sábado, 28 de janeiro de 2012

Babel sem Sião

Enviei um comentário ao texto que segue, publicado no “A Bem da Nação”, com dúvidas sobre se o Dr. Salles da Fonseca o iria publicar, já que o tema do “A. O.”, fazendo-me “perder a tramontana”, talvez ele o não quisesse postar. Respondeu-me o Dr. Salles, figura de blogueur temerário, que, em vez de o publicar nessa qualidade de comentário, o iria colocar como texto principal e que me não preocupasse com o tamanho “pois o que interessa é a dimensão”.
Resolvi, pois, publicá-lo também no meu blogue, mas com relevo para o texto que o motivou, que, ao que sei, se passeia anonimamente pela Internet, o que me penaliza, pois o seu autor não tem que se esconder mas que assumir a sua preocupação e a sua veia humorística.
É, pois, com orgulho por um compatriota sagaz que transcrevo o seu texto:

«E VIVÓ ACORDO»

«Quando eu escrevo a palavra acção, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o C na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as onsoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa.
Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio.Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes CCC's e PPP's me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância.
Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: - não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas.
O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.
Depois há os intrusos, sobretudo o R, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram RRR's que andavam errantes. É uma união de facto, e para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família.
Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os EEE's passaram a ser gémeos, nenhum usa (^^^) chapéu. E os meses perderam importância e dignidade; não havia motivo para terem privilégios. Assim, temos janeiro, fevereiro, março, são tão importantes como peixe, flor, avião.
Não sei se estou a ser suscetível, mas sem P, algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham. As palavras transformam-nos.
Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do C não me faça perder a direção, nem me fracione, e nem quero tropeçar em algum objeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um C a atrapalhar. Só não percebo porque é que temos que ser NÓS a alterar a escrita, se a LÍNGUA É NOSS...?!?! ?
Os ingleses não o fizeram, os franceses desde 1700 que não mexem na sua língua e porquê nós?
Ou atão deichemos que os 35 por cento de anal fabetos afroamaricanos fassão com que a nova ortografia imponha se bué depréça! »
Recebido por e-mail, Autor não identificado

Segue-se o comentário que o Dr. Salles elegeu como texto, apesar do pequeno tamanho:

Já pela minha vida passaram várias reformas ortográficas, os êstes e as estrêlas acentuados, creio que já escrevi mãi com i. Mãe passou a escrever-se com e na sequência de outros ditongos nasais de idêntica forma - (em cães, pães) - resultantes de uma etimologia latina (-anes). O que estava mal era o ãi, que não existe. No novo acordo, pelo contrário, a etimologia latina deixou de interessar, escreve-se como se quiser, afinal, conforme se pronunciam ou não determinados sons, não há uma uniformidade de critérios, não sei como será para se ensinar ortografia, num caldo linguístico de puro desrespeito até por uma Europa novilatina que não se dá a esses afãs de renegar a sua escrita, como nós. Uma bandalheira própria de um povo abandalhado, muito justamente na cauda.”


Mas, tal como aquele extraordinário poeta que se sentou à beira do Tigre e do Eufrates, “sobollos rios que vão por Babilónia” em recordações penosas, vejo-nos a nós, aqui neste canto ocidental, também com rios diversos vistos comodamente na Internet, que, por razões prosaicas e de menor engenho, espalhamos, miserabile dictu, “Tristes palavras ao vento”.


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Lição policial

Foi La Fontaine um fabulista
Que às fábulas de Fedro ou de Esopo
Soube acrescentar traços de poeta
E de romancista.
Assim, acrescentou, para sua glória,
Nesta nova história, que não é da treta,
Mas dum Lobo que de gente se disfarçou
Para melhor alcançar o que a sua fome pedia,
Traços de humor, numa caracterização
Feita de sabedoria,
E de muita certeza
A respeito da humana natureza:
«O Lobo tornado Pastor»
É como se chama a fábula de mais uma ladinice
De grande qualidade,
Com que La Fontaine brindou a humanidade:



«Um Lobo, que começava a colher parte escassa
Das ovelhas da vizinhança
Achou que, para sua bonança,
Devia com a pele da raposa se prover
E gizar uma nova personagem
Para se dar sorte.
Veste-se de pastor, enfia uma farda
Faz o cajado dum pau bem forte
Sem a gaita-de-foles esquecer.
Para o embuste levar até ao fim,
Gostaria de ter escrito no chapéu:
“Sou eu que sou Guillot, pastor deste rebanho”.
Construída a figura assim,
Os pés da frente pousados no cajado,
Guillot, o sicofanta, aproxima-se devagar.
Guillot, o verdadeiro, na erva estendido,
Dormia profundamente;
Também o seu cão estava adormecido
E a gaita igualmente;
Das ovelhas a maioria
Dormia, dormia.
O hipócrita deixou-os dormir;
E para poder
Para o seu forte as ovelhas conduzir
Quis acrescentar
A palavra à acção
Isto é, ao vestuário,
Coisa que ele achava necessário.
Mas o que se passou
Foi que esse embuste o primeiro estragou,
Por não conseguir
A voz do pastor reproduzir.
O tom que usou
Fez o bosque troar
E toda a sua farsa denunciar
Mesmo sem um detective a ajudar.
Cada um a esse som despertou,
As ovelhas, o cão, o rapaz.
O pobre Lobo, com todo este escândalo,
Impedido pelo vestuário,
Não pôde nem defender-se nem fugir.



Sempre por qualquer indício
Os embusteiros se deixam apanhar.
Quem for lobo deve como tal agir:
É o mais certo, por ser menos fictício.»

Quanto a mim, esta fábula prova
Uma vez mais,
Que o silêncio é de oiro
E a palavra de prata.
Direi mesmo de lata.
Às vezes o maior pecado
Está no excesso de explicação
Que por simpatia ou até compaixão
Pelo povo que se diz maltratado,
Um poderoso pretende denunciar
Um paralelismo ou sequer uma igualdade
Bem longe da realidade.
Mas os pastores são horríveis a vingar-se,
Autênticos lobos ferozes a rebelar-se,
Contra o pobre lobinho definhado.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A ambiguidade na Eternidade

A duplicidade é uma característica
Tão usual no homem
Que, sem perceber de Estatística,
O próprio Esopo,
Do mundo observador,
Com ela enfeitou
Uma hiena e a pintou
Transportando, traidora,
Ora um sexo ora outro,
Segundo lhe apetecesse,
Ou no bestunto lhe desse,
Para melhor conviver
A enganar, a torpedear,
A limpar velhas carcaças
Dos animais mortos na selva
E em seguida gargalhar
No banquete do seu apetite,
Mesmo sem doces passas,
A festejar:

«A hiena e a raposa»
«Diz-se que as hienas,
Cuja natureza
Todos os anos muda,
Num hibridismo de fraca beleza,
Ora são machos ora são fêmeas.
Uma Hiena, encantada
À vista duma formosa Raposa,
Censurava-a por não ceder
Às suas tentativas para a seduzir,
Quando ela, Hiena, só desejava
Ser sua amiga dilecta.
“Não me censures tu a mim,
- A Raposa lhe respondeu,
Que não era nada pateta -
Mas sim,
À tua natureza dúbia
Que não me permite esclarecer
Se minha amiga ou meu amigo
Quererás ser!”
É a pessoa ambígua
Que a fábula pretende atingir.
»

Ora aqui está como se pode tão bem descrever
Uma sociedade de grande capacidade
Para a ambiguidade,
Sem citar nomes próprios,
Coisa que é mais da Justiça,
Ou dos Jornais, recolher!
Bem se diz, para resumir,
E isto sem contradições,
Que quem vê caras não vê corações.
Mas por isso mesmo vivemos
Numa época de muitas discussões,
As mais das vezes sem apelações.
Porque na pátria amada
A ambiguidade é protegida
Sobretudo se bem engravatada.

Seria já assim também
No tempo de Esopo,
Um homem tão de lá d’além,
De tempos tão recuados
Quando ainda não se haviam
Formado antepassados?
Mas estou em erro: Porque afinal
As sereias do Ulisses
Também estavam prontas
Para causar-lhe mal!
E a serpente bíblica
Fez-nos sair do Éden
Para o desterro terreal!

A ambiguidade, é verdade,
Nasceu
Sob a capa da suavidade
E nunca morreu.

sábado, 21 de janeiro de 2012

“Ele e a sua Maria”

Pouparam!” - disse a minha amiga, presa de admiração.
Eu também manifestei a minha. Os nossos vencimentos não têm dado para isso, devido a factores adversos diversos, que existem em todas as famílias dependentes dos diversos factores adversos, geralmente sem reversos, mas por isso mais propensas à admiração e quem sabe se a um resquício de inveja pelos que, ao inverso, fizeram poupanças, como o nosso presidente que afirmou desde sempre ter feito poupanças, juntamente com a sua mulher, por serem ambos poupados, o que foi uma lição para os esbanjadores, que somos todos os do adverso.
Até nos pegámos, a minha amiga e eu, pois eu não aceitei bem os lamentos do nosso presidente e desta vez fui eu que o achei zezinho, que era uma designação muito dela, já eu lha criticara, pela simples razão da necessidade de deferência para com os nossos superiores, mas a minha amiga, não sei por que carga de água - talvez porque as provações incitam aos receios dos castigos divinos, embora ela ache que estamos mais dependentes dos castigos humanos, resultantes de factores controversos entre os quais uma calçada adversa, avessa aos pés calçados e muito mais aos descalços – a minha amiga, digo, embandeirou numa de generosidade e abertura, frisando que o nosso presidente pretendeu essencialmente mostrar que estava com os portugueses mal vistos em questão de finanças, irmanando-se com eles, por um dos vencimentos não lhe dar para as suas despesas familiares, omitindo, contudo, os restantes vencimentos que se diz que tem.
Ainda nos perguntámos se porventura o novo governo iria interceder junto das finanças no sentido de resolver o problema do nosso presidente, aumentando-lhe a reforma referente a esse vencimento, ou aconselhando-o antes a um menor despesismo em virtude da situação precária do nosso país esbanjador, contrariamente às atitudes poupadas do nosso presidente e da esposa, que se vê bem que é sua alma gémea nas poupanças e na reciprocidade da estima.
Na realidade, eu não me admirei muito da saída queixosa do nosso presidente. Somos um povo dado ao queixume e os nossos jornalistas bem fazem os possíveis por demonstrar isso, interrogando as pessoas sobre isso e as pessoas dando dados disso. Até me lembrei de uma observação do meu pai, nos meus tempos da infância, quando se encontrava em momentos de euforia, definindo o povo português através de uma expressão de expressivo chorinho: “Chora a mãe trabeculosa junt’à filha qu’agoniza”. Assim éramos, segundo o maroto do meu pai, que não gostava do fado gemido. Ainda somos, mas com o fado alcandorado agora a património da humanidade, por muito imaterial que se apresente. Mas o nosso choradinho dá sempre matéria a sempre ouvido canto – elegíaco - até mesmo em prosa, como fez Samuel Usque a respeito das tribulações do povo israelita, o que prova que não somos só nós a prantear-nos.
Ora porque havia o nosso presidente de ter um canto diferente? Eu própria acabei de exprimir um queixumezinho de desengano – ou de engano, nem destrinço bem - neste meu texto que pretendia ser de sentido humor!
Ninguém deve lançar pedras sem antes fazer exame de consciência, bolas, já Jesus disse!
Não há nada como a reflexão para nos compreendermos melhor.
E a consciência de que as poupanças do nosso presidente e da esposa lhes podem proporcionar uma velhice tranquila, encheu-nos, finalmente, as medidas. Até lhes dirigimos o canto dos aniversários, do íntimo dos nossos seres:
“Parabéns a você
Pela poupança obtida.
Muitas felicidades,
Muitos anos de vida.”

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

TERCEIRA GUERRA MUNDIAL?

Recebi um e-mail com um esquema mais ou menos bem articulado, e com imagens expressivas sobre a época que todos sentimos que estamos a viver, num mundo de ataque e opressão, e de reduzida defesa do número dos oprimidos em progressão contínua. Um mundo assustado num presente iníquo, de futuro incerto. Tem por título: “III GUERRA MUNDIAL”. Naturalmente que o esquema foi transformado, mantendo a forma esquemática, substituídas as setas por alíneas com outro formato e a ortografia segundo o modelo anterior ao Acordo Ortográfico, com as minhas desculpas para o autor do trabalho, que o não assinou.
Trata-se de um documento curioso, não sei se orientado segundo uma visão demasiado unilateral e negativa. Talvez que a hora seja antes de luta corajosa, mas este alerta serve para a criação de uma consciência clara dos factos. Ainda que o achemos incompleto nos seus parâmetros, que omitiram as palavras Pátrias e respectivas Histórias nacionais, nos objectivos gerais das intenções de destruição dos povos e organismos a ela votados. Serve de alerta para uma resistência possível, através das soluções pelo trabalho, a obediência, a fidelidade àqueles que se comprometeram a eliminar a crise.



«III GUERRA MUNDIAL»



«Criar uma nova ordem mundial
VALORES:
Eliminar: Bem-Estar e Qualidade de vida
Substituir por: Ganhar Dinheiro.
POLÍTICA
Eliminar: Democracia do povo.
Substituir por: Ditadura dos mercados.
MEIOS
Eliminar: Educação; Saúde.
Substituir por: Bancos; Bolsa.
ORGANIZAÇÃO:
ESTADO MAIOR:
Grupos Financeiros Mundiais:
MERCADOS --> EXÉRCITOS:
Exército Financeiro: WALL STREET
Exército Especulativo
Exércitos:
IFC (International Finance Corporation); FMI
Exércitos Mundiais: Bank of America; Banco Central Europeu

Primeiras frentes de batalha na Europa:
National Bank of Greece; Banco de Portugal; Bank of Ireland; Banca d’Italia; Banco de España

PLANO ESTRATÉGICO
OBJECTIVOS:
Conquista de todos os capitais, bens e fontes económicas .
MERCADOS: Estado Maior: Coordenação das diferentes batalhas:



LOGÍSTICA
Objectivos:
Proporcionar os meios para custear todas as despesas.
GUERRA PSICOLÓGICA
Objectivos:
Mentalizar o povo para a inevitabilidade de pagarem cada vez mais.
ESTRATÉGIA
Objectivos:
Conquistar todos os capitais, bens e fontes de produção.
TÁCTICAS
Objectivos:
Dominar todos os sectores da economia do país-alvo.
SABOTAGEM
Objectivos:
Sabotar toda a economia do país-alvo.


OPERAÇÕES ESPECIAIS:
Objectivos:
Conquista do poder político, económico e financeiro do país-alvo.

1. LOGÍSTICA
Adquirir receitas a partir das seguintes fontes:
1 – Negócio mundial da droga
2 – Negócio de venda de armas
3 – Juros dos empréstimos sobre a dívida soberana dos diferentes países sob ataque
4 – Venda de influências
5 – Vendas de apoio ao mundo do crime

2. GUERRA PSICOLÓGICA
1- Mentalizar o povo para a inevitabilidade de pagar cada vez mais.
2- Aproveitar a vaidade e a inveja das pessoas e enaltecer o despesismo e os pedidos de empréstimo aos bancos.

Centros de mentalização:
Rádios, Jornais, Revistas, Sondagens, Agências de Ratings.



Militares da Guerra Psicológica:
Políticos, Realizadores, Economistas, Comentadores, Jornalistas.


Bases da actuação da guerra psicológica:
1 – NÃO FALAR em:
- Desemprego, Fome;
- Despedimentos, Falências;
- Aumentos de impostos e baixa de ordenados;
-Dívidas, Incumprimentos, Mentiras do Governo;
- Juros, pedidos de empréstimo dos órgãos do Estado ( são “Oferta Pública” e “Apoio Financeiro”;
- Produtividade, Agricultura, Pecuária, Pescas, Indústria, Comércio;
-Importações, despesismo do Estado, vencimentos dos políticos;
-Manifestações, Greves, Off-shores, Corrupção, Justiça;
- Povo, País, Pátria, Federação Europeia (só “União” monetária), Democracia;
- Partidos e políticos que não são Neo-Liberais.

2 – DESVIAR AS ATENÇÕES para:
- Futebol;
- Figuras públicas da “Socialite”
- Pequena criminalidade;
- Modelos e Desfiles de Modas;
- Controvérsias, Mesas Redondas;
- Telenovelas e Concursos da TV;
- Programas de culinária.

3 – ULTRA-PUBLICITAR:
- Cotações da Bolsa, Lucros bancários, FMI, BCE;
- Economistas e políticos Neo-Liberais;
- Presidentes de Bancos;
- Vida e obra dos mais ricos;
- “Maravilhas” da liberdade dos mercados.

3. ESTRATÉGIA de CONQUISTA: Conquistar todos os capitais, bens e fontes de produção.
1 – Conquistar (comprar acções) todos os bancos, e grandes empresas, para manipular o aumento progressivo das taxas de juros;
2 – Conquistar (comprar) ou destruir todas as fontes estratégicas (água, electricidade, gás, petróleos, agricultura, pecuária, pescas, indústria, comércio), aumentando progressivamente os preços, para que se peçam empréstimos aos bancos para se poder sobreviver;
3 – Contratar mercenários (políticos, governos) para criarem legislação favorecedora do capitalismo, criarem dívida pública, aumentando os impostos e baixando os salários para pagar os juros desta e para que as pessoas recorram ainda mais ao crédito bancário, até ficarem sem nada.

4- ESTRATÉGIA DA TERRA QUEIMADA:
1 – DESTRUIÇÃO DOS BENS PRIMÁRIOS DE PRODUÇÃO (agricultura, pecuária, pescas, indústria, comércio): Porque eles podem ganhar dinheiro, não necessitando de contrair dívidas bancárias, ou para pagar os juros e amortizações das dívidas contraídas.



Utilizar os governos mercenários para:
-Legislar, levantando dificuldades à criação de empresas;
-Desenvolver burocracias com demoras, autorizações camarárias e ambientais, planos municipais, vistos, licenças, taxas, etc.;
- Aumentos sucessivos dos preços de matéria-prima, combustíveis, electricidade, água, gás, etc.
- Aumentos dos preços dos meios de transporte (rodoviários, ferroviários, marítimos, aéreos), portagens;
- Liberalização da acção dos intermediários, para os preços irem aumentando, a procura reduzindo-se e as empresas de bens primários falirem;
- Criação de monopólios e empresas subsidiadas para levarem a concorrência à falência;
- Aumentos sucessivos nos impostos e taxas; Inexistência de seguros adequados às necessidades.

ESTRATÉGIA DA TERRA QUEIMADA:
2 – LIBERALIZAÇÃO DO MERCADO DE EMPREGO: Reduzir ao máximo as capacidades de sobrevivência para que as pessoas empregadas tenham que pedir empréstimos aos bancos.
O patrão pode despedir quando quiser.
O empregado tem medo de ser despedido.


O empregado aceita tudo: Escravatura laboral, baixo salário, assédio sexual, 12 horas trabalho por dia, etc.
O empregado não aceita:
DESEMPREGO
MÃO-DE-OBRA BARATA (Falta de dinheiro Para sobreviver) --> PEDIDO DE EMPRÉSTIMO AO BANCO

ESTRATÉGIA DA TERRA QUEIMADA:
3 – ELIMINAÇÃO DOS MEIOS DE ASSISTÊNCIA PÚBLICA: Retirando às pessoas tudo o que seja serviços gratuitos, são obrigadas a pagá-los e para isso têm que recorrer aos empréstimos bancários.

A - FUNÇÃO PÚBLICA, Ministérios, Serviços Municipais, Empresas Público-Privadas, Empresas com Participação do Estado, Empresas com Aval do Estado, etc:
Nomear ou fazer eleger governantes e administradores neo-liberais e incompetentes, para levar estas instituições à beira da falência, para pedirem empréstimos aos bancos e, posteriormente, serem penhoradas por eles.
B – EDUCAÇÃO:
1º Objectivo: A formação do cidadão consumidor, acreditando em toda a propaganda dos meios de informação e sequioso de empréstimos bancários;
2º Objectivo: Baixar progressivamente a qualidade do ensino, para se obter mão-de-obra barata;
3º Objectivo: aumentar progressivamente as propinas para levar os pais a contraírem empréstimos nos bancos.

ESTRATÉGIA DA TERRA QUEIMADA:
C – SAÚDE:
Aumentar progressivamente os preços de consultas, medicamentos e hospitalizações, das taxas e descontos para os Serviços de Saúde, ao mesmo tempo que se vão fechando hospitais e Centros de Saúde, obrigando as pessoas a fazer seguros de saúde e a recorrer a empréstimos bancários para se poderem tratar.
D – REFORMAS: Atribuir subsídios e pensões a quem nunca contribuiu e pensões elevadas aos políticos, para retirar dinheiro dos fundos de pensões, ao mesmo tempo que se vai aumentando a idade para a reforma (“Esperança de Vida”) e baixando progressivamente as pensões, até não haver dinheiro, obrigando as pessoas a fazer seguros de reforma junto dos bancos ou companhias de seguros.
E – TRANSPORTES: Ir destruindo progressivamente tudo o que sejam transportes públicos, aumentando os preços, portagens, taxas de estacionamento, eliminação de carreiras, etc., obrigando as pessoas a contrair empréstimos bancários para adquirir viatura própria.
D – MULTAS: Aumentar progressivamente as multas, coimas, juros de mora, custos e demoras na justiça, para criar nas pessoas sentimentos de culpa e as obrigar a recorrer a empréstimos bancários para poder satisfazer aqueles pagamentos.

Estratégia da “Autodestruição”
4 – FOMENTO DA ESPIRAL DE ENDIVIDAMENTO:
Levando as pessoas, empresas e governos ao despesismo exagerado, aos pedidos de empréstimos bancários para pagar o despesismo, a contrair novos empréstimos para pagar os juros dos primeiros e assim sucessivamente até ao escoamento final de qualquer mais-valia.

Estratégia Defensiva:
5. PREVER E ANULAR A REACÇÃO E O CONTRA-ATAQUE DO INIMIGO:
1º – Prevenir contra a UNIÃO DO POVO (dos partidos, dos sindicatos, do País, da União Europeia). - “A união faz a força”, podendo-se estabelecer uma frente que resista ao ataque da exploração e especulação capitalista.
2º – Prevenir contra a DEMOCRACIA (nos partidos, no País, na União Europeia). - A democracia pode levar ao poder políticos competentes e incorruptíveis, fazendo frente ao ataque capitalista; - A renovação democrática, elegendo sempre novos governantes, dificulta muito a sua corrupção.
3º – Prevenir contra a HONESTIDADE (de todas as pessoas, empresas, políticos e governantes). - O que impossibilita por completo a sua corrupção e proporciona uma justiça isenta no combate à corrupção, à exploração, à extorsão, ao roubo, à falsificação, a incumprimentos e mentiras.
3º – Prevenir contra a COMPETÊNCIA (de todos os políticos, governantes e outros actores do Estado). - A competência leva os responsáveis a prever, precaverem-se e actuar de imediato, sempre que se defrontam com a especulação capitalista.
Nestas situações, actuar com:
INFILTRAÇÃO, CORRUPÇÃO, SABOTAGEM e OPERAÇÕES ESPECIAIS.

4. TÁCTICAS
TÁCTICAS DE TERRORISMO,
para dominar todos os sectores da economia do país-alvo.
1 – RIVALIDADES E CONFLITOS: Colocar todos os grupos sociais uns contra os outros (patrões/empregados, classe média/classes baixas, governos/oposições, Benfiquistas/Sportinguistas, funcionários públicos/trabalhadores de empreses particulares, etc.),
2 – CONTRATOS RUINOSOS: Colocar todos os grupos económicos (bancos, empresas privadas, público-privadas, municípios e outros) estabelecendo contratos, escrituras e acordos com o Estado, subornando os governantes para que sejam ruinosos para o país-alvo.
3 – SUBIDA PROGRESSIVA DOS JUROS: Ordenar aos bancos para fazerem empréstimos com juros não especificados, aumentando-os progressivamente, de modo a fazer acelerar a espiral de endividamento.
4 – MANIPULAÇÃO DOS RATINGS: Ordenar às agências de rating (Moodys, Fitch, etc.) para irem baixando progressivamente o nível de Creditação do país-alvo e dos seus principais bancos e empreses.

TÁCTICAS
5 – SUBORNOS: Subornar políticos e governantes para que façam regredir e destruir toda a economia, para que o Estado peça cada vez mais empréstimos (dívida soberana).
6 – SUBIDA DE PREÇOS: Formar monopólios e cartéis, para fazer subir progressivamente a carestia de vida (sobretudo os preços dos bens essenciais para a produção e para a alimentação (obrigando o endividamento).
7 – DESPEDIMENTOS E BAIXA DE VENCIMENTO: Subornar os políticos e governantes para fazerem leis que facilitem os despedimentos e, ao mesmo tempo, ordenar às empresas que despeçam trabalhadores e promovam uma situação de baixa progressiva dos vencimentos, de modo a terem mão-de-obra barata e fazendo deste modo acelerar a espiral de endividamento.
8 – SUBIDA DE IMPOSTOS: Subornar políticos e governantes para fazerem subir progressivamente o nível de impostos (IRS, IRC, etc.), para tornar incomportável a sobrevivência, levando as pessoas e empresas a endividarem-se cada vez mais.

5. SABOTAGEM
Sabotar toda a economia do país-alvo.
1 – Sabotar todas as fontes de produção: Comprando, destruindo, deitando fogo, levando à ruína todos os meios de produção da auto-suficiência: agricultura, pecuária, pescas, indústrias, comércio, etc.
2 – Sabotar todas as formas de controle de preços: Criando monopólios, intermediários, e outras formas de fazer subir sistematicamente os preços do que for produzido ou importado.
3 – Sabotar a Economia: Facturação falsa, aldrabar a contabilidade, desfalques, roubos, desvios para off-shores, etc.
4 – Sabotar as Finanças: Contabilidade fraudulenta, mentiras ao Fisco, recibos forjados etc.
5 – Sabotar todos os organismos do Estado: Contratos, acordos, escrituras, burlas, intrujices, e tudo o que seja lesivo do Estado.

6- SABOTAGEM
6- Sabotar todos os planos governamentais: Corrompendo, ameaçando, prometendo, os políticos para que não criem planos de desenvolvimento económico.
7 – Sabotar todos os planos de equilíbrio da economia: Corrompendo e ameaçando os políticos para que criem planos ruinosos: Parcerias público privadas, TGV, aeroportos, super auto-estradas, pontes, submarinos, perdão de dívidas fiscais, subsídios a bancos, a fundações, etc. Fomentar a vaidade, ostentação e inveja dos políticos, (através dos meios de informação), para que eles entrem em despesismos incomportáveis.
8 – Sabotar todos os planos de contenção de despesas - Corrompendo, ameaçando, prometendo, para que os políticos não criem planos de desenvolvimento económico.
9 – Sabotar todas as empresas: Fazendo o Governo legislar em aumentos de IRC, IVA, e todas as outras taxas, de modo a levá-las à falência.
10 – Sabotar os preços dos bens essenciais produção: Tomar conta das grandes empresas e monopólios (água, electricidade, gás, gasolinas, transportes) para aumentar incomportavelmente os seus preços.

7. OPERAÇÕES ESPECIAIS
Utilização de operações especiais secretas, RECORRENDO A TODOS OS MEIOS, para se conseguir o controle de todo o poder político, económico e financeiro do país-alvo.
1º Nível: Suborno dos políticos
2º Nível: Falsificação de resultados eleitorais
3º Nível: Atentados aos governantes
4º Nível: Terrorismo
5º Nível: Insurreição
6º Nível: Revolução

QUADRO ACTUAL DA III GUERRA NA EUROPA

- VITÓRIAS CONSEGUIDAS:
Aumento imparável da espiral das dívidas de cada país-alvo: Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália.


- OBJECTIVOS SEGUINTES:
1º - Levar estes países-alvo à espiral de pedir mais empréstimos para pagar os juros das dívidas actuais e assim sucessivamente;
2 – Estender a frente de batalha, progressivamente, aos outros países europeus.


FIM
… o nosso»

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

“O que vale é que o nosso lixo é biológico”

Vendo o meu desassossego ao expor-lhe a questão do lixo segundo classificação de mais uma agência de rating, a minha amiga quis acalmar-me, soltando a frase do título em crónica: “O que vale é que o nosso lixo é biológico”.
Fiquei mais tranquila, pensando em reciclagem e na nossa conversão utilitária, segundo os parâmetros de Lavoisier a respeito da transformação que tudo sofre, sem nada se criar nem perder na natureza, embora os cinco filhos que eu criei me levassem sempre a duvidar da viabilidade de tal frase, retirando-me a consciência da minha importância criadora e da dos que vejo à minha volta que também criam, às vezes até em berço dourado, o que é muito exaltante para a auto-estima.
Mas apesar de reciclável, segundo o comentário da minha amiga, embirro com a transformação em lixo com que designaram o nosso rating bancário, sem respeito por aquilo que fomos e que ainda somos, todo um passado que nem sempre foi remendão e que produziu gente capaz de façanhas e artes a que se devia ser mais sensível, tanto cá como na Grécia, como em outros povos que as tais agências rebaixam sem qualquer resquício de respeito, provavelmente bem remuneradas pelos que lhes encomendam os estudos sobre os valores económicos de cada país.
- Que raio de desplante este das tais agências! Não significarão elas o lixo, a escória de uma sociedade moderna que destrói carreiras e funções, com um à vontade assustador, comandadas pelos povos que dantes destruíram corpos e nações pela força do seu poderio bélico?
Mas a minha amiga não se sentia abatida hoje, não quis alinhar em raivas de impotência. Até porque lemos no DN de sexta, 12, a expressiva frase “Como vender Portugal lá fora!” que a mim, inicialmente causara engulhos, eliminados estes com as referências fotografadas aos empresários portugueses bem sucedidos cá como no estrangeiro.
A minha amiga até deu pormenores sobre empresas portuguesas com êxito na Holanda e concluiu com ternura:
- Jerónimo Martins não está sozinho. Para mais é um homem de categoria. Dá emprego a muitos portugueses. O problema é que os ricos estão a pôr o dinheiro lá fora.
E eu não pude dizer mais que “Pois!”, porque a minha amiga continuou a dar pormenores e sobretudo a lançar uma vez mais a sua velha teoria sobre o sol português que se devia vender ao grama, mas nem isso se fizera, pois que a auto-estrada para o Algarve fora a última a construir-se.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

“Ociosidade” remunerada

Entre os vários temas abordados pelo sociólogo Alberto Gonçalves, que assina, no Diário de Notícias a rubrica “Dias Contados”, neste domingo, 8/1, intitulada “A Grande loja irregular”, conta-se o intitulado “Adeus Português”, que não resisto a transcrever, uma vez mais inutilmente, mas admirando a coragem de quem ousa esgrimir contra aqueles homenzinhos que, na sombra das suas banquinhas de estudiosos de duvidosa dimensão, com a conivência dos patrõezinhos ambiciosos que são – ou foram - os nossos governantezinhos subservientes aos países potentes – talvez prepotentes também, mas cuido que sobretudo agradados das vénias dos descendentes dos que em tempos os descobriram com só as curvaturas dos esforços espinais para neles se fixarem e transmitirem a língua e a cultura da universalidade dos clássicos da sua ancestralidade – se dispuseram a desrespeitar a sua própria língua, ajavardando-a com as regras da sua deformação moral e intelectual.
Segue o texto, datado de Segunda-feira, 2 de Janeiro:


«Adeus, português»
«É fascinante que um pequenino bando de ociosos tenha decidido corromper a língua de milhões. O fascínio esvai-se quando se percebe que os ociosos atingiram os intentos. O Acordo Ortográfico, criação de arrogantes com uma missão, é oficial e está aí, perante a complacência dos poderes públicos em princípio eleitos para defender o país e não para o enxovalhar deliberadamente.
Até hoje não se percebe a serventia do dito Acordo. A partir de hoje, também não se irá perceber. Ao que consta, a ideia seria “unificar” a escrita de todos os países de expressão portuguesa. Naturalmente, ficou muito longe disso. Ainda que não ficasse, onde estaria o ganho? Por mim, os brasileiros e os moçambicanos são livres de adoptar o húngaro sem que eu os censure ou sequer note a diferença. Não sou brasileiro nem moçambicano. Sou português e, não fosse pedir demasiado, dava-me jeito redigir na língua em que cresci. À revelia da proclamação gratuita de Fernando Pessoa, "a minha pátria não é a língua portuguesa". Mas a minha língua é.
Em abono dos Malacas Casteleiros e restantes conspiradores do Acordo, é verdade que semelhante aberração não caiu do céu. A repugnância que esses senhores dedicam às palavras, e que os leva a esventrá-las sem escrúpulos, encontra um ambiente hospitaleiro na sociedade em geral, a começar pelos políticos que avalizaram a vergonha lexical em curso. Dificilmente os sujeitos cuja retórica é um amontoado de “alavancagens” e “empoderamentos” travariam a degradação do vocabulário.
E o resto não melhora. Da televisão às SMS, do Facebook à escola, pouco, quase nada, nos lembra que comunicamos no mesmo idioma do referido Pessoa. Assistir a um “telejornal”, ler um texto produzido pelo universitário médio ou espreitar os padrões do romance contemporâneo indígena é descer a jargões e graus de analfabetismo abjectos, com ou sem “c”. Porém, se os maus-tratos à língua já eram habituais, não eram obrigatórios. E essa é a diferença entre temer pela vida de um moribundo e assinar, oficial e urgentemente, o respectivo óbito.»
O que é fascinante é o texto de Alberto Gonçalves, na sua frontalidade desafiante e na clara expressão dos seus argumentos críticos. Apenas julgo que o tal bando de ociosos vendeu a sua ociosidade a quem de direito, indiferentes aqueles à traição de que haviam sido incumbidos e com a qual, aliás, o país pouco se ralou, justificado o motivo com as razões de incultura que o sociólogo apresentou, às quais outras se poderiam acrescentar. Também do foro espiritual. De carência, está visto.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

“Eu não me interessa que usem avental”

- Isso é lá com eles! Que sejam ridículos à vontade deles. Isto não sou eu que digo, tenho lido.
- E ouvido!
- Acudi eu muito depressa, a mostrar que também estou a par do assunto, actualmente na berra. Mas a minha amiga não me deu ouvidos, fez questão de continuar a ser ela a contar:
- Isso do avental não faz diferença a ninguém. O pior é o resto. Está-se a descobrir que o resto é escandaloso. Ou os metem na política ou os levam para os mações. É tudo secreto, com o avental imprescindível. Afinal, fazem parte da família, gente muito rica que manda nos outros. Os ricos querem assim, faz-se assim.
Achei o monólogo da minha amiga também algo eivado de secretismo, não sei se por simpatia com o que sempre acompanhou os mistérios ligados à maçonaria, mas fui respondendo que antigamente a maçonaria tinha a ver com os bons sentimentos, com o respeito pelas virtudes e pela igualdade e fraternidade entre os homens, como o rei Artur, aliás, também já tinha tentado estabelecer, embora só entre os seus pares da mesa redonda, por não haver mações na altura, que têm a ver com os construtores das catedrais medievais, segundo leio na Internet, embora os secretismos sibilinos, ligados às práticas místicas do ocultismo sejam velhos como o mundo.
Parece que a maçonaria actual está mais ligada ao capital, ao contrário da maçonaria anterior, mais ligada ao espiritual, ao intelectual, e a prova é que Garrett também lhe pertenceu com todo o seu coração de liberal progressista, no final da vida não resistindo, contudo, a fazer-se intitular visconde, o que sempre consistiu, para mim, uma mancha à sua aura de escritor modernista que sempre admirei.
O poder do ouro ou das honras exerce indiscutivelmente uma atracção fabulosa sobre os homens, os mais imunes, e é por isso que acontecem essas coisas obscuras, feitas pela calada, nessas sociedades do avental, mas também de colar e luvas, que até têm Lojas, o que as torna sensíveis ao comércio e aos lucros.
A sociedade cruel quer que os mações declarem as suas ligações secretas por conta da transparência, mas tudo isso não passa de faits divers sem consequência.
Lembro o “Clube dos Poetas Mortos”, em que os alunos do professor amigo da liberdade humana mandava destruir os livros de aprendizagem seguidos pelo sistema educativo do colégio - (o que sempre achei uma acção pedante e idiota, por muita aura que desse ao professor destruidor, junto dos alunos naturalmente receptivos à rebeldia "genial") - para que os alunos adquirissem a sua autonomia de pensamento, e os alunos até formaram o seu grupo secreto, com rituais e leituras secretas. A sociedade repressora do colégio e não só, sacrificou o professor liberal e um dos alunos, que se suicidou, devido à incompreensão familiar.
Não vamos nós agora condenar os nossos mações, só porque têm rituais de que não dão conta a ninguém. A verdade é que se sabe que eles trepam na vida por conta desses jeitos piedosos dos seus rituais secretos e isso é importante. A vida está complicada na questão do emprego, e pelo menos esses podem safar-se. Que os aventais deles até são bonitinhos.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

2012 em euforia, na nossa mitologia

O mito das duas irmãs amicíssimas
– Procne e Filomela –
E de Tereu, casado com aquela,
Mas que violou esta por amor dela,
E lhe arrancou a língua para que ela,
Tagarela,
Não contasse àquela a esparrela
Com que este a desgraçara
- Pobrezinha dela! -
E que afinal redundaria na transformação
- E Deus nos livre de tal mistificação! -
Das duas irmãzinhas
Tão amiguinhas,
Em avezinhas
- Um rouxinol e uma andorinha –,
Está sugerido na fábula que segue,
Do La Fontaine,
“O Milhafre e o Rouxinol”.
Mas também se suspeita que Tereu
Foi feito poupa, por culpa sua,
Da incontida paixão,
Pela bela Filomela,
Já anteriormente, aliás,
Castigado pela esposa Procne
Que lhe cozinhou o filho
E o fez comê-lo,
- Pobre rapaz! -
Num horroroso acto de canibalismo
Ou talvez antes por ancestral
Desumano e vingativo
Maquiavelismo
Próprio do homem
Seja velho ou jovem,
O que já Medeia,
Em vingança rude e feia,
Fizera ao seu Jasão,
E como Santo António atacara
Nos seus peixes comilões,
De repugnante piscifagia,
Que é como quem diz antropofagia,
Segundo Vieira bem lembrou
Naquele tal seu Sermão
Barroco de construção
E, se não, de concepção
Como é nossa condição.
Vejamos a alegoria:

«O Milhafre e o Rouxinol»
«Depois que um Milhafre, ladrão de forte presença
Espalhou o alarme em toda a vizinhança,
Fazendo gritar contra ele os meninos da aldeia,
Um Rouxinol caiu desgraçadamente
Nas amarras das suas garras.
Suplicou-lhe a vida, o arauto da primavera:
“- Pois bem, comer o quê em quem não tem
Senão o trinado som? Quimera bem bera!
Para não lhe chamar burra.
Escutai antes a minha canção:
Contar-vos-ei de Tereu e da sua ciumeira.”
“- Quem é esse Tereu? Será uma iguaria,
Dos milhafres fantasia?”
“- Nada disso; foi um rei cujo violento amor
Me fez sofrer o seu criminoso ardor.
Vou cantar-vos uma canção tão bela
Que vos enleará. O meu canto de truz
A todos apraz.»
Então, lhe replica o Milhafre, sem pejo nenhum:
“- Na verdade, chegámos ao ponto do conto:
Quando estou em jejum,
Vens falar-me em música, pobre Filomela?!
“- Assim falo eu aos reis!”
“- Quando um rei te apanhar, maravilhas lhe recitarás.
De um milhafre, só risos receberás.
Ventre esfomeado não tem orelhas,
Dizem as velhas.»

E assim foi
Que o milhafre previdente
O papou como soe:
Gostosamente.
Mas os nossos milhafres roazes
São bons rapazes.
Não comem rouxinóis
Nem andorinhas de arribação
Porque são
Estômagos exigentes,
Em almas sensíveis e crentes:
Não comem tudo o que lhes vem à mão.
Escolhem os pratos
Como escolhem os fatos:
Com requinte e muita atenção,
Discrição, perversão,
Merecendo de todos
A consideração
Que dá o saber fazer,
Com o saber dizer,
Dissimular, esconder,
Subtrair para somar,
E até mesmo guardar
Em paraísos fiscais
O que lhes sobra dos restos mortais
Dos animais
Que comeram por cá.
Espertos como não há
Que é outra a música deles!
E brutais,
Tais os nossos Imortais.
Afinal, normais,
No carnaval,
Deste nosso ancestral
Paul.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

“Ninguém enche o Pavilhão Atlântico”

1ºde Janeiro de 2012: O encantamento da música de Johann Strauss, em mais um Concerto de Ano Novo pela Orquestra Filarmónica de Viena, de manhã na RTP, revisitado à tarde no 2º Canal pela Eurovisão, em ondas de beleza, elegância, euforia e competência dos músicos, cantores, bailarinos, tão expressivamente dirigido pelo maestro – Mariss Janson, - para o mundo inteiro.
Em simultâneo, a íntima decepção de que nenhum dos canais, que tão principescamente pagam aos seus apresentadores e animadores de televisão, alguns bem à custa do erário público, apresente programas não direi de idêntica dimensão feérica, índice de uma cultura estratificada por séculos de real humanismo, mas que contribuíssem para elevar o nível dos interesses culturais de um povo como o nosso, educado na desordem disciplinar e na apatia intelectual dela consequente. E o desejo de que a apresentação de espectáculos de música clássica, de peças de teatro clássicas retirados dos palcos nacionais também fizesse parte dos objectivos de ilustração, dos directores das programações televisivas.
Mas lembramos positivamente o último programa “Reencontros” de João Maria Tudela, (transmitido em retrospectiva por Júlio Isidro, no TV Memória no final de ano 2011) de entrevista a duas figuras nacionais de alto gabarito vocal – Carlos Guilherme e Luís Andrade, este último também responsável por programas de qualidade na RTP - e que contaram sobre alguns dos seus êxitos no estrangeiro, e mesmo cá, os três revelando uma severa consciência crítica sobre a fisionomia cultural de uma nação como a nossa, madrasta dos artistas a quem a idade vai arrumando na prateleira do esquecimento, excepção feita ao excelente animador cultural Júlio Isidro que por si só, e à imitação do que se faz nas televisões do mundo, vai não só chamando a atenção para esses, quer em entrevistas quer trazendo-os novamente à ribalta, desenterrando os programas em que se revelavam, como comentando comparativamente as deficiências e os êxitos dos espectáculos televisivos portugueses, num revivalismo de bom recorte comunicativo.
Falei à minha amiga hoje no maravilhoso programa austríaco e ela concordou a respeito das nossas carências clássicas. E logo referiu um outro programa nosso, que meteu uma orquestrazinha bem aprumada de um cantor nosso bem sucedido:
- Ninguém enche o Pavilhão Atlântico como o Tony Carreira. Tem uma família bonita, de gente que se ama, que serve de exemplo. Um espectáculo bem organizado, admiro aquela organização. Raparigas bonitas a tocar violino. Ele deve pagar bem à sua orquestra, deve gastar muito dinheiro. Aquilo é muita gente. Aquelas vozes fabulosas que a gente conhece não têm a mínima hipótese.
E congratulámo-nos com os êxitos de Tony Carreira, de orquestra bem à nossa medida. No Pavilhão Atlântico, sem espelhos nem tectos pintados. Sem as tais ondas de beleza disciplinada, mas com ondas de uma ternura piegas à nossa medida também, que somos sensíveis.
Para o ano, se lá chegarmos, esperemos que sim, somos confiantes, teremos mais Strauss pela Orquestra Filarmónica de Viena de Áustria.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Tempo de Aquilino

(Como resposta ao comentário do Tenente Coronel Adriano Miranda Lima sobre o nosso “status” de corrupção impune)
Aquilino Ribeiro, um escritor de forte estilo, de fortes palavras, de fortes experiências vividas, no seu combate literário de acusador de um regime que o acusou a ele. E as suas personagens populares são podadas à sua maneira, gente forte que se não verga, lobos que uivam na sua luta em medo mas em liberdade, simbolizados pelo velho pai de Manuel Louvadeus, Teotónio Louvadeus, de rija têmpera, vivendo num casebre da Rochambana, na serra dos Milhafres onde uivam os lobos com quem ele se entende e se confunde, quando manobrado por sentimentos de ódio e de vingança.
É o assunto de “Quando os Lobos Uivam”, gente da terra serrana que vai opor-se aos representantes do Governo que lhe expropria os terrenos baldios para plantar pinhais, terrenos donde esse povo de miséria conseguira extrair o seu sustento, cavando-o, fertilizando-o, semeando-o.
Vale a pena relê-lo, conquanto a história em si revele antes uma intencionalidade crítica de ataque ao mísero primitivismo de um povo e à ditadura vigente, no esquematismo do seu enredo em torno de Manuel Louvadeus, de regresso do Brasil, para onde emigrara, para a sua aldeia na serra dos Milhafres, em breve feito prisioneiro ao participar, embora cordatamente – o que não abonaria a seu favor, num tribunal de subserviência aos ferozes ditames políticos e policiais de então - na luta dos serranos contra as tropas do Governo, pretexto para um desfiar analítico de vários representantes de uma justiça cavilosa, facilmente vulnerável e ditatorialmente impondo as normas de uma jurisprudência pervertida pela unilateralidade política – “o poder sempre a tiritar as maleitas da autoridade, distribuindo, às cegas, pancadaria do cobarde. Ora, tratava-se de meia dúzia de parranas, arrebanhados a esmo na sarrafusca da serra dos Milhafres, para o Moloch da justiça ter seu pábulo ou iludir a fome, pouco se importando que pagasse o justo pelo pecador. E, modo de completarem o ramalhete subversivo, haviam-lhes adjungido um feixe de operários de Riba do Pisco, acusados pelos patrões multimilionários de terem, à ordem de Moscovo, pregado a rebelião, tomando como pretexto um bacalhau podre que lhes fora servido na cantina obrigatória e de que morreram envenenados uns tantos deles.”
(E não é que - ressalvando as importâncias da actualidade enriquecida - parece um excerto premonitório das discursatas acusadoras do presidente Chaves da Venezuela, sobre lúgubres tentativas norte americanas de disseminar o cancro por alguns nobres presidentes do vasto mundo terráqueo, que dele sofreram ou sofrem?)
São espantosos de descritivo sarcástico os retratos dos vários representantes da estrutura judicial desde os corregedores e o desembargador “homens no pendor da vida, fartos de roçar as calças nas cadeiras curuis, julgadores mecanizados à força de baldear processos para trás das costas”, sendo, embora, bons chefes de família, a um dos adjuntos que “reunia em si o tipo do magarefe, alto, membrudo, encarniçado de tez, e até no manejo do cutelo quando se tratava de aplicar a lei…” ou o outro assessor que “passava por ser o zero absoluto. Escorregadio e silencioso como o congro. Chegara à corregedoria pela insignificância, à parte a zumbaia. Pálido, seco, e de olhos gelatinosos. Solteirão e misógino. Prezava a disciplina na secretaria e a compostura na audiência. Réu que se mostrasse incivil ou cuja atitude não fosse de cortesia plena, avaliada pela maneira como se sentava, como abria a boca ou bocejava, como falava, como ria, apanhava a grossa talhada…. Em contrapartida, réu que lhe aparecesse com submissão de penitente, embora com a humildade do velhaco, só não seria absolvido se tivesse violado alguma freira ou fosse apanhado a surripiar algum bolo para matar a fome. Porque se, por um lado, era um catolicão até à medula, por outro, não admitia que se fosse pelintra. A propriedade para ele, homem com uma pequena reserva nos bancos e uma quintalória em Óis, representava a primeira instituição humana, criadora e dignificadora da personalidade, frase que lera algures e invocava a cada passo.”
Segue-se o Juiz em comissão: “De alta categoria, estrela e beta e pé calçado. Nascera para aterrador. Os advogados temiam-no quanto o detestavam. Igualmente os colegas, que davam jeitos do estimar e no fundo do peito tinham-lhe azar de morte...” E o retrato agressivo do juiz prossegue, à imagem – (exceptuada a leveza da ironia queirosiana) - do de um conde de Abranhos oportunista, que casa por conveniência e se move nos bastidores da alta sociedade, maneira comum das ascensões no Portugal de sempre.
Recordo este livro de Aquilino, que comprei para oferecer, no dia em que saiu, em 1958, e que seria retirado das bancas no mesmo dia, tendo-me acompanhado sempre a mágoa de o não ter comprado para mim.
Lembra-me “Le Silence de la Mer” de Vercors, como protesto contra a opressão. Mas enquanto este se lê dum fôlego, na densidade dos seus caracteres e na trama linear de uma acção com o desfecho trágico das histórias de amor contrariado pela oposição familiar ou política, “Quando os Lobos uivam” é um romance sem grande dimensão psicológica, num discurso riquíssimo manipulado com mão de mestre por um narrador omnisciente que move os cordelinhos da acção pelos vários lugares da acção – quer ela se passe na aldeia, quer no sertão brasileiro, quer na audiência em tribunal, quer na serra, ponto fulcral dos crimes de fogo posto e de morte de um traidor pelo velho Teotónio, serra onde, como epílogo da luta popular, “Nasceram menos anhos e cabritos (na serra dos Milhafres) e alargaram-se mais nos cotovelos e rótulas os rasgões da miséria ancestral, mas o Estado todo-poderoso, absoluto, levou a sua avante”… e onde “os povos tiritavam encardidos de pobreza e barbárie, incrustados nas suas orlas. Mas que importavam as vicissitudes dos velhos aglomerados e que fossem dignos de lástima os netos dos iberos e dos turdetanos?”
A intencionalidade crítica do regime ditatorial impõe-se, de um escritor amante da liberdade, cuja experiência de vida, aliada ao conhecimento da linguagem vernácula e da alma popular, transformam a acção épica em assombrosa denúncia de um país desde sempre atrasado, quer entre as classes populares, quer entre as classes mais desenvoltas economicamente, país cuja mediocridade de desajustamentos sociais e sórdida incultura cobre de manto infelizmente sem fantasia, a nudez forte dessa sua verdade eterna.
O comentário do Tenente-Coronel Adriano Lima a um texto do Dr. Salles da Fonseca “Ano Novo, Vida Nova”, ao lembrar a necessidade da luta contra a adversidade ou contra a corrupção instalada no nosso país, lembra a necessidade da Justiça para um combate eficaz contra essa corrupção:
«…Prefiro pensar que melhor será fincarmos os pés na terra chã e endurecer o coração para exigir justiça para com os autores dos desmandos de que todos estamos a sofrer as consequências. Fazer sentar no banco dos réus todos esses que se pactuaram para delapidar o tesouro público e deixar-nos de mãos estendidas como autênticos deserdados da sorte. Neste país, fazem-se manifestações para tudo e mais alguma coisa, menos para aquilo que, em nossa opinião, mais justifica uma forte e empenhada reivindicação nacional. Justiça, pedir Justiça. O povo deve vir para a rua em massa para simplesmente pedir Justiça. Justiça para os criminosos que metem as mãos nos nossos bolsos mercê das manigâncias da economia paralela. Justiça para todos esses salafrários que ainda ontem eram pouco mais que uns zés-ninguéns e hoje guardam em cofres inacessíveis os milhões que jorram neste país desde há mais de 20 anos. É preciso desmantelar de uma vez por todas as redes ardilosamente montadas entre políticos, escritórios de advogados e empresários sem escrúpulos para se apropriarem dos recursos que nos foram destinados para melhorarmos a vida colectiva. Sim, os sacrifícios e as privações que vamos sofrer são absolutamente necessários. Mas serão inúteis se continuarmos a viver nesta triste e lamentável passividade, em que, quais carneiros, recusamos a reivindicar Justiça. De facto, mesmo que venhamos a acertar as contas do orçamento e o controlo da dívida, nada, mas rigorosamente nada, fará progredir as nossas vidinhas se não houver uma atitude séria e enérgica pautada pela constância e continuidade, e não pelo imediatismo, e pautada por um alto critério de responsabilidade individual e colectiva, e não pelo porreirismo desculpabilizante que parece ser a nossa sina desde há séculos.»

Há muito que sabemos quanto a Justiça portuguesa está manietada, no volume e morosidade dos processos judiciais, na tortuosidade das suas ligações aos poderes económico e governativo.
Foi este apelo do Tenente-Coronel Adriano Lima a manifestações de rua pedindo o julgamento de tantos “salafrários” destruidores da Nação que me recordou o livro de Aquilino, não só pela parte da intervenção popular defendendo os seus direitos, como pelas tortuosidades nele referidas de julgamentos e julgadores.
Hoje em dia as manifestações de rua já não surtem efeito, dada a nossa dependência económica que o Dr. Salles da Fonseca tão bem esquematiza no seu texto.

Quanto a julgadores ou a julgamentos, a evolução em nada desmerece o passado aquiliniano, já não pelo defeito da omnipotência governativa, mas anquilosada a Justiça nos torpores da burocracia e no inextricável de uma rede de corrupção poderosa, que as liberalidades democráticas favoreceram, tendo como ponto de partida o súbito caudal de dinheiros concedidos como empréstimo, e por nenhum governo acautelados em gestão de decência.
Teremos que confiar nos propósitos reformadores dos novos governantes. Confiemos. Ou, parafraseando Salles da Fonseca, “Continuemos”.