quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Será que quer comprar?


Vem esta fábula a propósito
Do que ao ministro da Economia
Disse Ana Drago, sem cortesia,
Aproveitando a leva de despedimentos
Que o Governo resolveu fazer
No seu staff.
Olhos nos olhos, sem pestanejar,
A voz doce, com atrevimento,
Afirmou que julgara
Que ele também não voltaria
Àquele  Parlamento,
Pois a sua presença
Só causava sofrimento.
Seria?
O facto é que o Ministro da Economia
Se ria,
Fitando-a com simpatia.

O sonho dum habitante do Mogol

Outrora um certo Mogol viu em sonhos o Vizir
Nos Campos Elíseos,  senhor dum prazer
Tão puro como infinito, em duração e valor.
O mesmo sonhador viu, noutro local,
Um Eremita, de fogo rodeado,
Que deixava pesaroso qualquer desgraçado.
O caso pareceu estranho e pouco usual:
Minos, nestes dois mortos, tinha-se enganado.
O dorminhoco acordou, tão surpreendido ficou.
Pressentindo, todavia, neste sonho, um mistério,
Foi pedir, muito sério,
A sua explicação.
O intérprete lhe disse que não se espantasse:
 “O vosso sonho tem sentido, e se eu tenho razão,
Como aprendi, nesta questão,
Trata-se dum aviso dos Deuses:
Durante a humana estadia
Este Vizir procurava a solidão,
Mas este Eremita espertalhão
A sua corte ia fazer aos Vizires.”

Se eu ousasse uma ideia acrescentar
À palavra do intérprete,
O  gosto dos retiros aqui viria lembrar:
Ele oferece aos amantes, bens sem embaraços,
Bens puros, presentes do Céu, debaixo dos pés nascidos.
Solidão, em que encontro uma secreta doçura,
Lugares que sempre amei, não poderei eu mais
Longe do mundo e dos ruídos banais
Saborear a sombra e a frescura?
Oh! Quem me deterá sob os vossos sombrias recantos?
Quando poderão as Nove Irmãs,
Nove deidades,
Longe das cortes e das cidades,
Inteiramente ocupar-me
E ensinar-me
Os movimentos diversos dos céus,
Desconhecidos dos olhos meus?
Os nomes e as virtudes das claridades errantes,
Pelas quais são tão diferentes
Os nossos costumes e os nossos destinos?
Porque, se eu não nasci para grandes projectos,
Ao menos que os regatos me ofereçam doces objectos!
Que eu pinte nos meus versos alguma margem florida!
A Parca de fios de ouro não urdirá a minha vida,
Eu não dormirei sob ricos tectos:
Mas alguém nota que o sono perde o seu valor?
Será ele menos profundo, e menos cheio de delícias?
No deserto novos sacrifícios lhe farei.
Quando chegar o momento de ir encontrar os mortos
Eu terei vivido sem cuidados, e sem remorsos morrerei.»

La Fontaine gostaria sobremaneira
De se sentar à sombra duma parreira,
Faia ou mesmo bananeira,
Para saborear a doce mediania
Dourada porque bem meditada,
Tal como o nosso Sá de Miranda
Que já dizia também
Que “homem dum só parecer
Um só rosto, uma só fé,
De antes quebrar que torcer,
Ele tudo pode ser
Mas da corte homem não é.”
Muitos outros assim escreveram,
Cansados das ruindades
E vilanias das cortes,
Preferindo manejar
Os livros do seu saber
Bem juntos da mãe natura
Fonte de meditação, de ternura.
Mas isso era antigamente.
Agora ninguém vai para o campo
Especificamente
Para apreender o sentido
Da vida e da morte.
Pelo menos nós por cá
Envolvidos nas disputas
Das nossas diárias lutas,
Só nos lembramos da natureza
Para enviarmos para lá
Aqueles a quem se despreza,
Mandando-os pastar com presteza.
O que é muita baixeza.
E quem assim desdenhar
Ao inferno vai parar.
Mas bem me posso enganar.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Mas o pior é se for o do futuro


O roubo do presente, um texto chegado por email.

Trata-se de um trecho ditado pelo espírito de alguém que, chegado a uma etapa da vida portuguesa em que muitos são os sacrifícios exigidos, sem cuidar de culpabilizar os inúmeros responsáveis anteriores (dado que os actuais se distribuem, por imperativo de fatalidade, o papel pendente de conserto do mal) pelo buraco negro desse “presente que nos é roubado”, prefere descarregar as baterias da sua acusação unilateralmente sobre um governo que “tant bien que mal” se esforça precisamente por impedir “la ruée” da nação para o tal “buraco negro” da nossa metáfora de preferência, o que me faz constatar que, mesmo os considerados grandes pensadores, não são isentos de parcialidades nas suas conclusões, mais fruto de rebuscamentos caprichosos de pensamento e estilo do que de um debruçar honesto e sem parcialidade sobre as conjunturas da nossa realidade.

 Na verdade, o tom do texto é de violência exclusiva contra o actual Governo,  fazendo obstrução a tudo o que para trás ficou de políticas libertinas de governos anteriores, quer relativamente a gastos de dinheiros de empréstimos (que se impõe pagar para paulatinamente recomeçar a construção), quer relativamente a políticas de subserviência ao estrangeiro que impôs um esfacelar de produtividade, nos sectores primário e até mesmo o secundário (com bastos reflexos sobre o terciário), quer relativamente a um fechar de olhos a alastrante rede de falcatruas e enredos de corrupção que tiveram por móbil único o enriquecimento pessoal, calcando quaisquer noções de respeito e valores morais. E, cereja em cima do bolo podre, de uma massa governativa acéfala sobre uma sociedade tornada paulatinamente parasitária, o descalabro num sistema de ensino de desrespeito pelos valores do ensino e pelo papel dos ensinantes, e de desresponsabilização, indisciplina e desinteresse por parte dos aprendentes.

O texto de José Gil, ditado por desespero de menino que não viveu nem agruras de guerra – da Segunda Guerra, em que tantos morreram e tantos se desesperaram e tantos o disseram nos seus escritos – da nossa guerra do Ultramar, em que tantos colegas seus penaram, coarctados nos seus projectos de vida – e que se entreteve a estudar, certamente, para mérito seu, longe da pátria, mas que pouco se importou que uma descolonização inesperada destruísse vidas e haveres de pessoas que até contribuíam para o progresso da sua pátria, é um texto sem fundamento pertinente, mau grado a dimensão aparatosa de um discurso  de dor. E raiva. Porque não seria tão dolorido se fosse outro o governante.

            Leiamos:

«No passado dia 20 de dezembro de 2012, a revista Visão publicou o artigo de opinião, da autoria do filósofo José Gil, intitulado "O roubo do presente" que se transcreve de seguida.»:

«Nunca uma situação se desenhou assim para o povo português: não ter futuro, não ter perspetivas de vida social, cultural, económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente. Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro.

O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu.

O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho.

O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stresse, depressões, patologias border-/ine enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens).

O presente não é uma dimensão abstrata do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direções. Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço público.

Atualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convivio. A solidariedade efetiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil.

Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser espetral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si.

Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português. Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de ação. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país."»

“Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de ação. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país." :

Podemos nós crer num discurso sem sofisma, este que atribui a este Governo o exclusivo da fantomatização, da paralisia, da humilhação das massas, da zumbificação dos seres, da “expulsão do seu espaço, continuando paradoxalmente a ocupá-lo”?

Este colocar-se em situação de altivo – se não inocente - privilégio, qual Adão antes da expulsão, ignorando todos os que aqui lutaram e sofreram e trabalharam - uns com mais precariedade do que outros, como sempre - e os que continuam, apesar das condições da quase ruptura, a lutar e a ter filhos e a confiar, e a amar os seus e a pátria adversa, é um posicionamento quase me atrevo a chamar de pueril, no que toca ao seu desabafo íntimo tão derrotista. Um posicionamento idêntico ao dos companheiros da esquerda grandiloquente, que propõe a deposição do Governo.

Um texto maquiavélico. Direi mesmo, mefistofélico. Se não, dum egoísmo pecaminoso, que abomina o presente – o presente roubado - e não tem um olhar pesaroso sobre um futuro de sombra, pela deseducação feita nas estruturas familiares e educativas – o remate do bolo fétido em que nos tornámos. Culpa de outros, será. Culpa de todos nós, sem dúvida.

 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

“A canalha”


Estou a ouvi-lo. Distraidamente. A voz ulula, impregnada de ferocidade, para defesa da classe docente. É o dirigente sindical da Fenprof, Mário Nogueira, que já ouvi noutras ocasiões e me pareceu então mais cordato. O discurso do comparsa da CGTP-Intersindical, Arménio Carlos, nem o ouvi, ciente do disco rachado das acusações repetitivas de uma esquerda incapaz de outro. Disco, que, para o efeito, é sinónimo de discurso, que também é rachado.
Imagens de docentes vão passando nas avenidas, intercaladas com o discurso, na reivindicação de direitos que lhes vão ser sonegados, segundo as ameaças governativas. Mas Mário Nogueira nada mais faz que utilizar uma linguagem obscena, imprópria de quem frequentou um curso superior e que deveria pensar no efeito antipedagógico do seu espectáculo de desbragamento verbal, mais atribuível a um carroceiro debitando alarvidades dos tempos da revolução em que as classes trabalhadoras tiveram o seu momento de glória e espalhafato vocabular e gestual: “Canalha!”,bandidos”!, “vigaristas!”, “desqualificados!”, captei da voz ululante,  referindo-se aos governantes.
Concluí que o discurso era idêntico ao do comparsa da CGTP e aos deputados da esquerda afanosa , PS incluído, que se preparam para deitar abaixo o Governo. Com efeito, não houve propostas construtivas, mas puramente acusatórias, não houve reconhecimento de quaisquer melhorias actuais na profissão docente, pelo menos relativamente ao bombardeamento documental megalómano e inútil dos tempos de Sócrates, exigido por  uma tal Maria de Lurdes Rodrigues, houve apenas o propósito de linchamento em praça pública, pelos dois dirigentes sindicais, dos que têm actualmente em mãos os destinos da nação.
Transcrevo da internet :
De Mário Nogueira: 13 é número de azar, mas os portugueses já têm azar que chegue: governantes que, com propaganda enganosa, chegaram ao poder, aí desenvolvem políticas que estão a destruir o país, arruinando os cidadãos, destruindo os seus serviços públicos e outras construções democráticas e entregando a estrangeiros as joias da coroa.(...)
De Arménio Carlos: “secretário-geral da CGTP-Intersindical, Arménio Carlos, afirmou que está na altura de explorar as “fraturas” que vão surgindo na base de apoio social deste governo.” “Conseguimos destruí-las com outros governos que também tinham maioria absoluta”, indicou.”
            Dir-se-á que são discursos vazios. Mas não o são os excessos vocabulares, que escutámos. Como se pode exigir que uma nação progrida, na sua juventude, se lhe oferecemos figuras deste calibre grotesco, de carrascão, a comandar uma classe que é chamada de educadora? Como é que essa classe admite tais representantes sem protestar? Será que alguma vez estes ensinaram? Ou limitaram as suas vidas a cargos de ambição e catapulta?
              Se assim foi, Vae victis! Poveri noi!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

25 de Janeiro


Fazia anos o meu Pai, neste dia 25 de Janeiro, faria 112 anos este ano, mas morreu com 78. Em tempos escrevi um livro de memórias – Melodias do Passado – que a Sinapses prometeu editar, e que apenas manteve visível, durante uns tempos, na Internet, apesar do contrato assinado.  Era um livro de homenagem a meu Pai,  na evocação da sua pessoa, associada às minhas próprias vivências. Outros livros escrevi em que a sua figura perpassou, recta, na timidez da sua modéstia, mas na elegância de um saber de autodidacta e de um espírito vivo, ciente dos sarcasmos do mundo, mas também grato da felicidade que soube construir no amor familiar, a que o sacrifício de separações – no tempo da Segunda Guerra, e mais tarde, durante dois anos, por transferência, em serviço – fortificara o elo da coesão, no ganho do saber e da experiência, que as cartas acompanhavam, nos ditames da ternura e do apoio escolar.
Sempre o meu pai foi companheiro nas minhas escritas, algumas com mais afinco, que chegava a guardar no bolso por dias, segundo contava, e muitas vezes lhe lia o que escrevera às mesas dos cafés, nos intervalos maiores dos meus horários de aulas.
Em 1975, frequentando um Seminário em Coimbra, dirigido por Andrée Crabbé Rocha, escrevi sobre os autores do nosso programa de trabalhos – “A Literatura da Resistência” – naturalmente  na berra, o que não obstou a que encarasse tais autores sem o parti pris da subserviência demagógica.
Foi assim que analisei a poesia de José Gomes Ferreira, e é como lembrança do meu Pai – em cuja casa vivia na altura, de regresso de África, com a família – que transcrevo um passo dele extraído, cuja poesia comparo com um poema de Torga que o meu Pai tanto admirava, e que eu também sempre admirei, embora não partilhássemos inteiramente as ideologias dos respectivos autores  (in “Cravos Roxos – Croniquetas Verde-Rubras”, 1981):
«… O mesmo não diremos do poema XXIII, ainda de “Café”, com reflexos de Pessoa, que nos parece significativo, quer no aspecto imagístico, quer no aspecto ideológico. Só achamos supérfluo o parêntese inicial, processo muito utilizado por Gomes Ferreira, ainda em jeito narcísico pueril, de nos dar mais intimamente conta das suas insónias e debates de consciência.
«(Relatório às duas da manhã diante dum copo de leite)»:

«Hoje acordei na dispersão cinzenta
Dum dia decepado…
Com o corpo dividido,
As imagens sem olhos,
Os gestos a fugirem-me dos dedos
E a sombra esquecida no quarto ao lado.
Desatado de mim,
Andei todo o dia assim
Com os passos nas nuvens,
Os pés na terra,
As mãos na terra,
As mãos a estrangular o nevoeiro
E os olhos… Ah! Os meus olhos onde estão?
(Só há momentos me encontrei por inteiro~
Num charco a evaporar-se do chão…)»
Poesia demasiado directa, como o é também a prosa neo-realista, mau grado as subtilezas vocabulares ou imagísticas, ela não deixa qualquer lugar ao devaneio, àquilo que fica subentendido, como observamos neste exemplo de Miguel Torga, onde se explora, com uma elegância natural e simples, mas de um pensamento trabalhado, a par da fluidez rítmica, uma temática de protesto idêntica à de Gomes Ferreira, conquanto não exclusiva da poética variadíssima do autor dos “Bichos”:
«Depoimento»

«Deponho no processo do meu crime.
(Sou testemunha
E réu
E vítima
E juiz).
Juro
Que havia um muro
E na face do muro uma palavra a giz.
MERDA! Lembro-me bem.
- Crianças… - disse alguém
Que ia a passar.
Mas voltei novamente a soletrar
O vocábulo indecente,
E de repente,
Como quem adivinha,
Numa tristeza já de penitente,
Vi que a letra era minha…»
                       (in “Câmara Ardente”)

Eis o meu presente de anos para o meu Pai, evocação da sua presença inesquecida, que ficará no meu blog até que as convulsões do tempo ponham fim a um participar já próximo da idade com que ele partiu.
Com os “Parabéns a Você” sempre. Os “Muitos anos de vida” também. Até que a memória se acabe. “Até que a voz me doa”.

 

 

 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Os peitorais de Seguro


Hoje estava outra frequentadora do café com quem debitamos trocos das respectivas leituras jornalísticas ou de frequentadoras televisivas, e a conversa inicial versou sobre Obama e a sua reeleição. Eu ia com uma disposição mundana, falei nos casaquinhos das filhas, no baile que ele abriu com a mulher, figuras da nossa simpatia, nos coros maravilhosos com gente bonita, mas a minha amiga preferiu mostrar o seu apreço lembrando as armas que ele quer proibir e logo a outra frequentadora, que todos os dias come um daqueles bolos de bimbi, de fazer crescer a água na boca, porque é gulosa mas também para ajudar a dona do café, boa senhora, falou em terra de cowboys, habituados ao manejo das armas, como factor impeditivo do  êxito de Obama na proibição da venda de armas que ele quer implantar. E a minha amiga lembrou as tabaqueiras e o manancial que representam para o Estado, e acrescentou sábias sentenças sobre o cinismo que preside às ordenações  governamentais visando os bons costumes pela saúde pública, ou vice-versa.

Não, a venda de armas aos civis nunca será proibida nos States, tal como a venda do tabaco por cá, camuflada com as cínicas advertências, nos próprios maços,  da ameaça de morte causada pelo tabaco. Quanto à questão da droga, fecham-se virtuosamente os olhos, apesar das grandes parangonas sobre os apresamentos feitos pela polícia nos barcos  ou nos camiões, que a trazem para aqui de passagem, para ser devidamente traficada. E a droga vai alastrando, como os assaltos à mão armada se vão multiplicando nos Estados Unidos. Mas a minha amiga acredita no Obama, apesar dos seus muitos opositores.
Eu preferi desviar as baterias para as cenas da nossa caricatura diária, os do Governo falando em êxito europeu tendo sido aceite a prorrogação do prazo de pagamento da dívida externa feita a seu pedido, Seguro e os outros logo bramando que há muito o tinham proposto, na ficção do seu horror pelo sofrimento imposto ao povo por esse Governo barbaramente insensível.

 Provaram os do Governo que, a não terem cumprido escrupulosamente os prazos nunca a Troika e a Sr.ª Merkel seriam sensíveis ao pedido, permitindo, com isso a reconquista da credibilidade financeira e a gradual melhoria económica.

Mas os partidos de esquerda, com Seguro no comando, soltaram as âncoras da sua vitória, por terem sido obedecidos, nesta decisão governativa.

Seguro foi o mais expressivo, Tarzan vitorioso, batendo calorosamente nos peitorais. Inchados. Como a rã da fábula.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

May be


Os fabulistas antigos
Usaram os animais
Como exemplos excepcionais
Dos desmandos dos humanos
Atribuindo-lhes sentimentos
E falas e actuações
Como se fôssemos nós próprios,
Nas nossas contradições.
Tais contos tão principescos,
Gratos à inocência da infância,
Formaram os fabulários,
- Ou até mesmo bestiários -
Por serem animalescos.
Florian, que é mais moderno,
E como fabulista,
Mais realista,
Perdida a crença primitiva,
Não se importou de utilizar
Na sua rábula,
O homem como exemplo de fábula:

«O Rei e os dois Pastores»

«Certo monarca deplorava um dia a sua miséria,
E lamentava-se de ser rei;
“Que penoso ofício! dizia; na terra
Existirá um único mortal contrariado como eu sou?
Eu queria viver em paz, forçam-me à guerra,
Com muita léria
Com muita treta:
Amo os meus vassalos, e carrego-os com impostos;
Amo a verdade, a cada passo sou enganado;
O meu povo é consumido de males,
De tristeza eu vivo acabrunhado;
Por toda a parte procuro pareceres,
Uso todas as tácticas, em esforço vão;
Quanto mais faço, mais me foge o êxito.”
O nosso monarca avista então
Um rebanho de magros carneiros
Tosquiados de fresco,
As ovelhas sem cordeiros, os cordeiros sem as mães,
Dispersos, balindo, desgarrados,
E uns carneiros sem força errando
Nos descampados.
O seu condutor Guillot ia, vinha, corria, procurava
Ora o carneiro que na mata se perdia,
Ora o cordeiro que para trás ficava,
Corre em seguida à sua mais querida ovelha;
E enquanto está a um lado,
Um lobo agarra no carneiro
Que leva a correr.
O pastor acorre, o cordeiro que deixou,
Uma loba o filou.
Guillot pára, sufocado,
Arranca os cabelos, não sabe aonde acudir,
E com os punhos batendo na cabeça,
Pede ao céu para morrer.
“Eis a fiel imagem da minha figura!
Exclama o monarca nessa altura;
E os pobres dos pastores,
Tal como nós, rei,
Rodeados de perigos, de desamor,
Não têm nada doce escravatura,
O que não deixa de ser consolador.
Dizia ele estas palavras sem grande lisura,
Descobre num prado o mais belo dos rebanhos,
Carneiros gordos, numerosos,
Mal podendo caminhar,
Tanto o seu rico velo lhes pesa.
Carneiros grandes e altivos,
Todos em ordem pastando,
Ovelhas ao peso da lã vergando,
E cuja teta cheia
Atrai de longe os cordeiros saltitando.
O pastor -  autor -
Fazia versos para a sua Iris,
Cantava-os docemente em ecos enternecidos,
E depois repetia a ária
No seu rústico oboé.
Espantado, o rei dizia: “ - Este belo gado
Em breve será destruído;
Os lobos não temem
Os pastores amorosos que cantam
A sua pastora, seja ela Iris, ou Fílis,
Ou lá como é;
Não será com uma cana que os afastam.
Ah! Como eu me riria se!...
No mesmo instante o lobo passa,
Como para lhe dar prazer,
Um cão, pronto a apanhá-lo,
Lança-se e vai expulsá-lo.
Ao barulho que fazem a combater,
Dois carneiros amedrontados fogem, pela planura:
Um outro cão parte, que os vai trazer,
E, para a ordem repor,
Um instante é bastante.
O pastor tudo isso via, deitado no relvado,
A gaita de foles, que não largava,
Ao seu lado.
Então o rei, bem irritado,
Disse-lhe: “- Como fazes tu isso?
Os bosques estão cheios de lobos,
Os teus carneiros, gordos e belos,
São para cima de mil,
Consegues mantê-los na maior das calmas,
Tu só, e ainda por cima
Cantando.”
“- Senhor, disse o pastor,
A coisa é mesmo fácil
E tem suas prescrições;
O meu segredo consiste
Em escolher bons cães.”»

E andamos nós nestes enganos
Sem perceber as razões
Por que há já tantos anos
Vivemos com tantos danos,
Tantas desmotivações
Que até são mais que as mães,
Ouvindo razões, sem-razões
Dos varões,
Decanos bem brincalhões
Nestas questões,
Quando o que era indispensável
- Incontornável -
É que houvesse cá bons cães,
Olhos e ouvidos do rei,
A aplicar a lei
Para nosso bem.
Eu sei.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Cabazada incompleta


Foi-me enviado um email, que incluo no meu blog, como retrato síntese de algumas das nossas mazelas impunemente aceites, citadas nos jornais, e repisadas pelo povo indignado, embora omitidas pelos habituais questionadores das anomalias políticas e sociais televisivos, que, embora sabendo quanto elas foram geradoras capitais do estado de sítio em que nos movemos, preferem avançar com os seus saberes que condenam a actual governação económica e social, todos cheios de certezas reformadoras e de altruísmos gritados aos sete ventos a favor das plebes. 
Como o texto do email aponta, do jornalista francês Philippe Riès, muitos são os nomes nele citados da família portuguesa responsável, e acima de todos, um eficiente Cavaco Silva armado em detector, não de metais, mas de inconstitucionalidades orçamentais, jogando a dois carrinhos – primeiro aprovando-o e depois submetendo-o à supervisão do TC - para ter sempre o seu prato de lentilhas – figurativamente falando – à disposição, contrariamente ao que nos referiu em tempos, nos seus queixumes sobre as suas poupanças de modéstia, não querendo ser responsável pelo caos, caso não aprovasse o OE, submetendo-o a posterior supervisão, depois de o ter aprovado para obedecer aos ditames do país esquerdino, que se prepara para assumir a liderança.
               Pelo texto perpassam os nomes do nosso escândalo – Loureiro, Cavaco, Lima, Oliveira e Costa, Sócrates, Constâncio, Relvas - e os escândalos do seu protagonismo, os tais que os comentadores habituais televisivos, muito pródigos nas referências aos pecadores do Governo, omitem dos seus considerandos, sabendo como a esses, sobretudo, se deve a brecha pela qual foi precipitado todo um povo no buraco fundo da insolvência especulada.
O respeitinho é muito bonito, e, tirante a figura caricata de Relvas, a merecer reparos e chufas, todos os mais usam a gravata da excelência e continuam sorrindo à vida e troçando de todos, sem que se lhes peçam contas, ou deixando prescrever os seus processos, numa Justiça tarda e depauperada de princípios, facilmente envolvida nas safadezas perpetradas.
A ideia com que se fica é, realmente, o que se tem apontado bastas vezes: os infractores são tantos que formam rede tenebrosa nos vários elos que se entreprotegem, pelos telhados de vidro da sua fragilidade corrupta.
Contra os tais da gravata o povo não faz greves, naturalmente, nem se lhes pede contas. É o Governo o único responsável pelo mal que vai semeando, e as greves vão cavando mais o desastre nacional, mas ninguém fala disso. Porque as greves são um direito de quem se preza – o próprio Governo respeita isso, para ficar bem visto - apesar dos gritos e slogans da nossa pateguice palreira.
 Um esforço conjunto para a discussão séria com condenação dos responsáveis seria estratégia governativa imprescindível. Mas o Governo prefere as estratégias de menor risco e maior facilidade na sua imposição drástica a que se não pode fugir: despedimentos, cortes nos vencimentos, subida dos impostos, com as respectivas consequências de depauperamento progressivo e generalizado a que fecha estupidamente os olhos.
Leiamos o texto de Philippe Riès:
 

«Scandale bancaire portugais: les vacances à Rio de Dias Loureiro»


Par Philippe Riès mediapart 03/01/2013:

Le président de la République portugaise Anibal Cavaco Silva a décidé de déferrer au Tribunal constitutionnel, c'est une de ses prérogatives, certaines dispositions d'un budget 2013 d'austérité aggravée parce qu'il a des «doutes» sur le caractère équilibré des efforts imposés à la population d'un pays qui va entrer dans sa troisième année consécutive de récession, une situation inédite depuis la révolution des oeillets de 1974. Des doutes?

Au moment même où ce chef de l'Etat à la réputation personnelle plus que ternie se livrait à cette manoeuvre parfaitement démagogique, on apprenait qu'une des principales figures du «cavaquisme», Manuel Dias Loureiro, passait les fêtes de fin d'année au Copacabana Palace de Rio de Janeiro, où une simple chambre coûte quelque 600 euros la nuit. Soit d'avantage que le salaire minimum du pays. Voilà qui devrait suffire à lever les «doutes» de l'occupant du palais présidentiel de Belem.

Détenteur de portefeuilles ministériels clefs dans les gouvernements PSD dont Cavaco Silva était le chef, ancien membre du Conseil d'Etat, ce saint des saints de la caste politicienne portugaise, Dias Loureiro, «protégé» de Cavaco, est une figure centrale de ce qui devrait être un énorme scandale européen, une affaire d'Etat, la faillite de la banque BPN. Cette faillite frauduleuse pourrait coûter au contribuable portugais, celui là même qui resserre sa ceinture d'un cran année après année, jusqu'à sept milliards d'euros, soit près d'un dixième de l'aide financière internationale que le pays a du demander en 2011, avec comme contrepartie le programme de remise en ordre des finances publiques surveillé par la «troïka» UE-BCE-FMI.
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Le président de la République portugaise Anibal Cavaco Silva a décidé de déferrer au Tribunal constitutionnel, c'est une de ses prérogatives, certaines dispositions d'un budget 2013 d'austérité aggravée parce qu'il a des «doutes» sur le caractère équilibré des efforts imposés à la population d'un pays qui va entrer dans sa troisième année consécutive de récession, une situation inédite depuis la révolution des oeillets de 1974. Des doutes?

Au moment même où ce chef de l'Etat à la réputation personnelle plus que ternie se livrait à cette manoeuvre parfaitement démagogique, on apprenait qu'une des principales figures du «cavaquisme», Manuel Dias Loureiro, passait les fêtes de fin d'année au Copacabana Palace de Rio de Janeiro, où une simple chambre coûte quelque 600 euros la nuit. Soit d'avantage que le salaire minimum du pays. Voilà qui devrait suffire à lever les «doutes» de l'occupant du palais présidentiel de Belem.

Détenteur de portefeuilles ministériels clefs dans les gouvernements PSD dont Cavaco Silva était le chef, ancien membre du Conseil d'Etat, ce saint des saints de la caste politicienne portugaise, Dias Loureiro, «protégé» de Cavaco, est une figure centrale de ce qui devrait être un énorme scandale européen, une affaire d'Etat, la faillite de la banque BPN. Cette faillite frauduleuse pourrait coûter au contribuable portugais, celui là même qui resserre sa ceinture d'un cran année après année, jusqu'à sept milliards d'euros, soit près d'un dixième de l'aide financière internationale que le pays a du demander en 2011, avec comme contrepartie le programme de remise en ordre des finances publiques surveillé par la «troïka» UE-BCE-FMI.

L'activité principale des dirigeants de cette banque du «bloc central» (les partis de centre gauche et centre droit qui alternent au pouvoir depuis la chute de la dictature salazariste) consistait à accorder, par dizaines ou centaines de millions d'euros, des prêts à leurs amis, familiers, clients...et à eux-mêmes. Dans un reportage remarquable, le journaliste de la télévision SIC Pedro Coelho vient de révéler, par exemple, qu'une entreprise de ciment de la galaxie Dias Loureiro avait reçu du BPN un prêt de 90 millions d'euros. Une autre personnalité du «cavaquisme» comme Duarte Lima, ancien chef du groupe parlementaire PSD, emprisonné à Lisbonne et soupçonné de meurtre par la police brésilienne, a détourné 49 millions d'euros. Cavaco lui-même avait bénéficié, dans des conditions suspectes, d'une attribution à prix cassé par le patron du BPN José Oliveira Costa, un de ses anciens secrétaires d'Etat, d'actions de la SLN, holding de tête de la banque, qu'il a pu revendre avec une plus value de 140%. En bref, le scandale du BPN est très largement celui du «cavaquisme». Et ce personnage a des «doutes» sur l'équité de la politique d'austérité ?

Ces milliards d'euros sont considérés comme définitivement perdus...mais par pour tous le monde. Quand le scandale a éclaté en 2009, la presse portugaise a révélé que Dias Loureiro, administrateur de la SLN, avait soigneusement organisé son insolvabilité personnelle en transférant ses avoirs à des membres de sa famille ou des sociétés offshore. De quoi payer la chambre au Copacabana Palace, sans doute ?

Et au fait, qui donc Dias Loureiro a-t-il retrouvé pour les fêtes dans cet hôtel de rêve, jadis favoris des vedettes de Hollywood ? Nul autre que Miguel Relvas, pilier de l'actuel gouvernement PSD, ami proche et «père Joseph» du Premier ministre Pedro Passos Coelho. Relvas, dont le maintien au gouvernement est en soi un scandale, alors qu'il a été convaincu d'avoir obtenu frauduleusement une licence universitaire afin de pouvoir porter ce titre de «docteur» dont la bourgeoisie d'Etat lusitanienne est si ridiculement friande.

Comme Armando Vara, ami intime de l'ancien Premier ministre «socialiste» José Socrates qui a placé le FMI sous la tutelle de la «troïka», Dias Loureiro et les «cavaquistes» du BPN, sont l'illustration que la politique professionnelle est bien, dans certaines «démocraties» européennes, le chemin le plus sûr vers l'enrichissement personnel rapide d'une classe d'aventuriers. En Grèce, en Irlande, en Espagne, au Portugal. Et en France ?

C'est la première leçon. La seconde, c'est que les graves dysfonctionnements de systèmes judiciaires eux-mêmes gangrénés par la corruption et les réseaux d'influence permettent à de tels individus de jouir en toute impunité de biens mal acquis. Il est à noter que les responsables directs des désastres bancaires à l'origine directe de la crise financière globale ont joui jusqu'ici aux Etats-Unis et en Europe, à de rares exceptions près, d'une impunité civile et pénale absolue.

Enfin, cerise sur le gâteau, la surveillance bancaire confiée désormais dans la zone euro à la Banque centrale européenne, y sera sous la responsabilité du vice-président Vitor Constancio, hiérarque socialiste portugais et gouverneur de la Banque du Portugal, le régulateur bancaire, quand les «cavaquistes» du BPN se livraient à leurs acrobaties nauséabondes. Fermez le ban !»

E os tambores se detêm, no espanto da “cereja no cimo do bolo”, o tal soturno Victor Constâncio que, segundo se disse, sempre ganhou mais como governador do Banco de Portugal, do que o próprio Administrador do Banco Federal dos Estados Unidos e quejandos.

Só penso que o povo português não merecia ser envilecido com tanta constância. Afinal, trata-se de um “nobre povo” de uma “nação valente”. Era preciso marchar contra toda esta “acrobacia nauseabunda” da designação de Philippe Riès.



Le président de la République portugaise Anibal Cavaco Silva a décidé de déferrer au Tribunal constitutionnel, c'est une de ses prérogatives, certaines dispositions d'un budget 2013 d'austérité aggravée parce qu'il a des «doutes» sur le caractère équilibré des efforts imposés à la population d'un pays qui va entrer dans sa troisième année consécutive de récession, une situation inédite depuis la révolution des oeillets de 1974. Des doutes?

Au moment même où ce chef de l'Etat à la réputation personnelle plus que ternie se livrait à cette manoeuvre parfaitement démagogique, on apprenait qu'une des principales figures du «cavaquisme», Manuel Dias Loureiro, passait les fêtes de fin d'année au Copacabana Palace de Rio de Janeiro, où une simple chambre coûte quelque 600 euros la nuit. Soit d'avantage que le salaire minimum du pays. Voilà qui devrait suffire à lever les «doutes» de l'occupant du palais présidentiel de Belem.

Détenteur de portefeuilles ministériels clefs dans les gouvernements PSD dont Cavaco Silva était le chef, ancien membre du Conseil d'Etat, ce saint des saints de la caste politicienne portugaise, Dias Loureiro, «protégé» de Cavaco, est une figure centrale de ce qui devrait être un énorme scandale européen, une affaire d'Etat, la faillite de la banque BPN. Cette faillite frauduleuse pourrait coûter au contribuable portugais, celui là même qui resserre sa ceinture d'un cran année après année, jusqu'à sept milliards d'euros, soit près d'un dixième de l'aide financière internationale que le pays a du demander en 2011, avec comme contrepartie le programme de remise en ordre des finances publiques surveillé par la «troïka» UE-BCE-FMI.

L'activité principale des dirigeants de cette banque du «bloc central» (les partis de centre gauche et centre droit qui alternent au pouvoir depuis la chute de la dictature salazariste) consistait à accorder, par dizaines ou centaines de millions d'euros, des prêts à leurs amis, familiers, clients...et à eux-mêmes. Dans un reportage remarquable, le journaliste de la télévision SIC Pedro Coelho vient de révéler, par exemple, qu'une entreprise de ciment de la galaxie Dias Loureiro avait reçu du BPN un prêt de 90 millions d'euros. Une autre personnalité du «cavaquisme» comme Duarte Lima, ancien chef du groupe parlementaire PSD, emprisonné à Lisbonne et soupçonné de meurtre par la police brésilienne, a détourné 49 millions d'euros. Cavaco lui-même avait bénéficié, dans des conditions suspectes, d'une attribution à prix cassé par le patron du BPN José Oliveira Costa, un de ses anciens secrétaires d'Etat, d'actions de la SLN, holding de tête de la banque, qu'il a pu revendre avec une plus value de 140%. En bref, le scandale du BPN est très largement celui du «cavaquisme». Et ce personnage a des «doutes» sur l'équité de la politique d'austérité ?

Ces milliards d'euros sont considérés comme définitivement perdus...mais par pour tous le monde. Quand le scandale a éclaté en 2009, la presse portugaise a révélé que Dias Loureiro, administrateur de la SLN, avait soigneusement organisé son insolvabilité personnelle en transférant ses avoirs à des membres de sa famille ou des sociétés offshore. De quoi payer la chambre au Copacabana Palace, sans doute ?

Et au fait, qui donc Dias Loureiro a-t-il retrouvé pour les fêtes dans cet hôtel de rêve, jadis favoris des vedettes de Hollywood ? Nul autre que Miguel Relvas, pilier de l'actuel gouvernement PSD, ami proche et «père Joseph» du Premier ministre Pedro Passos Coelho. Relvas, dont le maintien au gouvernement est en soi un scandale, alors qu'il a été convaincu d'avoir obtenu frauduleusement une licence universitaire afin de pouvoir porter ce titre de «docteur» dont la bourgeoisie d'Etat lusitanienne est si ridiculement friande.

Comme Armando Vara, ami intime de l'ancien Premier ministre «socialiste» José Socrates qui a placé le FMI sous la tutelle de la «troïka», Dias Loureiro et les «cavaquistes» du BPN, sont l'illustration que la politique professionnelle est bien, dans certaines «démocraties» européennes, le chemin le plus sûr vers l'enrichissement personnel rapide d'une classe d'aventuriers. En Grèce, en Irlande, en Espagne, au Portugal. Et en France ?

C'est la première leçon. La seconde, c'est que les graves dysfonctionnements de systèmes judiciaires eux-mêmes gangrénés par la corruption et les réseaux d'influence permettent à de tels individus de jouir en toute impunité de biens mal acquis. Il est à noter que les responsables directs des désastres bancaires à l'origine directe de la crise financière globale ont joui jusqu'ici aux Etats-Unis et en Europe, à de rares exceptions près, d'une impunité civile et pénale absolue.

Enfin, cerise sur le gâteau, la surveillance bancaire confiée désormais dans la zone euro à la Banque centrale européenne, y sera sous la responsabilité du vice-président Vitor Constancio, hiérarque socialiste portugais et gouverneur de la Banque du Portugal, le régulateur bancaire, quand les «cavaquistes» du BPN se livraient à leurs acrobaties nauséabondes. Fermez le ban !»

E os tambores se detêm, no espanto da “cereja em cima do bolo”, o tal soturno Victor Constâncio que, segundo se disse, sempre ganhou mais como governador do Banco de Portugal, do que o próprio Administrador do Banco Federal dos Estados Unidos e quejandos.

Só penso que o povo português não merecia ser envilecido com tanta constância. Afinal, trata-se de um “nobre povo” de uma “nação valente”. Era preciso marchar contra toda esta “acrobacia nauseabunda” da designação de Philippe Riès.