terça-feira, 1 de março de 2011

Pontos de vista

Hoje levei à minha amiga um texto em tópicos e com gráficos extraído do blogue “A Bem da Nação” do Dr. Salles da Fonseca, sobre o estado da Nação. Ei-lo, com a devida vénia, embora sem gráficos:

«Universidade Católica Portuguesa

1) A média do crescimento económico é a pior dos últimos 90 anos. Fonte: Santos Pereira (2011)

2) A dívida pública é a maior dos últimos 160 anos Dívida pública portuguesa em % do PIB, 1850-2010. Fonte: Santos Pereira (2011)

3) A dívida externa é, no mínimo, a maior dos últimos 120 anos (desde que o país declarou uma bancarrota parcial em 1892) Dívida externa bruta em % do PIB, 1999-2010. Fonte: Santos Pereira (2011)

4) O desemprego é, no mínimo, o maior dos últimos 80 anos. Temos 610 mil desempregados, dos quais 300 mil são de longa duração Taxa de desemprego em Portugal, 1932-2010. Fonte: Santos Pereira (2011)

5) Voltámos à divergência económica com a Europa, após décadas de convergência PIB per capita português em % do PIB per capita da Europa Avançada. Fonte: Santos Pereira e Lains (2010)

6) Vivemos actualmente a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos Emigração portuguesa (milhares de pessoas), 1850-2008. Fonte: Santos Pereira (2010)

7) Temos a taxa de poupança mais baixa dos últimos 50 anos Taxa de poupança bruta, 1960-2010. Fonte: AMECO, Santos Pereira (2011)»

A minha amiga leu as alíneas e torceu o nariz, na dúvida. Tinha andado a passear de carro com o marido e eis o que viu:
- Quinta-feira, na Marginal: tudo o que era espaço, estava inundado de carros. Alguns, topo de gama. Há muita gente rica. Portugal diz-se que é um país pobre, mas não deve ser. Não se trabalha. Bastou uma réstia de sol e a Marginal encheu-se. Ainda por cima a gente conhece a realidade. Desempregados é uma realidade. Mas já não vê mais espaços. Com certeza já não há terrenos para construir. Ali não há crise. Eu não acredito que haja outro país pobre que não cria riqueza. Gostava de saber se um país com as dimensões deste tem esta quantidade de carros. Não deve haver nenhum país com mais carros do que este. Com aparência de rico. Vai p’r’à Marginal, no rectângulo todo, e todo ele está cheio de carros. A terra não chega p’r’a tanto carro! E em roda do casino! Não há sítio para arrumar carro! Àquela hora da tarde! Mas o espectáculo era só à noite!
Com a minha infinita compreensão, eu expliquei à minha amiga que as pessoas deixaram de certeza ali os carros para irem apanhar o comboio ao Estoril, para o Cais do Sodré, não se tratava de festa, mas sim de trabalho, mas ela não se enquadra em pontos de vista de teor mais generoso, quando se trata de julgar o que vê, que não quadre ao seu ponto de vista exigente e contou que quando lá fora tomar um café em tempos, inúmeras pessoas jogavam no Casino, os mais pobrezinhos nas máquinas, os muito ricos nas mesas grandes, dos jogos mais p’r’à frentex.
-Jogos de azar, precisei, com rigor.
- De azar e de sorte, depende dos casos, respondeu com acrimónia.
Voltei às alíneas do texto sobre os nossos desfalques em quantidades descomunais, quer nos níveis das dívidas – externas e internas – quer de decréscimo económico, quer de desemprego, de emigração e omitindo outros descalabros sociais, como o decréscimo de natalidade, o envelhecimento do país, um mundo sem perspectivas, funcionando a recibos verdes, com patrões abusando, com gente enriquecendo sem prestar contas…
Mas a minha amiga estava virada para os nossos carros em excesso, os espectáculos de estrelato cheios de assistentes, os próprios supermercados bem assistidos de gente carregando carros ou cestos… Era o meu caso – eu também diariamente carregava sacos de compras, senti que as coisas não eram tão más assim e bem me envergonhava por ser tão gulosa.
Aliás, o nosso PM falou com arreganho, na semana que passou, no que tinha feito de bom – e o que fora de mau só à conjuntura o devia e aos inimigos, os opositores… E governava sozinho – e sozinho em casa ele ia continuar a governar, sempre com arreganho, sempre de punho erguido, amado pelos da sua cor, que acima de tudo desejavam que a cor não mudasse. E por muito que os das outras cores protestassem, em desejos legítimos de também virem a usufruir de iguais benesses, cá nos íamos encolhendo, na timidez do nosso aparente bem-estar de castelo de cartas sempre prestes a ruir, às ameaças de ruir sucedendo as ameaças de medidas para não ruir ainda…
Ontem o PM disse, com confiança, que a resposta à nossa crise deve ser europeia, e eu também acho que sim, e cá estou à espera da resposta europeia à nossa desfaçatez pedinchona, embora a minha amiga negue a crise, por causa dos carros da Marginal, que já resultam de manobras pedinchonas anteriores, no meu ponto de vista.
Mas o sr. Ministro das Finanças prometeu um reforço de medidas de austeridade para diminuir o nosso défice, e assim vamos andando, dia após dia, ano após ano, neste círculo vicioso, de hipoteca contínua, de esperança em certeza, de dúvida em receio. Com o “Prós e Contras” convidando gente de peso para desmontar, não a trama que nos é urdida, mas para procurar soluções de muita simpatia e afecto para a geração perdida.

2 comentários:

Gonçalo Almeida disse...

Boa noite
Sou aluno da professora Paula Lacerda!
Chamo-me Gonçalo Almeida!
Este texto está muito belo e bastante "rico" adorei!
veja o meu pequeno poema
http://almeida3245.blogspot.com/
Cumprimentos, Gonçalo!

Anônimo disse...

O que é preciso, Gonçalo. é que lutes, lutes, lutes, por ti, pelos teus, pelo mundo que vai ser teu. Estuda muito, para isso. Um abraço. Berta Brás