quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Eu nem quero acreditar



Contrariamente ao Luís Góis que encontra no mundo vários bens para serem guardados - tal o sorriso de quem passa, a acção de quem trabalha a cantar, a vela no alto mar livre,  a chuva fecundante… - no seu belo fado, na sua voz extraordinária -  eu estou de boca aberta, perfeitamente emudecida – siderada é mais culto - ouvindo gente das esquerdas eliminarem os bustos dos presidentes da República dos tempos da “Ditadura” de uma exposição na Assembleia da República, que contempla cem anos de Presidência – eu diria 104 - a pretexto de que tal emparelhamento significará branqueamento do fascismo.
Não, não posso acreditar em tanta acefalia a que o pertinaz sentimento de contestação, irredutível a qualquer tipo de reflexão e bom senso, levante a onda de protestozitos birrentos, de contestação só porque sim, que, de resto, se traduziram em resultado nulo.
Não, não vou desenvolver o tema inane. Mas recordo os versos de Luís Góis, que tentarei glosar pela negativa:
Eu não quero acreditar
Eu não quero acreditar
Que a tolice de quem brada
Seja um bem p’ra se guardar,
Que é luar ou sol de graça
Que nos venha alumiar
Que nos venha alumiar.

Eu não quero acreditar
Eu não quero acreditar
Que a acção de quem protesta
Com análise cavalar
Seja um bem p’ra se guardar,
Seja coisa p’ra cantar,
Seja coisa pr’a aceitar.

Eu não quero acreditar
Eu não quero acreditar
Que seja um bem p’ra se guardar,
Que presidentes de outrora
Sejam  linchados agora
Na liberdade encontrada
No cravo de cor vermelha.

Eu não quero acreditar
Eu não quero acreditar
Que tal chuva de protestos
Seja um bem p’ra se guardar,
De gente de bem e sagaz
Seja coisa de aceitar
Com vontade de linchar.

Não, deixemos isto que é feio, ouçamos o imortal Luís Góis, pela Internet que seja:
É preciso acreditar
É preciso acreditar
É preciso acreditar
Que o sorriso de quem passa
É um bem p’ra se guardar
Que é luar ou sol de graça
Que nos vem alumiar.
Com amor alumiar.

É preciso acreditar
É preciso acreditar
Que a acção de quem trabalha
É um bem p’ra se guardar
Que não há nada que valha
A vontade de cantar
A qualquer hora cantar.

É preciso acreditar
É preciso acreditar
Que uma vela ao longe solta
É um bem p’ra se guardar
Que se um barco parte ou volta
Passará no alto mar
E que é livre o alto mar.

É preciso acreditar
É preciso acreditar
Que esta chuva que nos molha
É um bem p’ra se guardar
Que sempre há terra que colha
Um ribeiro a despertar
Para um pão por despertar.

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