terça-feira, 23 de agosto de 2011

“Pessoas de bem”

Vê-se que a minha amiga anda imensamente céptica a respeito dos valores humanos, embora nenhuma de nós tenha sido tão fustigada assim pela falta de solidariedade humana. Muito menos ela, que recebe e faz contínuos telefonemas às suas amigas do outrora zambeziano da sua saudade. A verdade é que constantemente a ouço exclamar que os cães são as melhores pessoas de bem.
E hoje resolvi contar-lhe uma história de grandeza de alma de cães, que uma vizinha minha me contou dos seus. Tivera dois – o BartoK e o Shubert – dois cães que foram envelhecendo, ora livres, na estrada aberta, ora presos nas grades do jardim. E um dia veio o Sebastião, um bonito e grande cão branco, que, inicialmente, fez rejuvenescer Shubert, no seu carinho brincalhão pelo cão velho. Mas este foi perdendo forças, foi cegando, e o final chegou. Pois o Bartok e o Sebastião, acompanharam o amigo na sua decrepitude, lambendo-lhe os olhos, o pequeno Bartok dormindo encostado a ele, como sempre fizera, jamais os dois mais novos comendo ou bebendo da gamela comum, sem darem respeitosa prioridade a Shubert.
E mais uma vez a minha amiga largou o comentário sobre as melhores pessoas de bem que são os cães. Todas nós, de resto, temos histórias de gestos de amor desse grande amigo, e também de gatos.
Lembro a minha Blacky, que morreu há uns dois meses. Eu não me atrevia a ir vê-la, mas disseram-me que já tinha morrido e algum tempo depois fui levar-lhe as minhas lágrimas, chamando-a baixinho: Blackinha! E a Blacky miou o seu adeus de despedida, que esperara a visita da dona cobarde para finalmente sossegar.

2 comentários:

Henrique Salles da Fonseca disse...

Muito Prezada Senhora Professora:
Esta sua história vai ser publicada com um grande sentimento pois acabo de passar por uma tristeza bastante grande com a eutanásia que a dona de um cavalo meu amigo decidiu mandar praticar quando virei costas e vim folgar para longe dele.
Chamava-se «Halo» mas a idade pusera-o todo branco e era conhecido por «branquinho». Como eu sou da família Branquinho da Fonseca, até vinha a calhar e não faltava quem brincasse comigo perguntando se o cavalo era meu primo.
Não, não era meu primo, era muito mais do que isso: era meu amigo. Quando o soltava em liberdade no picadeiro, o «branquinho» toireava-me correndo direito a mim e quarteando-se no momento exacto em que eu, o toiro, deveria investir. E quando o escovava (como branco que era, tudo o sujava) ele fingia que me mordia como a agradecer "Obrigado, pá!"
Era velhote dos seus 23 anos numa longevidade máxima que ronda os 25 mas estava cheio de melanomas e quando virei costas logo houve quem opinasse que ele estava em sofrimento. Se o estava, isso terá sido quase repentino em cerca de 15 dias; enquanto lá estive, ele estava muito bem disposto.
Ou terá sido ele a abandonar-se quando sentiu a minha falta? Vou ficar para sempre com esta dúvida.
Ele era sempre montado pelos meus dois pupilos equestremente mais adiantados que são bastante mais leves que eu e quando fui informado de que a proprietária tinha accionado o processo de eutanásia, mandei uma mensagem aos jovens cavaleiros - ambos fora de Lisboa neste mês de Agosto - em que dizia: «Se no Céu há cavalos, então teremos lá um branquinho à nossa espera. Oxalá».
Inconformados, concluimos que, pelo menos connosco, ele teve um final de vida feliz. Fomos três a perder um amigo.
Melhores cumprimentos,
Henrique Salles da Fonseca

Henrique Salles da Fonseca disse...

Muito Prezada Senhora Professora:
Esta sua história vai ser publicada com um grande sentimento pois acabo de passar por uma tristeza bastante grande com a eutanásia que a dona de um cavalo meu amigo decidiu mandar praticar quando virei costas e vim folgar para longe dele.
Chamava-se «Halo» mas a idade pusera-o todo branco e era conhecido por «branquinho». Como eu sou da família Branquinho da Fonseca, até vinha a calhar e não faltava quem brincasse comigo perguntando se o cavalo era meu primo.
Não, não era meu primo, era muito mais do que isso: era meu amigo. Quando o soltava em liberdade no picadeiro, o «branquinho» toireava-me correndo direito a mim e quarteando-se no momento exacto em que eu, o toiro, deveria investir. E quando o escovava (como branco que era, tudo o sujava) ele fingia que me mordia como a agradecer "Obrigado, pá!"
Era velhote dos seus 23 anos numa longevidade máxima que ronda os 25 mas estava cheio de melanomas e quando virei costas logo houve quem opinasse que ele estava em sofrimento. Se o estava, isso terá sido quase repentino em cerca de 15 dias; enquanto lá estive, ele estava muito bem disposto.
Ou terá sido ele a abandonar-se quando sentiu a minha falta? Vou ficar para sempre com esta dúvida.
Ele era sempre montado pelos meus dois pupilos equestremente mais adiantados que são bastante mais leves que eu e quando fui informado de que a proprietária tinha accionado o processo de eutanásia, mandei uma mensagem aos jovens cavaleiros - ambos fora de Lisboa neste mês de Agosto - em que dizia: «Se no Céu há cavalos, então teremos lá um branquinho à nossa espera. Oxalá».
Inconformados, concluimos que, pelo menos connosco, ele teve um final de vida feliz. Fomos três a perder um amigo.
Melhores cumprimentos,
Henrique Salles da Fonseca