sábado, 24 de março de 2012

Fia-te na Virgem…


A história que aqui se conta
Com alguns arrebiques
Não é do tempo dos Titanics,
Nem dos cruzeiros de agora
Que também encalham
Quando os homens
Ou os motores falham.
É uma história de Esopo
Que viveu no tempo
Em que as embarcações
Eram muito inferiores
Em potência e dimensões:

«Atenas e o náufrago»
«Um rico Ateniense navegava
Com outros passageiros.
Uma rajada de vento estalou
Que o navio virou,
O qual naufragou.
A nado, todos os companheiros
Tentaram salvar-se.
Todavia,
A cada instante o Ateniense,
Invocando Atena,
Mil e mil oferendas lhe prometia
Se com vida escapasse
Do pesadelo.
Um dos náufragos
Que a seu lado nadava
Disse com zelo:
“Reza a Atena,
Mas não te esqueças de nadar
Se do naufrágio
Quiseres escapar!”
O mesmo de nós direi:
Se devemos aos deuses rogar,
A nossa causa em particular
Deveremos servir.
Mais valerá os deuses
À  nossa causa, com boas acções,
Saber concitar
Do que a nossa salvação
Negligenciar
Contando só com aqueles.
Quando na desgraça caímos
É necessário
Trabalhar em nos safarmos
E então só depois
A divindade
Em nosso socorro apelarmos.»

Eu  creio que o nosso país
E sobretudo o nosso governo
São bem a imagem,
Da muita coragem
Mas também devoção
Que é preciso demonstrar
Para da perdição
Poderem escapar.
O governo vai nadando
À custa dos sacrifícios
Do povo que vai pagando
E ao mesmo tempo rezando
Para obter mais benefícios
Do governo que os promete
Só para o ano e entretanto
Vai nadando, vai nadando
Tentando
À praia chegar,
E o povo orando e chorando,
Sem parar,
E sem grande esperança
Na prometida bonança.
Mas aqui vamos pagando
À custa dessa promessa,
Embora haja excepções.
Que os batoteiros
São mais que as mães.












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