sem a mudança radical da Justiça portuguesa, Portugal não toma emenda. Portugal não tomará emenda enquanto continuar a analisar a sua vida sob as perspectivas partidárias.
A prisão de José Sócrates parece um acto desesperado no sentido de recuperar alguns créditos na confiança popular. Naturalmente, para engavetar este tubarão teriam de engavetar muitíssimos outros e estes não deixam porque são todos amigos entre si e a rede que os assiste foi feita à prova de corrupção. Em Portugal, e em países frágeis, em vez de se engavetar os criminosos engavetam-se os processos.
A questão é de tal modo enredada e a luta das famílias tradicionais e das famílias partidárias é tal, num Portugal pequenino mas dos grandinhos, que não deixa espaço para uma solução satisfatória. Enquanto em Portugal, para se subir, for preciso entrar em instituições parasitas do Estado, não será possível formar-se uma alternativa honrosa.
Sócrates, ex-primeiro ministro português, agora o número 44 da Prisão de Évora, é uma grande oportunidade para toda a nação pensar sobre as razões que levaram Portugal e as instituições portuguesas a chegar ao ponto extremo onde chegaram.
António da Cunha Duarte Justo