segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Narciso, sempre

Uma vez mais La Fontaine
É fonte de reflexão
Nas sínteses que foi fazendo
Das leituras que foi tendo
Dos clássicos de estimação
Que tão bem o alertaram
Para a eterna repetição
Dos jeitos que delinearam
A humana geração.
Segue o exemplo a contento:
«O Estatuário e a Estátua de Júpiter»
«Um bloco de mármore era tão belo
Que um estatuário o comprou.
- “Que fará dele o meu escopro? - disse ele:
Será uma mesa, uma pia ou um deus?
Será um deus: até por ser meu prazer mor
Que tenha um trovão na mão!
Tremei, humanos! E orai!
Eis da terra o senhor.”
O artista tão bem expressou
Do seu ídolo o carácter
Que todos acharam que só a palavra
Faltava a Júpiter.
Até se disse que o artífice,
Mal a sua estátua acabou,
Foi o primeiro a recear
E da sua obra tremer.
À fraqueza do escultor
Em nada outrora
A do poeta fora inferior,
Ódio e cólera receando
Dos deuses de que fora inventor.
Nisto era bem qual criança
Que a alma tem ocupada
Por contínua preocupação:
A de não deixar irada
A boneca de estimação.
O coração segue facilmente
O espírito criador:
Desta comum fonte surgiu
O erro pagão que se viu
Em tantos povos difundido.
Eles abraçavam violentamente
Os interesses da sua quimera.
Pigmalião tornou-se o amante
Da Vénus que fabricou.
Cada um vira em realidades
Os seus sonhos, o mais possível.
De gelo para com as verdades,
O homem é de fogo com as mentiras.”

E aqui está uma história de mitos
Construída com muitos atritos
Pela humanidade,
Em que uns crêem, outros descrêem,
Em conformidade
Com a sua realidade.
No caso da nossa portugalidade
Também não temos
Verdade que preste.
Pois não sabemos
Se o governo está de facto a governar
Com o mito da honestidade custe o que custar
Ou se está a desfazer ainda mais
A estátua que por muitos, no tempo, fora fabricada
E que por poucos mas suficientes
Foi sendo destruída
Pelos recentes fazedores de mitos
A que chamam, “de fogo com as mentiras”,
Democracia,
E que ninguém quer ver,
“De gelo para com as verdades”,
Que é pura autocracia,
Se não for simplificadamente, e em conclusão,
O ruir total de uma nação
Por conta da mitologia.

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