segunda-feira, 8 de julho de 2013

O rabecão do sapateiro


Quando vejo as nossas figuras
Discutindo na praça sem muito saber
As politiquices do nosso sofrer,
Conforme o partido do nosso querer,
Lembro-me da fábula de Florian
«O burro e a flauta»
Que no seu tempo também existia,
Pois, se não, ele não se lembraria
De explorar com alegria
A temática, tão nossa irmã,
Da parvoiçada rezingona
Da nossa sabedoria
Soprada com galhardia
Pelo café da manhã:
 
«Os parvos são um povo numeroso
- Virtuoso -
Achando todas as coisas fáceis.
Devemos aceitar, isso torna-os felizes,
Motivo para se julgarem muito hábeis.
Um burro, roendo os seus cardos,
Olhava para um pastor que tocava, sob os ramos,
Numa flauta, cujos sons amáveis
Atraíam e encantavam os pastores do bosquezinho.
O burro descontente dizia: Este mundo está louco
Contentando-se com tão pouco!
Ei-los, de boca aberta,
Admirando um grande parvo que sua e se atormenta
Soprando num buraquinho,
É com tais esforços que se chega a agradar-lhes
Enquanto que eu… basta… saiamos daqui
Pois estou mesmo danado
Com tanta injustiça! Chiça!.
O nosso burro, razoando assim,
Avança uns passos, quando, por entre os fetos
Uma flauta, esquecida nestes lugares campestres
Por algum pastor amoroso
- Mas distraído -
Se encontra aos seus pés. O nosso burro ergue-se,
Os seus gordos olhos fixa na flauta,
Com uma orelha para a frente
Abaixa-se lentamente,
Aplica a narina sobre o pobre instrumento
E sopra esforçadamente.
Oh! acaso inacreditável! 
Sai de lá um som bem agradável.
O asno julga-se um talento,
E todo contente
Em voz estridente,
Exclama dando cambalhota incauta:
Ei! Eu também toco flauta!

Mas não são só as amigas
Que dizem coisas sabidas
Aprendidas nas notícias,
Pois os meios de comunicação
Mostram bando de doutores
Denunciando à exaustão
As doutrinas dos senhores,
Com erros até mais não,
A que todos, bem sabedores,
Dariam outra solução.
Não há paciência, não,
Para tanto sapateiro
A tocar rabecão
Ou mesmo barbeiro
A discutir da nação,
Com tanta insinuação
De melhor resolução!
Veremos se com tanta empáfia
Não vamos todos à viola,
E já nem sequer para Angola,
Como o macaco aldrabão,
E sempre atribulado,
Do rabo cortado.

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