sábado, 29 de novembro de 2014

Não se deve estranhar



Enviou-me o meu filho Ricardo o seguinte texto de Mia Couto sobre  Maputo, a velha Lourenço Marques, cantada com tanto encanto por Tudela, e que revemos nas fotos que a Internet nos apresenta. Uma cidade bonita que vai sendo devorada pela miséria, pela guerra intestina, pela selvajaria, pelo terrorismo que se previa, terra descomandada, sem ordem, que já foi uma cidade tranquila, tal como outras, que se vão desfazendo em Moçambique. Mas Mia Couto não está a mudar de opinião. Foi um puro desabafo de receio actual, jamais previsto, que a descolonização era ponto assente, na sua obra.

Texto de Mia Couto - A Cidade que nos resta

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Perguntava-me um amigo estrangeiro, acabado de chegar a Maputo, em que ruas ele podia circular à vontade.
- À vontade?  Perguntei, apenas para ganhar tempo.
 O fulano ficou olhando o meu rosto pensativo. Poucos anos antes eu teria respondido sem muita hesitação. A cidade mantinha áreas de relativo sossego, onde o pacato cidadão podia circular sem riscos. Mas naquele dia eu acabava de receber a notícia que um colega meu do serviço, em plena Rua Joaquim Lapa, a escassos metros da Esquadra, tinha sido assaltado à mão-armada, em pleno dia. No dia anterior, assim rezava o jornal, uma mulher fora violada na marginal. Não acontecera no lusco-fusco. Sucedera à luz do dia. Na noite anterior eu escutara no noticiário televisivo bairros inteiros reclamando contra o reino de terror da bandidagem. Na semana anterior, um estrangeiro que visitava a nossa empresa, próximo do Hotel Polana, tinha sido agredido por um grupo de jovens. Nós tínhamos informado esse mesmo consultor que o bairro era tranquilo e que ele podia caminhar pelas redondezas sem problema. Horas depois, estávamos visitando o pobre homem no Hospital.
 - Ora caminhar à vontade... - Ruminei eu, já consciente do preço da minha demora.
 O visitante salvou-me do embaraço, decidindo filosofar sobre a tendência universal do aumento da criminalidade. Eu acreditava que o mau momento passara quando ele lançou nova interrogação:
 - E conduzir?
 - Conduzir?
 Ao menos, eu fizesse uso de mais imaginação. A repetição da pergunta era um estratagema que ameaça saturar.
 - Sim, conduzir um carro? Acha que posso?
- Claro que pode, se tiver carta de condução.
- Tenho, sim. Mas é seguro?
- Bem... Quer dizer... É preciso ter alguns cuidados...
- Como, por exemplo… por exemplo...
Desta feita, as imagens cruzaram-me a mente com a velocidade de um chapa cem. Como explicar ao pobre turista que nos semáforos não se arranca quando abre o verde. Como explicar que, em certas esquinas, o vermelho corresponde ao verde e só se para no amarelo? Que em outros cruzamentos o verde corresponde ao amarelo? Como esclarecer que os chapas nunca param nos semáforos e param sempre no meio da estrada?
O estrangeiro entendeu a demora na minha resposta. Deve ter ficado a matutar: a pé não podia, de carro não devia. Como usufruiria ele da cidade?
E a mim mesmo eu me questionei: que cidade nos resta a nós, cidadãos de Maputo? Não podemos oferecer a cidade aos outros porque ela está deixando de ser nossa.
- Deixe estar, disse ele para me tranquilizar. Eu vou ficando no Hotel.
Num impulso eu quase dizia: eu também me vou mudar para o seu Hotel.  E enquanto conduzia o meu amigo rumo ao seu alojamento eu fui olhando Maputo e pensando se como o cidadão está perdendo a cidade, como nos restam de Maputo as sobras daquilo que a voragem do caos não está ainda dominando.

NOTÍCIAS DA SEGUNDA GUERRA
Por Paula Almeida

28 de novembro/
1934
¾   Winston Churchill avisa o primeiro-ministro britânico Stanley Baldwin para não subestimar o poder aéreo alemão.
1939
¾     O governo soviético renuncia ao pacto de não-agressão com a Finlândia, assinado em 1932. São alegados disparos feitos por tropas finlandesas sobre as tropas soviéticas em torno de Leningrado. Enquanto isso, são emitidas ordens ao Exército Vermelho para invadir a Finlândia a 30 de novembro.
¾     Na Polónia ocupada, Hans Frank ordena a criação do Judenrat (Conselho Judaico) em cada gueto, para fazer cumprir as ordens nazis.
¾     O governo britânico declarou que todas as exportações alemãs são contrabando.
1941
¾       As tropas alemãs abandonam Rostov.
¾       Na África Oriental, são aceites os termos de rendição italianos e 22.000 tropas italianas rendem-se. Termina o Império Romano de Mussolini nesta região. 
1942
¾       Na frente oriental, continuam os avanços soviéticos na área ao redor de Rzhev, nos arredores de Moscovo.
¾       As Forças Francesas Livres ocupam a ilha de Reunião, no oceano Índico.
1943
¾     0Confer
ências de Teerão, Irão – O líder soviético Josef Estaline, o presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill (foto) reúnem-se durante três dias para discutir a Operação Overlord, que inclui os desembarques na Normandia, França, agendados para maio de 1944. Os desembarques foram adiados, ocorrendo a 6 de junho de 1944, incluídos na estratégia final da guerra contra a Alemanha e os seus aliados. Durante a reunião ficou prometido o reconhecimento da independência do Irão pelos três líderes. Recorde-se que este país foi invadido em 1941 pela Grã-Bretanha e pela União Soviética. 
1944
¾     Na frente oriental, as forças soviéticas chegam ao Rio Danúbio a norte da confluência do rio Drava.
¾     O primeiro comboio aliado chega a Antuérpia, na Bélgica libertada.
1946
¾     Anton Mussert, um reputado nazi holandês, é condenado à morte por alta traição. Anton Adriaan Mussert foi um dos fundadores do Movimento Nacional-socialista dos Países Baixos e seu líder formal. Por essa razão, foi o nacional-socialista mais proeminente da Holanda antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o conflito, conseguiu manter esta posição devido ao apoio que recebeu dos alemães.

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