sábado, 18 de outubro de 2014

Mais Costa, menos Costa…



Ouvi hoje as sondagens da Universidade Nova, que, mal António Costa foi eleito, se apressou a fazê-las e a revelar os resultados, que a RTP transmitiu, com o suspense e a satisfação habitual de mexerico importante para mexer connosco e ficarmos cientes do futuro próximo - na escalada que foi a vertiginosa subida do grande Costa, apoiado pelos antigos parceiros que têm a mesma força sobre o partido como sobre o próprio povoléu da passada – mas nunca ultrapassada – Grândola, que essa dura e perdurará até que a voz lhes doa - aos velhinhos e aos descendentes dos cantadores, que os há em barda no nosso país de fadistas e de samaritanos, por outro lado sempre pronto a atacar Portas, que desce no cômputo das sondagens, não se percebe bem porquê, talvez por ser inteligente e educado e a gente não admitir disso no nosso escol de preferências, nós cá é a soco, como pretendia o Damasozinho Salcede, engasgado com a proposta de se desdizer de uma atoarda contra Carlos da Maia ou de se bater em duelo- “Qual bater-me! Eu sou lá homem que me bata! Eu cá é a soco. Que venha para cá, não tenho medo dele, arrombo-o...” É o que vamos continuar a fazer, com os Mários Nogueiras da nossa lavra, a estender os punhos para arrombar.
Entretanto, por dever de ofício, ando debruçada sobre o manual  de História de Portugal do 5º e 6º anos, que está organizado segundo um pensamento de combate à exploração – dos escravos africanos – por altura dos Descobrimentos e dos tempos áureos de D. João V, e do povo pedinte, que abandonava as terras na mira da côdea vinda do Ultramar,  e que pululava pela Lisboa do monopólio comercial, que recebia bens do além-mar e os vendia à Europa a troco dos cereais e das armas europeias. E os textos que acompanham as informações do manual são de documentaristas que informaram sobre o que se passava, e muitas vezes também exprobavam o que via. E os questionários orientados são dirigidos à sensibilidade e à inteligência das crianças, sobre o que pensam dessas formas de procedimento que mostram provocadoramente os contrastes entre a opulência de uns e a miséria de outros, com fotos ou imagens expressivas.
Nos meus tempos do liceu, a História Nacional era contada por um José Matoso, que os rapazes intelectuais da altura, que já andavam às voltas com a Pide, costumavam execrar, pelo tom glorificador do seu nacionalismo, na velha linha de exaltação pátria que a mim nunca incomodou, pois nisso era acompanhada por escritores que também amaram a pátria e jamais a conspurcaram com ditames derrotistas, embora fizessem muitas vezes sentir as críticas do seu desassombro humanista. Ao ler as páginas do 5º e 6º anos de História de Portugal actual, julgo estar a ouvir o despejar de afrontas dos blocos de esquerda dos bons sentimentos da fraternidade colhidos na reviravolta francesa. Ainda não cheguei aos tempos de Salazar, mas não duvido de que lhe não reconhecerão virtude, os autores do manual, e o 25 de Abril vai ser um fartote épico, semeado de cravos rubros. Afinal, entre o tom glorificador de Matoso, mas com objectividade q.b., e o tom de diatribe venenosa que ignora nesse passado  o “Quanto do teu sal são lágrimas de Portugal, prefiro, sem dúvida, o Matoso que, apesar de tudo era mais extenso em dados, além de não pretender instigar nos alunos sentimentos de tanto negativismo em relação aos feitos dos antepassados.
Tudo isto vem a propósito de mais um texto que li no DN de hoje, 17/10, sobre António Costa e a sua escalada ascensional, à sombra dos muitos adeptos, já a cair da tripeça - que a cadeira tão troçada donde caiu Salazar chega para todos -  de um Professor Universitário – Paulo Pereira de Almeida – que se expande sobre as inépcias do Costa, já como Presidente da Câmara, já como futuro Primeiro Ministro, a esconder na manga as suas políticas, porque as não tem, sabendo que joga com subterfúgio e cinismo, ao querer destruir o Governo de sujeição a uma dívida de atrocidade, numa política de sacrifício que ele próprio terá que seguir também, comandado pelos europeus do empréstimo.
E a sondagem mostra que o povo está de esperanças, e os comentários torpes e toscos dos comentaristas de Paulo Pereira de Almeida na Internet e o alarde televisivo dos abraços de Costa e ao Costa, além das pesporrências sábias de Pacheco Pereira na Quadratura, bruxuleando em torno de Costa, e com esgares vitriolados para Passos, revelam como no país renasceram as certezas de um novo Abril.
O texto de Paulo Pereira de Almeida:


Pensar a Segurança

As recentes afirmações de altos responsáveis da Câmara Municipal de Lisboa (CML) sobre as inundações em vários pontos centrais da cidade constituem - em si mesmas - uma ameaça à segurança e à garantia de uma ação eficaz da parte da Proteção Civil.
E foi com uma enorme surpresa e incredulidade que pudemos, na passada terça-feira desta semana, assistir a um conjunto de "esclarecimentos" de diferentes dirigentes da CML que apontavam - de um modo certamente concertado - para a "inevitabilidade" da ocorrência de acumulações massivas de água da chuva na capital portuguesa. Foi assim que - de uma maneira que é bem reveladora da sua serena incompetência - o presidente da CML e atual líder do Partido Socialista (PS) António Costa surgiu nos principais meios de comunicação social a admitir que "nada" pôde, poderia, ou poderá, vir a ser feito para evitar a repetição do caos em segurança urbana e proteção civil que Lisboa viveu na passada segunda-feira.
Ora acontece que - para além de serem profundamente preocupantes - as afirmações de António Costa só podem deixar muito intranquilos todos os que habitam, trabalham, circulam e vivem a cidade. Vejamos - pois - de uma maneira mais concatenada, as razões de preocupação para cada um destes grupos de cidadãos. Em primeiro lugar, e para os que trabalham e comutam todos os dias entre as suas casas (muitas vezes fora de Lisboa) ficámos a saber que - em caso de chuvas fortes e de outras intempéries - não está garantido que consigam aceder ao seu local de trabalho ou regressar a sua casa depois do trabalho; será, a todos os títulos e ironicamente, uma espécie de "greve self-service" sem hora marcada dos potenciais transportes, o que só encontra paralelo em cidades do terceiro mundo. Depois, em segundo lugar, e para os que fazem das ruas de Lisboa o seu local de comércio e que já vivem atualmente sobrecarregados de impostos e numa enorme crise, ficámos a saber que a CML nada lhes garante em termos da segurança e da proteção dos seus bens e dos seus espaços comerciais; ora para o presidente da maior autarquia do País (e agora candidato a primeiro-ministro) só poderá ser contraditório defender os mesmos comerciantes quando se trata de lhes pedir o voto e agora, no momento em que se adivinham outras ambições, deixá-los à sua sorte. Por fim, em terceiro lugar, e para os turistas e todos os que circulam e vivem a cidade de diversas formas e em diferentes condições sociais, ficámos ainda a saber que Lisboa tem um presidente que nada faz (ou, pelos vistos, fará) para garantir a segurança de circulação e a preservação dos espaços públicos. É que - note-se bem - se com uma chuvada intensa mas curta Lisboa fica transformada no caos que se pôde observar na segunda-feira, nem quereremos imaginar o que poderá suceder com uma verdadeira tempestade, ou com um potencial nevão.
António Costa é um político de uma escola que - aparentemente - não olha a meios para atingir os seus fins. Para quem tem memória política, ainda se recordará dos tempos em que Costa era ministro da Administração Interna e prometia que os registos das câmaras de videovigilância nas estradas serviriam como prova para punir as infrações dos condutores; e também se lembrará de quando, já presidente da CML, Costa não hesitou em colocar em causa o trabalho do seu colega de governo do PS Rui Pereira, então ministro da Administração Interna, em nome de uma Lisboa mais segura.
Ironias à parte, merecíamos melhor como candidato a futuro primeiro-ministro. »

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