quinta-feira, 19 de abril de 2012

Um povo altruísta


Ouvi neste momento a Rosa Mota,
Nossa maratonista olímpica e mundial,
Que tantas vezes
Nos fez escutar o hino nacional,
Dizer que somos um povo generoso
Pois o nosso sangue damos mais que os outros
Para salvar vidas em risco,
Sem que disso
Nos cobre o fisco,
O que, quanto a mim,
É isso caso de estranheza sem fim.
Mas só me pergunto
Se, mesmo assim,
O povo generoso
Ou a Rosa vitoriosa
Não merecem críticas deste ou daquele
Como é o caso de alguns deuses
Ou heróis mitificados
Por Esopo relembrados
Na sua fábula para todos os gostos
E até para os desgostos,
Zeus, Prometeu, Atena e Mômo”:
«Zeus, Prometeu e Atena,
Tendo engendrado respectivamente
Um touro, um homem e uma casa,
Para árbitro chamaram o próprio Mômo.
Invejoso das obras pelos deuses realizadas,
Mômo declarou primeiramente
Que Zeus se mostrara trapalhão
Ao não colocar os olhos do touro
Sobre os próprios cornos de valentão
Para melhor ver onde tocava
Quando marrava;
O próprio Prometeu ele atacou
Por não ter suspendido o coração
Do homem na parte exterior,
Para impedir o vício de se dissimular
E permitir manifestar
Os pensamentos de cada um
Sem escrúpulo nenhum;
Finalmente,
Atena ele atacou
Por a sua casa não ter feito com rodinhas
Que possibilitariam rápida mudança
Em caso de má vizinhança.
Indignado com a crítica impertinente,
Embora inteligente,
Júpiter expulsou Mômo do Olimpo omnipotente.
Mostra a fábula que ninguém nem nada
Por maior que seja a sua perfeição,
Escapam à chicana endiabrada.»
O mesmo assunto é tratado
Na fábula mais grotesca
O velho, o rapaz e o burro
Que se transportam mutuamente
E alternadamente
Para escapar às criticas da multidão,
As quais não se extinguem nunca,
Tanta é a paixão
De mostrar opinião
Que move cada ser humano,
Ele próprio não isento
Da alheia ferroada ou nódoa,
Que cai sobre o melhor pano,
Ou, como diria o provérbio,
Tantas são as sentenças
Quantas as cabeças
Às vezes bem travessas,
Outras, arrevesadas,
Outras, concordantes
Outras, quando escritas,
Em desordenada alegria,
De erros ortográficos polvilhadas,
O que é moda, hoje em dia,
Que tristeza!
Peço perdão pela dureza,
Ou antes... leveza
Bem à portuguesa.

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