segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A fome

«Esfomeado, um lobo, ao descobrir
Uma ovelha no campo estendida,
Com terror do lobo desfalecida,
Aproximou-se para a tranquilizar.
Bastava que ela apresentasse
Três razões verdadeiras
Para que ele a não comesse
Deixá-la-ia partir
Com boas maneiras,
Sem a molestar.
A ovelha, confiante,
E sem nenhum carinho,
Afirmou primeiramente
Que teria dispensado perfeitamente
Encontrar o lobo no seu caminho.
Em segundo lugar,
No caso de isso se verificar,
Alegria sentiria
Se o encontrasse ceguinho;
Em terceiro lugar, já enfastiada
Por ser obrigada a pensar,
Exclamou muito zangada:
- “Pudésseis vós rebentar,
Lobos abomináveis,
Que nos fazeis guerra tramada,
A nós, gente inocente,
Que contra vós não fizemos nada
De inconveniente!”
O Lobo admitiu nobremente
Que a ovelha não mentira
Na sua argumentação
Feita tão singelamente,
Com cabeça e coração,
E deixou-a, com honestidade,
Partir em liberdade.
A fábula mostra quanto a verdade
Até sobre o inimigo tem efeito.»

Passaram muitos anos, todavia,
Desde que Esopo escreveu
Esta fábula tão velha
D’ “O Lobo e a Ovelha”
Em que a verdade era garantia
Mesmo que não houvesse filantropia.
Hoje em dia,
Os lobos estão cada vez mais distantes
Da verdadeira cortesia
Cada vez mais uivantes
Como os da fábula aquiliniana,
Fazendo orelhas moucas
Às verdades das ovelhas
Cada vez mais loucas,
Servindo de pasto aos lobos,
Que vão impondo, esfolando sem perdão,
Enquanto elas vão balindo em vão.

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