O texto seguinte foi-me enviado por
email:
Salazar disse:
«Devo à Providência a graça de ser
pobre: sem bens que valham, por muito pouco estou preso à roda da fortuna, nem
falta me fizeram nunca lugares rendosos, riquezas, ostentações. E para ganhar,
na modéstia a que me habituei e em que posso viver, o pão de cada dia, não
tenho de enredar-me na trama dos negócios ou em comprometedoras solidariedades.
Sou um homem independente. Nunca tive os olhos postos em clientelas políticas
nem procurei formar partido que me apoiasse mas em paga do seu apoio me
definisse a orientação e os limites da acção governativa. Nunca lisonjeei os
homens ou as massas, diante de quem tantos se curvam no Mundo de hoje, em
subserviências que são uma hipocrisia ou uma abjecção. Se lhes defendo
tenazmente os interesses, se me ocupo das reivindicações dos humildes, é pelo
mérito próprio e imposição da minha consciência de governante, não por ligações
partidárias ou compromissos eleitorais que me estorvem. Sou, tanto quanto se
pode ser, um homem livre. Jamais empreguei o insulto ou a agressão de modo que
homens dignos se considerassem impossibilitados de colaborar. No exame dos
tristes períodos que nos antecederam esforcei-me sempre por demonstrar como de
pouco valiam as qualidades dos homens contra a força implacável dos erros que
se viam obrigados a servir. E não é minha culpa se, passados vinte anos de uma
experiência luminosa, eles próprios continuam a apresentar-se como inteiramente
responsáveis do anterior descalabro, visto teimarem em proclamar a bondade dos
princípios e a sua correcta aplicação à Nação Portuguesa. Fui humano».
Foi-me
enviado o texto sobre Salazar por alguém que, talvez por ser jovem ainda, nunca
viveu sob um regime que outros recordam com horror, fingindo ignorar, é certo,
os condicionalismos de um país saído de uma primeira república de anárquica
sucessão de governos em débito permanente e desordem social sem tréguas, um
país de analfabetos a que uma revolução – de 28 de Maio – pretendeu impor ordem
e, com a entrada de Salazar, impor igualmente o saldo da dívida externa.
É
claro que, para bem governar, Salazar entendeu fazê-lo segundo a sua linha de
pensamento que respeitou os valores impostos pela sua educação de católico e de
patriota, defendendo o legado pátrio colonial e tentando reconstruir o país em
obras públicas, de que Duarte Pacheco foi nome cimeiro. Lembro que se cantavam
hinos nas escolas – o Nacional e o da Mocidade Portuguesa – e indiscutivelmente
as escolas tinham uma disciplina que se volatilizou com a revolução seguinte, a
que em breve se vai festejar na fraternidade morena das Grândolas actuais.
O
texto de Salazar reflecte um digno homem de bem, pese embora uma modéstia
limitativa, proveniente da origem humilde que lhe não limou as arestas de uma
visão económica mesquinha, não à maneira da clássica mediania dourada apesar da
sua inteligência viva. Igualmente recai sobre ele a impugnação de ditador pela
voz dos amantes das liberdades que eles julgam democráticas e já vimos que não
existem, encaminhadas essas para a defesa dos direitos próprios de enganar,
burlar, espezinhar, em clima de dolo, mentira, corrupção e impunidade que se
vivem hoje.
Talvez
o jovem admirador de Salazar que me enviou o email, depois de uma visita a
Santa Comba Dão, seja daqueles caracteres fracos que ao cinismo prefere a via
do respeito pelos princípios. Só lhe direi que gente mesquinha sempre a houve
entre nós. E o tempo de Salazar o provou, com a existência de bufos ou
delatores, afora outros dolos de que ele próprio talvez não se tenha apercebido.
Hoje em dia
é mais ao nível dos grupos que se protegem reciprocamente, marginalizando os
que não têm jeito para engraxar ou bajular. Mas desses também os houve no tempo
de Salazar, não sejamos ingénuos. Só que os direitos próprios eram mais
protegidos e os cursos ou os cargos conquistavam-se pelo esforço próprio e não
pelo atropelo.
Salazar foi
um homem honrado da velha têmpera do antes quebrar que torcer. A casa onde
viveu está em ruínas.
Indigna
nação esta que não respeita os seus maiores, a sua história, aqueles que a amaram
de facto, e que dá voz preferencial aos papagaios que a destruíram.
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