domingo, 31 de março de 2013

Potenciação


Florian era um fabulista um pouco simplista,
Mais moralista do que artista
Como se verifica na breve história seguinte,
De um pai já velho
A aconselhar um filho ainda novo
- O que é uma anomalia sem grande harmonia -
Com as habituais banalidades dos pais
Que sempre os filhos acham anormais,
As da virtude do saber antigo
Acrescentadas ao saber intemporal
- E que por isso é bastante actual -
Sobre a condição humana pecadora,
Numa visão que muitos acham redutora
Mesmo agora:
 
«O rapaz e o velho»
«- “Por favor, ensine-me como se conquistam fortunas”,
Pedia ao seu pai um jovem ambicioso.
- “Há, disse o velho, um caminho glorioso,
É tornar-se útil à causa comum,
Usar os seus dias, os seus talentos, as suas vigílias,
Ao serviço da pátria,
Sem lacunas.
“- Oh! Que vida mais penosa!
Eu quero meios menos brilhantes
E mais condescendentes.”
“- Há meios mais seguros, a intriga…”
“ –É demasiado vil. Gostaria de enriquecer
Sem vício e sem trabalho de maior.
“ – Pois bem, sê um simples imbecil.
Desses, que assim progridem sem temor,
Já eu topei mais de mil.»

 Penso que o velho pai do filho jovem
Se enganou no número, pois, se fosse hoje,
Teria subido ao milhão a sua numeração,
Já que milhões e biliões são os números exorbitantes
Que a população dos exigentes
Refere sobre os incompetentes e os delinquentes,
Sem grande oposição,
- Desde que não figuremos nós na lista
De que fala o fabulista.

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