domingo, 12 de agosto de 2012

Faz primavera


Afinal, a tão conhecida asserção
De que uma andorinha
Sozinha
Não faz a primavera
Ou mesmo o verão,
Que além de provérbio
Também virou canção,
Já Esopo a explorou
E outros antigos, que por ela
Pela andorinha ágil e bela
Que poisa à janela
Da casa amarela
Ou branca ou azul
De qualquer Cinderela,
A citou na sua fábula,
Sem balela, 

«O jovem pródigo e a andorinha»
«Um filho pródigo de nome António,
Que por acaso não era campónio,
Nem, valha a verdade, possidónio,
Tinha comido
Todo o seu património.
Não tinha mais que um casaco vestido
Quando avistou uma andorinha
Sozinha
Que aparecia fora da estação.
Adepto da opinião
Contrária à que afirma
Que uma andorinha sozinha
Não faz a primavera,
Julgou que a primavera
Já era
Só porque vira
A andorinha sozinha,
E que o seu casaco, por útil que fora,
Agora, na primavera,
Preciso não era.
Tratou de o vender
Para poder comer.
Mas pouco depois,
Como o inverno retomara
E ele gelava de uma maneira dura,
À procura
De alimento que lhe mitigasse a secura,
O jovem tropeçou no cadáver da andorinha
Inteiriçada de frio, coitadinha!
«Miserável! Disse-lhe ele,
Cheio de fel,
Causaste a tua perda e a minha!»
A fábula mostra
Que tudo o que vem fora da estação
É um risco de paixão
Que não tem salvação.»

Isso era a opinião de Esopo,
Mas o que se costuma agora dizer,
Para explicar a questão
Da primavera ou verão
Não assinalados por uma só andorinha
Desprezadinha,
É que às vezes essa é bastante
Para formar rede de gente
Em qualquer estação

Que se ocupa de questão pujante
Com resultado excelente
E sem risco extravagante
Para a parceria envolvente.
É como uma peste que lavra
Pelo restante da gente,
Que não faz parte da rede
Mas que vive a sua sede
De uma forma que fede.


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