segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Sem FÓRUM



Três títulos: «O escritor Fantasma», de 12/10, «As fitas que as elites fazem», de 5/10, «Os Direitos do indivíduo», de 8/10, nos «Dias contados» do DN   de Domingo,  12/10, por Alberto Gonçalves, desaparecido o “FÓRUM” do DN, ou Alberto Gonçalves desaparecido do FÓRUM do DN, para partilhar com outros a rubrica “OPINIÃO”, necessariamente com menos relevo do que a rubrica anterior, o que lamento, por reconhecer em Alberto Gonçalves competência para ocupar sozinho o seu estrado forense, como caso de originalidade discursiva e sanidade moral que não se pode confundir com as lambedelas críticas a que foi emparelhado, juntamente com a banalidade de frases do dia mais ou menos piegas ou de significado banal.
O primeiro seu artigo é sobre José Saramago, sobre a última obra do Nobel, incompleta, preenchido o volume com páginas de louvor, não sei se póstumo, páginas de anotações, desenhos, e finalmente as 57 páginas do tal “Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas”, enxerto polémico, na opinião exultante de Saramago, como os seus demais livros, como tinha gosto em pré-avisar. Não conhecendo o livro, não poderei apoiar Alberto Gonçalves na sua crítica, mas parece-me viável, pelo sentimento de impotência nacional que ele representa, contra o aproveitamento que cá se faz do “galardão” para lançar uma obra mesmo incompleta e sem préstimo, na opinião saudável de um escritor – Alberto Gonçalves – para reconhecer tanto de autênticas aventesmas que se publicam, a coberto do nome e da notoriedade atrevida, num país de bajulices e de penúria mental, dentro de uma “intelectualidade” pretensiosa e insensata tantas vezes.
Na mesma linha crítica, a propósito da subjectividade das elites intelectuais – no caso presente, sobre uma opinião empolada, numa entrevista a António-Pedro Vasconcelos (APV), - quer a respeito de si como realizador de cinema, quer sobre a sua opinião a respeito de António Costa - de que Alberto Gonçalves discorda: E conclui: «Ninguém estranhará que APV, vulto da Cultura com maiúscula, despreze o Prof. Cavaco, subido dos Algarves e da classe média rural. Já é esquisito que o seu elevado grau de exigência se satisfaça com o Dr. Costa, o portento que geriu bastante melhor a carreira política do que uma mera autarquia. Em larga medida, é o mesmo que escarnecer de José Cid para louvar os méritos do cançonetista Toy. Mas é justamente essa a especialidade das nossas elites, que APV representa na perfeição. E se as elites traduzem um país, pobre país . »

Quanto a Marinho Pinto, tem sido tanta a pesporrência dramática da sua actuação como embaixador da causa própria, e tão desconforme  a sua falta de sobriedade de manifestação - desconcertante, vaidosa, arrogante, tenebrosa de burrice palavrosa e vã, que o texto de Alberto Gonçalves é absolutamente incontornável:

1º Texto: O escritor fantasma
Uma última viagem na sua permanente vocação para agitar consciências, diz o anúncio da Porto Editora. Um acto revolucionário, diz o juiz espanhol Baltasar Garzón. Saramago vintage, diz o editor brasileiro do falecido escritor. Saramago no seu melhor, diz o editor português. Uma obra divertida, diz Eduardo Lourenço.
Tudo isto a propósito de "Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas", o dito romance inacabado de José Saramago. Na verdade, de romances inacabados está o mundo cheio. Alabardas inaugura um género novo, o dos romances praticamente por começar.
Não é que não haja um livro: há, aliás com 135 páginas. Seis são notas do autor. Cinquenta são textos de outros autores sobre o autor e o produto em causa. Dez são índices, ficha técnica e diversos. Doze são desenhos de um antigo membro das Waffen-SS. Sobram 57 folhinhas, impressas em fonte crescida e a dois (ou três) espaços. Ninguém se deve admirar se, no mês que vem, publicarem os últimos post-it que Saramago colou no frigorífico, em cinco volumes repletos de ensaios alheios, bonecos para colorir e a oferta de uma echarpe em tons marrom. Meia dúzia de críticos hão-de considerar estarmos perante um momento de ruptura na cultura universal.
Num certo sentido, Alabardas consagra de facto o estilo do Nobel caseiro, que em vida fazia questão de anunciar, ele próprio, o carácter polémico de cada livro antes mesmo de o livro chegar ao público. Um boa estratégia, até porque quando o livro chegava ao público não acontecia nada de especial - excepto se o público se chamava Sousa Lara. Devido a condicionantes óbvias, agora o anúncio da polémica ficou a cargo de terceiros, mas o processo é idêntico e com uma vantagem: se o hábito consiste em privilegiar a algazarra em detrimento do conteúdo, desta vez o conteúdo quase não existe e a algazarra abunda. Saramago vintage, de facto. E, desde que ignoremos os pechisbeques anexos, a minha obra preferida dele. As outras não se liam em horas. Conto não ler esta em vinte minutos.

2º texto: As fitas que as elites fazem
Deixem-me citar António-Pedro Vasconcelos (APV), em entrevista ao DN a pretexto do seu recente filme: "(...) Isso levou-me a pensar muito no Frank Capra e no Vittorio De Sica, que fizeram filmes em momentos de crises terríveis, mas sem deitar as pessoas abaixo. A questão é que o Capra tinha o Roosevelt e nós temos o Cavaco. É um bocado diferente. O neorrealismo partiu de coisas atrozes como a guerra e o fascismo, mas havia um horizonte de esperança."
Passemos ao ponto da situação. Para APV, APV é um cineasta comparável a Capra e a De Sica. Roosevelt suscitava admiração. O fascismo permitia, ou até estimulava, o optimismo. A Depressão e a II Guerra eram preferíveis à austeridade da troika. E o Prof. Cavaco é o mais reles dos estadistas, tão mau que embora presida ao regime que subsidia as pérolas de APV, indirectamente impede um génio do calibre de APV de fazer o tipo de fitas que os seus heróis fizeram.
Porém, APV faz outras fitas. Entre elas, apoia António Costa. E não se trata de um apoio casual: APV foi a acções de campanha do homem, apareceu excitadíssimo na noite da vitória nas primárias, atribui-lhe virtudes como a "paixão", o "rigor" e a "seriedade".
Ora aqui é que a coisa se complica. Ninguém estranhará que APV, vulto da Cultura com maiúscula, despreze o Prof. Cavaco, subido dos Algarves e da classe média rural. Já é esquisito que o seu elevado grau de exigência se satisfaça com o Dr. Costa, o portento que geriu bastante melhor a carreira política do que uma mera autarquia. Em larga medida, é o mesmo que escarnecer de José Cid para louvar os méritos do cançonetista Toy. Mas é justamente essa a especialidade das nossas elites, que APV representa na perfeição. E se as elites traduzem um país, pobre país.

3º Texto: Os direitos do indivíduo
Marinho e Pinto prometera um striptease do salário e fê-lo em meros 17 dias, pelo que demorou apenas um pouco mais que o striptease literal da dançarina exótica média. Infelizmente (ou felizmente, que aqui a doutrina divide-se), ficou uma peça de roupa por tirar, ou por declarar ao TC: os 54 mil euros que Marinho e Pinto recebeu da Ordem dos Advogados a título de subsídio de "reinserção na actividade profissional". "É vida privada", explicou o homem que veio purificar a política.
E "privada" é favor. O tal subsídio foi criado em 2008 pelo então bastonário da Ordem, por coincidência Marinho e Pinto. "Tudo o que fiz foi de acordo com a lei e com as regras estabelecidas", afirma o justiceiro, sem falsos pudores perante o facto de a lei e as regras serem da autoria dele ou de confrades dele. Ao mesmo tempo, e talvez sem dar por ela, Marinho e Pinto estabelece uma mudança radical na relação dos contribuintes com o fisco. Se o precedente vingar, a partir de agora é o cidadão que decide qual a parte dos rendimentos susceptível de impostos e qual a parte isenta. Nunca antes se defendeu tão bem os direitos do indivíduo, o indivíduo Marinho e Pinto, claro.
Os direitos do indivíduo
Marinho e Pinto prometera um striptease do salário e fê-lo em meros 17 dias, pelo que demorou apenas um pouco mais que o striptease literal da dançarina exótica média. Infelizmente (ou felizmente, que aqui a doutrina divide-se), ficou uma peça de roupa por tirar, ou por declarar ao TC: os 54 mil euros que Marinho e Pinto recebeu da Ordem dos Advogados a título de subsídio de "reinserção na actividade profissional". "É vida privada", explicou o homem que veio purificar a política.
E "privada" é favor. O tal subsídio foi criado em 2008 pelo então bastonário da Ordem, por coincidência Marinho e Pinto. "Tudo o que fiz foi de acordo com a lei e com as regras estabelecidas", afirma o justiceiro, sem falsos pudores perante o facto de a lei e as regras serem da autoria dele ou de confrades dele. Ao mesmo tempo, e talvez sem dar por ela, Marinho e Pinto estabelece uma mudança radical na relação dos contribuintes com o fisco. Se o precedente vingar, a partir de agora é o cidadão que decide qual a parte dos rendimentos susceptível de impostos e qual a parte isenta. Nunca antes se defendeu tão bem os direitos do indivíduo, o indivíduo Marinho e Pinto, claro.

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