segunda-feira, 14 de março de 2011

E o burro é ele?

Diz-se que os burros são muito teimosos,
Embora formosos.
Di-lo Esopo,
Na fábula do “burro e o burriqueiro”,
Que me chamou a atenção
Pelo que tem de verdadeiro,
Embora eu não devesse,
- Mau grado a democracia -
Fazer qualquer analogia
Na minha alegoria
Entre o que se passa aqui
E o que Esopo notou lá.
O certo é
Que os nossos dias são geridos à má fé
Por quem deveria ser menos batoteiro,
- Menos charlatão -
Pois ao povo deve a sua eleição.
E se mais não digo é por pudor
De expor
O que a todos – ou, pelo menos à maioria –
Merece desaprovação,
Embora ele insista que tem sempre razão,
E por isso não se importe de resvalar
No despenhadeiro,
Tal como o Burro do Burriqueiro,
Tanto mais
Que está sempre protegido
Pelo vencimento pretendido,
Sem, pois, a redução
Que, sem nenhuma consideração
Nem sequer preocupação,
Ele aplica aos demais:
Vejamos, assim, se a fábula de Esopo
Se aplica ou não a quem de nós faz pouco,
Sempre teimoso, embora formoso,
Com o fato bem assente,
Feito por um qualquer
Alfaiatinho valente
Daqueles que matam sete
Duma só vez
Com muita desfaçatez:

«O Burro e o Burriqueiro»
«Depois de uma caminhada prolongada
Um burro, que um burriqueiro guiava
Por um caminho bem desbravadinho,
Deixou a via certa para se lançar
Pelos penhascos de uma ribanceira.
Como ia cair num abismo,
O burriqueiro agarrou-o pela cauda
E esforçou-se por o puxar para cima,
Para a berma…
Mas o burro arqueava-se em sentido inverso,
Para baixo...
Enfim o burriqueiro estas palavras lhe atirou
Sem mais insistir
Em o puxar:
“Amarga vitória essa tua! Eu não ta disputarei!”
A fábula aplica-se ao disputador
Ou seja, o que quer sair sempre vencedor,
Ser, em suma, o maior… »

Eu não sei
Se o burro desta alegoria
Se aplica, de facto, ao governante.
Principalmente,
Porque vendo o abismo à sua frente,
O governado,
Ou seja, a gente,
Não se dispõe a deixá-lo
Mesmo cair,
Para tentar
Ainda erguer,
- Se o conseguir -
Esta pobre nação
Prestes a falir.
Dá que pensar.

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