sábado, 7 de maio de 2011

Sentadinha na areia

Estávamos cheias de más notícias. Eu acabara de ver a reportagem sobre uma moça inglesa – Laura Hall – alcoólica e proibida de frequentar bares no seu país, por fazer desacatos, e a quem uma clínica algarvia generosa oferecera tratamento. Tive pena da moça, 21 anos já de uma vivência no horror de um vício, mas achei estapafúrdia a ideia de a filmarem nas suas intimidades desastrosas, que só poderiam provocar tanto impacto por a rapariga ser bonita.
Mas a minha amiga não se deixou comover, porque trazia outras na manga, e cortou-me os espantos destas novidades dolorosas a que em geral me furto:
- Mas igual a essa há aos molhinhos! Então não ouviu ontem o Cavaco?
- Para quê? Nem tentei. Não ia dizer nada de diferente do que tem dito…
- Agora descobriu que faz mal gastar-se demais. Mas aquele é um homem que tem um curso de economia! Sabe o que parece? Que está tudo doido! O Cavaco parece um atrasado mental. A dizer inépcias como a de que “ou se se consegue levantar ou não há solução”. O que quer isto dizer? Nada.
- Ora! São duas soluções de evidência, como as que fazemos aos nossos filhinhos: Ou estudas ou estás tramado, sabendo que a primeira hipótese não se verifica. Mas ele tem direito a anúncio televisivo das suas inépcias com suspense. Realmente, ele nada fez para mudar o estado de saúde do país, só se afirma preocupado, como foi o lema dos seus discursos. Mas há quem goste, ou não condene, por ser da mesma linha…
- Hoje o senhor percebeu que isto vai mal. Nunca toma uma atitude para ajudar a cortar o mal. Às perguntas da premência, protela, não pode responder, guarda para mais tarde, para os discursos trabalhados e pré-anunciados para o suspense. Eu fico parva. Não quero acreditar que aquilo é real.
- Somos uns tagarelas, já é tempo de deixar a recriminação de avozinhos.
- Ai, mas o que é que esta gente quer? Não lhes faz diferença as fábricas que fecham, os milhares de desempregados… Já são 800.000… Têm a família a salvo, e os amigos…
- Mas o Sócrates vai ganhar! Estamos com ele.
- Há muitos que dizem que ele devia ser chamado a prestar contas!
- A gente não se importa com as aldrabices, até achamos graça, ele vai ganhar.
- Entretanto, o Cavaco está todo de peito feito com o mar, quer o país voltado novamente para o mar….
- Pois! Sentados na areia, a “apanhar conchinhas do mar…”, como na canção:
“Ai que praias tão lindas, tão belas,
Quando eu ia a passear
Sentadinha na areia sozinha
A atirar conchinhas p'r'ó mar…”

E a imagem das conchinhas trouxe-nos a das panelas, por via do sal. Levantámos âncora.

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