segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A “Competividade” do Ministro da Economia

Ouvi há pouco Álvaro dos Santos Pereira a explicar o seu plano de austeridade com a rapidez e a seriedade necessárias para se não entender nada, pelo menos as pessoas leigas ou pouco habituadas às maroscas das explicações rápidas dos inteligentes eruditos para os mais habituados à erudição. E às maroscas.
Despachou-se o ministro, deixando no ar a última pergunta do jornalista, como é hábito já ancestral entre os nossos governantes que, com esse desprezo, demonstram a distanciação do seu posicionamento governativo relativamente às bases, que simpaticamente atendiam durante as eleições. Mas frisou por várias vezes a “competividade” do meu repúdio linguístico, que o jornalista repudiou também, ao resumir o discurso do sr. Ministro, usando correctamente a palavra “competitividade”, como resultante do adjectivo “competitivo” e não “competivo”. Sem haplologia, que é uma palavra também erudita, mas de um nível que já a ninguém interessa, nem a nenhum Governo, que todos eles concordam com as síncopes do novo acordo ortográfico.
O sr. Ministro usou competividade com haplologia, suprimindo a sílaba repetida, como já se fez outrora em bon(da)doso, ido(lo)latria, habili(da)doso, o Sr. Ministro que me desculpe a lição que ele não vai ler, que tem mais que cortar, e por isso lição inútil mesmo para muitos outros, deputados, ministros, etc, que não há meio de corrigirem a sua desprezada língua, nem mesmo por “acordos” com os povos de expressão lusófona que talvez usem correctamente a pronúncia da palavra plural, mantendo o o tónico fechado, sabedores do processo de metafonia justificativo de outros oo abertos, como em ovos, jogos, fogos, povos, o que não acontece em piolhos. Nem em acordos, maçadoramente o repito, que já o disse mesmo antes da assinatura do acordo ortográfico, omisso nestes casos, não exceptuando os acordos fechados das suas novas regras, mais fincadas nos cc ou pp não pronunciáveis e por isso suprimíveis, na nossa euforia modernística adepta dos cortes. Mesmo nas pobrezinhas das “amídalas” sofredoras.
Mas hoje enviaram-me mais um e-mail sobre o corte do subsídio de Natal que, segundo o texto, é apenas uma extorsão, pois há muito representava apenas uma reposição do que pertencia a cada trabalhador, se recebesse à semana, como os ingleses. Diz o e-mail:


«Os trabalhadores ingleses recebem os salários semanalmente! Mas há sempre uma razão para as coisas e os trabalhadores ingleses, membros de uma sociedade MAIS crítica do que a nossa, não fazem nada por acaso!



… "Fala-se agora que o governo pode vir a não pagar aos funcionários públicos o 13º mês ou subsídio de natal. Se o fizerem, é uma roubalheira sobre outra roubalheira.
O 13º mês é uma das mais escandalosas de todas as mentiras dos donos do poder, quer se intitulem "capitalistas" ou "socialistas", e é justamente aquela em que os trabalhadores mais acreditam. Eis aqui uma modesta demonstração aritmética de como foi fácil enganar os trabalhadores.
Suponhamos que você ganha €700,00 por mês. Multiplicando-se esse salário por 12 meses, você recebe um total de €8.400,00 por um ano de doze meses. €700,00 X 12 = € 8.400,00
Em Dezembro, o generoso governo manda então pagar-lhe o conhecido 13º Mês: € 8.400,00 (Salário anual) + €700,00 (13º salário) = € 9.100,00 (Salário anual + o 13ºMês).»



Na realidade, o ano não tem 48 semanas exactas mas 52 semanas, diferença de quatro semanas que perfaz um mês, o tal 13º que nos é dado como generoso subsídio e não representa senão a reposição do que nos é tirado durante o ano.
E agora vai ser extorquido a favor da “competividade” das nossas empresas.
Mas não é assim que se remodelam as empresas, Sr. Ministro! Destruindo a língua da pátria onde as empresas desejam competir.
A língua é fundamental, numa sociedade que se preze.
Só que me parece que o desprezo governativo pela língua é paralelo ao desprezo governativo pela sociedade.

sábado, 29 de outubro de 2011

No primeiro aninho do Sebastião

Mandou-me o meu filho Ricardo um e-mail com imagens de uma Lourenço Marques airosa, de um antigamente que deixou saudades, ao som da canção de Tudela “Adeus, cidade, é tanta a mágoa que eu tenho, que já em mim não contenho a chama desta saudade…”
Era uma bela cidade, a cidade onde nasci, onde nasceram três dos meus filhos, - o João, o Artur, o Luís - os dois mais velhos – o Ricardo e a Paula - nascidos cá, mas enraizados lá, na liberdade de um viver de harmonia, não traído ainda pelo pesadelo de vícios e violências que a destruição da ordem viria executar.
Uma cidade bonita, esquadriada, esta que tanta saudade deixou no Ricardo, cidade que os portugueses construíram, juntamente com as outras terras desse Moçambique, dessas outras terras dos descobrimentos antigos, que portugueses modernos desaproveitaram e dispensaram sem cerimónia.
Tudela descreve-a em várias outras bonitas canções, como no refrão desta: “Lourenço Marques, minha flor, meu derriço, o teu nome não sei que faz, só sei que traz feitiço.” “Lourenço Marques, meu amor, meu enlevo, boa sorte a que tu me dás, é a que traz o trevo”. “Lourenço Marques, quem te deixa, cidade, que veneno não sei que dá, só sei que traz saudade”.
Trata-se de poesia, é certo. A verdade é que Tudela preferiu sempre o continente, mau grado as lindas canções do seu repertório referentes a Moçambique, e que a Internet acompanha com imagens bonitas desse agora país livre.
Mas recebi um outro e-mail de João Sena, com imagens mais sombrias de uma terra por nós abandonada, com o seguinte comentário: “Recordando Moçambique - É triste a degradação daquilo que foi um Paraíso !!!”
Também João Sena sente saudade, como outros muitos portugueses que por lá viveram. Uma vida intensa de trabalho, seja em que sítio for, não permite recuos no tempo embrenhados em sentimentos de perda. Em mim, a saudade foi substituída pela rejeição do que considerei vileza inenarrável, pela inadaptação ao brutal radicalismo de uma afronta à pátria que me habituei a amar.
Os meus filhos Artur e Luís eram meninos de quatro e dois anos, em 74, não sentem apego à terra natal, embora a lisura de princípios os leve a considerar talvez, que não valia a pena tanto desmando traiçoeiro.
Na escola já não estudaram a história da exaltação e glória dos antepassados.
O meu netinho mais novo – Sebastião, que passa hoje o seu primeiro aninho – menos ainda sentirá curiosidade pela terra do seu papá, que também só a recorda por tradição.
Mas num contexto de globalização e sobretudo num de destruição pátria como esta que atravessamos, não será de admirar que uma nova História pátria apresente os surtos de emigração, de fuga, em busca de lugares que os bisavós povoaram.
Não é, para mim, uma visão radiosa.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Faz parte

«"NINGUÉM ESTÁ IMUNE AOS SACRIFÍCIOS», disse ele. SE ASSIM NÃO FOSSE, COMO SERIA O SÉQUITO ESCOLHIDO!!!!! “ (notícia do Público de 23/09/11) O Cavaco na sua visita discreta aos Açores de 5 dias levou 30 acompanhantes, entre os quais:
- sua esposa
- o chefe da casa civil e sua esposa
- 4 assessores
- 2 consultores
- 1 médico pessoal
- 1 enfermeira
- 2 bagageiros???
- 2 fotógrafos oficiais
- 1 mordomo
- 12 agentes de segurança e à chegada disse "Ninguém está imune aos sacrifícios". Convém lembrar que quando o príncipe Carlos e a sua mulher Camila visitaram oficialmente Portugal, chovia e seguravam nos seus próprios guarda-chuvas. O nosso Presidente e mulher - na mesma ocasião tinham alguém que lhes segurava o guarda-chuva...
(Esta lista foi dada aos jornalistas, não pensem que isto é gozo!)»

Nós já tínhamos comentado, quando vimos Cavaco acompanhado pela sua camarilha, numa das ilhas – talvez das Flores - sem povo a aplaudir, ou sequer só a assistir, em passeio que nos pareceu humilhante, pelo menos a mim que me prezo de sentimentos de compaixão, inexistentes na minha amiga quando se trata do nosso Presidente, plácido e flácido joguete dos seus oportunismos assaloiados.
Mas também pusemos na mesa – do nosso café - a hipótese de ele, como está escamado com o César dos Açores, desejar aparecer-lhe assim, com a sua camarilha, para impressionar e mostrar que ele ainda manda ali, rivalidades que quadram muito bem à nossa musculatura de fragilidades.
Mas o texto acima chegou-me por e-mail e eu vejo aí toda a extensão dessa nossa firmeza de propósitos, damazozinhos que a ninguém admitem desconsiderações e o demonstram soberbamente, como no caso presente, de palanque, para ofuscar.
Carlos e a esposa não se coíbem de segurar no guarda-chuva? É que a democracia deles já estava delineada na Magna Carta. A nossa cartilha está na infância, tem atrás de si séculos de distinções sociais. Não íamos mudar do pé para a mão. A César – não o dos Açores – o que é de César. A chuva de César… outros que a aparem. De preferência com reverência.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Perseguições

«O Atum e o Golfinho»
«Um Atum que um Golfinho perseguia
As ondas do mar fendia
Em grande alarido;
Prestes a ser apanhado,
Viu-se caído
Na orla da praia
Por causa da maré cheia
Que o empurrou para a areia.
Ora o Golfinho
Que um forte impulso de avidez impelia
Sobre aquele,
Veio esparramar-se junto dele.
Voltou-se o Atum,
E vendo-o a agonizar
Exclamou com prazer
Sem rebuço algum:
“Já não sinto tão amarga a minha sorte
Quando vejo perecer
Aquele que causou a minha morte!”
A fábula mostra que os males
Se suportam com menos celeuma
Quando são partilhados por aqueles
Que os provocaram na calma.»

Por aqui se vê que o Esopo
É muito anterior a Jesus Cristo
Que sempre advogou a bondade
Mandando apresentar a outra face
Quando uma estalada era dada
Com muita maldade
Na face
De qualquer incauto
Que inesperadamente
A recebesse
Com surpresa indignada,
Mas retraidamente
Porque cristãmente.
Por isso nós não nos rimos,
Quando de dores morremos,
Se ficarmos certos
Que os que de dor nos matam
Connosco de dor são mortos
Em idênticos apertos.
Os do Médio Oriente
Andam à pedrada.
Nós à estalada,
Tão só porque estendemos
A face à bofetada
Muito cristãmente,
Fora da entifada.
Também não imitamos
O risonho Atum,
Sem respeito nenhum
Pelo pobrezinho
Do Golfinho
Que a avidez perdeu
E assim morreu,
Como aliás também
O Atum morreria.
Mas é o destino de cada um,
A morte sombria.
Só não se deve nunca
Pôr a Pátria em risco
Por razões de fisco.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Alternativa zero

O texto de Octávio Teixeira “Brutalidade, Irresponsabilidade e falácias”, saído na revista Visão de20/26 de Outubro pondo em causa toda a acção governativa, apela para a luta, como fazem os chefes sindicais, os chefes dos partidos mais virados à esquerda, que, aliás, desde há muito que o fazem, chamando não ao trabalho mas à destruição do país pela inércia, pela vozearia, pela greve, pelo aumento salarial e o boicote às forças do poder, que, aparentemente, pretendem levar a bom termo a solução para a crise monstruosa em que nos afundamos há 37 anos, por má cabeça de todos, que nos lançámos vorazmente sobre um osso alheio, maná no nosso deserto de mediocridade, inépcia, incompetência, ambição, vaidade, orgia, insensatez, ignorância, desonestidade, bestialidade.
E não saímos desta roda-viva, os governantes com maus governos, os governados repudiando-os na desordem e na rebeldia, ninguém se esforçando por progredir, no tempo das vacas gordas comprando, gastando os bens imóveis e os móveis, mais do que aplicando os dinheiros distribuídos segundo uma orientação de previdência e de prudência, antes curtindo o dia horaciano segundo o lema “viaje agora e pague depois”.
Chegámos ao tempo das vacas magras, e o actual governo quer sair bem na foto, pagando a dívida, acima de tudo pagando a dívida, centrado preferencialmente naqueles que não podem recusar a participação no pagamento. Os grandes responsáveis por ela mal são chamados a terreiro, protegidos pelas leis de uma Constituição há muito feita sob ideais de defesa de direitos próprios, mais do que sobre imposição de deveres segundo um ideal pátrio que mais nenhuma nação se lembraria de desprezar, como nós há muito fazemos, salvo por alturas dos jogos futebolísticos ou outros, internacionais, em que defendemos galhardamente, as mais das vezes grotescamente, as nossas cores.
O bispo Januário condena as medidas drásticas, tal como o faz Cavaco Silva, seguindo os acicatadores da desordem, sem respeito por uma orientação governativa assente, é certo, sobre um critério de força desumana, mas com um Primeiro-Ministro crente que é esse o caminho a seguir, lembrando outros países como Finlândia e Suécia que venceram idênticas fragilidades económicas.
Estranham-se, contudo, as referências de Passos Coelho a esses países de exemplo, porque não nos parece que tenhamos qualquer possibilidade de paralelismo com outros povos, pois desde sempre carentes de massa humana intelectualmente apta e responsável para que, paga que seja a dívida, nos lancemos sobre revolução económica salvadora, assente numa política de trabalho que leve à exportação e elimine a importação. Dos limões, dos alhos, das nossas comodidades gastronómicas e de prazer.
As nossas revoluções são de folclore, ruidosas e com flores. E essas, que já destruíram, vão continuar a destruir, desresponsabilizando todos, a lisura para sempre arredada das contas e do respeito humano.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Um conto premiado da minha neta Ana

Menina vivaça foi sempre a Ana, que sobressaiu como estudante, e foi conduzindo a sua vida sem aparente dificuldade, com uma alegria sadia, que não excluiu nunca uma sensibilidade atenta ao mundo da injustiça ou do risível. Como todos os estudantes favorecidos nos estudos universitários, ganhou o complemento dos seus estudos em Paris, com o estágio que a catapultou, via Internet, para o primeiro emprego cá, que alcançou mediante resposta efectuada em Paris, a anúncio, por via telefónica, perante o sentir deslumbrado de uma avó educada na desconfiança das modernidades. A ambição não se esgotou aí, foi concorrendo a outros empregos de acordo com o sentimento de mérito que a sua consciência apontava e no novo emprego já lhe foi reconhecido esse mérito que a favoreceu com uma visita de trabalho a Angola.
E a Ana vai prosseguindo, na sua senda de interesse pelo mundo dos outros e o seu próprio, criando blogues de grande originalidade, onde esse mundo não escapa ao seu olhar arguto, simpaticamente comentados pelos seus muitos amigos que sinceramente a admiram. Na alegria da sua escrita maliciosa, discretamente atrevida, observadora e artista. Muitas vezes complementada por fotografia a condizer.
Os blogues pararam, nos excessos do trabalho que hoje em dia mal poupa os trabalhadores. Mas na Internet encontrou um concurso literário, com oferta de edição dos contos premiados.
E a Ana concorreu e esperou. Acreditámos nela e na originalidade do seu conto. “O Engraxador de Sapatos”, uma história colhida na sua observação, retocada com a graça da sua expressão, simultaneamente leve e profunda, e largamente assente na observação do real, em que perpassa toda uma sensibilidade pela “dor humana”, a que não são alheios certos laivos do grotesco de situações descritas de miséria e destruição dos sonhos próprios da condição humana, sujeita aos desvios da Fortuna. Uma prosa concisa e poética, no retomar constante dos seus elementos, em circularidade e progressão, para um clímax de efeito dramático.
26 anos, uma vida de bela expectativa literária.
Parabéns, Ana, pelo teu prémio. O lançamento do livro de Contos será no próximo sábado, 22 de Outubro, na Biblioteca Municipal de São Lázaro, Rua do Saco, 1.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Visões

Leio um texto de Opinião na Visão de 13/19 de Outubro, uma Crónica de José Luís Peixoto, cuja fotografia indica alguém relativamente jovem. De bons sentimentos, o que me dá esperança em nós. De elegância de pensamento, o que me causa prazer, coisa que a prosa de Lobo Antunes, rebuscadamente piegas, como a que leio em “Amorzade” no mesmo sítio, na mesma revista de 21/27 de Julho, não conseguiu fazer. Lobo Antunes vê-se que estrebucha de gozo íntimo, ao penetrar-se de referências vaidosas ou de circunstâncias vividas com chiste, de quem tudo põe superiormente em causa, em que a timidez é só aparente, tal como a que demonstra nas entrevistas, massajando o lóbulo da sua orelha, o dorso contorcido de recusa a dar-se, mais hábil a construir-se pelas vozes ou gestos da gente grada com que se realça na crónica.
Chama-se “Os professores” a crónica de José Luís Peixoto, cujo primeiro parágrafo não resisto a transcrever na íntegra, tão amplo de conteúdo humano e de elegância expressiva, apesar da aparente linearidade frásica, sem torções inchadas de patusco egocentrismo, mas fortalecida por um pensamento honesto e lúcido, que se não põe de parte no enquadramento das vaidades humanas que vão crescendo com a idade, ou, pelo contrário, diminuindo, na abertura para a racionalidade e a informação:
«O mundo não nasceu connosco. Essa ligeira ilusão é mais um sinal da imperfeição que nos cobre os sentidos. Chegámos num dia que não recordamos, mas que celebramos anualmente; depois, pouco a pouco, a neblina foi-se desfazendo nos objectos até que, por fim, conseguimos reconhecer-nos ao espelho. Nessa idade, não sabíamos o suficiente para percebermos que não sabíamos nada. Foi então que chegaram os professores. Traziam todo o conhecimento do mundo que nos antecedeu. Lançaram-se na tarefa de nos actualizar com o presente da nossa espécie e da nossa civilização. Essa tarefa, sabemo-lo hoje, é infinita.”
E o texto segue, em frases lapidares de precisão e delicadeza:
«Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os professores nos deram nos pertenceu desde sempre. … O trabalho dos professores é a generosidade.»
«Basta um esforço mínimo de memória, basta um plim pequenino de gratidão para nos apercebermos do quanto devemos aos professores. Devemos muito daquilo que somos, devemos-lhes muito de tudo. Há algo de definitivamente definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado.»
…«Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança. ….»
…«Envergonhem-se aqueles que dizem ter perdido a esperança. Envergonhem-se aqueles que dizem que não vale a pena lutar……
«Recusar a educação é recusar o desenvolvimento. ….»
Um texto a guardar, na sua íntegra, proveniente de alguém educado num espírito de compreensão e generosidade, contrastando com uma natureza de mesquinhez, mediocridade e rancor, que tanto aflige uma população impreparada, que o Governo anterior açulou poderosamente contra a dita classe.
Um texto honesto que nos dá esperança ainda, apesar dos literatos de falsa modéstia, e de banal egocentrismo, apesar dos Antónios Barretos que se pretendem sociólogos e visionários pessimistas sobre a continuidade de uma nação que tão clamorosamente um desses Barretos ajudou a destruir.
Enjoados destes, voltemo-nos, com fé, sobre os jovens construtivos, como José Luís Peixoto, obreiros da nação futura.






sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Não faltava mais nada! Porquê eu?

Conversávamos sobre o Isaltino:
- Só falta o Isaltino ficar cá fora e a Juíza presa! – exclamou a minha amiga, lembrando a figura impavidamente risonha do Isaltino para o jornalista maçadoramente questionador, no exercício, aliás, do seu ofício, o que lhe deve render alguns sapos humilhantes para engolir, dado o desprezo altivo dos questionados importantes.
E continuou:
- A lata do gajo é de tal ordem! É como se estes tipos não fossem ladrões! Dizem aquelas frases muito bem estudadas de estarem na maior porque intimamente pensam: “Porque é que hei-de ir eu?”. E chega-se à conclusão de que a Justiça está preparada para que os crimes prescrevam, toda ela feita ao pormenor para a prescrição. E tem conseguido que isso suceda! Isto é um escândalo dum país sem leis.
- Parece um crime de lesa Justiça essa tal regra do boicote ao crime por ela imposta. Devia-se pensar em criar uma legislação condenatória da Justiça, quando ela falha nas suas obrigações de julgar, retardando as decisões, desprezando o zeloso provérbio “Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”, mais afeita a este outro da nossa mândria: “Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo”, deixando acumular e retardar os processos da nossa conflituosidade. Ou até, quando a Justiça cumpre e incrimina, mas a legislação tem cláusulas que permitem a descriminação “sine die”. É necessário condenar a legislação.
- E assim se vai estabelecendo a tessitura da nossa corrupta textura social, com a aderência dos Paços para que Justiça cega não haja.
- Resta a balança, indispensável por cá. A balança dos Isaltinos.
- Dos Sócrates, dos Jardins, dos…

Il y en a partout

Tenho andado a ler Du Bellay
E outros poetas franceses do Renascimento,
Relembrando estudos feitos outrora
Que hoje foram varridos da escola
Do nosso país sem alma nem alento
Agora.
Como Du Bellay chorou amargamente,
Exilado em Roma, a sua pátria distante,
A sua “França, mãe das artes, das armas e das leis
Também eu sinto a dor da nossa amorfa escola,
Que tudo mistura, numa confusão,
E abandonou, com ingratidão,
A língua do país das Luzes
A que nós fazemos cruzes,
Renegando a orientação
Que poderíamos colher dos seus maiores,
Autores que o mundo inteiro ilustraram
Com o espírito das obras que escreveram.

Entre tantos dos seus sonetos e outras obras
Fez Du Bellay um, sobre o retrato dos cortesãos,
Que nós não temos por não termos rei nem corte,
Mas que cabe perfeitamente
Em qualquer lugar onde haja um que mande
Com governados a lutar pela sua sorte,
Bajulando, rindo, denunciando,
Com uma lata enorme
Com astúcia grande.

O soneto de Du Bellay foi desmontado
Em prosa por vezes rimada,
Que pretendeu traduzir, naturalmente,
A ideia nele assinalada,
Mais do que o estilo inefável,
Por falta de engenho, claramente,
Para, devidamente, traduzir o intraduzível.

Soneto de Du Bellay
«Os velhos “Macacos de Corte”»,
Transposto, com desgosto,
Para estrofes de vária sorte
E não com as quadras e os tercetos
Que estruturam os sonetos:

«Senhor, eu não poderia com bons olhos olhar
Esses velhos “Macacos de Corte”
Que nada sabem fazer a não ser
O rasto dos Príncipes seguir
De igual sorte,
E pomposamente como eles trajar.

E se o seu Amo troça de alguém
Eles o mesmo farão, porém,
Se ele está a mentir, não serão eles quem
0 vai contrariar.
Muito pelo contrário, vão dizer,
Com euforia,
A fim de o comprazer,
Terem visto, sem constrangimento,
A lua, em pleno dia,
Ou à meia-noite, o Sol bento.

Se alguém, diante deles, do Rei recebe
Um franco olhar,
Logo o vão elogiar,
E mesmo acarinhar,
Mau grado a raiva da sua inveja;
Se o olhar real contra esse for
Duro que nem penedo,
Apontam-no a dedo.

Mas o que mais contra eles me enfastia
É quando, diante do Rei, sem mais nem quê,
Com um rosto de pura hipocrisia
Eles desatam a rir sem saberem porquê.»

A coisa passa-se aqui da mesma forma,
Em qualquer lugar
Em que o patrão é rei e o trabalhador lacaio.
Não é só norma
Em Belém ou no S. Bento do Parlamento.
Insinuar-se, eis o savoir faire indispensável
Para se poder singrar.
E isso implica não só os gestos que Du Bellay focou
No retrato do seu cortesão,
Mas outros muitos, ou mesmo só mais um,
Que a experiência de cada um
Foi aprendendo a reconhecer
Naquele que os aplicou,
Todos eles reduzidos a insegurança,
Mesquinhez e subserviência.
Não há paciência!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Lavoisier estava errado

Um e-mail que me foi enviado com excertos de Eça fez-me adoptar alguns passos, no mesmo espanto maravilhado que levou o autor dele a transcrevê-los da obra queirosiana, ao verificar a imutabilidade de situações entre a época dele e a nossa época.
De resto, toda a obra de Eça nos leva a idênticas constatações de análise inteligente das idiossincrasias do seu povo, integrado numa época de análise pretensamente realista e naturalista que outros comparsas das letras fizeram dos seus próprios povos ou da realidade humana, Zola, Flaubert, Wilde, com Molière e La Fontaine e outros muitos servindo de pioneiros, o próprio Du Bellay do século XVI, perito na arte de descrever o cortesão da sua época, que revemos no de hoje, também muito nosso, como retrato a que os humanistas naturalmente conferiram dimensão e universalidade.
Não, afinal, a teoria de conservação das massas segundo o químico Lavoisier não é cem por cento exacta. Nada se perde, certo, nada se cria, também. Tudo se transforma?
E aqui vamos nós, imutáveis nos nossos genes, o que deve ter a ver antes com o sol libertador. Desresponsabilizador.


«José Maria de Eça de Queirós »
Povoa de Varzim - 25 de Novembro de 1845 Paris - 16 de Agosto de 1900

"!!! … 139 anos depois … !!! "
"1872 Portugal e a Grécia 2011"

"Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de carácter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal" (in As Farpas) 1972 "


"Portugal e a crise"

“ … somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados …"

“Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo: tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente.”
In “Citações e Pensamentos” de Eça de Queirós».


“Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os regimes políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e por corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”
(Eça de Queiroz, 1867 in “Distrito de Évora”)


Assim é. “Política de acaso, política de compadrio, política de expediente.” E tudo o mais que Eça disse e se mantém.
Conservar a sua independência”? Já vimos quanto é falaz essa ilusão. Outros comparsas na governação vão tentando manter o país à tona. Mas o mundo inteiro descrê disso.
E a juventude que boicota as aulas não nos deixa margem para crer numa evolução positiva.
Os ideais democráticos são avessos ao rigor, fixados que foram nas artimanhas da sensibilidade. Mas também da argúcia. Egocêntrica.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O mundo não tem tempo

Contei à minha amiga sobre o programa que vi dos horrores em Mogadíscio, de gente fugindo, deslocando-se, as mães com os filhos débeis no colo, no terror de uma guerra sem fim e sem solução, guerra de tribos e ambições do poder, numa desordem de ódios animalesca, que o mundo dos racionais deixa praticar, cada um entregue às suas próprias desordens materiais e morais.
A minha amiga acrescentou:
- Realmente é verdade. O mundo não tem tempo. A gente sabe que existe e parece inventado. E quando aqueles desgraçados se metem no barco, para matar a fome e morrem no Mar! Eu acho isso das coisas mais duras da vida. Simplesmente, o barqueiro leva gente demais. A não ser que o Deus deles pense e lhes diga: “Vocês estão melhor mortos do que vivos.” E a gente queixa-se dos nossos males! E eles atravessam o mar não para matar ninguém, é para matar a fome. A crueldade disso! Aquilo é gente!
Retornámos aos tempos da África em que o Continente era mais sóbrio nos horrores, progredindo sob o domínio do branco, que o educara e respeitara mais do que vemos hoje, com tiranos por governantes dos da sua raça, de ambição desmedida e ultrajante, o que ninguém quer comentar, para não reconhecer a falácia das doutrinas socialistas, que ao reconhecerem hipocritamente os direitos dos povos aos seus territórios, pretendem ignorar que quase todos os territórios ao longo da História foram obtidos por efeitos de invasões e usurpações, geralmente de efeitos positivos, no desenvolvimento cultural e material dos povos.
Mas o mundo ocidental quer mostrar a sua cultura ocidental, feita de complacência – unilateral, quando se trata de demonstrar bons sentimentos para com os pseudo oprimidos – agressiva quando entende dever defender produtos úteis à sua estabilidade económica. Na realidade, indiferente aos graves problemas do terrorismo, africano ou asiático, este feito também de extremismos religiosos condenatórios de uma condição humana que se preze, sem uma lei que proteja os condenados da ira popular ou outra, caso da mulher do Paquistão de culto cristão, condenada à morte pelo povo de culto islâmico, ou tantas outras condenações à morte devidas aos fundamentalismos extremistas dos povos bárbaros do mundo.
E a minha amiga conclui, numa suavidade de ironia esmorecida:
- É. O ser humano tem a receita. O que é que falta na receita?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Não levou a mal

- Eu acho que ele devia ter sido demitido, desde que tratou o Cavaco por “Sr. Silva”. Mas afinal o Sr. Silva não levou a mal.
Era sobre a extraordinária má educação do chefe do governo da Madeira que ultimamente chamara “moço de recados” a Paulo Portas. Achava eu que só um país deficitário em valores morais e cívicos poderia encaixar, com paciência de boi manso, tais imundícies de uma boca descontrolada de palhaço grotesco como governante. Lembrei mesmo o conto infantil da viúva que tinha uma filha feia e má e uma enteada linda e boa. Esta, por ter sido generosa para com uma fada, disfarçada em velhinha pobre e sedenta, passou a deitar rosas e pedras preciosas pela boca quando falava, ao passo que a irmã, por não ter sido boa, foi fadada para deitar sapos e répteis repelentes quando falava. Comparei Jardim à filha feia e de boca suja, pois da dele também saem a cada passo batráquios e répteis e outras viscosidades, enquanto vai trabalhando na sombra do seu governo infindável, trocando a lisura nas contas pela ordinarice nos ditos.
Logo a minha amiga disparou com a garra da sua indignação a frase citada sobre o Sr. Silva, mas acrescentou que os madeirenses achavam que mais ninguém se lhe equiparara em obra feita e era isso que contava para eles. E acrescentou:
- Também verdade seja dita, antes de ele ir para o buraco, deviam ir todos os que sabiam das falcatruas e as calaram. E eram muitos os que sabiam, de todos os quadrantes, embora finjam que não, não se sabe se para calar outras trafulhices. Então esta gente não leva com um grandessíssimo processo em cima?
Contei então à minha amiga que ontem, no "5 de Outubro", num programa sobre o Eduardo Lourenço, na TV Memória, ouvira António José Saraiva a referir com muito chiste, para amigos, que, quando voltara a Portugal, no 1º de Maio de 74, a Revolução se lhe assemelhara antes a uma romaria, tão destituídos de cultura política ou outra qualquer lhe pareceram os lorpas que se exaltavam nas ruas.
Eduardo Lourenço, entrevistado, comentou que agora estavam pior. E isso justificou, segundo comentámos, uns chefes como o Jardim, cada vez mais fanfarrão, despudorado, prepotente e perene, e um Cavaco cada vez mais lamechas e vago, inócuo e também perene, oculto numa penumbra de pseudo-educação e de pseudofortaleza, na forma conformista como conduz os destinos da Nação, que vai sucumbindo, ao contrário dele, reconfortada a sua alma nos avisos que diz que fez aos governantes responsáveis, sobre o desastre do país, atido ao que leu na Bíblia sobre o Verbo, identificado com Deus…
O Verbo é que é. Verbosidade, verborreia. E os sinónimos do nosso divinal carisma.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Mudança “como soía”

Quando o novo governo nasceu, há uns três ou quatro meses, previmos, a minha amiga e eu, que a turbulência vivida no país pelos anos 70 e 80, ia ser amplamente retomada pelas forças de esquerda, que não descansariam enquanto não acabassem de destruir este tal país, já com tanto afinco desfeito, em termos de distribuição de benesses por cada uma delas, a pretexto de distribuição solidária pelos outros, os oprimidos antes, logo após a revolução salvadora, que esplendidamente catapultou tantos deles e os seguintes, nos anos seguintes.
Não tardou muito que a previsão se verificasse. A esquerda, novamente altissonante nos seus protestos, com sindicatos a marcar o compasso das reivindicações, vai indiferentemente pondo o país a arder, sem fazer caso dos compromissos inadiáveis para tentar pagar os débitos dos gastos que a esquerda iniciara e que todos os outros, a montante e a jusante dos partidos, mais sem eles do que com, amplamente fizeram nos entrementes.
Mas concordámos, a minha amiga e eu, em que, enquanto se tratara do partido socialista, os sindicatos acalmavam, por se considerarem familiares mais chegados aos governantes. Agora que um Governo mais próximo da direita se propunha fazer erguer honestamente o País, pela satisfação do débito gigantesco, ponto de partida para um possível desenvolvimento futuro, o povo voltava a aderir às greves em barda, comandadas pelas vozes impantes dos seus instigadores.
É assim Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, que surge nas manifestações grevistas de agora, por ele manipuladas, num estilo de exaltação semelhante ao de Carlos de Brito, antigo deputado do PCP, que é recordado no texto seguinte, extraído de “Anuário – Memórias Soltas”, do capítulo “Tempos, Costumes”. Chama-se “Viva Carlos Brito! Viva!”
Bastaria mudar o título para “Viva Carvalho da Silva! Viva!”, tanta é a satisfação e o potencial da sua voz apelativa e vingadora, sereia tentadora a que o povo se não furta, por não usar, como os marinheiros de Ulisses a cera anti-acústica, ou como Ulisses, as amarras impeditivas da obediência à tentação:


«Carlos Brito está feliz, Carlos Brito tem sensações, Carlos Brito está inspirado. Face ao espectáculo do seu país parado por conta dos trabalhadores, Carlos Brito extasia-se, qual Nero outrora defronte de Roma a arder por sua ordem. O país contempla o êxtase incendiário de Carlos Brito e pára de trabalhar. O país apoia os seus poetas, mesmo incendiários, venera os seus oradores, mesmo atrabiliários, ama os que o esclarecem, mesmo com “parti pris”. O país merece Carlos Brito. Viva Carlos Brito!
Por isso Carlos Brito está feliz e faz parar o país. Como poeta, como orador, como esclarecedor, mesmo com “parti pris”.
A notícia vem referida no “Diário Popular” de 1 de Março, informando que Carlos Brito, aludindo à greve geral, expôs, na sessão de esclarecimento de Vila Real, que “o Governo se empenhou em dizer que ela foi um fracasso, mas foi um sucesso e teve-se a sensação que o país pode ser parado pelos trabalhadores.”
Daí o regozijo de Carlos Brito, daí o apuramento das suas íntimas sensações certamente num sentido de criatividade poética, qual Nero forjando estrofes sobre o incêndio romano por ele ateado, daí o estar de parabéns o País que promove as sensações de Carlos Brito, daí que o Governo procedeu mal informando inexactamente sobre o fracasso da greve.
Mas… bem-haja o Governo por ter mentido, porque com a mentira fomentou ad sensações e o poder criador de Carlos Brito.
Bem hajam os trabalhadores que promoveram o êxito da greve geral e os êxtases de Carlos Brito. Bem-haja Carlos Brito, por tanto amar o País e o exprimir num português cuja gramática se irmana com a retórica. Bem-haja o P.C.P. pelos líderes que apresenta à nação e cujo nível a nação reconhece, pois pára para os escutar. Um país que pára para escutar Carlos Brito é um país que merece Carlos Brito.
Bem-aventurados, pois, nós, os Portugueses, com tal Governo que fomenta as musas mentindo, tais trabalhadores que as fomentam parando, tais líderes cuja chama criativa é ateada pelas paragens do país, tal país que pára para escutar Carlos Brito. Viva Carlos Brito! Viva!»
Um texto, pois, sobre épocas passadas há três décadas, com analogias profundas com a época presente.
Apenas mudou o contexto – o povo aderente já não é o povo trabalhador, mas o sem trabalho.
Mas, ao contrário da "mudança" camoniana que “não se muda já como soía”, a mudança mantém-se na actualidade, repetitivamente, idêntica a si mesma, indefinidamente, mesmissimamente, imutavelmente.