sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A posição faz o ladrão


A seguinte fábula de Esopo
Sobre um cabrito e um lobo
Fora do estatuto normal
- O cabrito agasalhado, em lugar de amedrontado,
 O lobo a ver navios, todo abespinhado
Em vez de ameaçador
E de ar superior,
Representa um estado geral
Do nosso status social
Em que arrogância e cobardia
Se unem em harmonia
Sem qualquer alergia.
Vejamos a alegoria:

O cabrito abrigado e o lobo

«Um cabrito que numa casa se abrigava,
Um lobo injuriava
Que por ali estava a passar.
“Olha lá, ó seu palerma!
- O lobo lhe diz com calma -
Não és tu que me estás a insultar,
Mas a posição em que te encontras,
Nessa caverna protegida e erma,
Que te permite falar.”
A fábula mostra que muitas vezes
O desprezo manifestado em altas vozes
 Resulta de circunstâncias ocasionais
Anormais,
Mais do que dos poderes próprios
Individuais.»


Esopo o disse e nós aqui estamos,
Cabritos cobardes e espertalhões,
Protegidos pelas leis da democracia

Ameaçando, recalcitrando
Boicotando,
Os nossos agravos manifestando
Greves fazendo, os ouvidos fechando
E as consciências,
Só porque achamos
Que o Governo não governa
E cada vez mais nos enterra
Aliado que está a um compromisso
De pagar monstruosa dívida e que por isso
Revela extrema fraqueza
Que nos convém acentuar,
Ao aliar-se com a riqueza
Que só ela nos pode ajudar.
Mas as sabidas verdades
Convém-nos escamotear,
Hipocritamente fingindo ignorar
A conjuntura que nos pôs neste lugar,
Que só uma honesta gestão e sem demagogia,
Do lobo em má posição, mas com determinação,
Poderá  resolver com consciência
Embora alguma inclemência.
Que Deus nos dê paciência,
E que o lobo prossiga o seu caminho
Sem se esquecer do carinho.

 

 

 

Nenhum comentário: