sábado, 9 de novembro de 2013

Amor e uma cabana



 
O amor foi em todos os tempos apreciado como expoente máximo da realização humana, em todos os tempos ele suscitou a adesão das sensibilidades, quer dos poetas, que a ele reservaram o melhor dos seus arroubos e das suas competências líricas, quer dos dramaturgos e dos romancistas que por via da sua arte promoveram esse sentimento ao motor de arranque de quantos enredos deleitaram a humanidade, fazendo-a “ir às lágrimas”, para utilizarmos uma pujante expressão de Herman, ou a outras manifestações da sua natureza biológica, de maior ou menor sensualidade, de maior ou menor riso, de maior ou menor compaixão, de maior ou menor êxtase ou emotividade. O mesmo se passa na banalidade existencial de cada ser humano, que sente o amor como seu, definitivo, avassalador, exclusivo.

          Quanto à corrupção, é sobretudo pela sátira que literariamente se revela, o escritor bem demarcado do percurso daqueles que a sua pena elege como dignos da sua crítica, intocável, como o são todos os que nas assembleias desmascaram, com a autoridade dos puros, os que têm por dever dirigir, ou os de facções opostas. Mas estes, que assim atacam, incitando à greve e às manifestações, talvez se acanhem nestas, quando se fala em “deitar abaixo a corrupção”, onde poderão também espojar-se escusamente.

          Daí a justificação para as perplexidades semânticas de Miguel Esteves Cardoso, no texto que me chegou por email, “Direito à manifestação”, cuja adesão se faz sentir mais na defesa do amor do que no ataque à corrupção:

 

«Na Europa, cada manifestação do orgulho Gay” contou, em média, com 100.000 pessoas. Cada manifestação contra a corrupção teve em média cerca de 2500 pessoas! Estatisticamente fica provado que há mais gente a lutar pelo direito de levar no rabo do que a lutar para não ser enrabado.»

            As pessoas acodem mais depressa às manifestações sobre o direito ao amor, seja qual for a forma que este assuma – e se for aberrante mais nos moderniza – do que às da corrupção, que nos poderá incluir, pois já Cristo nos avisara sobre a dificuldade de se achar os Galaazes da justiça, únicos competentes para lançar pedradas.

 

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