sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Uma fábula de Florian

Esta fábula de como se pode ser feliz
Vem a propósito
De um livro sobre « Os Portugueses »
De um escritor inglês
Chamado Barry Hatton
Que de um modo geral
Considera os portugueses
Contraditórios -
Na sua simpatia
Na sua imprevidência
Por excelência -
Que o remete para a cauda
Do povo europeu
Seja ou não da União
Sempre troçado
Sempre ignorado,
Vilipendiado,
Apesar de ser capaz,
Apesar de bom rapaz.
Talvez que o nosso futuro,
Como o do grilo,
Seja o de viver obscuro
Mesmo sendo inconformado,
Como a fábula diz:

« Um grilinho pobrezinho
Escondidinho
Na erva florida
Olhava uma borboletinha
Atrevidinha
No prado a volitar.
Via o insecto alado brilhar
Com as mais vivas cores
Das suas asinhas multicores,
A resplandecer
De azul, púrpura e dourado,
Sobre o prado,
Jovem, belo, senhor de si,
A esvoaçar,
Pegando e largando, a curvetear,
As mais belas flores
Das mais frescas cores
E odores.
« Ah ! dizia o grilo, como são diferentes
A sorte da borboleta e a minha !
Dama natura,
Como uma má fada,
Por ela tudo fez e por mim nada.
Não tenho talento, menos ainda figura,
Assim,
Ninguém tem medo de mim,
De todos sou ignorado
Coitado !
Mais me valera não ser,
Ou até morrer! »
Estava ele a carpir-se,
Chega um bando de petizes,
Muito felizes,
Atrás da borboleta a correr.
Chapéus, lenços, e bonés,
Tudo serve para a apanhar
Sem grandes rapapés
Mas também sem pontapés.
Em vão o belo insecto tenta escapar,
Em breve será presa deles.
Um pelas asas, outro pelo corpo,
Um terceiro pela cabeça
Sem pressa
E sem hesitar
A hão-de agarrar.
Nem tanto esforço era preciso
Para despedaçar
O pobre animal, afinal.
« Oh! oh! - disse o grilo espantado
Já não estou nada zangado;
Custa muito caro neste mundo brilhar.
Como o meu viver apagado vou estimar!
Escondidos vivamos
Para felizes vivermos


Infelizmente,
Tal não é verdade.
Porque a nossa obscuridade
Não é sinónima
De felicidade
Mas de insipiência,
De ruindade,
De incompetência
De insolvência,
De um desrespeito
Tão sem jeito,
Pelos princípios
Pelos valores
De um real Direito,
De preguiça mental
Por sinal,
E atropelamento feroz
Do vós
Porque primeiramente
Estamos nós.
Definitivamente.

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