quarta-feira, 30 de maio de 2012

Les signes


Mais um texto poderoso de Vasco Pulido Valente, saído na Opinião do Público de 26 de Maio, historiando os factos de decomposição de um país desde os tempos do Ultimato, que a revolta badaleira do povo, a acrescentar à degradação financeira, conduziria ao regicídio e ao governo republicano caótico, de sucessivas  mudanças governativas, durante dezassete  anos, com mais quarenta e poucos de prudente estabilidade, e já quase quarenta a retomar o caos da falta de união e do interesse de todos em volta do osso pátrio, por descarnado que esteja.

É uma lição de história em que se deve atentar:

«O Ultimato da Inglaterra de 1890 e a crise financeira que veio logo a seguir em 1891-1892 fizeram cair a monarquia. Talvez que, por si só, passada a histeria do momento, o ultimato não tivesse chegado. Mas, pouco a pouco, a crise financeira desmantelou o regime. Primeiro, houve anos de governos constitucionalmente irregulares (como agora na Grécia e na Itália). E, dali em diante, quando se tentou voltar à “normalidade”, com um ou outro pretexto, os dois partidos “dinásticos” (o equivalente ao “centrão” desta nossa República) não conseguiram aguentar a sua velha coesão e acabaram por se dividir em facções, que tornaram Portugal ingovernável e a república certa. Quem julga que, passada a crise, em 2020 ou 2030, tudo voltará, como devia, ao seu sítio próprio, está muito enganado.

Os sinais já se vêem no comportamento do PS. Influenciado ou entusiasmado pela eleição de Hollande, o PS resolveu adoptar a retórica do “crescimento”: e proclama o “falhanço” da troika como se ele fosse uma espécie de triunfo privado, enquanto gaba os méritos de um “crescimento” imaginário, de que, de resto, não dá o mais leve pormenor e que, a existir, no essencial não depende dele. Mas nada disso aparentemente incomoda o sr. Seguro, que não hesitou em entrar numa pequena guerra com a maioria, para se decorar com uma vantagem “táctica” e em “descolar” da troika para exibir a sua independência. O sr. Seguro anda com certeza muito feliz, porque não percebeu ainda que prejudica o país com estas ridículas manobras e que, além disso, põe em  causa a existência do PS ou, se preferem, a estabilidade da  República.

As grandes coisas nascem das pequenas. Uma inclinação, ou mesmo uma simples vacilação, do PS para a esquerda pode provocar (e até já provocou) dissidências, não inteiramente inócuas, que tarde ou cedo tornarão a esquerda caótica e, na prática, impotente e que forçarão uma parte da direita para um populismo de sobrevivência. Nessa altura, Portugal não negociará com a troika, porque ninguém quererá negociar com ele. O Syriza é uma festa como foi o PREC, não é uma solução política. E os portugueses que sofrem, não apreciam com certeza as manobras de partido ou os puros sentimentos da “inteligência”, quando, em última análise, eles só servem para complicar a situação e não resolvem nada. A crise é um problema sério para pessoas sérias.»

Infelizmente, seriedade é o que menos se vê cá por casa. Muita lamúria, muita gritaria, pouca reflexão. A vitória de Hollande não contentou só Seguro que, levianamente, e usando sempre os mesmos discursos redondos, em torno dos mesmos motivos de compaixão e ataque, parece estar a libertar-se das amarras do compromisso a que fora forçado pelas próprias responsabilidades no desastre nacional. E os outros partidos, igualmente com leviandade e falsa piedade, deitam achas na fogueira das virtudes de defesa do pobre povo desarrimado, cinicamente libertos da responsabilidade governativa e por isso férteis em truques de promessas ou de levantamento de elementos condenatórios dos que governam.

Esperava-se que este Governo se comportasse como prometera, com hombridade, seriedade, trabalho, eficiência, desejo de vencer. Mas a cada passo vêm à tona informações de erros, lapsos, arrogâncias, mentiras, vaidades, tal como se detectara nos governos anteriores.

E embora desejando confiar nele, por aqui andamos, às voltas, querendo manter uma luz de esperança, mas, como há 38 anos, apenas vibrando com os articulados críticos de jornalistas ou de historiadores de bom senso, enquanto assistimos ao resvalar de um país que, aparentemente melhorado nas suas estruturas físicas, foi perdendo em sentido pátrio e humano, em degradação espiritual que, provavelmente será o aspecto mais vilmente atraiçoador da nossa existência como nação.

Resta-nos confiar no bom senso dos professores, para irem segurando o barco do aparelho educativo, mau grado as péssimas condições em que se efectua a sua orientação pedagógica.




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