domingo, 13 de abril de 2014

Pode haver sempre pior…



É muito conhecida
A fábula d’O Lobo e a Cegonha
Que La Fontaine encontrou
Nos fabulistas tradicionais
De mil ou dois mil anos antes,
Em que mesmo os animais
Se comportavam com um cinismo
Por demais!
A menos que fosse para disfarçar,
Esta aplicação aos animais
De vícios que os humanos revelavam
E que não convinha descrever
Sem ser
Com prudência metafórica
Ou animista
Menos incriminatória
Para o fabulista!

«O Lobo e a Cegonha»
«Os Lobos comem sofregamente.
 Um Lobo, agarrado à sua lambarice,
Engasgou-se de tal maneira
Que pensou perder a vida
Sem mais aquela:
Um osso se lhe espetara  na goela.
Cheio de sorte, pois não podia gritar,
Uma Cegonha passou perto dele.
Fez-lhe sinal, ela acorreu prestemente.
Eis a Operadora a trabalhar.
Retirou o osso; depois, naturalmente,
Por conta de tanto mérito,
Pediu o respectivo pagamento.
« Pagamento? Diz o Lobo
Você está a brincar, ó comadre!
O quê! Não é para si grande sorte
Ter conseguido o seu pescoço retirar
Da minha goela forte?
Vamos, você é muito ingrata!
Nunca mais caia sob a minha pata.»

Ora aqui está uma maneira
Bem descarada e arteira
De não pagar o devido,
Por serviço produzido!
E não vamos muito longe,
Que hoje, tal como outrora,
Em que a exploração era obra,
Há quem não pague o salário
Necessário
Ao que trabalha para ele,
Num rumo
De diligência e aprumo.
E ai de quem protestar
Por se sentir injustiçado!
À rua irá parar,
Com a autoridade
Própria de toda a opressão,
Quer seja dos empregadores
Quer seja dos opressores,
Sem qualquer sentimento
De direito ou justiça,
Palavras já sem sentido
Entre os Lobos habituais
Do nosso conhecimento.

Por outro lado
Também há as excepções.
Os casos das gratidões,
- Muitos! ao que se diz -
Dos favores
Por desempenhos trocados,
Esplendidamente pagos
E extremamente espalhados
Nestes nossos Estados.
Mas, haja Deus para nós!
Na nossa rábula,
Nem tudo são malfeitorias.
Também há benfeitorias
Nas nossas economias.
E sem fábula!

Cantemos, sim, com Amália,
As graças que apaziguam
Qualquer comadre ou compadre
Com melindre…

«Ó comadre Maria Benta
seu garoto está melhor
o mal não é tão forte
que o faça estar pior.»

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