domingo, 9 de setembro de 2012

Não pagam dívidas


Li num Correio da Manhã que estava pousado sobre uma cadeira do café e que pouco depois foi requisitado pelo dono, um senhor chinês perante quem eu me desdobrei em vénias e pedidos de desculpa da usurpação, por ter julgado que o C. M. pertencia ao dono do café, pouco habituada a que os chineses pousem o que quer que seja, em ar de desleixo ou desperdício, que é mais característico da nossa maneira de ser de abandono, mas o senhor chinês retribuiu a vénia mudamente embora sorridente, e levou o jornal, quase sem me dar tempo a tomar nota da noticiazinha que vinha num cantinho da última página, expondo que “Mário Soares sempre foi contra a austeridade”.
A minha amiga ainda estava a arrumar os seus aprestos, ou seja, apenas o saco do Pingo Doce para não ter que comprar outro, uma medida de poupança que eu muito admiro, pois, na ânsia de me escapulir para os breves minutos de liberdade fora de casa, longe das requisições e atribulações, enquadro-me na mesma linha de pensamento de M. S., esquecendo de me prevenir com os sacos da minha austeridade habitual.
Mas divagámos sobre o registo do C. M. a  respeito do não enquadramento de M.S. na linha austera do Primeiro Ministro P. C. e sobre a importância que a esse facto atribui o prestimoso jornal e todos os demais jornais do nosso burgo, que também atribuem, na mesma linha de pensamento e sensibilidade que os faz debruçarem-se sobre a tristeza de Ronaldo, não sei se por motivos de serviço público, pois todos gostamos que nos fartamos desses rumores de saias das Elvirinhas, para não lhes chamarmos Donas Elviras, que estas já estão fora de rodagem.
Soubemos assim, graças ao serviço público do C.M., que M.S. continua em forma, inimigo da austeridade, lembrando os belos tempos das suas belas viagens à Índia e a mais espaços terráqueos, sempre com alta comitiva, a abrir pistas económicas e de passagem passear-se nos animais de grande envergadura, elefantes ou tartarugas da sua destreza e diversão enternecedoras daquela época juvenil, viagens que também contribuíram para cavar os buracos que a austeridade de P. C. quer tapar sem mais aquelas, com a inimizade de todos os da linha de M. S., que são muitos, embora alguns deles também já tenham chamado a M. S. coveiro – um dos muitos – da Pátria, mas num sentido mais sepulcral, pois que os buracos actuais têm um sentido de negrume de galáxia, apesar de tudo, mais temível, por falta dos santos óleos da Extrema-Unção.
E ali ficámos, a minha amiga e eu, presas em tristes congeminações sobre as eternas falácias de uns humanos que, na cegueira das lavagens ao cérebro que uma falsa ilustração provoca, na superficialidade e sofisma das suas premissas, mantêm eternamente a aura, concedida, é certo, igualmente, neste nosso país de calor e combustão – de matas incendiadas - com idêntico impacto, às tristezazinhas do nosso craque futebolístico.

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