sexta-feira, 20 de abril de 2012

Que futuro?


O texto seguinte foi-me enviado por email:

Salazar disse:

«Devo à Providência a graça de ser pobre: sem bens que valham, por muito pouco estou preso à roda da fortuna, nem falta me fizeram nunca lugares rendosos, riquezas, ostentações. E para ganhar, na modéstia a que me habituei e em que posso viver, o pão de cada dia, não tenho de enredar-me na trama dos negócios ou em comprometedoras solidariedades. Sou um homem independente. Nunca tive os olhos postos em clientelas políticas nem procurei formar partido que me apoiasse mas em paga do seu apoio me definisse a orientação e os limites da acção governativa. Nunca lisonjeei os homens ou as massas, diante de quem tantos se curvam no Mundo de hoje, em subserviências que são uma hipocrisia ou uma abjecção. Se lhes defendo tenazmente os interesses, se me ocupo das reivindicações dos humildes, é pelo mérito próprio e imposição da minha consciência de governante, não por ligações partidárias ou compromissos eleitorais que me estorvem. Sou, tanto quanto se pode ser, um homem livre. Jamais empreguei o insulto ou a agressão de modo que homens dignos se considerassem impossibilitados de colaborar. No exame dos tristes períodos que nos antecederam esforcei-me sempre por demonstrar como de pouco valiam as qualidades dos homens contra a força implacável dos erros que se viam obrigados a servir. E não é minha culpa se, passados vinte anos de uma experiência luminosa, eles próprios continuam a apresentar-se como inteiramente responsáveis do anterior descalabro, visto teimarem em proclamar a bondade dos princípios e a sua correcta aplicação à Nação Portuguesa. Fui humano».

            Foi-me enviado o texto sobre Salazar por alguém que, talvez por ser jovem ainda, nunca viveu sob um regime que outros recordam com horror, fingindo ignorar, é certo, os condicionalismos de um país saído de uma primeira república de anárquica sucessão de governos em débito permanente e desordem social sem tréguas, um país de analfabetos a que uma revolução – de 28 de Maio – pretendeu impor ordem e, com a entrada de Salazar, impor igualmente o saldo da dívida externa.

            É claro que, para bem governar, Salazar entendeu fazê-lo segundo a sua linha de pensamento que respeitou os valores impostos pela sua educação de católico e de patriota, defendendo o legado pátrio colonial e tentando reconstruir o país em obras públicas, de que Duarte Pacheco foi nome cimeiro. Lembro que se cantavam hinos nas escolas – o Nacional e o da Mocidade Portuguesa – e indiscutivelmente as escolas tinham uma disciplina que se volatilizou com a revolução seguinte, a que em breve se vai festejar na fraternidade morena das Grândolas actuais.

            O texto de Salazar reflecte um digno homem de bem, pese embora uma modéstia limitativa, proveniente da origem humilde que lhe não limou as arestas de uma visão económica mesquinha, não à maneira da clássica mediania dourada apesar da sua inteligência viva. Igualmente recai sobre ele a impugnação de ditador pela voz dos amantes das liberdades que eles julgam democráticas e já vimos que não existem, encaminhadas essas para a defesa dos direitos próprios de enganar, burlar, espezinhar, em clima de dolo, mentira, corrupção e impunidade que se vivem hoje.

            Talvez o jovem admirador de Salazar que me enviou o email, depois de uma visita a Santa Comba Dão, seja daqueles caracteres fracos que ao cinismo prefere a via do respeito pelos princípios. Só lhe direi que gente mesquinha sempre a houve entre nós. E o tempo de Salazar o provou, com a existência de bufos ou delatores, afora outros dolos de que ele próprio talvez não se tenha apercebido.

Hoje em dia é mais ao nível dos grupos que se protegem reciprocamente, marginalizando os que não têm jeito para engraxar ou bajular. Mas desses também os houve no tempo de Salazar, não sejamos ingénuos. Só que os direitos próprios eram mais protegidos e os cursos ou os cargos conquistavam-se pelo esforço próprio e não pelo atropelo.

Salazar foi um homem honrado da velha têmpera do antes quebrar que torcer. A casa onde viveu está em ruínas.

Indigna nação esta que não respeita os seus maiores, a sua história, aqueles que a amaram de facto, e que dá voz preferencial aos papagaios que a destruíram.

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