segunda-feira, 7 de abril de 2014

Fragmentos da nossa “fição”… pátria



Foi no JL de 19 de março a 3 de abril de 2014 - os nomes dos meses escritos com minúscula de acordo com o Acordo - que se lê logo na página 1 - que tem a bonita função de capa indicativa dos títulos dos artigos marcantes do seu interior, referentes às coisas da nossa intelectualidade vistosa, confinada exclusivamente aos espaços rubros da nossa democracia conquistada há quatro décadas em manobras de abertura anticonvencional pelo menos de aparência, já que cedo aprenderíamos que nesses anticonvencionalismos libertários houvera simplesmente uma troca de convenções, a rigidez de preconceito se mantinha, virada  do avesso, e formando guetos de extremo rigor e chiquismo intelectual – foi, pois, na primeira página do JL, Jornal de Letras, Artes e Ideias, embora com predomínio das primeiras, segundo a sigla ilustre, que, em referência a Teolinda Gersão e a Dulce Maria Cardoso, cujas fotografias em grande plano a ilustram, lemos a seguinte frase, em epígrafe, aposta à síntese temática dos livros que publicaram – Amor, poder e família – “Duas escritoras, dois novos livros de fição, que o JL antecipa em entrevistas com as autoras e com as respetivas críticas págs 7 a 11”.
Tratou-se, naturalmente, de lapso, a tal “fição”, que o próprio corrector deste espaço mediático sublinha como erro, ou então de um preciosismo progressista de quem, esquecido de que, segundo o AO, em casos de pronúncia dessas consoantes surgidas indevidamente por recurso a inadequados ou ultrapassados étimos, elas se escrevem, resolveu eliminá-las todas por simplificação própria de papista superior ao papa. Julgo que sentirá desconforto (termo muito em voga) em casos como “aptidão” ou “apto”, mas poderão ser indiferentes a uma peregrina aptidão, uma atidão e um ato de expressão futurista, já na previsão de um novo AO, ainda mais simplificador. Ou eliminador, em correspondência com as nossas tendências demográficas.
Seria de estranhar em qualquer jornal uma tal gralha, mas gralhas destas num jornal de Letras, bem à vista, parece inadmissível.  A menos que seja confusão com a “fissão” nuclear do átomo e essa peculiaridade merece o relevo que busco na definição brasileira da Internet:
“Na física nuclear o processo de fissão nuclear é a quebra do núcleo de um átomo instável em dois átomos menores pelo bombardeamento de partículas como nêutrons. Os isótopos formados pela divisão têm massa parecida, no entanto geralmente seguem a proporção de massa de 3 para 2.1 2 O processo de fissão é uma reação exotérmica onde há liberação violenta de energia, por isso pode ser comumente observado em usinas nucleares e/ou bombas atômicas. A fissão é considerada uma forma de transmutação nuclear pois os fragmentos gerados não são do mesmo elemento do que o isótopo gerador.”
E assim nos vamos também transmutando, átomos que somos, em fissão/fição de pura fragmentação... 

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