terça-feira, 8 de novembro de 2011

Um texto com nota vinte

Mais um que me chegou por e-mail, com o seguinte comentário:




«Sabes que Jesus deixou de ensinar? Vê porquê.»

«Naquele tempo, Jesus subiu ao monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem. Depois, tomando a palavra, ensinou-os, dizendo:
Em verdade vos digo,
-Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. -Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. -Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles...
Pedro interrompeu: - Temos que aprender isso de cor?
André disse: - Temos que copiá-lo para o papiro?
Simão perguntou: - Vamos ter teste sobre isso?
Tiago, o Menor queixou-se: - O Tiago, o Maior está sentado à minha frente, não vejo nada!
Tiago, o Maior gritou: - Cala-te queixinhas!
Filipe lamentou-se: - Esqueci-me do papiro-diário.
Bartolomeu quis saber: - Temos de tirar apontamentos?
João levantou a mão: - Posso ir à casa de banho?
Judas Iscariotes exclamou: (Judas Iscariotes era mesmo malvado, com retenção repetida e vindo de outro Mestre) - Para que é que serve isto tudo?
Tomé inquietou-se: - Há fórmulas? Vamos resolver problemas?
Judas Tadeu reclamou: - Podemos ao menos usar o ábaco?
Mateus queixou-se: - Eu não entendi nada... ninguém entendeu nada!
Um dos fariseus presentes, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada, tomou a palavra e dirigiu-se a Ele, dizendo:
Onde está a tua planificação? Qual é a nomenclatura do teu plano de aula nesta intervenção didáctica mediatizada? E a avaliação diagnóstica? E a avaliação institucional? Quais são as tuas expectativas de sucesso? Tens a abordagem da área em forma globalizada, de modo a permitir o acesso à significação dos contextos, tendo em conta a bipolaridade da transmissão? Quais são as tuas estratégias conducentes à recuperação dos conhecimentos prévios? Respondem estes aos interesses e necessidades do grupo de modo a assegurar a significatividade do processo de ensino-aprendizagem? Incluíste actividades integradoras com fundamento epistemológico produtivo? E os espaços alternativos das problemáticas curriculares gerais? Propiciaste espaços de encontro para a coordenação de acções transversais e longitudinais que fomentem os vínculos operativos e cooperativos das áreas concomitantes? Quais são os conteúdos conceptuais, processuais e atitudinais que respondem aos fundamentos lógico, praxeológico e metodológico constituídos pelos núcleos generativos disciplinares, transdisciplinares, interdisciplinares e metadisciplinares?
Caifás, o pior de todos os fariseus, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações do primeiro, segundo e terceiro períodos e reservo-me o direito de, no final, aumentar as notas dos teus discípulos, para que ao Rei não lhe falhem as previsões de um ensino de qualidade e não se lhe estraguem as estatísticas do sucesso. Serás notificado em devido tempo pela via mais adequada. E vê lá se reprovas alguém! Lembra-te que ainda não és titular e não há quadros de nomeação definitiva!
... E Jesus pediu a reforma antecipada aos trinta e três anos...
A continuação DE BOM ANO LECTIVO»

O texto vale por si, em toda a sua explosão de humor e graça, bem documentado nos discursos bíblicos do Novo Testamento com aplicação ao contexto actual, com os discípulos protestando quais criancinhas desleixadas, os fariseus com a sua carga verbal tão empolada como vazia, bem expressiva da arrogância intimidatória das ocas imposições ministeriais, que sempre julgáramos que um Nuno Crato, perspicaz e tão impaciente contra os absurdos pretensiosismos retóricos como os professores alvo dessas imbecilidades linguísticas de uma falsidade demente, iria imediatamente destruir, a favor do bom senso e da sanidade mental de um país onde, por este texto, se vê que nem todos somos idiotas.
Um texto que apoio, com um Bravo ao professor que o escreveu, aos professores cujos protestos mereceram o engraçado e corajoso texto, a todos esses que, ao rirem da desgraça, no afundamento de propostas de avaliação que implicam nota zero para os forjadores de tais propostas obtusas e do ministério que as impôs, poderão contribuir para, pelo menos, chamar a atenção para tão violenta esquizofrenia nacional de pobreza espiritual irremediável.
Um texto que merece ser difundido em todos os jornais do nosso país, e afixado em todas as escolas, para ser lido por todos os professores e alunos.
No Ministério da Educação igualmente afixado. Em letras maiúsculas, por conta da cegueira.

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