quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Tudo perfeito


- Aquilo é tudo perfeito. Custa a crer a precisão daquilo tudo! Ena pá! Esta é que é a notícia do século! Uma notícia fabulosa!

Adivinhei logo que se tratava da colocação em Marte do robô-sonda Curiosity, que andou aos pulos antes de parar, protegido por airbags, e que provocou uma explosão de alegria nos cientistas e controladores americanos, assim que ela começou a enviar as imagens de Marte.

            A minha amiga não se calava com a notícia, pois é ferrenha nestas coisas de descobertas que sirvam o nosso conforto, embora eu por enquanto não consiga descortinar tais efeitos de progresso, a não ser a confirmação da inexistência de marcianos, que poderiam actuar como focos alienígenos de crise e guerra, para horror nosso, já massacrados com os focos próprios terráqueos. A menos que se descobrissem pedras preciosas ou outras coisas compensadoras, perspectiva que nos tornou ainda mais animadas.

Também pusemos a hipótese de construir em Marte, futuramente, o sítio de escoamento das escórias terrestres, mas a minha amiga mostrou-se reservada no capítulo das escórias, porque sabe quanto a reciclagem pode servir para limpar o nosso planeta e já andamos a fazê-la, sobretudo através dos incêndios purificadores. Para ela, as viagens a Marte dentro de vinte anos – não estaremos cá para ver – serão provavelmente os bem fornidos de matéria pagante a praticá-las, embora sem certezas quanto a esse dado, por causa da dívida reinante que os não isenta da responsabilidade nela.

A minha amiga, que admira sem rebuço o povo americano, que tanto tem contribuído para os prazeres espirituais e materiais do nosso mundo, não se cansava de falar na sonda, ainda que eu estranhasse que ela não referisse os custos estrondosos de empreendimentos destes, numa Terra em crise, mesmo nos potentes Estados Unidos.

Mas o nosso feito nacional conta, sobretudo para mim, mais do que a sonda em Marte e satélites, porque sou francamente mais patriota do que a minha amiga, que tem um génio forte, admirador dos fortes e desprezador dos fracos. Nos meus complexos de inferioridade patriótica, por não fazermos parte dos medalhados olímpicos, quando o fomos, finalmente, não em nau ou caravela mas em sofisticada canoa, por intermédio dos canoístas Emanuel Silva e Fernando Pimenta com a sua prata que nos projectou finalmente para a lista dos medalhados, dei o mesmo suspiro de alívio dos demais portugueses que já fazem, segundo leio, projectos para nos tornarmos em potência canoeira.

Fernando Pessa diria «E esta, heim?!», lembrando provavelmente o Dâmasozinho avesso a desconsiderações. La Fontaine e os outros mitógrafos ancestrais lembrariam a questão da rã e do boi.

Os inchaços fazem parte do nosso caminho de perfeição. Daí que a fé nos não abandone de também a atingirmos, de olhão sempre.




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