domingo, 26 de agosto de 2012

Uma família inglesa


- Tudo é espetado nas revistas, na televisão, nos jornais, na Internet começou a minha amiga, a propósito das fotos que topou de um neto da rainha Isabel II, o príncipe Harry, filho mais novo de Carlos e Diana. Todo nu, a fazer sexo com uma rapariga, isto para a família deve ser vergonhoso. Hoje não se pode fazer nada. É uma coisa que toda a gente sabe. A Internet é a autoestrada do conhecimento. Até o rabo do príncipe lá mostra. Mas a coisa mais engraçada é levar a coroa da avó. Se as pessoas tivessem vergonha já nem conseguiam viver. Vergonha é uma palavra que vai desaparecer. Daqui a uns anos os miúdos perguntarão: “Vergonha o que é que quer dizer?”
- Ai, mas os miúdos perguntam sempre tudo, pelo menos quando são curiosos. Há os que se fecham na ignorância. E também os que já sabem tudo e não admitem explicações.
Mas a minha amiga, quando está embalada nos seus actos locutórios - para aplicar uma expressão de cariz científico, mais consentâneo com a natureza solene do assunto versado, em torno de uma família real – nem se debruça para ouvir melhor, numa impassibilidade sintomática do desprezo pelo meu desconhecimento dos factos assinalados. Prosseguiu:
- Antigamente era mais discreto, as difamações faziam-se honradamente, quer por carta anónima, quer por ingénuo telefonema também aparentemente anónimo, embora facilmente identificável, depois veio a chusma dos paparazzi, que até causaram a morte da mãe do Harry, de tão empenhados… Eles agora fazem para a Internet. Está em todas as televisões. “Olha, o que é que vocês são mais que os outros?” É o que pensam os pesquisadores dos escândalos sociais. Aquele rapaz vai dar cabo da cabeça à família. Tem tudo à disposição, é simpático… Muita gente dirá que ele tem direito, é novo. Mas não sei se ele tem culpa ou não. Aquela gente sofre, realmente. Família sofre!
Eu considerei que aquela família inglesa já estava habituada há muito tempo e tinha dinheiro para apagar os efeitos dos seus escândalos e a minha amiga concordou, sem qualquer resquício de caridade:
- Eles têm tantas regalias, podem ter estas preocupações.
Também se falou nos escândalos do Vaticano e a minha amiga não deixou de exclamar:
- O que aquele Vaticano deve ter de histórias macabras! Foi preso o secretário do Papa. Cada vez as histórias são mais edificantes. Mas antigamente não saíam cá para fora.

Nesse ponto eu discordei, com os meus conhecimentos obtidos na adolescência, através de um livro do meu pai, escondido por trás dos livros lisíveis da sua estante, que era sempre eu quem arrumava para descobrir as preciosidades desse mundo encantado da nossa casa. Chamava-se “O Convento Desmascarado” e revelava muitas dessas coisas não propriamente edificantes, embora não pertencessem ao Vaticano.
Mas eu vinha impressionada de casa  com uma notícia que escutara nessa manhã, e ainda não tivera oportunidade de expor o meu desagrado. Era sobre um congressista norte-americano – Todd Akin – candidato a senador a quem ouvira um abjecto pedido de desculpas pela sua tese sobre o não necessário engravidamento das mulheres violadas, o que o fizera descer no favoritismo eleitoral.
- O candidato perdeu votos muito justamente, considerou a minha amiga. A menos que ele veja a situação desta maneira: No momento do acto, a rapariga que vai ser violada diz: “Pára aí!” E põe o preservativo de segurança.




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