sexta-feira, 29 de março de 2013

Um texto de Duarte Justo


«Informação que apela à Lágrima e ao Sentimento»
«Acabo de regressar de Portugal com uma certa melancolia pela beleza e riqueza dum país que sofre no corpo e na alma como um canino amarrado a uma casota de raposas e predadores. O medo e a raiva assolam um povo a viver cada vez mais na rua, sem poder entrar em casa.
 
O povo ainda anda de pé mas é conduzido pela mão da Troika e de instalados nas diferentes administrações e representações que o conduzem docemente ao curral dos senhores. Muitas pessoas “vivem da mão para a boca” e muitas outras na angústia/revolta perante um Estado que cada vez interfere mais negativamente na sua vida. Apesar da presença de personalidades sociais responsáveis, a dignidade humana cada vez é mais ultrajada.
 
Fomenta-se uma mentalidade mafiosa que, a nível de discussão pública, deita achas para a fogueira duma emotividade que ofusca a razão com o fumo de sentimentos difusos que vão da raiva ao desespero e da inveja ao racismo. Um Estado sem rumo próprio segue uma política subterrânea jacobina que ganhou especial expressão em Portugal com as invasões francesas e com o republicanismo.
 
A luz do sol e a alegria de viver encontram-se cada vez mais ensombrados. A falta de esperança leva a dormir e torna-se motivo do não viver.

A grande cultura lusa sofre e é depauperada por uma Comunicação Social que fomenta o miserabilismo popular e a leviandade de muitos comentadores cínicos e convencidos que se aproveitam dum certo voyeurismo e de opiniões entumecidas como se opinião e realidade fossem a mesma coisa.
 
Muitos locutores do dia-a-dia agarrados às banalidades noticiosas bombardeiam o povo com ideias, imagens e sentimentos repetitivos lisonjeadores de amigos e desrespeitadores de inimigos. Fomenta-se um pessimismo amedrontador que inibe a própria iniciativa e o espírito de investimento.
 
Como sanguessugas, até os meios de comunicação social nacionais se fixam no negativismo de notícias dirigidas ao sentimento. Quando alguém se enforca logo se juntam os leões e as hienas à volta de imagens e ideias que fomentam a imitação. A TV pública fala de suicídios do foro privado e faz render o peixe, como se se tratasse de suicídios de motivação política realizados dentro da sala do Parlamento. Cultiva-se o extremismo emocional e um voyeurismo que se alonga nos telejornais até às profundezas dos canais de rádio.
 
As coisas são repetidas até à exaustão.
 
Observam-se controlos da ASAE a restaurantes e empresas como se fossem mandatados por estrangeirados sem consciência pela realidade local com um comportamento anti-regionalista ao serviço de interesses centralistas anónimos e antinacionais.

Um sistema político servidor de interesses individuais e partidários a nível nacional e de autarquias continua a servir o compadrio da avalanche dos arrivistas criando postos de trabalho na administração quando não há trabalho suficiente para os já empregados. Uma mafia de rosto lavado dos lugares cimeiros de Câmaras e administrações procura desestabilizar os seus subordinados criando um clima de medo, desconfiança e intriga entre os empregados.
 
Arrasta-se o povo para um pessimismo medroso e amedrontador. Num ambiente de tudo contra todos, tudo tem razão, predadores e subjugados; só uma coisa falta: a consciência de responsabilidade nacional.
 
A contestação social mais que objectiva, é, muitas vezes, manipulada por grupos que vivem de mordomias à custa do povo, sejam eles representantes dos trabalhadores ou dos senhores. Um exemplo disto foi a última greve ferroviária que pretende manter bilhetes gratuitos para os familiares dos empregados. Naturalmente que todos os grupos têm direito a defenderem os próprios interesses; o dilema de Portugal é encontrar-se nas mãos duma esquerda intransigente e de senhores e capitalistas sem alma social nem nacional.
 
O último sintoma do estado doentio grave e depravado de quem tem o dizer em Portugal, foi o facto José Sócrates, que deveria estar sob observação judicial, aparecer como candidato a comentador político nos canais da TV pública. Um atrevimento que bradaria aos céus numa sociedade normal! A tal falta de discernimento chegou um povo! A honra dos predadores é legitimada com a desonra da nação. Os interesses partidários afirmam-se mafiosamente sem que haja oposição qualificada. Com esta iniciativa, José Sócrates pretendia aproveitar-se da lorpice da Comunicação Social para se preparar para as presidenciais.
 
No meu belo e inocente país os predadores são os senhores!»
 
“Um texto desassombrado, de quem se não deixa comover com as manipulações dos mais afeitos aos truques do servilismo nacional, que permitem a desvergonha de aceitação do grande responsável pela destruição pátria, debitando as suas justificações semanais plenas dos mesmos argumentos do seu outrora. Parabéns ao Dr. Duarte Justo pela sua hombridade, coragem e inteligência crítica.”
 
Foi assim que comentei o texto do Dr. António da Cunha Duarte Justo, postado no “A Bem da Nação”, sob a epígrafe COMUNICAÇÃO SOCIAL MISERABILISTA, que ele mesmo também agradeceu ao Dr. Salles da Fonseca:
 
Obrigado Dr. Henrique Salles da Fonseca. A tarefa de reconstrução de Portugal exige a reposição da mentalidade dos nossos "Homens Bons" das origens da nação que frutificou nos descobrimentos. Infelizmente ainda somos demasiado poucos empenhados nesta tarefa.”
 
É verdade que a imprensa, quer na forma falada quer na forma escrita, através dos comentadores e orientadores dos debates políticos e económicos, nunca se refere à justeza do propósito governativo actual, centrado no saldo de uma dívida monstruosa, sucessivamente favorecida, ao longo das décadas de mudança de política e de país, por orientações desastrosas de gestores que favoreceram o alastrar dos desmandos e da corrupção impunes, e que culminaram no governo de José Sócrates, num buraco negro trazido por insistência em projectos de custo monstruoso, sem rentabilidade compensadora.
 
Mesmo as vozes dos defensores do projecto governativo de austeridade, para pagamento da dívida a todo o custo, são vozes tímidas, porque sabem quanto é desumana esta situação de desemprego, de inflação, de encerramento de empresas, propícios à ditadura no trabalho que no nosso país sempre, aliás, foi de abuso e desproporção salarial entre patrões e servidores, mas neste momento ultrapassa as raias concebível em exploração de chantagem, em função da conjuntura.
 
E o governo está só, e os partidos arreganham os dentes para o “despejar” de vez, não falando, todavia, na forma como pretendem actuar, com uma Troika sinistramente exigente.
 
O governo fala em breves êxitos e esperanças de remedeios, mas nisso ninguém pega para o apoiar. E quando, às vezes, na “Opinião Pública” do Canal 5 da Sic, vozes apoiam o governo, apesar da dureza das medidas, considerando que ele não pode agir doutra forma, manietado pela pesada carga que tem aos ombros, logo outras vozes incisivas ironizam sobre o bem-estar desses outros que defendem o governo.
 
Um povo gemebundo, mesmo que os espectáculos caros de cantores na berra se encham de uma juventude que a eles não falha, e que tantos estudantes universitários encham os pátios ou as ruas contíguas às universidades com os carros em que se deslocam, ou os aviões continuem a encher-se de viajantes em férias, ou…
 
E toda a gente sabe isso mas cala isso – (que, aliás, não revela grande mérito intelectual, mas seguidismo parolo das modas em curso) - porque o tal voyeurismo de que fala Duarte Justo, leva os animadores e os jornalistas televisivos e os deputados também televisivos a explorarem antes a “sensibilite” dos espectadores ou leitores com os casos de miséria incriminadores das políticas governativas.
 
E esta miserável jogada oportunista de Sócrates e dos adoradores de Sócrates para chutarem contra a nação dos pacóvios os consabidos e ressabiados argumentos do último dos seus coveiros, para fazerem os saudosistas prostrarem-se-lhe beatificamente aos pés, merece, de facto, o justo comentário de um homem de honra: “O último sintoma do estado doentio grave e depravado de quem tem o dizer em Portugal, foi o facto José Sócrates, que deveria estar sob observação judicial, aparecer como candidato a comentador político nos canais da TV pública”.
 
Pode o Governo de Passos Coelho ser apeado. Ninguém parece preocupado com as consequências, escutando a palração dos papagaios da nossa praça. Pela primeira vez, desde há 39 anos, senti orgulho num Governo de hombridade. Este.

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