sexta-feira, 23 de setembro de 2011

“Agora fecha tudo. Não abre nada”

Falava-se em doentes com Alzheimer necessitados de uma casa de repouso para passarem o dia e deixarem os familiares descansar para os poderem acompanhar melhor durante a noite.
- O mal dos centros de dia é que não servem para doentes de Alzheimer. Têm a porta aberta. Ninguém se pode responsabilizar por eles – explicou a minha amiga.
- Mas não há centros específicos para esses doentes? – pergunto, inexperiente ainda destas mazelas tão comuns às tendências bafientas da nossa nacionalidade.
- Aqui perto há um, em Alapraia. Está fechado. Custou uma barbaridade. Com tudo do melhor. Mas não abre. Agora fecha tudo – conclui, melancólica.
- Então e os doentes?
- Ficam em lista de espera.
- Mas não se podem tentar outros centros?
- Os centros têm que ser da zona do doente. E os doentes de Alzheimer aumentaram tanto, tanto, neste país! … Mas não há nada para ajudar as famílias com menos proventos.
Mas a lúgubre conversa de repente esbate-se, ante os roncos do motor do camião do lixo parado a poucos metros, roncos prolongados no tempo de içar, despejar e voltar a colocar os enormes contentores subterrâneos do lixo ecológico.
A minha amiga, que há muito vem estranhando o extraordinário dispêndio que tal lixo ecológico deve custar ao nosso país, estabelece imediata conversa com a dona do café.
- Lixo de luxo! Tiram todos os dias? – pergunta, incrédula.
- Todos os dias! – responde a dona do café, de natural sorridente e meigo.
- Mas aquilo enche-se assim?
- Julgo que não. São quatro ou cinco rectângulos, cobrindo os contentores de uns três metros de fundura. Não vejo que se possam encher diariamente!
Mas acho que a senhora se enganou, a respeito das nossas realidades de luxos e de lixos, merecedoras de despesa colossal e de trabalho árduo diário. Trabalho de Hércules.
Felizmente que encontramos sempre paralelo nos clássicos. Mesmo que sejam míticos, o que lhes dá mítica universalidade.

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