quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ainda por cima

A minha amiga estava incontrolável. E incontornável, que é vocábulo muito do nosso agrado meio sofismado. Também inconformável, para além, necessariamente, de inconfortável, que é como nós nos temos muito sentido ultimamente Era a respeito da entrada do FMI na ínclita terra portuguesa, de geração nem tanto. Disse ela:

- Ainda por cima temos um Presidente mudo.

Mas eu retorqui, confiante na palavra dele dada, ou na dada palavra dele, na dele dada palavra, na dada dele palavra, na dele palavra dada, na palavra dada dele, em suma, aquando da sua busca do apoio eleitoral:

- Mas ele prometeu falar. Vamos esperar.

- Não há tempo, respondeu. Que o FMI vai entrar e pedir contas. Está tudo escarrapachado na praça pública. Só não sabe quem não quer.

Ignorei a alfinetada, amarfanhada na dor das notícias calamitosas para a nossa sobrevivência presente e futura, futuro que é um presente em movimento contínuo e eternizável.

- Presente envenenado, futuro moribundo. Além disso as empresas existem, estão lá. O defeito não é de agora. Mas agora, quando entrar o FMI não vamos ficar com os cabelos em pé? O Jardim é o único que diz direito. A culpa é do Sócrates e do Santos, acusa ele.

- É muito verdade, mas nunca mais saímos da chateza das acusações.

- Veremos se os muitos milionários daqui, alguns de fortunas alcançadas por meios malsinados como de proveniência menos virtuosa, vão ser chamados a terreiro para participar no sacrifício colectivo do pagamento do défice…

- Que ideia peregrina! Para que servem então aqueles paraísos que estão na berra?

- Ainda por cima com um PR mudo e quedo, apesar das promessas de intervenção…

- Coitado, coitadinho, coitadíssimo… foi o Ega que o disse, a propósito do Salcede, o Damasozinho. As nossas figuras literárias são, de facto, imperecíveis. E muitas razões há para o serem, coitados de nós.

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