terça-feira, 8 de março de 2011

Saltando buracos. À chuva.

A minha amiga lembra muitas vezes aquele 8 de Março distante, em que, tendo ido festejar o Dia da Mulher com a bica habitual, atidas ao preceito de que os dias da mulher são todos muito parecidos, resolvemos, num golpe de rebeldia, em demonstração da emancipação que nos foi assegurada por uns panfletos de revolução de próximo passado, resolvemos sacudir momentaneamente os deveres domésticos e profissionais para, numa atitude de intelectualidade digna de reparo, irmos revisitar os Jerónimos, em preito de homenagem aos principais fautores da epopeia lusa, cujos túmulos lá se encontram, na estrutura interior de tanta dimensão, tendo contemplado, antes, o original portal manuelino que Nicolau de Chanterenne esculpiu.
E a minha amiga reconta a carga de chuva que se abateu, ainda antes de o comboio chegar a Belém, que nos apanhou sem guarda-chuva, correndo à chuva e saltando os buracos da calçada, sem música nem o sapateado de Gene Kelly, mas, de passagem, comprando pastéis de cerveja, na casinha antes da pastelaria que fornece os pastéis de Belém, na minha opinião, de sabor menos capitoso que o daqueles. O regresso a Penates, após a visita para a nossa ilustração, foi igualmente em marcha saltitante à chuva, até à estação de Belém, com a minha amiga receosamente desfazendo na pele do S. Pedro, que não nos admitiu veleidades de independência naquele 8 de Março dos idos de 80.
Hoje não tivemos hipótese de nos ilustrarmos à chuva. Porque choveu, tal como então. O dever nos chamou a casa, a bica do dia da Mulher teve a mesma duração das nossas outras bicas de mulheres de todos os dias.
Mas em casa, fomos espreitando, na televisão, pedaços do nosso carnaval desengonçado e pelintra, e demos com uma manifestação de jovens “à rasca” querendo fazer-se ouvir junto do PM que expunha em Viseu as suas razões de peso e de sucesso, jovens que não tiveram ocasião de dizer das razões do seu insucesso, porque foram enxotados lá para fora pelos guardas do paço, embora o Sr. PM generosamente os tenha convidado para o seu almoço com os demais comensais, finalizando o seu convite com um dito bonacheirão “Ninguém leva a mal no Carnaval”, bem expressivo da sua sabedoria, num país que vai decididamente dançando.
Na corda bamba.

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