quinta-feira, 21 de abril de 2011

Alegoria na alegria!

Lembrei-me de traduzir
Mais uma fábula de Esopo
Como forma de explicar
O fabulário do nosso fadário
Ou o fadário do nosso fabulário
- Também apelidado de bestiário -
O qual transformaria
Um país que poderia ser
Saudável como outro qualquer
Num país de aspecto débil
Como este passaria a ser,
Apesar de ter
Um sol enternecedor
Que o devia fortalecer,
E não de se tornar a causa mor
Da nossa crónica doença
Que muitos acham deprimente
Mas que outros aceitam perfeitamente
- Da preguicite à malandrice à pesporrência, à verborreia ...
Vejamos se tenho razão ou não
Na questão da explicação
E da exemplificação:
É, pois, de Esopo a fábula
“O médico e o paciente”
Ou, já que é arbitrária
A ordem dos nomes copulados
Poderemos pôr,
De jeito lúdico,
E porque o escreveu Esopo,
“O paciente e o médico”:
“Um doente, cujo médico lhe perguntava
Como a sua saúde se achava,
Respondeu-lhe impaciente
Que de suores se queixava
Ao que o médico, indiferente,
Concluía que bem ia.
E quando à segunda vez
O mesmo lhe perguntara
E a resposta fora
Que tremores tivera
De maneira muito bera,
O médico concluira
Que a sua saúde era excelente.
E à vez terceira,
Em que falou de diarreia,
E que o médico garantia
Que a saúde do queixoso
Era de ferro,
Nunca mais este se atreveu
A soltar um simples berro
Nem que forte cefaleia
O atacasse,
Ou até mesmo dispneia
Excesso de ureia
Seborreia
E o mais que fosse

Que lhe aparecesse.
Por isso aos seus parentes
Que lhe perguntavam como passava,
O doente respondeu,
Com certa ironia,
Que tão bem ia
Que lhe parecia
Que explodia.
E Esopo conclui
Que com as pessoas o mesmo acontece:
Os nossos parentes
Amigos ou outras gentes
Que nas aparências exteriores se fiam
Por felizes nos julgam
Atabalhoadamente,
Sem mais ponderações,
Por coisas que intimamente
Nos causam muitas aflições."

Pois é bem o nosso caso:
Uns irónicos estrangeiros,
Ao verem as gentes que por Lisboa
Se passeiam
E que as esplanadas enchem,
E mais os carros que preenchem
De Lisboa a Cascais as estradas bem tratadas
E que as praias frequentam
Do litoral de Portugal,
Que nenhumas cabeças
De alfinetes ali cabem nem entram,
Concluíram,
Com tais indícios,
Que não parecia que o país precisasse
Nem aqui nem ali
Dos dinheiros europeus do FMI
Ou de quaisquer outros benefícios,
A encaminhar-nos para aterradores precipícios.
Mas o pobre Portugal,
Nação mais velha da Europa,
Sujo, triste, escalavrado,
Como mostram zonas da capital,
E aldeias de casebres insalubres
E campos desmantelados,
Etc. e tal,
É que sabe bem o que ele sente e pressente,
Tal como o referido paciente,
Sem esperança já de cumprir,
De tão doente,
À espera, sim, de aluir,
De ruir,
O nosso Portugal.

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